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sábado, 31 de outubro de 2009

Encontro de Formação e Articulação da Pastoral da Ecologia

Encontro será dia 21 de novembro, das 8:30 às 16 horas na CNBB, em Porto Alegre.

Em muitas comunidades, paróquias e dioceses do Rio Grande do Sul já existem pessoas organizadas, grupos se organizando e movimentando a Igreja e a sociedade para a causa ecológica. A Igreja no Rio Grande do Sul (CNBB Sul 3) quer reconhecer e fortalecer todas as práticas já existentes no campo da ecologia e fomentar novas iniciativas para que de fato tenhamos uma Pastoral da Ecologia.

Para isso foi programado um encontro de formação e articulação, em Porto Alegre, na sede da CNBB, para o dia 21 de novembro.

Para este encontro, está sendo convidada uma representação de cada diocese do regional e outras pessoas que já estão atuando ou que pretendem atuar em sua comunidade, numa pastoral específica para a causa ecológica.

Trata-se de um encontro de formação e articulação, onde serão abordados temas referentes à crise ecológica e a visão cristã de ecologia. Também haverá um momento de encaminhamentos práticos de como organizar a Pastoral da Ecologia nas comunidades, paróquias e dioceses.

Data: 21 de Novembro (sábado) Hora: 8h às 16h, com almoço no local Local: CNBB Sul 3 – Av. Cristóvão Colombo, 149 - Porto Alegre – RS

Para maiores informações e confirmação de presenças:
(51) 9899.5706 - Natália; (51) 8546.3317 - Pilato; (51) 3225.8483 - CNBB
Por e-mail: pastoraldaecologia.rs@gmail.com ou freipilato@gmail.com

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O VERDADEIRO ENCONTRO COM DEUS












O VERDADEIRO ENCONTRO COM DEUS.

Existe no ser humano uma profunda carência, um profundo desejo de felicidade. Ele quer sempre atingir a plenitude de si mesmo, isto é, a perfeição ou a satisfação total dos seus anseios; mas, ao que parece, nunca está satisfeito, por mais que tente, falta-lhe algo. Ninguém pode dizer: estou cem por cento feliz ou satisfeito; na verdade, alternamos momentos de tristeza, decepção, angústia, inconformismo, etc. Em suma, quem poderá dizer: Sou totalmente realizado, sem que lhe falte algo?

Queremos a felicidade, lutamos por ela e, aparentemente, muitas vezes temos tudo para sermos felizes, porém, o nosso coração deseja ir mais além do que somos ou temos, porque tudo isso não é para sempre; ora, desejamos algo que permaneça, pois, a segurança das coisas passageiras não nos leva à totalidade de nós mesmos, daí sentencio: nenhum ser limitado poderá preencher nosso desejo de infinito e a felicidade não é algo que está fora de nós ou nas coisas criadas, ela vem de Deus e só em Deus a podemos encontrar, pois Deus não tem limite e é a ele que na verdade desejamos. Onde poderemos encontrá-lo se ele é invisível? Como poderemos encontrá-lo com o nosso limite, nossos defeitos, nosso modo de ser muitas vezes insatisfeito e tedioso?

Caríssimos, o ar que respiramos é um elemento natural invisível que participa diretamente do nosso existir em todos os sentidos e, naturalmente falando, sem ele nada somos, nada podemos; sem ele e os outros elementos naturais necessários, não há vida. Ora, Deus também é invisível, porém, Eterno; Ele é o Senhor do céu e da terra e de toda a criação e só NELE se encontra realmente a nossa razão de ser e de viver.

Estamos envoltos nessa atmosfera criadora e misteriosa, onde queremos a vida e parece que ela nos escapa a todo instante; queremos respostas para os nossos porquês, mas não as encontramos senão na invisibilidade divina. Deus é invisível, é verdade, mas comunicou-nos a criação e a vida que possuímos e que se esvai, não para o fim, mas para o encontro definitivo com Ele.

“Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. Esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus...”. (Hb 1m1-4).

Desse modo, Deus deu-se a Si mesmo, comunicou-se a nós por Jesus Cristo, o Verbo Divino, o Cordeiro Imolado que tira o pecado do mundo, isto é, liberta-nos da falta de comunhão com Deus. Ele é a Palavra Infinita do Pai que nos comunica o Pai, porque ele é Deus com Deus e em Deus e só NELE somos eternos e temos todas as respostas que buscamos.

Disse Jesus: “Quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida” (Jo 6,47-48). “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão, que hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. Em verdade em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”.(Jo 6,51.53-54.56).

Como Pai amoroso e infinito, Deus quer que tenhamos a vida divina em nós e isso ele faz por Jesus Cristo, Palavra Eterna e Verbo feito carne; em Jesus temos o verdadeiro encontro com Deus, porque ele é a vontade do Pai para as nossas almas e só nele temos a Verdade que nos liberta, a Paz que nos conforta, a Alegria que nos preenche e a Vida que não tem fim.

Paz e Bem!

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Porto Alegre : Grupo de Estudos das Fontes Franciscanas

Em Porto Alegre (RS) há um
Grupo de Estudos das Fontes Franciscanas,
sob a assessoria do Frei Dorvalino Fassini, OFM,
que reune-se uma vez por mês
das 09h às 11h30min
na Igreja São Francisco de Assis
-- Rua São Luís, esquina com
Rua Domingos Crescêncio --.

O próximo encontro será:

  • 08 nov., domingo

Os encontros são abertos para todos os interessados,
apareçam!

O INVERSO DO AVESSO















O INVERSO DO AVESSO...

Estou hospedado nesta terra...
Mas, Deus Pai, que me criou...
espera de mim em seu amor...
o testemunho de sua presença em minha vida...
Porque é assim que correspondemos à verdade
da felicidade da existência...
para muito além da finitude dessa sua obra...

De fato, estamos aqui,
mas não somos daqui...
Porque “é em Deus que vivemos,
nos movemos...
e somos”...
E embora peregrinos neste mundo...
Na verdade temos saudade do céu...
Estado perfeito de nossa permanência definitiva...

