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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O encontro e o beijo no irmão leproso

Fr. Sílvio João Santos do Carmo, OFMcap
freisilviocarmo@hotmail.com
Uns dos momentos mais profundos, no processo de conversão de Francisco, foi, sem sombra dúvida, o encontro com um leproso. Seu primeiro impacto com uma pessoa totalmente desprezada na sociedade de seu tempo por ser doente (1). Sua primeira realidade vivida “nua e crua”. Porém, um encontro que mudaria para sempre sua maneira de vê o outro. Quem foi este leproso? Nós não sabemos e nunca vamos sabe. O que sabemos é que antes Francisco sentia uma repugnância profunda pelos leprosos. Depois, a repulsa ser torno doçura (2). Totalmente envolvido com o mistério de sua mudança interior, onde o Mistério Redentor o subjuga e o fere com o dardo de seu Amor Eterno, se submete a uma prova maior. Antes vivida de maneira natural, agora no rosto desfigurado de um leproso a prova de sua mudança; antes vivida no pecado, agora no amor divino, encontra a imagem do Cristo sangrando na cruz que o deteve e o impeliu na direção daquele leproso, e, este o conduz novamente à essência de sua vida. Certo de que o amor é a única força, a única realidade que une aquilo que está separado (3), no seu caso, o Verdadeiro Amor que dá coragem de transgredir as leis e as normas humanas. O Amor que dá a coragem de morrer para o outro viver. A partir daí, Francisco torna agradável todas as coisas que antes lhe pareciam amargas e amargas todas aquelas que lhe pareciam doces (4).

Para Francisco este encontro selava sua última fronteira. Não tinha mais dúvida de que Deus tinha-lhe colocando no caminho certo. O irmão leproso não lhe era mais obstáculo para viver sua ardente felicidade. Estava completamente livre para amor Deus e seus irmãos, sem medo, sem preconceito. Sem especular no que os outros iriam pensar ou falar. Isso não importava. O mais importante agora era está com o irmão desprezado, o problemático, aquele que ninguém quer falar ou conviver. Agora sua companhia tornava-se-lhe agradável e completava sua alegria interior.

É certo que o desejo mais profundo do ser humano é amar e ser amado. A busca deste desejo está na sede de amar sempre, mas só um amor verdadeiro torna a pessoa verdadeiramente feliz. Também é certo de que o maior ato de amor de Deus para com sua criatura foi o de tê-lo feito capaz de amar (5). Daí, concluímos que o único e mais importante dever do ser humano é aprender a amar (6). Sendo assim, amar é uma arte divina, que só adquirimos depois de percorremos um longo caminho. Em outras palavras, quando estamos verdadeiramente maduros interiormente, isto é, quando deixamo-nos abrir totalmente à Vontade de Deus. Vale lembrar que, “amar nos torna livres” e livres podemos amor sempre. Na verdade foi isso o que aconteceu com Francisco. Antes do encontra com o leproso percorreu este caminho. “Mas como por graça e força do Altíssimo já tinha começado a pensar nas coisas santas e úteis, quando ainda vivia como secular, encontrou-se com um leproso e, superando a si mesmo, aproximou-se e o beijou. A partir de então foi ficando cada vez mais humilde até conseguir vencer a si mesmo, por misericórdia do Redentor” (7).

Como falei acima, nós nunca saberemos quem foi o leproso que se encontrou com Francisco. Também podemos afirma com toda certeza que nem Francisco teve o privilegiou de conhece está pessoa antes de sua doença, porém, podemos traçar sua aparência física: ‘monstruosamente mais infeliz deste mundo’, ‘pedaços de carne podre’, ‘corpo coberto de chagas purulentas’, ‘em suas mãos, pés e face, muitas feridas’. Foi com este leproso horrível que Francisco ser aproximou e beijou-o na boca. Sim, Francisco beijou-o na boca (8). Mais não só a boca, mas a mão (9), a face (10) e até as chagas purulentas (11). E aqui, vem uma pergunta: O que significa este basium? (12). Significa nas fontes franciscanas o beijo da paz (13), isto é, o beijo da caridade e da união. O Sopro da vida, o hálito que alenta, o toque que refaz. Francisco ao beijar o leproso, recebe também o toque de quem tem o último sopro de vida e da esperança, o último fio de confiança (14).

Depois deste encontro, Francisco entendeu que não “bastava contemplar Deus na cruz ou fazer uma meditação diante dele preso numa cruz e suspenso sobre o altar. Não, ele estava ali, no chão, no corpo do leproso. Desta forma consegue descobrir-lo, servi-lo e ama-lo” (15). Chamava-os de irmãos cristãos porque encontrava neles de modo mais eloqüente a imagem e semelhança com Cristo (16). E não aceitava que ninguém tratasse mal nenhum deles (17). Certa vez, Francisco respondeu com tom repreensivo há um frade que ao vê um irmão cristão chegar com convento, tratou-o com certa ingenuidade, apesar de ter recebido ordens do próprio Francisco para que o tratasse bem. “Não deves agir dessa maneira com o nosso irmão cristão, porque não é bom, nem para ti nem para ele” (18). Porém, o que Francisco pedia sempre aos seus frades era que eles dedicassem seu tempo e serviço, com respeito e caridade a todos os irmãos cristãos por amor de Deus (19).

O encontro e o beijo com o irmão leproso na vida de Francisco no início de sua conversão, ajuda-nos a refletir sobre a repugnância vencida (20), muitas vezes presente ao longo de nossa caminhada fraterna. Lembra-nos que podemos vencer todas as barreiras que nos afasta de nossos irmãos, sejam eles leprosos ou não. Lembra-nos também que a conversão pessoal, o Amor Eterno presente no meio de nós e o dialogo fraterno serão tanto mais vivos quanto mais intensos forem nossos encontros, superando diferenças e quebrando mitos. Que o exemplo do Seráfico Pai São Francisco nos ajude a vivermos como verdadeiros irmãos e principalmente verdadeiros cristãos. Amém!

Notas de Rodapé

1. Cf. LE GOFF, Jacques. As doenças têm História. Lisboa, Terramar, 1996.
2. Cf. Testamento 1-3
3. Cf. SPIDLIK, Omas. Nós na Trindade, São Paulo, Paulinas, 2004, p.84
4. Cf. STICCO, Maria, São Francisco de Assis, Petrópolis, Vozes, 2001, p.58.
5. Cf. IMODA, Franco, Olho para ele com amor, São Paulo, Paulinas, 2002, pp. 127-130
6. Cf. João, 15; Mt 25.
7. Cf. 1Cel 17
8. Cf. 2C 9
9. Cf. 3S 11
10. Cf. LM 6
11. Cf. Idem.
12. Do latim basiare. Tendo três palavras distintas:
1. osculum: beijo na face.
2. basium: beijo na boca.
3. saeuim: beijo leve e com ternura
13. Cf. 3S ll
14. Cf. Artigo de Frei Vitório Mazzuco Filho, OFM, site: www.franciscanos.org.br
15. Cf. Dicionário Franciscano. Verbete: leproso, leprosário, p. 377.
16. Cf. idem, p. 378.
17. Cf. EP, 58
18. Cf. LP, 22
19. Cf. 1C, 103; Fior, 25; LP 102
20. Cf. LE GOFF, Jacques. São Francisco de Assis, Record, 2005, p. 67.
Extraído de http://www.promapa.org.br/2006/index.php?pag=artigos&exibartigo=45 acesso em 31 out. 2008.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Morrer para viver mais e melhor

Leonardo Boff *
Adital -
O sentido da vida depende do sentido que damos à morte. Se a morte é vista como simples negação da vida e como tragédia biológica, então vale o que São Paulo já dizia: "comamos e bebamos, pois amanhã morreremos".

Mas há culturas que lhe deram um sentido mais alto. Ela é oportunidade de construir o próprio destino e de plasmar o mundo à nossa volta consoante um projeto civilizatório.

O cristianismo, por sua vez, propõe a sua representação da morte. Não contrária à vida, mas como uma invenção inteligente da vida para poder dar um mergulho radical na Fonte de toda vida. A morte não seria um fim-termo; mas, um fim-meta alcançado, um peregrinar rumo ao Grande Útero paternal e maternal que enfim nos acolherá definitivamente.

Dentro do cristianismo desenvolveu-se, com referência à morte, uma tradição de grande significação e de sentido de festa. Trata-se da tradição franciscana. Francisco de Assis conseguira uma reconciliação bem sucedida com todas as coisas, com as profundezas mais obscuras de nossa vida e com suas dimensões mais luminosas. Cantava a morte como irmã. Não como bruxa que nos vem arrebatar a vida, mas como irmã que nos introduz no reino da plena liberdade. Morreu cantando salmos e cantigas de amor da Provence.

Os franciscanos todos guardam esta herança sagrada na forma como celebram a morte de algum confrade, membro da comunidade. A mim, com frade (que ainda sou em espírito) me tocou vivenciá-lo inúmeras vezes. É simplesmente comovedor - uma pequena antecipação do novo céu e da nova Terra - dentro deste já cansado planeta. Ao se aproximar a morte do confrade, toda a comunidade se reúne ao redor de seu leito. Recitam-se salmos e orações, infundindo confiança ao moribundo para o Grande Encontro. No dia em que morre, à noite faz-se festa. É a chamada "recreação". Ai há confraternização, comida, bebida, comentários sobre a saga pessoal do confrade falecido e jogos de vários tipos.

No dia seguinte faz-se o enterro. E à noite, nova "recreação" festiva. O que se esconde atrás desse rito de passagem? Esconde-se a crença de que a morte é o vere dies natalis, o verdadeiro Natal da pessoa, o momento em que acaba de nascer definitivamente. Como não estamos ainda prontos, embora inteiros, cada dia vamos nascendo, progressivamente, até acabar de nascer. Isso se dá na morte. Esta não é a campa da vida. É seu berço. Quem pode se entristecer com o nascimento da vida? É Natal e Páscoa, magnificação da vida mortal que a partir da morte se eterniza. Portanto, há bons motivos para festejar e celebrar.

O efeito desta compreensão é a desdramatização da morte e a jovialidade da vida. A vida não foi criada para terminar na morte, mas para se transformar através da morte. Esta representa aquele momento alquímico de passagem para uma outra ordem de realidade, onde a vida pode continuar sua trajetória de expressão das infinitas possibilidades que contem, até aquela de poder se fundir com a Suprema Realidade.

