O momento exato em que Francisco os deixou - se é que isso ocorreu - não nos é preciso. Mas é certo afirmar que fora o primórdio de um gênero de vida até então não conhecido na Idade Média, época em que era impossível pensarmos em vida eclesiástica que não fosse restrita aos mosteiros, onde, embora pobres individualmente, se era rico coletivamente. Não havia fome e a vida era segura e estável.
Mas Francisco foi além de seu tempo, porque possuía outro Pai, o que mora no céu. Em termos psicológicos, essa transformação foi gradativa e sempre persistente, embora não fosse um homem - ainda segundo Manseli - perdido num mundo de sonhos. Sempre esteve junto dos marginalizados, dos desprezados, dos Menores, segundo a linguagem corrente de Assis do século XII. E o pior dos marginalizados era justamente o leproso, aquele que fora marcado por Deus com a lepra, como castigo de seus inúmeros pecados.
Embora a imagem simbólica da lepra não exista mais na atualidade - mas tão-somente como sub-produto de um preconceito culturalmente formado -, temos outras formas de lepra, mais conforme a vida contemporânea. O símbolo da lepra fora empregado pelo do menor de rua viciado em crack, da mulher espancada pelo marido, pelo negro que ainda hoje luta pela igualdade racial, pelo desempregado que briga por seus direitos.
Temos um gênero de lepra que se tornou popular na última década: os gays. Frequentemente vemos religiosos de diferentes correntes, políticos e pessoas das mais variadas criticando aquilo a que chamam de ditadura gay. Usam enfaticamente a Bíblia para justificar pontos-de-vista particulares, disseminando ódio, medo e preconceito.
É compreensível! Fomos criados numa cultura em que o sexo, em suas mais variadas expressões, sempre fora visto como pecado, algo que deveria ser evitado e praticado no anonimato. Por muito tempo, a noção teológica de pecado possuiu seu foco essencialmente focado no sexo. Não por menos, os filósofos libertinos foram, talvez, os mais criticados.
Mary Griffith em parada gay |
No final dos anos 70, um jovem americano chamado Bobby Griffith assumiu-se gay. Sua mãe, devota presbiteriana, achava que Deus o poderia curar de sua "doença". Não o aceitava como filho. Secretamente, em seu diário, Bobby escrevia pensamentos como: "Eu não posso deixar que ninguém saiba que eu não sou hétero. Isso seria tão humilhante. Meus amigos iriam me odiar, com certeza. Eles poderiam até me bater. Na minha família, já ouvi várias vezes eles falando que odeiam os gays, que Deus odeia os gays também. Isso realmente me apavora quando escuto minha família falando desse jeito, porque eles estão realmente falando de mim... Às vezes eu gostaria de desaparecer da face da Terra."
A não aceitação de sua mãe, Mary Griffity, o medo de ser agredido, a rejeição, sua auto-rejeição, o fizeram pular de um viaduto em frente de um caminhão, provocando morte instantânea. Após momentos de dúvida, abandono e de perdão, Mary se torna uma das maiores defensoras dos direitos civis da comunidade LGBT. Esta bela e trágica estória é contada no filme Orações para Bobby, estrelado por Sigourney Weaver.
Os que sugerem que os gays são sodomitas ignoram que estórias assim se repetem todos os dias. Muitos são expulsos de casa, rejeitados, espancados nas ruas -a exemplo do rapaz que fora atacado com uma lâmpada fluorescente na Av. Paulista recentemente -, baleados por militares - como na parada gay do Rio em 2010. A cada vez que falamos que são anormais, extraímos sua dignidade, seu amor próprio, sua saúde psíquica. Os obrigamos a mentir unicamente para manter o amor das pessoas. E, às vezes, o dano é tão profundo que não há mais reparação...
Só em 2010 foram mais de 260 homicídios de gays, lésbicas e transgêneros em todo o país. A cada dia e meio, novos Bobbys morrem pelo Brasil pela "vontade de Deus" e pela preservação da moral e da família. Pergunto-me como franciscano, como cristão, mas acima de tudo, como homem, se esses acontecimentos condizem com o que esperamos de um país que é constitucionalmente laico e democrático e se todos possuem realmente os mesmos direitos. Eu não sei.
Caríssimo Luciano, em nada esse teu artigo justifica a crítica que fizeste ao artigo que escrevi sobre esse assunto... Este moralismo que apresentas em favor da causa gay, em nada diz respeito à crítica que faço em meu artigo contra a decisão do STF a favor da união estável entre pessoas do mesmo sexo, que contraria a Lei natural e a Lei Divina do amor... Pois, em meu artigo, eu não critico a livre escolha sexual de quem quer que seja nem incito ódio ou discriminação por quem faz tal ou qual opção sexual, mas critico sim, uma lei que aprova a união homossexual como se fora natural, criada por Deus, quando de fato, é uma escolha subjetiva, pois, ninguém nasce gay; ser gay é uma escolha que não pode ser imposta a todos como se isso fosse natural, ou seja, uma obra de Deus, que de fato, não é...Portanto, por mais que defendas isso, não mudarás em nada a essência de cada ser, pois, "somos o que somos aos olhos de Deus e nada mais", como falou São Francisco na décima admoestação... Destarte, te exorto que deixes as paixões de lado e sejas coerente com o que defendes para não fazeres uma interpretação individualista e errônea da opinião alheia e não venhas condenar o que, de fato, não entendeste devidamente... Paz e Bem! Frei Fernando,OFMConv.
ResponderExcluir