Aqui tudo é provação...
Desafios de fé...
Mas, em nenhum momento Deus nos deixa sozinhos...
porque sabe que sem Ele...
nada somos, nada podemos...
E mesmo que o desprezemos...
sua misericórdia jamais nos deixará...
Porque aqui é o lugar de nossa conversão...
onde Ele estende a sua divina mão...
para nos reerguer de nossas quedas...

Não façamos pouco caso de sua paciência...
Estragando com nossa demência...
os valores eternos que do Senhor recebemos...
Porque se lançarmos fora esses valores...
só restará os dissabores de nossa desobediência...
intendência de almas torpes...
impregnadas dos horrores das maldades praticadas...

Nossa origem é divina...
Mas não compreendemos ainda...
o mistério da vida...
Muito menos o mistério da iniquidade...
Isto porque a princípio vemos esse nosso mundo
como uma manta de tricor pelo avesso...

No dia eterno e santo...
dia de nossa páscoa da ressurreição...
veremos a beleza de seu inverso...
Entenderemos então...
que Deus em sua Infinita Sabedoria...
Dispôs tudo a nosso favor...
De acordo com o seu plano para a nossa salvação...

Paz e Bem!

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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

VINDE A MIM...
















VINDE A MIM...

Quem somos?
De onde vimos?
Pra onde vamos?
De nós mesmos...
não temos resposta alguma convincente...

E o que podemos?
Na atual situação...
Pouco ou quase nada...
Porque somando...
Tudo o que pensamos...
Tudo o que falamos...
E tudo o que fazemos...
O fim do compasso dessa somatória...
São as tragédias de nossa história...
causadas por nós mesmos...

Ó Senhor...
Devido à falta de fé...
à impiedade...
E a indiferença...
Cresce a maledicência...
O egoísmo...
O hedonismo...
E toda espécie de confusão...

Os homens não se entendem mais...
E por isso falta paz...
Falta amor...
Falta perdão...
E o número dos que obtêm a salvação...
é cada dia mais escasso...

Ó Senhor...
Só tu És nossa única riqueza...
Nosso único tudo...
E o mundo por negar essa verdade...
Vive mergulhado na tragicidade da morte...
Cultivando toda sorte de perversão...
De ilusão e sofrimento...

Então, atenção...
Ó homens todos desta terra...
Calem-se todas as vozes...
Cessem todos os ímpetos...
Fale-nos somente o Verbo de Deus Humanado...
que venceu definitivamente o pecado...
e o seu maléfico autor...
Fale-nos Jesus, nosso Senhor...
que sepultou a morte com sua morte...
Para nos dar a Feliz Ressurreição...

“Por aquele tempo,
Jesus pronunciou estas palavras:
Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos
e as revelaste aos pequenos.
Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado”. (Mt 11,25-26).

“Todas as coisas me foram dadas por meu Pai;
ninguém conhece o Filho, senão o Pai,
e ninguém conhece o Pai, senão o Filho
e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo”.

“Vinde a mim,
vós todos que estais aflitos sob o fardo,
e eu vos aliviarei.
Tomai meu jugo sobre vós
e recebei minha doutrina,
porque eu sou manso e humilde de coração
e achareis o repouso para as vossas almas.
Porque meu jugo é suave
e meu peso é leve”. (Mt 11,27-30).

Senhor Jesus,
por favor, nos resgate desse nosso nada...
Visto que fizeste tudo do nada...
Porque só Tu tens o Poder...
E ninguém, por mais ousado que seja...
poderá te desafiar ou contradizer...
Porque só tu És e sempre Serás...
E nós, sem Ti, Senhor,
o que somos ou seremos?

Paz e Bem!

Do terceiro capítulo da Imitação de Cristo:

Bem-aventurado aquele a quem a verdade por si mesma ensina, não por figuras e vozes que passam, mas como em si é. Nossa opinião e nossos juízos muitas vezes nos enganam e pouco alcançam. De que serve a sutil especulação sobre questões misteriosas e obscuras, de cuja ignorância não seremos julgados? Grande loucura é descurarmos as coisas úteis e necessárias, entregando-nos, com avidez, às curiosas e nocivas. Temos olhos para não ver (Cf. Sl 113,13).

Que se nos dá dos gêneros e das espécies dos filósofos? Aquele a quem fala o Verbo eterno se desembaraça de muitas questões. Desse Verbo único procedem todas as coisas e todas o proclamam e esse é o princípio que também nos fala (Cf. Jo 8,25). Sem ele não há entendimento nem reto juízo. Quem acha tudo neste Único, e tudo a ele refere e nele tudo vê, poderá ter o coração firme e permanecer em paz com Deus.

Ó Deus de verdade, fazei-me um convosco na eterna caridade! Enfastia-me, muitas vezes, ler e ouvir tantas coisas; pois em vós acho tudo quanto quero e desejo. Calem-se todos os doutores, emudeçam todas as criaturas em vossa presença; falai-me vós somente.

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terça-feira, 27 de outubro de 2009

O espírito de Assis

Frei Ary E. Pintarelli, OFM

Os encontros de oração e jejum pela paz convocados pelo Papa, em Assis, nos dias 27 de outubro de 1986 e 9-10 de janeiro de 1993, pertencem àquele tipo de experiências que não esgotam seu significado e sua grandeza no fim do dia em que foram vividas, nem nos gestos e palavras pelas quais foram expressas. Isso porque se tornam como que "sacramentais", ultrapassam qualquer tipo de materialidade para chegar à categoria do simbólico, tornam-se verdadeira "profecia", no sentido primeiro e mais profundo do termo. A presença simultânea dos representantes das grandes religiões do mundo, de modo especial, dos hebreus, cristãos e muçulmanos, que há muitos séculos se tratavam com suspeita e até intolerância, o objetivo comum que os reuniu, rezar pela paz, o estar lado a lado partilhando as mesmas ansiedades e os mesmos ideais, transforma-se num fato prodigioso, num genuíno "sinal dos tempos".