Então podemos dizer: não vivemos para morrer. Morremos para viver mais. Melhor ainda: para permitir a ressurreição da carne que é a revolução dentro da evolução.

* Teólogo
Extraído de http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=30209 acesso em 30 out. 2008.

AS PALAVRAS NÃO SÃO SÓ PALAVRAS, ELAS SÃO IDENTIDADE

O importante não é dizer muitas coisas, mas ao dizer algo, é necessário que seja verdadeiro e se diga com amor, mesmo quando não se é ouvido ou não queiram escutar; do contrário as palavras se tornam fuga da verdade, esconderijo dos próprios males ou conivência com a iniqüidade praticada, porque é insensatez querer “tapar o sol com a peneira”, isto é, fingir que não se está vendo o óbvio do pecado humano escondido nas atitudes, gestos ou palavras que ofendem a dignidade humana, o amor a Deus e o respeito que lhe é devido.

As palavras não são só palavras, elas são conteúdos do coração e da vida de cada um de nós. Elas vêem carregadas de pensamentos, sentimentos, desejos, vontades e outros incrementos do humano que compõem o nosso viver. Por isso, falar é mais do que dizer palavras, é um dizer de si mesmo, pois, o nosso falar revela quem somos, o que vivemos e o que pretendemos com nosso viver; mesmo quando se usa de linguagem artificial ou de falsas palavras, cheias de perversas intenções.

Porque é por meio da linguagem que conhecemos a verdadeira identidade de cada um, seja ela visual, falada ou escrita. Porém, não se deve julgar um ser pelo ouvi dizer ou por critérios meramente subjetivos; pois, cada um revela-se a si mesmo naquilo que diz com as palavras ou com a própria vida; por isso, precisamos usar sempre de misericórdia com todos, mas nunca devemos ser ingênuos quanto ao discernimento que precisamos ter para conosco e com os outros.

A convivência é o melhor meio pra se conhecer uma pessoa em sua essência e conhecer-se a si mesmo também. Ninguém ama aquilo que não conhece e ninguém conhece verdadeiramente se não ama. Logo, o amor é o fundamento da vida, do conhecimento, da verdade de cada ser, da convivência agradável e da linguagem que se deve usar em todo e qualquer relacionamento, especialmente o relacionamento com Deus e com o semelhante, porque no amor se encontra o respeito à dignidade do outro e nossa, a admiração, a partilha do que somos, temos e vivemos. Em suma, quem não ama não sabe o que é a vida nem sabe como vivê-la de fato.

Portanto, cada um é o que é diante de Deus naquilo que vive, fala e realiza; e fiquemos certos, nada se oculta aos olhos daquele que tudo criou. E se as nossas escolhas não forem baseadas no amor e no temor do Senhor; tão pouco elas serão feitas para o nosso bem e o bem de todos, porque somente aqueles que são conduzidos pelo Espírito Santo de Deus no seu modo de ser e estar no mundo, é que são capazes de realizar com a própria existência tudo o que Deus nos ensina por meio do seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, pois Ele é o Ápice de toda a Revelação e sem Ele nada somos, nada podemos e nada temos, porque somente Nele se encontra a salvação.

Paz e Bem!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Site da Vice-Província do Brasil Oeste dos Capuchinhos


http://www.capuchinhosoeste.org.br

Site da Província do Brasil Central dos Capuchinhos

http://www.capuchinhosbc.org

Site da Província da Bahia e Sergipe dos Capuchinhos


http://www.capuchinhosbase.org.br

Site da Província de Minas Gerais dos Capuchinhos

http://www.procamig.org.br

O Profetismo Franciscano Secular

Frei Adilson Corrêa da Silva, ofm.
(Assistente Espiritual OFS-MG)

“Os leigos exercem sua missão profética também pela evangelização”, isto é, o anúncio de Cristo feito pelo testemunho da vida e pela palavra “. Nos leigos, esta evangelização... adquire características específicas e eficácia peculiar pelo fato de se realizar nas condições comuns do século”. (LG 35)
O seguimento de Jesus Cristo se traduz para o Franciscano na vivência radical do Evangelho. Assumir os passos de Cristo é traduzir para o cotidiano da vida a sua missão, que consiste na prática da justiça, da fraternidade, de paz e na manifestação do amor. Com esta forma de vida e assimilação destes valores estarão garantidos os pilares de um novo Reino anunciado por Jesus em nome do Pai. Um Reino que já iniciou com sua vinda, e que perpetua através daqueles e daquelas que assumem e põe em prática o seu projeto.

O carisma do Franciscano, se bem entendido, é uma maneira de viver mais profundamente este projeto de Jesus. Pois foi assim que Francisco e Clara buscaram seguir Jesus, o pobre, humilde e cruxificado. Intuíram estar na periferia da sociedade e da Igreja. Eles partiram para fora dos muros da cidade de Assis, onde estavam os leprosos, os mendigos, os miseráveis... e ali foram viver, seguir o Cristo. Assumiram com alegria a capelinha de São Damião e depois Santa Maria dos Anjos, ambas em ruínas. Igrejinhas estas que também estavam distantes do centro de Assis. Estas atitudes como as de Jesus, mostram o lugar onde se inicia e se instaura o Novo Reino. Como Jesus, o movimento franciscano apresenta uma nova alternativa, distante daquela implantada já repleta de vícios e manias. Assim, também agiu Jesus diante de uma prática religiosa sobrecarregada de leis que mais oprimiam do que libertavam, que distanciava a tempos da proposta amorosa do Deus da Aliança. O profetismo do movimento dos Penitentes de Assis está nesta nova proposta de vivência do Evangelho, longe dos palácios, das cúrias, das catedrais, e próximos da periferia, dos pequenos, dos menores.... E ser profeta é ter a mente no passado, todo o conhecimento da Tradição, os pés devem estar no presente, na realidade e o olhar no futuro, adiante dos acontecimentos.

A força geradora de todo esta mudança é a Sagrada Escritura, é o relato da Revelação Divina na caminhada humana. Francisco e Clara nos apresentam um modelo de interpretação desta Palavra: quando escuta o Evangelho, procuram colocá-lo em prática e desta atitude nasce uma compreensão mais profunda. Ou seja, com a ‘vida interpreta a Palavra e com a Palavra ilumina e transforma a vida’. É uma transformação radical, um movimento ‘contrário’, como já citado: do centro para a periferia da cidade, da Igreja e da vida. Lembremos da ‘escuta do Evangelho na Porciúncula, a Palavra ouvida faz Francisco mudar de hábito, este é um primeiro passo para a compreensão da Palavra que exige mais. Fazendo acontecer uma círcularidade entre Evangelho e vida. Em São Damião também podemos perceber esta realidade, a Palavra do Cruxificado convida a Francisco a restaurar a Igreja. E ele inicia a restauração daquelas paredes, porém esta restauração é bem mais ampla e atinge em cheio a Igreja humana, a Igreja estrutura, a Igreja hierarquia. Eis aqui o ponto chave de toda a vocação franciscana: Levar o Evangelho a vida e a vida ao Evangelho; ou melhor transformar a vida a partir do Evangelho, deixar –se conduzir pelo Espírito do Senhor.’

O sustentáculo para toda esta compreensão e vivência de nossa vocação e do Evangelho está na oração. É a ponte que proporciona um profundo diálogo com o Criador. Nosso Seráfico Pai já nos orienta quanto a vida de oração: “não extinguir o espírito da santa oração e devoção, ao qual dever servir todas as coisas temporais” ( RegB 5,2). Não podemos nos deixar levar por uma vida desenfreada, alienada. É preciso dialogar com Deus de maneira profunda e sóbria. Abrir o coração e silenciar para escutar a voz do Senhor. Num exercício freqüente e até mesmo exaustivo. Pois corremos o grande risco de depreciarmos nossa vida de oração, seja por um excessivo ativismo no mundo trabalho e por uma vivência alienante sem nada fazer. É preciso bem dosar nossa vida de trabalho, familiar, eclesial, e social. Dialogando com o Deus de Abraão, de Jacó, de Isaac, com Deus de Jesus Cristo, como o nosso Deus em todos os momentos da vida.

Sendo franciscanos neste novo milênio busquemos novos caminhos para vivermos nossa vocação – missão. Procurando não abrir mão do essencial que é a prática do Evangelho: na minoridade junto aos empobrecidos, com o coração aberto a itinerância, sensíveis e acolhedores na fraternidade. Assimilando os sinais de nosso tempo a partir do Evangelho, com os pés no chão e o coração aberto, colocando em prática os ensinamentos de Francisco e Clara de Assis: “Vamos recomeçar, pois até agora pouco ou nada fizemos”.
Que o Senhor vos dê a Paz!

Fonte Bibliográfica.

- O Espírito de Oração e Devoção. Documentos/ OFM – N. 18 – SP – 1996.
- A Vida em Fraternidade. OFS do Brasil. Vozes. Pertópolis – 1997.
- MULLER, Nelson; SILVA, José Belizário; TEIXEIRA, Celso Márcio; A Maneira Franciscana de Evangelizar. CFMB. Vozes. Petrópolis – 1996.
Extraído de http://www.franciscanossantacruz.org.br/informaximo/artigos/artigo.asp?id=18 acesso em 28 out. 2008.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Site das Franciscanas do Senhor


A Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor nasceu na cidade de Caltanissetta, quando a Itália se organizava enquanto Estado Moderno. Os pobres eram a maioria de oprimidos e marginalizados.

Frei Angélico Lipani, sensível à exploração dos trabalhadores das Minas de enxofre, começa acolhendo os doentes opilados e repartindo com os pobres o Pão da Caridade, juntamente com um grupo de jovens, Terceiras Franciscanas, tendo como ministra Irmã Giuseppina Rúvolo. Desse grupo, algumas jovens apresentaram o desejo de cuidar das crianças abandonadas e órfãs, consagrando-se a Deus.

E assim, aos pés do Crucifixo Senhor da Cidade e de Nossa Senhora da Pompéia, a 15 de outubro de 1885, nasce a Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor. Um projeto de vida que implica ser totalmente de Cristo, reconstruindo a Igreja pelo mundo afora, tendo no coração, nos lábios, nos olhos e nas mãos a recordação apaixonada de Jesus Crucificado.

http://www.ifrans.org.br

Site das Franciscanas de Siessen


A Congregação das Franciscanas de Siessen tem como carisma: “Abraçar Jesus Encarnado, Crucificado e Ressuscitado, nas pegadas de São Francisco de Assis, em comunidade”.