Desde o século XIII, muitas outras circunstâncias sempre atraíram grandes personalidades a Assis. Sobretudo papas. Para só ficarmos nos tempos mais próximos a nós, recordamos a peregrinação de João XXIII, antes da abertura do Concílio Vaticano II, e do próprio João Paulo II, em 1978, no início de seu pontificado, e depois, em 1982. Mas esses dois encontros, de 1986 e 1993, assumem um valor e um significado especial, por causa daquilo que ali se fez e por originar aquilo que o próprio Papa chamou e se continuou a tratar de "espírito de Assis".

Assis foi definida pelo Papa como a "cidade da paz", a "cidade sobre o monte, símbolo da oração e da paz". E isso conferiu à cidade um caráter bíblico. Quantas cidades e lugares da Bíblia tiveram, e têm ainda, um sentido especial na história da salvação. Lembremos, apenas a título de exemplo, Belém, o Monte Sinai, Betel, Nazaré, o Tabor, Jerusalém e outros. Para o mundo todo, não apenas para o mundo cristão, Assis deverá ficar para sempre associada à paz, à oração, à penitência pelos grandes desmandos da humanidade.

Embora possa parecer retórica, a pergunta a fazer seria: Por que exatamente Assis, esta minúscula cidadezinha umbra, recolhida e sugestiva, sem grande importância histórica, social, econômica ou estratégica, à margem dos grandes acontecimentos sócio-culturais e políticos do nosso tempo? E então, nos virá à mente que essa pergunta já foi feita quase oito séculos atrás, quando Frei Masseu, muito humilde e admirado, perguntou a Frei Francisco: "Por que todo o mundo anda atrás de ti e toda a gente parece que deseja ver-te e ouvir-te e obedecer-te? Não és um homem belo, não és de grande ciência, não és nobre: donde vem, pois, que todo o mundo anda atrás de ti?" (cf. Fioretti, 10).

Conhecemos a resposta de Francisco, mas preferimos dizer que foi escolhida a cidade de Assis porque lá estão Francisco e Clara. E se essas duas grandes almas, únicas e complementares, não fazem de Assis um ponto de referência dos movimentos políticos, econômicos ou outros, a transformam em ponto mundial de convergência de toda autêntica espiritualidade, mostrando que é possível viver de forma radical e completa o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ambos viveram uma experiência que não os levou para fora do mundo, mesmo que Clara se tenha fechado num mosteiro, não se evadiram, não fugiram, mas inseriram-se totalmente nele de forma construtiva, participativa, simpática. A experiência dos dois grandes assisienses foi de abertura para Deus, para o próximo, para a criação, renunciando a si mesmos, tomando sua cruz e seguindo o Mestre (cf Mt 16,24). Sua experiência os levou diretamente ao homem, ao verdadeiro homem, ao homem humano, isto é, o homem original, criado, não fechado em si, mas aberto ao outro, em comunhão, em fraternidade.

"Por que a ti, por que a ti ... ?", repetia com simplicidade e espanto Frei Masseu. A resposta ao fato do segredo de Francisco exercer atração sobre as pessoas de todos os tempos, raças e religiões, está na verdade de ele ter-se realizado como homem. Desde o paraíso, o homem quer ser igual a Deus. Mas esqueceu-se de que para isso é preciso ser verdadeiro homem. Nem quando, para mostrar o caminho, o próprio Deus se fez homem e habitou entre nós (cf. Jo 1,14), o homem aprendeu a lição. E continua o problema de as pessoas, o mundo todo, especialmente o nosso, precisarem descobrir a humanidade do homem. Francisco e Clara, plenamente homem e plenamente mulher, são uma proposta, sobretudo para os nossos dias, quando vemos explodir os ódios mais irracionais, as violências mais atrozes, as barbáries sem precedentes, as guerras mais devastantes. Francisco e Clara são duas figuras humanas que, de maneira mais profunda que tantas outras, fazem que não nos envergonhemos de ser humanos e nos ajudam a entrever uma possibilidade de construir um mundo mais fraterno.

O caminho da paz passa pelo homem, mas pelo homem autêntico, original, reconciliado, fraterno. Por isso, o Papa escolheu Assis para sede dos encontros de oração pela paz, e ele próprio dirigiu-se para lá, como que para nos dar o exemplo e para que, como ele, o façamos nós também (cf.Jo 13,15). Como no tempo de Francisco a meta da penitência e da peregrinação era Santiago de Compostela, Roma, ou a Terra Santa, hoje, o caminho passa por Assis.

Mas o homem é um eterno insatisfeito, e continua a perguntar. Desta vez, sobre a utilidade de tais manifestações. E aqui devemos voltar a algo que, de passagem, falamos acima. A utilidade de tais encontros, além da utilidade intrínseca da própria oração, está no fato de tais encontros serem "proféticos". E o mundo tem necessidade urgente da "profecia", precisa reencontrar os rumos fundamentais, os pontos de referência mais válidos e universais, a estrada justa de sua felicidade. Não será a busca de caminhos certos, de saídas viáveis, que faz as pessoas criarem seus "ídolos", escolhendo cantores, esportistas, artistas vários para modelos de seus comportamentos?

É preciso identificar pontos de referência válidos, capazes de conduzir à felicidade duradoura, à felicidade que a traça não corrói e o ladrão não rouba (cf Lc 12,33), e não correr atrás da felicidade fugaz do lírio do campo, que hoje cresce e amanhã seca (cf Lc 12,28). É preciso identificar tais pontos, tais valores, indicá-los aos homens, protegê-los da apatia, defendê-los dos profetas do absurdo, dos contravalores, ou como diz Paulo VI "atingir e como que modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação" (EN 19).

E aqui se deve dar destaque a uma realidade sempre comprometida e ameaçada pela falta de paz: a vida. E a vida em abundância (Jo 10,10), esta realidade maravilhosa, valor primeiro e fundante de todos os outros, dom recebido para ser protegido como a pupila dos olhos, para ser derramado a mancheias pelos quatro cantos do mundo, com absoluta gratuidade e total disponibilidade. É preciso proclamar de cima dos telhados (cf Lc 12,3) que a vida é um "a priori" absoluto e que, enquanto a humanidade não compreender isso, não chegará a bem algum. É preciso apregoar que não é refugiando-se na violência e no horror que se constrói o mundo.

Assis nos diz que a violência, a guerra, a intolerância cruenta e tudo o que combate a vida é o que existe de mais irracional e desumano.

Assis nos diz que a vida vive onde há concórdia, colaboração, respeito mútuo.

Assis nos diz que para mudar o mundo não bastam coalisões de poder, pactos de egoísmo e exploração.

Assis nos diz que somos uma fraternidade, que nos construímos e amadurecemos como pessoas, mediante uma rede de relacionamentos interpessoais.

Assis nos diz que ou nos tornamos homens, juntos, ou seremos lobos mais ferozes que o de Gubbio, a nos devorar uns aos outros.

Assis nos diz que ou nos salvamos juntos, como povo, ou pereceremos todos nas tempestades que agitam o mundo.

Assis nos diz que não é possível desinteressar-se dos outros, pensando permanecer incólumes.

Assis nos diz, enfim, que se o mundo quer ser realmente humano, deve superar toda a espécie de egoísmo, de racismo, de divisões e construir uma fraternidade universal.

Este o grande testemunho que, de maneira sublime e inigualável, nos é dado por Francisco e Clara. E esta é sua grande "profecia" que, neste espírito, se tenta resgatar com os dias de oração e jejum.

Como cristãos, temos consciência de ter um projeto de amor - o primeiro e máximo mandamento -, e porque filhos do Deus da paz, somos chamados a ser "construtores de paz" e obrigados a dar esse testemunho profético ao mundo. Nossa credibilidade de cristãos - e, eventualmente, de franciscanos -, nossa razão de existir, dependerá fundamentalmente do nosso esforço de enfrentar os grandes desafios do mundo, sobretudo os desafios que envolvem a vida, a pessoa, a fé, a reconciliação, a paz, a esperança.

O "espírito de Assis" proclama que a vida pode renascer, que a separação jamais é tão grande e forte que não possa ser superada, que a fé é uma componente essencial da pessoa, que a reconciliação é o início de qualquer caminhada comum, que "a paz é o outro nome de Deus" e que, por isso, existe esperança para o nosso futuro.

Esta utopia que Assis nos apresenta e que como cristãos, franciscanos ou amigos e admiradores de Francisco e Clara queremos assumir.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2009/espiritodeassis_09/index.php acesso em 27 out. 2009.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

FORA DISSO...














FORA DISSO...

A vida que somos e vemos...
É verdade divina revelada...
É Sabedoria do Senhor...
É expressão do seu amor...
É obra prima incomparável...
Que traz em si o propósito santo...
A divinização do humano...

E, no entanto...
o desprezo desse propósito é tamanho...
Que hoje somos seres estranhos...
Mergulhados nos desenganos...
Transformando oásis em deserto...
O paraíso em caos...
O céu em inferno...
O bem em mal...
E a vida...
em morte descabida...

Perdemos a paz...
porque perdemos o Senhor...
Não gozamos mais do Seu amor...
por causa da nossa desobediência...
e da discrepância de nossa conduta...
labuta de pecadores...
que arruínam mais e mais..
o curso da própria vida...

Deixamos as Leis de Deus de lado...
e fizemos as nossas,
mas elas se tornaram troças...
porque não as cumprimos...
E construímos muros de arrimos...
Que se tornaram nossas prisões...
Porões do medo...
Até que tudo termine...

O que precisamos fazer então...
para mudar essa situação?
Só há uma saída...
Arrependimento...
Conversão...
Penitência...
Purificação...
Fora disso...
Não há salvação à vista...

Paz e Bem!


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domingo, 25 de outubro de 2009

A Opção pelos Pobres é Opção pela Justiça, e não é Preferencial

Para um reenquadramento teológico-sistemático da Opção pelos Pobres

José María VIGIL

Situação da questão

Sempre dissemos que a Opção pelos Pobres fundamenta-se em Deus mesmo, no ser de Deus, e tem, portanto, natureza “teocêntrica”[1] : De certa maneira, podemos dizer que Deus mesmo faz opção pelos pobres, Deus “é” opção pelos pobres. Era um consenso universalmente sentido que esta Opção pelos Pobres baseava-se precisamente no Amor-Justiça do Deus bíblico e cristão[2].

Entretanto, com o advento da “crise da Teologia da Libertação”, alguns autores suavizaram seu discurso sobre a Opção pelos Pobres, preferindo abandonar a perspectiva do Amor-Justiça[3], substituindo-a quase completamente pela da “gratuidade” de Deus como fundamento da Opção pelos Pobres. Neste novo posicionamento, Deus, simplesmente “prefere” os pobres, tem uma “fraqueza” misericordiosa, uma “ternura” incontida para com eles, e não se deverai buscar muitas razões para esse fato, precisamente porque é “gratuito”.

A Opção pelos Pobres resultaria ser uma espécie de “capricho” de Deus com relação aos “pequenos”, aos “fracos”, aos “insignificantes”. É destes que hoje se deveria falar, e já não mais dos “pobres” no sentido forte[4] do discurso clássico, o qual hoje estaria já ultrapassado. A própria teologia da Opção pelos Pobres deveria desvincular-se do tema forte da justiça e ser adjudicada ao tema suave da gratuidade.

Minha tese é que este deslocamento do acento da Justiça para a Gratuidade de Deus como fundamento da Opção pelos Pobres deteriora e finalmente faz uso indevido dessa opção – consciente ou inconscientemente –, ao convertê-la em uma simples “preferência”, em um “amor preferencial”, uma simples prioridade de ordem na caridade[5], deixando de ser uma verdadeira “opção”, uma tomada de partido disjuntiva e excludente, como uma opção fundamental, fundada para nós na própria natureza de Deus.