Abraçamos Jesus Encarnado, quando junto aos pobres, aos doentes, aos jovens dependentes químicos na Fazenda Esperança ou em qualquer tarefa que nos foi confiada, assumimos na pura gratuidade, na atitude de servir. Quando buscamos a “identidade daquele que sendo Deus não se vangloria desta sua condição, mas se faz menor, pequeno e pobre...”

Abraçamos Jesus Crucificado, quando assumimos nossos limites e fracassos, bem como as de nossos irmãos e irmãs ao nosso lado ou em qualquer lugar que haja dor. Quando livremente nos comprometemos como mães, irmãs e esposas de Jesus Cristo que continua sendo crucificado.
Ao abraçarmos Jesus Encarnado e Crucificado, acreditamos na ressurreição. Confiamos na força da vida que há em cada um de nós. Juntos, construímos o Reino de Deus.

http://www.siessen.com.br

Site das Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias

Como os discípulos de Cristo,
também nós fomos chamados
para estarmos com Ele
e nos enviar a anunciar
a Boa Notícia do Reino de Deus.

A nossa Congregação
nasceu num contexto de serviço evangelizador
através da catequese e da promoção humana.

Esta característica de vida apostólica, tão saliente nos inícios da Congregação, foi-se expandindo no tempo, no espaço e na forma. A certa altura da nossa história fomos chamadas a exercer a Missão ad Gentes e assim desenvolver uma nova faceta do nosso carisma missionário que envolve toda a nossa vida: oração, acção e testemunho de vida.

http://www.irmasvitorianas.com.br

domingo, 26 de outubro de 2008

Francisco e a Eucaristia

*Por Irmã Eva Maria Nunes

A nossa Província teve a graça de realizar mais um curso de formação franciscana para todas as Irmãs, concretizando mais um item da Programação deste ano e contou com a participação da maioria das Irmãs de todas as fraternidades.

Francisco de Assis e a Eucaristia foi o tema de aprofundamento que Frei Celso, com seu jeito e sabedoria especiais, com segurança e simplicidade franciscana, desenvolveu nesses dias, deixando nossas Irmãs muito à vontade para tirar suas dúvidas e dar também sua contribuição.

Frei Celso Começou suas colocações dizendo que dentro do franciscanismo global, o tema sobre Eucaristia é um detalhe, porém, a vida, atitudes e ensinamentos de Francisco e de Clara são totalmente eucarísticos. Eles são muito concretos no amor e zelo pela Eucaristia, diante da Eucaristia eles têm uma atitude reverencial que hoje nós precisamos aprender. Por causa da Eucaristia tudo o que a envolve ganha sentido, veneração, respeito, homenagem. São Francisco tem grande valorização e respeito pela Igreja, pelo sacerdote, pelo altar e pelos objetos sagrados. (cf cta. aos Clérigos).

Santa Clara, como Francisco, nutria fervorosa devoção ao Ssmo. Sacramento. Mesmo doente e acamada ficava confeccionando belos corporais e toalhas para o serviço do altar e também distribuía pelas igrejas de Assis.

Frei Celso esclarece que a visão de Francisco e de Clara a respeito da Eucaristia está vinculada à visão de mundo de uma época: Idade Média. Um mundo materialista, em que prevalecia uma concepção muito negativa da matéria. Os Sacramentos não eram valorizados e para muitas religiões, ainda hoje, os sacramentos são considerados heresias.

Para Francisco é diferente. Ele resgata a idéia positiva da matéria revelada no Gêneses. A criação. Tudo o que Deus criou é bom. “Deus viu que tudo era bom”. A matéria é boa. Em Francisco tudo é sagrado. A água, o óleo, o fogo, o sal... é matéria e são usados como sinais da graça. Francisco exalta Deus Criador no Cântico das criaturas. Aqui revela a sua visão positiva do mundo. Todas as criaturas são irmãs e tem um único Pai. Assim ele inaugura uma visão nova de toda matéria criada.

Assim como a Eucaristia tem a ver com uma visão de mundo, também as práticas de penitência, estavam inseridas nesse mesmo contexto. A origem da penitência vem dos “Cátaros” (visão Platônica e dicotômica da matéria), retorno à doutrina dos “Maniqueus”. A Filosofia maniqueísta diz que Deus criou o mundo bom e mau, criou os seres espirituais como os demônios. Para os Cátaros, a matéria é sempre má. A penitência era uma maneira de purificação e reparação do mal. Para ser santo precisava fazer muita penitência. Essa visão era muito forte na época e até a Igreja Católica aderiu essa concepção. Também Francisco e Clara estavam imbuídos dessa idéia. Francisco passa por uma transformação no seu modo de pensar, muda totalmente sua visão de mundo a partir da contemplação do mundo como obra criadora de Deus. Seu amor por todas as criaturas, seu carinho pelos animais e por todos os elementos da natureza o fizeram patrono da ecologia, uma ecologia de amor, respeito e cuidado por todo ser criado, por ser obra do criador. As criaturas existem para lembrar ao homem de louvar o criador.

As práticas penitenciais também vêm da concepção dos Cátaros. Francisco não buscava penitências, ele vivia em penitência. Os sofrimentos da vida, as dificuldades do dia-a-dia, constituíam suas penitências e ele vivia tudo com muito rigor. Seu ideal de vida era altíssimo em torno do minorismo, da pobreza, da obediência e da fraternidade. Isso foi causa de muito sofrimento para ele porque os irmãos não conseguiam alcançar esse ideal de perfeição. A realidade da vida dos irmãos nem chegava perto. Ele só fica livre do sofrimento, da preocupação com a Ordem quando em oração intui que a Ordem é de Deus e não dele.

Para nós, hoje, o sentido da penitência e sobretudo do jejum é trabalhar a nossa vontade, o egoísmo, ordenar, disciplinar, educar a vontade, buscar o equilíbrio do eu.

Os Cátaros não aceitam a cruz. Eles se desviavam da cruz e das igrejas, por isso Francisco reza: “Nós vos adoramos Senhor Jesus Cristo aqui e em todas as vossas igrejas...”

A visão de Francisco se insere em uma Teologia. Qual é a Teologia que envolve a Eucaristia naquela época?

No ano de 1215, no Concílio de Latrão, o Papa prescreve que todos os cristãos deveriam comungar uma vez por ano pela Páscoa., no máximo 3 vezes por ano.

O povo ia à missa não para participar, mas para assistir, ver e contemplar Jesus na Eucaristia. Santa Clara extrapolou. Ela comungava sete vezes ao ano.

Nesta época, era acentuado o aspecto do Cristo Senhor, o Cristo que tem poder. E São Bernardo é quem chama a atenção para a humanidade de Jesus Cristo. Foi com o Franciscanismo que na Igreja passou a ter uma visão da encarnação. A Encarnação de Jesus, o Presépio, a Paixão de Jesus – a Kenosis, eram para Francisco uma perplexidade.Ele chora contemplando esses mistérios da vida de Jesus. O filho de Deus assume a nossa condição humana, se esvazia, se torna escravo, morre numa cruz! Ele sofre como que um impacto nessa contemplação do Cristo que se encarna, o Cristo crucificado e Ressuscitado se esconde no Pão! È assim que Francisco vê a Eucaristia, como totalidade da Vida de Cristo. “Vede, Irmãos, que humildade a de nosso Senhor...Ele se esconde na insignificante aparência de um pão”.

Para nós, Franciscanos a Eucaristia tem todo esse significado, os Franciscanos procuram conscientizar o povo com essa visão-teológica Franciscana.

O mistério da vida, morte e Ressurreição de Cristo na Teologia Franciscana e na Teologia da Igreja atual é esta: Jesus Cristo, em igualdade com o Pai, vem a este mundo como homem (Kenosis): obediente, escravo, morte de cruz, Ressurreição, Cristo Senhor Ressuscitado, Deus conosco. No útero de Maria, tomou nossa carne, nossa humanidade. Na Eucaristia está presente conosco até o fim dos tempos. Assim como Ele se encarnou no útero da Virgem, está presente na Eucaristia. “Ele se humilha na aparência de um pão...”(Ad1).

Francisco, nutria um profundo e indescritível amor pela mãe de Deus por causa da Eucaristia. Consagra-lhe louvores especiais, orações e gestos de amor. Na Saudação à Bem Aventurada Virgem Maria, usa alguns termos que lhe são muito peculiares:

“ Virgem feita Igreja, Tabernáculo do Senhor, Casa, Palácio, Vestimenta...que envolve o verbo encarnado”. Tudo isso mostra claro: Encarnação↔Eucaristia.

Os Franciscanos são os Teólogos da Encarnação. Temos grandes Teólogos como São Boaventura, Dum Scotus que também defendeu o dogma da Imaculada Conceição de Maria.

O Franciscanismo tem uma visão sacramental da realidade: Deus cria com sabedoria, poder e bondade. Tudo é tão bom que Deus se Encarnou nesse mundo. Ele se apaixona pela sua obra. Na teologia Franciscana a Encarnação teria acontecido mesmo se não houvesse pecado. Pois se encarna por amor. O pobre, na visão franciscana é sacramento de Deus. “ nunca julgues um pobre, irmão”.Francisco vê no pobre e no doente a imagem de Jesus Cristo sofredor. Há um sinal de Deus nessa criatura.
* Irmã Eva Maria Nunes é
franciscana Alcantarina,
pedagoga, Mestra de Noviças e
Conselheira Provincial

Extraído de http://www.franciscanasalcantarinas.org.br/Artigos/artigos2.htm acesso em 26 out. 2008.

Site da Conferência Franciscana Internacional dos Irmãos e das Irmãs da Terceira Ordem Regular

Estão entre os objetivos da Conferência Franciscana Internacional TOR:

PROMOVER
em cada instituto e também nas relações junto aos demais institutos da Terceira Ordem Regular no mundo inteiro, uma verdadeira comunhão que favoreça a vida e a espiritualidade franciscana, de acordo com o conceito e o conteúdo da Regra e seus valores fundamentais, baseados no Evangelho e segundo os ensinamentos da Igreja.

CRIAR
e manter a solidariedade entre os institutos através de:
o ajuda mutual a nivel espiritual e material,
o colaboração apostólica,
o informação e comunicação mutuas,
o ajuda a nivel de formação,
o particular atenção aos institutos pouco numerosos ou mais isolados,
o criação e apoio às associações ou organizações franciscanas regionais e nacionais, enquanto estes meios forem requeridos.