Não nego que tenha algum sentido afirmar que “Deus tem uma preferência gratuita pelos pequenos e pelos fracos”; mas sustento que tal “preferência” não pode ser identificada, em um sentido preciso, com a Opção pelos Pobres, nem muito menos pode ser posta como fundamento da mesma. Confundir a Opção pelos Pobres com essa “preferência de Deus para com os pequenos e fracos”, ou com o assim chamado “amor preferencial pelos pobres”, e aplicar-lhe o mesmo nome de Opção pelos Pobres, é ser vítima da confusão, ou ceder diante da estratégia de quem tentou re-significar e ocupar o termo Opção pelos Pobres para despojá-lo de seu conteúdo próprio. A Opção pelos Pobres original e clássica latino-americana, a típica da teologia e da espiritualidade da libertação, a Opção pelos Pobres pela qual morreram nossos/as mártires, e que também nós consideramos “firme e irrevogável”, é outra, e deve ser diferenciada de qualquer sucedâneo. Uma fidelidade valente e lúcida deve refutar consciente e expliticamente esta pretensa fundamentação da Opção pelos Pobres na “gratuidade” de Deus. É o que quero ajudar a esclarecer. Para tanto, nada melhor que tratar de reajustar sistematicamente a própria natureza da Opção pelos Pobres.

Primeira tese: em sentido estrito, Deus ama sem preferências nem discriminações.

Afirmar o contrário seria, em boa parte, um antropomorfismo. Deus ama a todos/as igualmente, com um amor tão peculiar para cada pessoa, e ao mesmo tempo tão infinito, que não há possibilidade de quantificações nem de comparações nesse amor. Toda pessoa pode sentir-se amada infinitamente por Deus, e ninguém deve sentir-se “preferido” ou discriminado, nem positiva nem negativamente. Não é possível falar seriamente de “amores preferenciais” de parte de Deus com relação a alguns seres humanos em detrimento de outros. A suprema dignidade da pessoa humana e a equanimidade infinita de Deus o exigem. E tudo que se afaste disso, somente podem ser formas inadequadas de falar, “demasiado humanas”, antropomorfismos.

Deus não tem parcializações, nem faz “acepção de pessoas”. Não o faz por questões de raça, nem de cor, de gênero ou de cultura… Deus ama a todas suas criaturas, com amor realmente “inquantificável e incomparável”, e nisso não cabem nem preferências nem discriminações.

Segunda tese: Deus opta pela justiça, não preferencialmente, mas sim alternativa e excludentemente.

Há, contudo, um campo em que Deus é necessariamente radical e inflexivelmente parcial: o campo da justiça. Aí Deus coloca-se do lado da justiça e contra a injustiça, sem a menor concessão, sem a menor “neutralidade”, e sem simples “preferências”: Deus está contra a injustiça e coloca-se do lado dos “injustiçados” (as vítimas da injustiça). Deus não faz nem pode fazer uma “opção preferencial pela justiça”[6]:, ao contrário, opta por ela posicionando-se radicalmente contra a injustiça e assumindo de uma maneira total a Causa dos injustiçados.

Esta opção de Deus pela justiça não se fundamenta em sua “gratuidade”, nem é uma espécie de “capricho” divino que poderia ter sido de outra maneira ou simplemente não ter sido, como se a sanção divina da justiça obedecesse a um simples voluntarismo ético[7].

A opção de Deus pela justiça fundamenta-se em seu próprio ser: Deus não pode ser de outra maneira, não poderia não fazer essa opção sem contradizer-se e sem negar seu próprio ser. Deus é, “por natureza”, opção pela justiça, e essa opção não é gratuita (e sim axiologicamente inevitável), nem contingente (e sim necessária), nem arbitrária (e sim fundada per se no próprio ser de Deus), nem “preferencial” (e sim alternativa, exclusiva e exludente[8]).

Terceira tese: a Opção pelos Pobres é opção pelos “injustiçados”.

O conceito “pobres”, como parte da expressão “opção pelos pobres”, causou certa confusão. De fato, se a opção é “pelos pobres”, explica-se que sobrevenha a tentação de situar na “pobreza” o fundamento de tal opção, seja identificando falsamente pobreza com santidade (o que se evitou desde o princípio), ou re-elaborando metaforicamente o conceito de “pobreza” em diferentes direções[9], ou derivando-o em direção a qualquer um dos grupos que no Antigo Testamento parecem ser objeto de uma “preferência” por parte de Deus (os “fracos e pequenos”…), ou por outros muitos caminhos[10].

Poder-se-á evitar estes desvios tranzendo-se à luz o papel teológico que o conceito de “pobres” tem concretamente na expressão “opção pelos pobres”. Teologicamente falando, “pobres” significa aí exatamente “injustiçados”. Porque Deus não opta pelos pobres porque sejam pobres (material e/ou economicamente), mas sim porque são “injustiçados”. A pobreza econômica não é por si mesma uma categoria teológica; o é a injustiça, que pode dar-se nessa pobreza econômica. Teologicamente considerada, a “opção pelos pobres” é na realidade “opção pelos injustiçados”[11]. Se é chamada opção “pelos pobres”, isso se deve a que, quoad nos, os pobres (econômicos) são o analogatum princeps da injustiça e sua expressão máxima ou por antonomásia.

Falando com precisão teológica, os destinatários desta Opção pelos Pobres não podem ser identificados sem mais como os “pobres econômicos” por si mesmos, nem com os “pobres que são bons”, nem com os que são “pobres em algum sentido”, ou os que têm “espírito de pobres”... (delimitações todas elas muito flexívies, escorregadias, por causa dos jogos metafóricos da linguagem), mas sim com os “injustiçados”, sejam pobres econômicos ou não, metafóricos ou não.

Ao contrário, os “pequenos e os fracos”, ou seja, todos aqueles cuja “pobreza” não pode ser medida em termos de injustiça[12], não devem ser identificados pura e simplesmente como destinatários da Opção pelos Pobres, e sim por extensão metafórica. Podem ser objeto de uma “ternura especial” e gratuita por parte de Deus e nossa, mas este sentimento e esta atitude não devem ser confundidas com a Opção pelos Pobres.

Toda problemática humana que possa ser convertida em injustiça – mesmo que não tenha que ver com a “pobreza” em sentido literal ou econômico – é objeto da Opção pelos Pobres (porque esta é opção pela justiça). Assim, a discriminação étnica, de gênero, cultural… como formas de injustiça que são, e ainda que não se dêem juntamente com situações de pobreza econômica, são objeto da Opção pelos Pobres. Não o são por serem formas de pobreza – o que elas de fato não são –, mas sim por serem formas de injustiça.

A opção pela cultura desprezada, pela raça marginalizada, pelo gênero oprimido… não são opções diferentes da Opção pelos Pobres, mas sim concretizações diversas da única “opção pelos injustiçados”, a qual chamamos de Opção pelos Pobres.

Quarta tese: a essência teológico-sistemática da Opção pelos Pobres e seu fundamento é a opção de Deus pela justiça.

Teologicamente falando, em sentido dogmático-sistemático, a verdadeira natureza da Opção pelos Pobres é a opção de Deus pela justiça. A “radiografia teológica” da Opção pelos Pobres, o fundamento sobre o qual se sustenta, o que realmente a constitui, é a opção de Deus pela justiça.

Se ignoramos sua relação com a justiça e a referimos a uma simples “vontade gratuita” de Deus, a Opção pelos Pobres extravia-se por caminhos que a desvirtuam, a mistificam e a desnaturalizam, acabando por convertê-la em um simples “amor preferencial”, ou uma opção opcional, facultativa, gratuita, arbitrária, contingente, desvinculada da justiça, reduzida a “caridade” ou beneficência.

A Opção pelos Pobres de Deus é maior que – e anterior – ao que a Teologia da Libertação latino-americana captou e expresou como Opção pelos Pobres. A Opção pelos Pobres não é mais do que uma percepção – importante, mas que não esgota a totalidade – dessa opção de Deus pela justiça. A Opção pelos Pobres é uma forma nossa de perceber, de expressar e de assumir essa opção de Deus pela Justiça.

“Opção pelos Pobres” é um nome pastoral, histórico, escolhido em função de sua compreensão imediata. Contudo, teológico-sistematicamente considerada, ou seja, dando atenção à sua essência teológica mais profunda, a Opção pelos Pobres “é” opção pela justiça e o nome que melhor expressaria sua natureza teológica seria o de “opção pelos injustiçados”[13]. Não advogamos uma mudança de nome; simplesmente chamamos a atenção sobre o fato de que o nome não corresponde ao que seria uma “definição essencial”[14] da Opção pelos Pobres.

Quinta tese: Sendo opção pela justiça, a Opção pelos Pobres não é preferencial, mas sim disjuntiva e excludente. Ao contrário, a Opção Preferencial pelos Pobres é simplesmente uma prioridade e nem sequer é uma “opção”.

A Opção pelos Pobres é uma tomada de posição espiritual, integralmente humana, e, portanto, também social e política, a favor dos pobres no âmbito do conflito social histórico, e por isso é uma opção disjuntiva e excludente[15].

A “Opção (não preferencial) pelos Pobres” pertence ao campo da justiça e fundamenta-se na própria opção de Deus pela justiça. Ao contrário, a “Opção Preferencial pelos Pobres» pertence ao âmbito da caridade[16] e pode ser posta em relação com a gratuidade de Deus. A Opção pelos Pobres não tem aplicabilidade diante das pobrezas naturais. A Opção Preferencial pelos Pobres, ao contrário, somente tem validade para as pobrezas naturais.

A Opção pelos Pobres vê a pobreza como uma injustiça a ser erradicada mediante o amor político e transformador, mediante uma práxis social, como ato de justiça. A O Opção Preferencial pelos Pobres, por sua parte, vê a pobreza como algo lamentável mas talvez natural, como algo que simplesmente deve ser compensado com atos de generosidade gratuita, assistencialmente.

A “preferencialização” da Opção pelos Pobres, ou seja, o deslocamento ou a substituição da Opção pelos Pobres pela Opção Preferencial pelos Pobres, funciona como um ocultamento das coordenadas da justiça para olhar a realidade somente a partir da perspectiva da beneficência ou do assistencialismo. Ou como a redução do amor cristão a uma misericórdia privatizada e a uma solidaridade espiritualizada. Um cristianismo com Opção Preferencial pelos Pobres, mas sem Opção pelos Pobres, é funcional para qualquer sistema injusto. A oposição à Opção pelos Pobres – e, em geral, à teologia e à espiritualidade da libertação em cujo seio aquela nasceu – serviu como o principal objetivo daqueles que tentaram reverter a renovação pós-conciliar da teologia e da espiritualidade latino-americanas com Medellín e Puebla, e como a volta a uma Igreja que legitima o sistema capitalista e neoliberal que também hostilizou frontalmente a Igreja da libertação latino-americana e a seus inumeráveis mártires.

Aplicado à Opção pelos Pobres, o adjetivo “preferencial”, ao implicar uma relação de simples prioridade entre termos isentos de disjuntiva ou mútua exclusão, desnaturaliza a Opção pelos Pobres, convertendo-a em uma simples prioridade ou preferência de ordem, e isso também ao negar a possibilidade de uma opção radical por um dos termos submetidos à relação de preferência. Por isso, rigorosamente falando, a Opção Preferencial pelos Pobres não é Opção pelos Pobres, mas sim, como expressaram seus teóricos, um simples “amor preferencial” ou uma “forma especial de primazia no exercício da caridade cristã”. É uma prioridade, e nem sequer é uma “opção”, no sentido forte da palavra[17]. A adição do adjetivo “preferencial” serviu em muitos casos como “cavalo de Tróia” que introduziu na Opção pelos Pobres o germe de sua própria desnaturalização. Felizmente, são muitos os que adotaram só externamente o uso do adjetivo, pelas pressões do contexto ao seu redor, sem abandonar interiormente a compreensão e a vivência radical do que é a genuína natureza da Opção pelos Pobres, não preferencial, mas exclusiva e excludente.