COLABORAR
com a Primeira e Segunda Ordem e com a Ordem Franciscana Secular.



e difundir os estudos sobre a espiritualidade e a historia franciscana.

REPRESENTAR
os institutos membros da CFI-TOR, para a Igreja, para a família franciscana, para o mundo.

APOIAR
ou tomar iniciativas orientadas à preservação dos direitos universais de cada ser humano segundo o Evangelho,
velando em modo particular para o respeito da vida, da libertade, da justiça, da paz e do meio ambiente

http://www.ifc-tor.org/pt_home.htm

Site das Franciscanas dos Pobres



Nós, as Irmãs Franciscanas dos Pobres,
fomos agraciadas com a missão de curar as chagas de Cristo,
nos pobres e sofredores, em amor e serviço.

Somos uma congregação religiosa multi-cultural internacional fundada em 1845 pela Bem-Aventurada Francisca Schervier em Aachen, Alemanha. Trabalhamos sobretudo em assistência de saúde, ministério pastoral e serviços sociais no Brasil, na Itália, no Senegal e nos Estados Unidos.

http://www.franciscansisters.org/portuguese/index.html

sábado, 25 de outubro de 2008

Site das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição

É esta a chave de leitura que permite perceber a identidade da
Irmã Franciscana Hospitaleira:

Pessoa escolhida e consagrada por Deus,
para seguir Jesus Cristo, em Fraternidade,
e servir os irmãos,
especialmente os mais necessitados,
segundo o espírito das Bem-aventuranças,
num processo de conversão contínua.
Como Irmã menor e a exemplo de Maria,
serva e pobre, Hospedeira do Verbo,
compromete-se a testemunhar a Hospitalidade,
na alegria e na simplicidade,
carisma específico da sua vocação,
em comunhão com a Igreja
numa dimensão profético-missionária
inserida no mundo e situada no tempo.

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Site das Franciscanas Missionárias de Maria - Brasil Sul

Realizamos nossa vocação na via franciscana, vivendo o Evangelho no meio do mundo, em seguimento a Cristo humilde e pobre, na simplicidade, paz, e alegria.

Somos enviadas em prioridade àqueles a quem Cristo não foi ainda revelado, àqueles entre os quais a Igreja esta menos presente, com prefêrencia pelos mais pobres.

Respondendo a um mesmo apelo, vivemos com as irmãs que Deus nos dá, lugar de conversão mútua, a comunidade se constroi na fé em torno de Cristo, Palabra e Pão.
No Instituto, fraternidade Internacional reunida pelo Espírito, todas com a superiora geral- sinal e vínculo de unidade- somos responsáveis pela nossa missão e por nossa comunhão na diversidade, em fidelidade à Igreja e ao Papa.

Nossa Vida de Mulher, Pessoa Religiosa, contem como Projeto de Vida:
  • O serviço do Reino de Deus
  • O anuncio de um povo novo
  • Testemunha o Absoluto de Deus

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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A morte como paradigma de reestruturação da vida

Frei Sílvio de Almeida, OFMcap
E-mail: fsilap@yahoo.com.br

A morte tornou-se para a modernidade a mais trágica e inevitável experiência da pessoa humana. Todos morrem, porém poucos se dão conta desse fato. A grande vilã da modernidade é a morte. A cultura moderna, ainda que seja uma cultura realmente de morte, tem com a morte uma relação sempre de impropriedade, ou seja, a relação com a morte é uma relação sempre de fuga, portanto, “imprópria”. Tenta-se impedir o inevitável, o encontro com o próprio fim, quando não, tenta-se pelo menos, adia-lo ou ignorá-lo, mesmo sabendo que tal experiência é certa.

A própria ciência se encarrega de alimentar as ilusões do homem moderno, criando técnicas e pesquisando meios para prolongar a vida. Tudo isso reflete um dúplice aspecto da antropologia: um negativo e um positivo. O aspecto negativo está no fato de que o homem encara a morte como um fim último, para além do qual nada existe, a morte como última palavra; o positivo na medida em que reflete o desejo de imortalidade do homem, o qual reflete sua origem e seu fim último, sua constituição ontológica de ser criado para a eternidade.

Os dois referidos aspectos parecem se contradizer, mas não, pois o primeiro se trata de como o homem se concebe historicamente, portanto, como se auto-compreende, enquanto que o segundo trata-se de sua constituição ontológica. O que não há correspondência é o que o homem é e o que ele pensa de si. Ser e pensar, nesse caso, não corresponde, pois o homem da cultura moderna, a qual nega a metafísica, pensa só o historicamente determinado enquanto que sua condição criatural ontológica, perpassa a história e a transcende, ou seja, considera um antes e um depois.

O fato é que o homem moderno tem uma relação imprópria com a morte, uma relação de fuga: aquele que diz aceitar a morte foge tentando não pensar nessa experiência. A aceitação é aqui uma forma de escamotear essa realidade; para aquele que rejeita, foge, ou tentando evitar o inevitável ou antecipando o encontro. Nas duas formas o homem não faz uma experiência da morte. Existe ate mesmo uma justificativa filosófico-grega de que não se deve temer a morte porque nunca nos encontramos com ela, uma vez que enquanto nós existirmos ela não existe e quando ela existir já não existiremos mais. Esse é o típico argumento dessa relação de impropriedade que o homem moderno tem com a morte.

O filósofo alemão Martin Heidegger afirma que o homem é um ser para a morte. Heidegger não pensa a morte como um fim diante da qual o homem se encontra e para a qual ele caminha, mas como uma experiência da cotidianidade, a ponto de dizer que quando se nasce, já se nasce pronto para morrer. A morte é um constitutivo da experiência da vida e não uma experiência que marca um fim histórico de forma brusca, mas um acontecer na própria experiência existencial, diante da qual o homem faz de tudo para não lembrar, por isso tem com ela sempre uma relação de impropriedade.

Foge-se da morte. Tem-se pavor da morte. Os cemitérios são lugares de degradação de cadáveres, o corpo sem o espírito perde todo o seu valor – ou melhor já não é valorado nem mesmo com vida – a cremação para muitos é o melhor meio de se acabar com qualquer relação com o passado e esquecer que essa experiência acontece.

Para a biologia, a morte não é uma experiência final para a qual o homem se encaminha, mas o resultado de um processo que se inicia já no nascimento, por isso alguns argumentam de que nascemos para a morte. Nesse caso ocorre, ainda, uma dupla atitude, ambas impróprias: ou se tenta retardar o fim desse processo, ou se aceita por impotencialidade, pois nada podemos fazer. É ainda uma atitude imprópria porque é ainda uma relação de fuga ou uma tentativa de esquecimento.

Em muitos velórios, o choro, quando não é remorso, é medo e, só a poucos, é saudade de quem morreu. Compreende-se a morte sempre como uma experiência trágica, como uma total ruptura com toda a história. A morte impõe medo por marcar a finitude histórica e pela incerteza do pós-morte. Embora ninguém tenha feito a experiência final da morte, pois é sempre o outro que morre, a experiência do outro afeta e desestabiliza a minha experiência de vida. Por isso, se procura o cômodo: fugir para não ter que experimentar por antecipação uma experiência inevitável.

Pensar a morte como uma total e radical ruptura com o histórico, é pensar a história somente em termos negativos, a morte seria então uma libertação, mas continua sendo uma experiência negativa, o espiritismo, por exemplo, não é somente uma negação da ressurreição, mas também uma tentativa de se perpetuar na história. Em tudo, a morte é encarada como fim último, uma experiência negativa por romper com a história, dado ao fato que o homem compreende a existência somente com um intervalo de tempo que inicia no nascer e termina no morrer. Nesse período se tenta enganar a morte, enganando a si próprio.

Mas o que é o próprio? O que caracteriza uma relação própria com a morte? Para Martin Heidegger uma autêntica relação com a morte é caracterizada pela angústia, que não é falta de sentido, de referência, mas um modo de existir enquanto ser para a morte. O que Heidegger nomina de angústia no horizonte do existencialismo, no horizonte teológico podemos chamar de tensão escatológica entre o já e o ainda não. Trata-se de uma verdadeira tensão entre aquilo que nos é dado a ser na história e a seu rumar à plenitude do Eschaton. Tal tensão não é negativa, ao contrário, é um impulsionar a um retorno à nossa origem, da qual, segundo Mircea Eliade, temos saudade.

A morte não é o fim, mas a única possibilidade de retorno à nossa origem. É o fim da história enquanto resultado da queda de Adão e Eva. Por isso, São Paulo diz que a morte é o salário do pecado. Todavia, o histórico não desaparece com a morte, pois ressuscitaremos no corpo, mas um corpo glorificado. Isso prova que o Corpo não é em si uma realidade puramente histórica, apenas o Corpo corrompido. Se o nascer na carne humana é um nascer em uma realidade marcada pelo pecado – e não nascemos para o pecado, mas somos chamados à santidade.

A morte é um renascer para a vida eterna, um renascer que tem seu início no batismo. Desse modo, a tensão constitutiva de nossa condição ontológico-criatural constitui uma verdadeira possibilidade para uma vida cristã autêntica.

A morte não deve ser um limite, mas o horizonte a partir do qual se instaura uma vida verdadeiramente ascética. A partir de então, a vida cristã se torna um itinerário de santidade, composto por fortes e verdadeiras experiências de oração, jejum e caridade. Pensar na morte como possibilidade única de retorno à origem e não como um experiência limite para a qual caminhamos, mas como evento escatológico, é pensar no presente e toda a história como a possibilidade de construir um caminho ascético no que a morte é apenas o último estágio, o ápice do nosso batismo quando nos uniremos plenamente a Igreja celeste. No Batismo das águas somos, pelo Espírito, incorporados ao Corpo de Cristo que é a Igreja; pelo Batismo do sangue (morte) seremos mais plenamente incorporados a este Corpo. O mais plenamente, porque já não será só a Igreja peregrina, mas a Igreja toda: peregrina e celeste. O ainda não cessa e já participaremos de uma realidade que na história humana participamos em princípio.

Devemos entender que a morte não é um limite, frente ao qual devemos agir corretamente ou eticamente, pensando no fim. Se assim for, continuaremos fazendo uma experiência imprópria da morte, pois ela continua sendo um objeto fora do sujeito, um limite último para o qual caminhamos. Nossa meta não é a morte, mas a vida. Olhar e pensar na nossa morte e a partir de então construirmos um caminho ascético de santidade, não significa compreender a morte como a besta que gera terror, mas como experiência que nos lança na eternidade. Olhar para a morte a partir dessa compreensão é se auto-compreender enquanto ser contigente, mortal, marcado pelo pecado e chamados à santidade.