Aplicações e corolários

Opção pelos Pobres : transcendental no nível da norma normans.

Em seu sentido teológico-sistemático (antes, portanto, ou mais além de sua aplicação concreta a mediações não-teológicas, e bem distinta destas), a Opção pelos Pobres é um transcendental que ultrapassa e atravessa as dimensões teológicas e pertence essencialmente à própria imagen do Deus bíblico e cristão. Nosso Deus “é” – pelo mais nuclear da revelação bíblica[18] e cristã, e por si mesmo – opção pela justiça[19], com absoluta precedência e com total independência de toda escola teológica ou de qualquer carisma ou espiritualidade em que nos movamos. Nessa qualidade, a Opção pelos Pobres não é suscetível de ser normada por dimensões subalternas[20] (situa-se no nível máximo da norma normans); e, percebida em consciência, deve ser obedecida como obediência a Deus mesmo, como disposição de espírito para a prova do amor maior.

Neste mesmo sentido, a Opção pelos Pobres não é uma “teoria” da teologia latino-americana da libertação, mas sim uma dimensão transcendental do cristianismo, dimensão que essa teologia teve o mérito de redescobrir – para o cristianismo universal – como vinculada à própria essência de Deus. Esta redescoberta é efetivamente “o maior acontecimento da hisória do cristianismo nos últimos séculos”[21], e marca um antes e um depois para aqueles que na sua Opção pelos Pobres fizeram uma experiência espiritual de conversão ao Deus dos pobres, a qual não pode ser apagada e da qual não se pode mais retroceder. A Opção pelos Pobres deve ser considerada como “firme e irrevogável” e como uma “nota da verdadeira Igreja”.

Pobreza, riqueza e injustiça.

Com relação à identificação da Opção pelos Pobres como opção pela justiça, podemos estender-nos em linguagem mais aplicada.

• Se a pobreza de uma pessoa ou grupo se deve ao fato de que tenha sido vítima da injustiça[22] – e nessa medida –, Deus está do lado desse pobre, contra sua pobreza, e contra as causas dessa pobreza-injustiça. E está, necessariamente, de um modo “excludente” da injustiça dos injustos, e não simplesmente com uma “opção preferencial não excludente”.

Se se trata de alguma “pobreza” que não tenha a ver com a justiça (“pobrezas naturais”, de raça, de gênero, de cultura…), Deus não faz discriminações a respeito disso, nem “prefere”, nesse campo, a ninguém. Deus não prefere nem despreza a nenhuma raça ou gênero ou cultura por si mesmos.

• Se a riqueza de uma pessoa ou grupo implica injustiça – e nessa medida –, Deus está decididamente contra essa riqueza, contra o modo de vida que a gera, porque Ele está do lado dos que sofrem as conseqüências da injustiça e está contra os que a causam. E está nessa atitude de um modo necessário e de um modo que exclui essa injustiça, e não com uma opção somente “preferencial pelo pobre”, mas sim radicalmente excludente do “modo de vida do rico”[23] que produz essa injustiça.

Se há alguma riqueza que não tem a ver com a injustiça (qualidades psicológicas, gênero, dons corporais e/ou espirituais, acaso…) Deus não faz aí discriminações: nem prefere nem despreza ninguém.

O conceito de justiça como mediação.

Logicamente, os princípios teológicos devem necessariamente passar pelo filtro ulterior de diversas mediações filosóficas, sociológicas e até políticas, na hora de serem postos em prática na arena da realidade.

Por exemplo: o próprio conceito de “justiça”, com todas suas implicações filosóficas, sociológicas, políticas e até culturais, será uma mediação especialmente influente no campo desta “opção pelos pobres”. Há um conceito capitalista de justiça, há outro socialista, há outro neoliberal, há outro imperialista… as pessoas são influenciadas por um ou outro segundo o “lugar social” que ocupam, ou pelo qual optam. Àquele para o qual a justiça é simplesmente “dar a cada um o que é seu”, um mundo de extremas desigualdades pode parecer justo se – por exemplo – só valoriza a atual legalidade da propriedade privada absolutizada. Não o pareceria, porém, a nenhum dos Padres da Igreja, nem a quem faça seu o conceito de justiça social distributiva e democrática da doutrina social da Igreja, porque estas pessoas operam com um conceito de justiça muito diferente.

Neste sentido, apesar de referir-nos teoricamente a um mesmo Deus, e apesar de aceitarmos talvez como evidente sua opção pela justiça, a visão da vontade de Deus sobre o mundo pode ser diversa ou até contrária em uns cristãos e em outros. Onde está a origem dessa discrepância?