Sejam os padres da Patrística, sejam os grandes mestres da espiritualidade, viram na morte a possibilidade de encontro com o senhor; encontro que é o cume de uma experiência ou de um caminho ascético iniciado no nosso batismo. Pensar na morte nos remete ao mistério da revelação. Deus se fez homem, padeceu a morte e ao descer aos ínferos e ressuscitando, assegurou-nos o mesmo destino: o retorno ao Pai. Por isso, numa religião – que é sempre uma tentativa de conduzir o filho ao Pai – que foge da morte ou a tem como experiência negativa, deixa de ser uma autêntica religião.

Muitos santos franciscanos carregavam consigo em suas celas uma caveira, não por um sentimento mórbido, mas por entender que a morte é uma experiência inevitável ao indicar nossa condição criatural, lança-nos na nossa condição de seres eternos criados à imagem e semelhança. Francisco, no cântico às criaturas, chama a morte de irmã e afirma ser ela a porta para a vida eterna. Morrer nessa esperança, é morrer tendo já garantido o retorno ao Pai de onde saímos pelo sopro da vida, que saiu de dentro de si.

Ora, se o próprio indica já um caminho ascético. Aqui vale lembrar o que ocorreu com o professor de espiritualidade oriental Tomás Spindlík que ao visitar um mosteiro na Romênia pediu um conselho pessoal a um monge, este respondeu: nunca esqueça de pensar na sua morte. No autêntico, pensar na morte é construir a vida; no impróprio, a fuga reflete um vazio que aplaca o homem moderno.

Lembrar a morte é uma necessidade.
Extraído de http://www.promapa.org.br/2006/index.php?pag=artigos&exibartigo=52 acesso em 24 out. 21008.

Fotogrtafia de boskizzi.

CONDUZIDOS ÀS FONTES DA VIDA


“Levantai os olhos para o céu e olhai. Quem criou todos esses astros? Aquele que faz marchar o exército completo, e a todos chama pelo nome, o qual é tão rico de força e dotado de poder, que ninguém falta ao seu chamado”. (Is 40,26). Deus nos chama porque nos conhece e quer que tenhamos com Ele uma união perfeita em seu amor para glorificarmos o seu nome com nossa vida, pois, somos sua imagem e semelhança; essa é nossa missão.

Precisamos viver na Presença do Altíssimo para sermos suas testemunhas em meio à criação inteira. Aqui, em nosso viver natural, tudo é passageiro e nós temos a percepção desse passamento, quer do tempo, das criaturas e de nós mesmos, mas não sabemos por nós mesmos onde tudo vai chegar; a não ser pela ação do Espírito do Senhor que habita em nós e “que nos dá a conhecer as graças que Deus nos prodigalizou”. (1Cor 2,12).

Ao cultivarmos os valores eternos, ou seja, as virtudes do Espírito Santo: “amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23a) experimentamos a realidade divina como ela é, santa, justa e salvadora, e com isso compreendemos qual é o fim da fé que praticamos, a felicidade eterna em Jesus Cristo, o Filho de Deus, nosso único mestre e Senhor.

É em Cristo que depositamos todas as nossas esperanças, é nele que vivemos, é Ele nosso único sentido de ser e estar no mundo e é por ele que escaparemos da justiça divina que há de se cumprir sobre toda criação. Bem aventurados são os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo de Deus e seu santo modo de agir, estes sabem que o Santo Espírito os conduzirá às fontes da vida.

Paz e Bem!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Anel de Tucum

Paz e bem!

Neste trecho do filme O Anel de Tucum, Pedro Casaldáliga (bispo-prelado emérito de São Felix do Araguaia) explica o simbolismo deste anel.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A transbordante alegria de Francisco de Assis


Por Frei João Mannes, OFM

Os antigos biógrafos e hagiógrafos de São Francisco de Assis atestam que a sua vida caracterizava-se por uma manifestação de intensa alegria. Segundo Tomás de Celano, a "costumeira alegria" (1Cel 2,5) de Francisco era tão intensa que, para extravasá-la, "de vez em quando, colhia do chão um pedaço de pau e, colocando-o sobre o braço esquerdo, mantinha um pequeno arco curvado por um fio na mão direita, puxando-o sobre o pedaço de pau como sobre um violino e, apresentando para isto movimentos próprios, cantava em francês" (2Cel 90,127). Assim, através de muitos outros relatos semelhantes, explicita-se que Francisco era "naturalmente sorridente e jovial".

O semblante de Francisco irradiava uma indizível alegria, inclusive nos momentos mais difíceis e até dramáticos de sua existência (1Cel 5,10). Conta-se que um dia, ao caminhar alegremente por um bosque, de repente, foi atacado por ladrões. Bateram nele e o atiraram em um barraco, cheio de muita neve. Mas ele, assim que os ladrões se retiraram, saltou para fora da fossa e, com alegria redobrada, começou a cantar em alta voz louvores ao Criador de todas as coisas (1Cel 7,16). Relata-se também que Francisco conservou sua alegria mesmo no cárcere, em Perúgia. Os seus companheiros de prisão o consideraram um louco porque, "enquanto eles estavam tristes, ele [...] não parecia entristecer-se, mas de certo modo [parecia] alegrar-se" (3Soc 4).

No entanto, relata Celano, que Francisco inflamou-se de peculiar alegria, a ponto de não caber mais em si (1Cel 3,7), ao descobrir a sua razão principal de viver, ou melhor, quando "mostrou-lhe o Senhor o que convinha fazer" (1Cel 3,7). Em outras palavras, alegrou-se sobremaneira quando o Altíssimo "fixou sobre ele o seu olhar" (2Cel 10,12) e lhe revelou que a felicidade (beatitudo) não está no âmbito da fortuna, isto é, na ordem do ter, do poder, do saber, das honras e dos prazeres do corpo, mas do ser. O Altíssimo lhe mostrou que "muito mais felizes são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11,28). E à medida que Francisco dispôs-se a obedecer à Palavra de Deus, revelou ao mundo que o Evangelho é fonte de inesgostável alegria e que a felicidade nasce da conformidade íntima entre o que se quer e o que se vive.

De fato, o Pobre de Assis alegrou-se muito com a descoberta do dom de sua vocação de ser feliz na sequela Christi. E essa alegria se intensificava sempre mais cada vez que alguém o procurava com o desejo de ser feliz à maneira dele e, "levado pelo espírito (cf Mt 4,1) de Deus, vinha para receber o hábito da santa Religião" (1Cel 12,31). Ele recebia cada irmão benignamente, isto é, como dádiva divina. Basta recordar aqui a peculiar alegria que tomou conta de Francisco quando Frei Bernardo associou-se a ele, pois, "o Senhor parecia ter cuidado dele, dando-lhe o companheiro necessário e o amigo fiel" (1Cel 10,24).

A fraternidade é, portanto, um dom de Deus, bem como é dádiva divina a alegria que extravasam os irmãos à medida em que se unem e, em comunhão dialógica, respondem ao chamado do Senhor de viver e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. A vida em fraternidade é fonte de alegria porque a felicidade está arraigada em ter a quem amar e amá-lo efetivamente. Por conseguinte, na vida humana, ou melhor, na vida em fraternidade existe tanto de alegria quanto há de amor. A caridade é realmente fonte e expressão de alegria, conforme atesta o seguinte relato de Tomás de Celano: "Com quanta caridade os novos discípulos de Cristo se abrasavam! Quão grande amor de companheirismo vigorava neles! Pois, quando se reuniam em algum lugar, ou se encontravam no caminho, como acontece, resplandecia o fogo do amor espiritual, espargindo sobre todo amor as sementes da verdadeira afeição. Como? Abraços castos, afetos suaves, ósculo santo, conversa agradável, riso modesto, fisionomia alegre, olhar simples (cf. Mt 6,22), ânimo suplicante, língua que abranda, resposta delicada (cf. Pr 15,4.1), o mesmo propósito, pronto serviço e mão infatigável" (1Cel 15,38).

O pai Francisco deu tanta importância à atitude de permanente alegria dos frades que a colocou como preceito em sua primeira Regra: "E cuidem [os frades] para não se mostrar exteriormente tristes e sombriamente hipócritas; mas mostrem-se alegres no Senhor (cf. Fl 4,4), sorridentes e convenientemente simpáticos" (RnB 7,16). E os irmãos que apresentavam um rosto desanimado, cabisbaixo, sisudo e triste eram severamente admoestados por Francisco (2Cel 41,128), pois, considerava essas expressões de vida incompatíveis com uma opção de vida segundo o Evangelho de Cristo. Além disso, um irmão acabrunhado, choroso e desolado é facilmente levado a alegrias vãs (2Cel 88,125). Esse torna-se presa fácil dos demônios, visto que, diz Celano, "o demônio exulta acima de tudo, quando pode [roubar] ao servo de Deus a alegria de espírito" (2Cel 88,125).

Por conseguinte, a melhor arma ou o remédio mais eficaz contra toda espécie de vício é a alegria espiritual. E a alegria espiritual radica-se na virtude da caridade. Quem a possui é feliz e "os demônios não podem ofender o servo de Cristo, quando o virem repleto de santa alegria" (2Cel 88,125). Francisco, na Saudação às Virtudes, enfatiza que "a santa caridade confunde todas as tentações diabólicas e carnais e todos os temores (cf. 1Jo 4,18) da carne" (SV 13). Quem possui uma virtude e não ofende as outras tem todas e com elas confunde todos os vícios e pecados. Foi, portanto, dessa forma que Francisco manteve-se sempre na alegria do coração (2Cel 88,125).

A alegria do coração puro de Francisco e dos seus companheiros transborda para fora dos limites da Fraternidade constituída pelos irmãos na Ordem. Os irmãos, extravasando de alegria divina, vão ao encontro de todos os seres humanos, especialmente dos mais necessitados. É um dever alegrar-se junto aos menos favorecidos, conforme lê-se na Regra não Bulada: "os irmãos devem alegrar-se quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre os pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua" (RnB 9,2).

Todavia, a alegria franciscana deve estender-se natural e necessariamente a todos os seres do universo. Pois, todos têm a sua razão de ser em Deus que os cria livremente e, por isso, são diferentes manifestações da potência, da sabedoria e da suprema bondade de Deus. O sol, a lua, as estrelas, a terra, a água, o fogo e o vento são fontes de admiração e de inefável alegria para Francisco, porque cada criatura, na sua irrepetível singularidade, é conhecida, amada e criada no Filho e pelo Verbo eterno de Deus Pai. Enfim, Francisco, após um longo e gigantesco esforço de purificação, exultante de alegria, compôs os louvores ao Criador: "Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas".

No entanto, a alegria franciscana somente chega ao ápice da perfeição no cumprimento das santíssimas palavras e obras do Senhor: "Amai vossos inimigos e fazei o bem àqueles que vos odeiam" (cf. Mt 5,44) (RnB 22,1). Nosso Senhor promete a eterna alegria como recompensa àqueles que acolhem com amor aos seus inimigos: "Felizes sereis quando vos insultarem e perseguirem e, por minha causa, disserem todo tipo de calúnia contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque grande será a vossa recompensa nos céus" (Mt 5,11-12). A alegria consuma-se, portanto, num amor tão intenso que não apenas suporta, mas abraça pacientemente e de bom coração as injúrias, os opróbrios e desprezos "por causa de Jesus Cristo e da caridade de Deus".

No diálogo de Francisco com Frei Leão acerca da Perfeita Alegria, evidencia-se que o ser humano recebeu do Espírito Santo o carisma de "vencer-se a si mesmo" (Fior 8) até o total abandono de si: "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito" (Lc 23, 46). O amor de Deus expresso na Cruz de Jesus Cristo é, portanto, o mistério íntimo da Perfeita Alegria de Francisco e seus primeiros companheiros.

Por fim, evocamos a inaudita alegria que Francisco experimentou nos momentos mais agudos de sofrimento que precederam sua morte corporal. Na iminência da morte, já com o corpo bastante debilitado pela enfermidade, "rindo e alegrando-se, tolerava de muito boa vontade o que era a todos penoso e insuportável olhar" (1Cel 8,107). De fato, a real proximidade da hora extrema da morte não lhe causou tristeza, pois, "tendo amado até o fim os frades seus filhos, recebeu a morte cantando" (2Cel 162,214). Assim, Francisco, no auge de sua maturidade humana e espiritual, cheio de esplendor e alegria, de que os irmãos muito se maravilharam, passou da presente à bem-aventurada vida (Fior 6).

Portanto, Francisco possuía, sim, uma índole alegre. Porém, transbordou realmente de "alegria espiritual" (2Cel 88,125) ao optar livremente pelo Evangelho de Jesus Cristo, fonte de genuína e inesgotável alegria. A alegria plena encontra-se na interioridade mais íntima da alma humana, isto é, na "inocência matinal" do total desprendimento e na posse de Deus. A existência de Francisco foi expressão de "inaudita alegria" (2Cel 137,181) porquanto deixou-se impregnar e enlevar pelo espírito da jovialidade de Deus, que amorosamente se humanizou em Jesus Cristo, para que pudéssemos encontrar em sua Cruz a nossa perfeita e eterna alegria.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/mannes_171008/ acesso em 22 out. 2008.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Catando Xepa na Celebração Latino-Americana e Caribenha dos 800 anos do Carisma Franciscano


Paz e bem!

Começo meu relato informando que eu não estava inscrito para a Celebração Latino-Americana e Caribenha dos 800 anos do Carisma Franciscano. E isto porque a Família Franciscana do Brasil (FFB) mudou o endereço do site. Frequentemente eu tentava acessar o site mas eu tinha o endereço antigo e só descobri o novo endereço poucos dias após o final do prazo de inscrição; mesmo assim mandei o pedido mas negaram-no.
Conforme me informou o Frei Aldir Crocoli eu devo "agradecer" aos franciscanos e franciscanas de Petrópolis que, tentando impedir a mudança da sede da FFB de lá para Brasília, não repassaram os dados do site antigo em retalhação contra a mudança. Assim fui uma das vítimas desta briguinha.

Mas como para mim mais importante que as palestras é o encontro com pessoas que têm aspirações similares eu resolvi ir à Brasília mesmo sem inscrição.

Nos congressos e eventos similares que já havia participado a área dos estandes de exposição e venda de material é franqueada ao público; o que permite um diálogo não só entre os congressistas, mas também com diversas pessoas (principalmente do local do evento) que por diversos motivos não se inscreveram.

Ocorre que desta vez na Escola Paroquial Santo Antônio, local da Celebração, até mesmo esta área só era acessível a quem estivesse credenciado com crachá. No meio da manhã, durante o intervalo, o Osvaldo permitiu meu acesso e com isto consegui comprar vários livros e algumas camisetas. Pretendia ficar por ali mesmo, pois inclusive havia alguns televisores que estavam transmitindo as palestras; porém um coordenador do evento exigiu que eu fosse retirado do local.

Assim retornei à entrada da escola e comecei a ler os livros que comprara. Pelo meio-dia deixei minha sacola com o pessoal do credenciamento e fui procurar um local para almoçar. A tarde retornei e continuei minha leitura.

A noite a programação da celebração era a apresentação da cantata O Pergrino de Assis no Teatro Nacional e a organização da Celebração disponibilizou ônibus para levar o pessoal até lá. Como os motoristas não olhavam quem tinha crachá fui com todo o mundo. Na entrada do Teatro Nacional conheci pessoalmente o Lenivaldo, a quem conhecia pelo Orkut. Quanto a cantata registro que é muito bonita e espero que gravem um CD. Assim terminou a sexta-feira.

No sábado quando cheguei todos já estavam nas oficinas e retomei minhas leituras até que ouvi que havia uma oficina no Salão Paroquial. Fui até lá e, conseguindo entrar, participei da Oficina de Contemplação.

Após o o almoço nos arredores retornei a entrada da escola e as minhas leituras até que alguns voluntários que estavam precisando esfriar a cabeça me convidaram para dar um passeio pela cidade. Após o passeio retornei à escola e ao final da tarde voltei para casa de meu primo onde estava pousando.

Domingo foi a missa e caminhada. Como aí ninguém exigia crachá participei normalmente e como todo mundo após a entrega da carta aos governantes ao Vice-Presidente José Alencar visitei o Palácio do Planalto.

Este é o relato de minha participação marginal na celebração, espero que algumas pessoas que encontrei lá eu que estou convidando para participarem do blog apresentem relatos com outra óptica e até mais proveitosa.

Agradeço as pessoas da JUFRA-DF e OFS-DF que tentaram intermediar para que eu pudesse ter um maior proveito.

PS: Torço para que o superior do Frei ****a* determine que ele tire férias, pois o stress que ele estava não vai ser resolvido apenas com o encerramento do envento.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

William de Ockham


Guilherme de Ockham (ou Occam), frade franciscano e filósofo escolástico inglês, nasceu em 1280 (ou 1288), em Ockham, um pequeno povoado de Surrey, perto de East Horsley, na Grã-Bretanha, e faleceu em 9 de abril de 1347 (ou 1349), em Munique, na Alemanha, atacado pela peste negra.


Ockham entrou para a Ordem Franciscana ainda muito jovem e foi educado em Londres, passando, mais tarde, para Oxford. Não completou seus estudos em Oxford, mas foi durante esse período e nos anos seguintes que escreveu a maioria de suas obras filosóficas e teológicas.


Suas idéias se converteram rapidamente em objeto de controvérsia. Costuma-se afirmar que o filósofo teria sido convocado a Avignon (sede temporária do papado), no ano de 1324, pelo papa João 22. Acusado de heresia, Ockham teria passado quatro anos ali, submetido a uma prisão domiciliar, enquanto seus escritos eram analisados.


Nos últimos anos, contudo, alguns pesquisadores questionam essas informações. Segundo eles, Ockham deve ter sido enviado a Avignon em 1324, mas para ensinar filosofia na famosa escola franciscana que havia nessa cidade. Ali, ganhou inimigos entre os rivais de vida acadêmica, especialmente os seguidores de são Tomás de Aquino (que havia sido canonizado por João 22 um ano antes da chegada de Ockham), alguns dos quais acusaram o filósofo inglês de ensinar heresias. Ockham teria sido convocado pelo papa não antes de 1327, mas o processo parece não ter prosseguido.


Algum tempo depois, possivelmente no ano seguinte, depois de estudar a controvérsia entre o papado e os franciscanos sobre a doutrina da pobreza apostólica, um tema caro aos adeptos de são Francisco de Assis, Ockham concluiu que o papa João 22 era um herético, posição que defendeu em sua obra. Ockham e outros frades franciscanos fugiram de Avignon em 26 de maio de 1328, dirigindo-se a Pisa, na Itália, e conseguiram a proteção do imperador Luís 4º, da Baviera. Depois de sua fuga, Ockham foi excomungado, mas sua filosofia nunca foi oficialmente condenada. Ele passou o resto de sua vida escrevendo e se converteu no líder de um pequeno grupo de franciscanos dissidentes.


Separação entre fé e razão


Guilherme de Ockham é o último grande nome da filosofia medieval e o primeiro filósofo que encarna o que se poderia chamar de "espírito do século 14".


Levando o pensamento de Duns Scotus às últimas conseqüências, Ockham acentua a separação entre a filosofia e a teologia, entre a razão e a fé, no momento em que se anunciam as primeiras descobertas da ciência moderna.


Para Ockham, demonstrar uma proposição é mostrar sua evidência ou deduzi-la rigorosamente de outra evidente. A essa exigente concepção de prova, acrescenta-se o senso muito vivo do concreto, que faz do ockhamismo um empirismo radical.


Na opinião de Ockham, o conhecimento abstrato refere-se às relações entre as idéias, sem nada garantir sobre sua conformidade com o real. Quanto ao conhecimento intuitivo, este dá a evidência imediata, assegurando a verdade e a realidade das proposições. Só a intuição prova a existência das coisas, ponto de partida do conhecimento experimental, que, generalizando o particular, chega ao universal, à lei. É a experiência que permite conhecer as causas das coisas.


Não se trata, portanto, de conhecer o universal, mas a evidência do particular. O universal não tem realidade e a inteligência deve ser capaz de apreender o particular. Para Ockham não existem conceitos abstratos ou universais, mas apenas os termos ou nomes cujo sentido seria o de designar indivíduos revelados exclusivamente pela experiência. Assim, o Deus de Ockham é Javé, que a nada obedece, nem mesmo às idéias, pois, eliminada a realidade dos universais, tudo se torna contingente, e poderia ser de outra maneira, se Deus o quisesse. Provada a impossibilidade de racionalizar a fé, a teologia passa a proceder exclusivamente da crença, e a filosofia, da razão.


A navalha de Ockham


Segunda a professora Sara Bizarro, a "navalha de Ockham", também conhecida como o princípio da parcimônia, é uma máxima que valoriza a simplicidade na construção das teorias. A formulação mais comum desta máxima é "Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" ("As entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade"). Esta formulação é freqüentemente atribuída a Guilherme de Ockham, embora ela não se encontre em nenhum dos seus escritos conhecidos. A frase de Ockham mais próxima desta máxima é "Frustra fit per plura quod potest fieri per pauciora" ("É vão fazer com mais o que se pode fazer com menos"). No entanto, ainda segundo a professora, é defensável que Ockham se referia a uma máxima bastante conhecida, visto que o princípio da parcimônia pode até ser encontrado em Aristóteles. Pensa-se, assim, que esta máxima foi associada a Ockham não por ter sido ele o primeiro a utilizá-la, mas por causa do espírito geral das suas conclusões filosóficas.


O princípio da parcimônia pode ser considerado como um princípio ontológico ou como um princípio metodológico - e os parâmetros de simplicidade requeridos podem variar entre o tipo e o número de entidades a serem admitidas. Como princípio metafísico ou ontológico a "navalha de Ockham" diz que devemos acreditar no menor número possível de tipos de objetos. Como princípio metodológico a "navalha de Ockham" diz que qualquer explicação deve apelar ao menor número possível de fatores para explicar o fato em análise.


Guilherme de Ockham foi reabilitado pela Igreja Católica em 1359.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

A REVELAÇÃO EM SÃO JOÃO BATISTA


"Da Galiléia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele. João recusava-se: Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim! Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa. Então João cedeu. Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição". (Mt 3,13-17).

Este texto de São Mateus nos revela a profunda união entre Jesus, o Filho de Deus e João, o batista, aquele que foi enviado por Deus como precursor do Messias que devia ver a este mundo. Também nos revela a autenticidade do ministério profético de João, pois, ele é o último dos profetas, antes da vinda do Messias.
"João Batista, filho de Zacarias e Isabel, precursor de Jesus (Lc 1,57-80). É de família aristocrático-sacerdotal (Lc 1,5-7; 1Cr 24,10; Nm 18,9). É o novo Elias (Mt 3,1-3; 11,14 e nota; Lc 1,17; Ml 3,1-2.23; Eclo 48,10). É o novo Samuel que deve ungir o Rei-Messias (Lc 1,7.15; 3,21s; 1Sm 1,5-11 e 16,12s). É o profeta-monge, separado do mundo (Mt 3,1; 11,7-10)". (Dic. Bíblico).

João significa: "o Senhor é favorável": ele é aquele de quem Jesus diz: "Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele. Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar. Quem tem ouvidos, ouça". (Mt 11,11.13-15).
Em outras palavras, João representa o ápice da revelação que aponta: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". (Jo 1,29). E ainda, "Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que eu e nem sou digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo".(Mt 3,11).

Com Isto, João revela que Jesus é cumpridor das promessas que Deus Pai havia feito ao seu povo no profeta Joel: "Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas. Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão”.

“Sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias do meu Espírito e profetizarão. Farei aparecer prodígios em cima, no céu, e milagres embaixo, na terra: sangue fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E então todo o que invocar o nome do Senhor será salvo". (Jl 3,1-5).

Por fim, o Senhor Jesus, selando a missão de João e a sua, acrescenta: “A quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos sentados nas praças que gritam aos seus companheiros: Tocamos a flauta e não dançais, cantamos uma lamentação e não chorais. João veio; ele não bebia e não comia, e disseram: Ele está possesso de um demônio. O Filho do Homem vem, come e bebe, e dizem: É um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos devassos. Mas a sabedoria foi justificada por seus filhos”.

Paz e Bem!


terça-feira, 7 de outubro de 2008

“SENHOR, ENSINA-NOS A REZAR”

“Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”.(Lc 11,1).

A oração me é um bálsamo para a alma, por ela rompo as fronteiras do tempo e do espaço e me vejo diante do Altíssimo e com Ele me entretenho prostrado aos seu pés entregando tudo o que sou e sinto, enfim, todo o meu viver, trazendo desse encontro seu afeto e segurança que me faz viver neste mundo sem ser deste mundo.

Quando Jesus nos ensina a rezar, Ele o faz na certeza de que devemos nos valer da oração para nos mantermos unidos ao Pai Eterno e por meio dessa união, realizemos em tudo Sua Vontade Santa. Deus habita em nós, isso é um grande mistério de amor, mas ao que parece não despertamos ainda pra essa realidade; porém, quando o fizermos, gozaremos de sua intimidade de tal forma que poderemos até dizer como São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim”. (Gal 2,20 a).

“Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo...”. (Lc 18,1).

“Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite? Porventura tardará em socorrê-los? Digo-vos que em breve lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?” (Lc 18,7-8).

Também São Paulo quando nos ensina essa prática ele o diz: “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus”. (Fil 4,6-7). De fato, Paulo via na oração um meio de permanecermos unidos ao Senhor e sermos conduzidos por Ele à plena santidade que nos reserva em Seu Amor.

Portanto: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (Mt 26,41). Pois, uma alma vigilante é uma alma obediente e casta, cheia do temor do Senhor, capaz de tudo para lhe agradar, até mesmo da morte de cruz.

Paz e Bem!


domingo, 5 de outubro de 2008

Brasília: Celebração Latino-Americana e Caribenha dos 800 anos do Carisma Franciscano

Paz e bem!

Quem vai à Brasília, de 17 a 20 out. 2008, para a
Celebração Latino-Americana e Caribenha dos 800 anos do Carisma Franciscano?


Eu estarei no Distrito Federal de 15 a 21 out.!

‘Francisco de Assis abriu um caminho místico’

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
No momento em que os franciscanos vão comemorar os seus 800 anos, uma tradução francesa do texto fundamental dos “Fioretti” de São Francisco é publicada. Jacques Dalarun, que dirige a nova edição das “Fontes Franciscanas”, explica o que este texto nos revela sobre o “Poverello” e o ideal franciscano. Segue a entrevista dada a Martine de Sauto e publicada na revista La Croix, 27-09-2008. A tradução é do Cepat.

Por que publicar hoje o texto dos primórdios dos Fioretti?

Os Fioretti, escritos em latim antes de 1396, foram impressos pela primeira vez em 1474. Desde então, o seu sucesso nunca foi desmentido. Não faltaram lendas sobre o santo de Assis, muitas vezes mais antigas e mais fundadas que essas tardias “florzinhas”. Mas nenhuma atingiu a notoriedade do relato italiano que acabou por se confundir com a própria imagem do “pequeno pobre”. Ora, em 1902, um pastor protestante francês, Paul Sabatier, publicou Actus beati Francisci et sociorum eius. Os Fioretti são a tradução de uma parte deste texto, que tem outros 20 capítulos. A nova coleção “Fontes Franciscanas” nos brinda com a primeira tradução francesa, realizada pela Armelle Le Huërou, desses Actes du bienheureux François et de ses compagnons [Atos do bem-aventurado Francisco e de seus companheiros].

O que caracteriza esses Atos?

O próprio título já é cheio de significado. O herói não é apenas Francisco, mas, por continuidade e filiação, Francisco e seus companheiros. Por outro lado, o termo “atos” indica que não se trata de consignar pensamentos ou discursos, mas dar conta de fatos e gestas, com esta convicção muito franciscana de que os atos valem mais que as palavras. Enfim, “atos” reenvia imediatamente o leitor medieval aos Atos dos Apóstolos. Esses Atos do começo da experiência franciscana podem ser lidos como uma representação dos inícios da Igreja, quando se tratava de proclamar a atualidade do Evangelho e de pregar pelo exemplo.

Os autores tinham um objetivo ao reunir esses textos?

Aqueles cujos nomes conhecemos pertencem à influência dos espirituais, esses irmãos menores partidários de uma observância estrita da regra e do testamento de Francisco que, no final do século XIII, entraram em conflito com a direção da ordem sobre o tema da pobreza e dos estudos, e que foram condenados em 1317 pelo papa João XXII. Uma parte desses irmãos encontrou refúgio em Marche d’Ancône, uma região isolada e fora de alcance.

Muito mais do que qualquer fonte anterior, os Atos são colocados sob o signo da conformidade entre o santo de Assis e seu modelo, o Cristo. A presença de 12 companheiros como outros Apóstolos, e o fato de que um deles se enforca como Judas, destacam o paralelo entre o bem-aventurado estigmatizado e o Crucificado. No capítulo VI, o autor escreverá até que Francisco foi “como um outro Cristo no mundo”. O próprio Francisco nunca teria dito isso. Mas a história nos apresenta que cada vez que uma comunidade humana está em dificuldades, ela tem a tendência de fazer da figura de seu fundador um ícone e de projetar bem alto.

A onipresença dos companheiros, inclusive das irmãs de Marche d’Ancône, visa, por outro lado, certificar que entre os primórdios da ordem e o tempo em que os autores compõem o texto, há fidelidade aos ideais originais. Os Atos colocam assim uma questão essencial: o que a fidelidade a um ideal coloca à prova da realidade? Lembremos que Francisco morreu em 1226 sem ter resolvido o problema que o afligia: como preservar o ideal franciscano original, que era desejável para alguns, mas que já não o era mais quando os melhores discípulos se dispunham a segui-lo?

O que os Atos nos dizem sobre Francisco de Assis?

Primeiramente, que só se compreende Francisco num grupo de homens. Eles também permitem ver com insistência a indigência em que eles viviam e, por exemplo, através do episódio de Rufino que prega nu, o que poderia ser a leveza franciscana: não uma provocação (Francisco está acima disso!), mas uma espécie de transparência do ser. Enfim – e o episódio do lobo de Gubbio é um exemplo magnífico –, eles mostram como a paz e a conciliação podem ser uma resposta à violência e ao poder. Mas se, nos Atos, Francisco prega e multiplica as conversações, também o vemos absorvido pela oração e a contemplação, até o êxtase e a levitação, o que, comparado às legendas anteriores, é uma contribuição inédita. Ora, se Francisco conheceu a tentação do deserto, ele também compreendeu que não se obtém a salvação sozinho, e que o deserto só tem sentido se permite voltar ao vale dos homens.

Esta dimensão contemplativa dos Atos explica o sucesso dos Fioretti que deles foram extraídos?

Os irmãos que compuseram os Atos viviam, como vimos, em povoados encravados nas montanhas. Seu campo de ação e de pregação era muito reduzido. Eles compensavam a limitação desse perímetro por uma evasão mística. Eles não partiam mais em missão: era a sua alma que partia para Deus para encontrar nele a consolação. Uma espécie de lei histórica mostra, de até Etty Hillesum, que as provas são propícias para a dilatação da alma. Assim, os Atos oferecem uma pedagogia da vida contemplativa. O texto, uma vez traduzido em italiano sob a forma reduzida dos Fioretti e tornado acessível ao grande público, exerceu o papel de um manual espiritual e o Francisco dos Fioretti abriu aos seus inúmeros leitores um caminho místico.

Extraído de http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=17138 acesso em 05 out. 2008.

Francisco sempre é atual

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
Os que pertencem à grande família franciscana, quer sejam religiosos, religiosas ou leigos, vivem cotidianamente das intuições do “Poverello” de Assis.

A reportagem é de Marilyne Chaumont, Pierre-Louis Lensel e Martine De Sauto e publicada pelo jornal La Croix, 27-09-2008. A tradução é de Benno Dischinger.

Abertura aos outros e ao universal. Mas, também pobreza, contemplação da Criação, fraternidade, alegria. Palavras-chave para aqueles, religiosos ou leigos, que vivem da espiritualidade do “Poverello” e compõem a família franciscana. Entre eles, os franciscanos e os capuchinhos, herdeiros dos frades menores fundados por Francisco, as religiosas Franciscanas pertencentes a numerosas congregações apostólicas.

Franciscanos e capuchinhos querem “tornar atual o percurso de seu fundador”.

“Ser um discípulo de Cristo à maneira de São Francisco”. Para o padre Benoit Dubigeon, provincial dos frades menores para a França e a Bélgica, esta aspiração, da qual deriva o carisma franciscano, se declina de três modos: Uma vida de oração e de contemplação no mundo. “São Francisco dizia: “Nosso claustro é o mundo”, recorda. Uma vida de missionário que busca “tornar o Reino de Deus acessível a todos, em particular aos mais frágeis, o que pressupõe que sejamos humildes e acessíveis”. Uma vida de fraternidade, e “isto significa procurar ser irmãos de todos os homens e de todas as criaturas, o que nos leva, por exemplo, a interessar-nos por problemas como a salvaguarda da Criação ou o diálogo inter-religioso”.

Gilles Rivière, capuchinho em Paris, completa: “Agrada-me o acento posto sobre a fraternidade no pensamento e na ação franciscanas. Francisco deixou-nos um programa de fraternidade universal. Quis ir ao encontro de todos: pobres, poderosos, enfermos, cristãos, muçulmanos, procurando sempre uma relação autêntica, um caminho fraterno para o outro, além das pressões e dos medos”. Quando é interrogado sobre as razões de sua entrada junto aos capuchinhos, padre Gilles afirma que buscava o lugar onde encontrasse “o máximo de felicidade de viver e de liberdade”. Uma liberdade essencial, aos seus olhos, no pensamento e na ação franciscanas.

“A constrição não é uma maneira de convencer: a autenticidade do amor é a verdadeira sedução, diz ele. Agrada-me também a vontade, em nossa tradição, de enfrentar os problemas e de ler o evangelho na medida do homem. Tendemos a escolher as portas pequenas antes do que as grandes”. Além disso, para Gilles Rivière, outra característica essencial da família franciscana é a posição “ao mesmo tempo destacada, mas também plenamente para dentro da sociedade” “É o que nos leva, com freqüência, a sermos considerados monges”, diz divertido, antes de acrescentar, muito sério: “Esta posição permite procurar a distância necessária para tentar refletir melhor para agir melhor”.

Para ambos, a família franciscana ainda tem, em seu jubileu, um papel a desempenhar no mundo. “O aspecto importante do nosso jubileu é tornar atual o percurso de nosso fundador, sublinha o padre Dubigeon. Devemos trazer à memória aquilo que ele nos deu e ter a audácia de apresentar gestos novos, inspirados em sua mensagem. Isto implica em sermos “conectados” com a vertente que é sua obra para apresentarmos gestos fecundos, sem o que se corre o risco de ser “azafamados sem fazer nada”.

As irmãs franciscanas na escola do Pobre de Assis

Hoje septuagenária, a Irmã Jacqueline, professora, entrou a cinqüenta anos na Congregação das Franciscanas missionárias de Maria. Sua vida se desenvolveu entre o Congo Brazzaville, a Algéria e a Tunísia, depois em Roma, antes de voltar a Paris, onde é antes de tudo responsável por um pensionato estudantil. Seduzida inicialmente pela alegria e pela abertura das franciscanas, insiste na “humildade e na arte de não se levar demasiado a sério” que as caracterizam, e na atenção aos mais pequenos (refugiados, afetados por AIDS, prostitutas...), à não-violência e à busca da justiça. Os “círculos do silêncio”, organizados em diversas cidades francesas para protestar contra a prisão dos clandestinos, ou a ação da ONG “Franciscains international” na ONU, são disso bons exemplos.

Membro da mesma Congregação, Irmã Lucienne, 55 anos, enfermeira, passou 23 anos em Aïn Draham (na Tunísia), uma cidadezinha de montanha onde dirigia um orfanato. Atraída “pelo equilíbrio entre ação e contemplação” e “pelo espírito de paz, de alegria e de reconciliação”, reconhece o valor do exemplo que tem para ela o encontro “gratuito” de Francisco com o sultão do Egito em Damietta no ano de 1219. “Francisco, com seu modo de aceitar o outro em sua diferença, de maravilhar-se em ver como o outro traz alguma coisa de Deus e o transmite, permite-me responder à minha vocação, explica. É um modelo para viver isto na terra do Islã, onde não se pode evangelizar em alta voz, mas onde tudo o que se faz com amor é sinal da presença de Deus, de sua encarnação no mundo”.

Irmã Marie Claude, 43 anos, do Instituto das Irmãs de São Francisco de Assis (nascido da união de sete congregações), fala também ela da simplicidade, da alegria, da disponibilidade para os outros, da humildade. E acrescenta aquela que ela chama, no seguimento de Francisco, a preocupação “de fazer-se mais pequena”, de não dominar o outro. Enfermeira coordenadora no Accueil Saint-François, casa de repouso de Fontenay-sous-Bois (Val-de-Marne) que acolhe 51 pessoas, das quais 14 atingidas pelo mal de Alzheimer, deseja ver em cada pessoa um ser amado por Deus, “mesmo que se trate de uma pessoa desorientada ou demente”. “Isso requer uma forma de despojamento, de distanciamento de certo pendor ao domínio, reconhece. Mas, estas pessoas me ensinam a gostar também das relações simples, das pequenas “florzinhas” da vida.

Clarissa no mosteiro de Sainte-Claire de Cormontreuil (no Marne), Irmã Elizabeth, de 61 anos, é sensível à capacidade de maravilhar-se ante Francisco de Assis, a quem “o Espírito Santo havia dado a capacidade de ter um novo olhar sobre cada ser, sobre a criança, sobre a Igreja”.Aquela capacidade, ela se esforça em cultivá-la em comunidade ou em seus momentos de releitura da vida, “para continuar discípula de Clara e de Francisco, e de Cristo pobre. Sinto-me na sua escola”.

O Pobre de Assis, primeiro da fila para os jovens da ordem secular.

“A Regra de vida dos franciscanos seculares é a seguinte: viver o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo os exemplos de São Francisco de Assis, que fez de Cristo o inspirador e o centro de sua vida com Deus e com os homens”. É neste espírito do artigo 4º da Regra que os leigos da Ordem franciscana secular (OFS) que os leigos escolhem seguir os passos do mendicante de Assis no mundo. No decurso dos séculos, “terciários” (membros da ex- ordem terceira franciscana, predecessora da OFS) de diversos níveis os precederam, como São Luiz ou o beato Federico Ozanam: “Nossa especificidade é viver o Evangelho com uma coloração franciscana: certo distanciamento ante as coisas, uma alegria simples, uma relação privilegiada com a natureza da qual Francisco cantava a beleza, uma confiança no Evangelho, indica Régis Laitier, responsável nacional da OFS, subdividida em fraternidades. Procuramos viver de maneira humilde e pobre”. Uma regra de vida que se empenham a seguir os membros da OFS, fazendo profissão.

Na França são 3000, no mundo chegam a 400 000 – e se percebe neles um frêmito, em particular nos jovens desejosos de colocar-se na escola do Pobre de Assis. Em Cholet, em torno dos religiosos, ou em Arras, junto às clarissas, nascem pequenos núcleos que se juntaram à OFS quando se organizaram como Juventude franciscana. “Estes grupos nascem com freqüência em torno de um convento ou de um mosteiro”, explica Gaëtane Markt, encarregada da comissão jovem da OFS, para a qual o fundamento da Juventude franciscana é “acompanhar um jovem num caminho de vocação – em sentido amplo – ajudando-o a crescer de um ponto de vista humano, espiritual e franciscano”.

Em Bitche (Mosela), a fraternidade local, composta por famílias, por leigos consagrados e por padres diocesanos, hospeda uma Juventude franciscana muito vivaz: jovens dos 16 aos 30 anos vêm para aí encontrar “a alegria, o amor fraterno, a prece, a música, uma formação intelectual”. “São coisas que me dizem que efetivamente é possível ser hoje um jovem “no” mundo, sem ser “do” mundo”, resume Marie Feillet, de 20 anos, que pertence à Juventude franciscana local. Com os outros membros da fraternidade ela se reúne para encontros de fim de semana, peregrinações a Assis ou a Fátima, dias de retiro ou campings estivos que favorecem o crescimento humano e espiritual. Sempre se inspirando no “primeiro da fila” que deve conduzi-los a Cristo.

“São Francisco viveu o Evangelho com uma radicalidade surpreendente, afirma Marie Feillet. Despojou-se de tudo para receber tudo de Deus. Viveu no amor que levava aos seus irmãos. São estes aspectos da vida de São Francisco que me impeliram a entrar na Juventude franciscana. É um caminho de santidade, para tornar-se fascinador e viver no coração de Deus. ‘Aonde vai, Francisco? Vou mostrar-lhes o Amor’.”

Extraído de http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=17158 acesso em 05 out. 2008.

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