Poderia não estar no próprio conceito que tenhamos de Deus nem de seu Projeto ou Vontade, mas sim no conceito de justiça com o qual construímos nossos juízos morais. A origem pode estar no juízo moral que, a partir do conceito de justiça de cada um, fazemos sobre a pobreza e a riqueza e sobre os mecanismos sociais ou estruturas que as geram ou produzen, se as julgamos como naturais ou como históricas, como fatais ou como corrigíveis, como casuais ou como causadas, culpáveis ou inculpáveis, estruturais ou conjunturais, produto essencial do sistema perverso ou subproduto acidental negativo de um sistema social não necessariamente negativo. Assim, por exemplo:

- aqueles para os quais a atual divisão tão desigual da riqueza no mundo (a famosa “taça de champanhe” dos informes do PNUD) pareça “natural”, pensarão também – com boa lógica – que Deus não se pronuncia sobre ela, ou que somente nos exorta à esmola, à beneficência, à gratuidade generosa… para oferecer paleativos a essas lamentáveis diferenças “naturais”…;

- aqueles, pelo contrário, para os quais pareça que tal divisão do mundo é injusta e pecaminosa, pensarão – também com boa lógica – que Deus está irritado com ela e que deseja ardentemente que seja abolida, e que quer que o ajudemos a combater essa injusta desordem com um compromisso radical pela justiça;

- a aqueles que pensem que essa situação do mundo é o maior drama da humanidade atual..., lhes parecerá também que sua superação urgente expressa a maior e mais premente vontade de Deus;

- aqueles que considerem que o neoliberalismo é inocente, ou que é “o menos pior dos sistemas”.., pensarão que Deus quer que o apoiemos, ou inclusive que o “melhoremos” em algumas de suas “deficiências acidentais”;

- aqueles que, ao contrário, são de opinião que o neoliberalismo é injusto, ou inclusive a maior injustiça, a mais estrutural, pensarão que Deus quer que combatamos esta estrutura de pecado do modo mais empenhado possível.

Pareceria claro, desta forma, que o problema teológico dirige-se para a discussão e a análise das mediações, e que as discrepâncias se situariam não no nível propriamente teológico dos princípios, mas no nível prudencial das mediações. Contudo, isto é só a metade da verdade, porque nosso conceito de justiça faz parte de nossa escolha de Deus. “Dize-me que entendes por justiça, e te direi qual é teu Deus”. Dize-me em que justiça crês, e te direi a qual Deus adoras.

Costumamos pensar que nosso conceito de justiça nos venha do Deus em que cremos, mas tambémn o contrário é certo: só cremos no Deus que cabe em nosso conceito de justiça. A opção mais fundamental de nossa vida pode ser aquela na qual optamos por um conceito ou outro de justiça, justiça que é ao mesmo tempo nossa utopia para o mundo. Nossa imagen de Deus é filha da opção na qual escolhemos nosso conceito de justiça e sua correspondente utopia para o mundo. E vice-versa: muitos não chegan a assumir um conceito utópico de justiça porque previamente fizeram a opção pelo Deus do egoísmo e de suas riquezas.

A Opção pelos Pobres é, pois, ao mesmo tempo, uma opção por Deus (dos pobres) e uma opção pela justiça utópica (do Reino). A “opção pelos ricos” é, ao mesmo tempo, uma renúncia ao Deus dos pobres e uma opção por uma justiça resignada ao egoísmo. A opção pelos pobres ou pelos ricos, a justiça utópica e a justiça resignada, e o Deus dos pobres ou sua recusa, estão mutuamente implicados em um círculo hermenêutico. Nossa obediência a Deus não se dá em relação direta com Deus, mas na escolha de um ideal de justiça utópica ou de uma justiça resignada[24]. Princípios e mediações estão mais mutuamente implicados do que pareceria. Deus é justo, e a justiça é divina. A opção pelos pobres é, ao mesmo tempo, um ato de fé no Deus dos pobres e uma opção ética e humanizante pela justiça (a dos pobres e a de Deus simultaneamente). De sua parte, a opção pelo egoísmo é, ao mesmo tempo, uma injustiça e uma recusa de (do) Deus (dos pobres). Voltando ao princípio, Deus e a Opção pelos Pobres não se podem separar, porque a Opção pelos Pobres fundamenta-se em Deus mesmo, em Sua justiça. A gratuidade de Deus é outro tema.

Publicado sobre papel em:

«Perspectiva Teológica» XXXVI/99(maio/agosto 2004)241-252 Belo Horizonte, Brasil.

«Vida Pastoral» 245(novembro-dezembro 2005)22—27, São Paulo (sem notas).


[1] “Digamo-lo com clareza: a razão última dessa opção está no Deus em quem cremos. (...) Trata-se, para o crente, de uma opção teocêntrica, baseada em Deus”. G. GUTIÉRREZ, “El Dios de la Vida”, Christus 47(1982)53-54, G. GUTIÉRREZ, La fuerza histórica de los pobres, Lima, 1980, pp 261-262.

[2] Apesar de ser uma obviedade, ver a tese doutoral de J. LOIS, Teología de la Liberación: opción por los pobres. Madrid: IEPALA 1986. Aí se estuda a Opção pleos Pobres em vários dos principais teólogos da libertção do período clássico.

[3] Um caso claro pode ser o de Gustavo GUTIÉRREZ. Em uma palestra pronunciada diante de Ratzinger, afirma: “A temática da pobreza e da marginalização convida-nos a falar de justiça e a ter presentes os deveres do cristão a respeito. Na verdade é assim, e esse enfoque é sem dúvida fecundo. Mas não se deve perder de vista o que faz que a opção preferencial pelos pobres seja uma perspectiva tão central. Na raiz dessa opção está a gratuidade do amor de Deus. Este é o fundamenteo último da preferência”. A partir desse momento, já não volta a aparecer a palavra “justiça” em sua dissertação e toda a Opção pelos Pobres gira em torno à “gratuidade”. Cf. G. GUTIÉRREZ, Una teología da liberación en el contexto del tercer milenio, in VÁRIOS, El futuro de la reflexión teológica en América Latina. Bogotá: CELAM, 1996, p. 111. Não se trata de um texto isolado, mas sim, em minha modesta opinião, de uma perspectiva suavizada comum na teologia da Opção pelos Pobres de G. Gutiérrez já há mais de uma década; cfr. G. GUTIÉRREZ, Pobres y opción fundamental, in Mysterium Liberationis, San Salvador, UCA Editores, 1991, pp. 303ss, 310.

[4] Pobres que eram uma realidade “coletiva, conflitiva e socialmente alternativa”: C. BOFF, ¿Quiénes son hoy los pobres, y por qué?, in J. PIXLEY / C.BOFF, Opción por los pobres, Madrid: Paulinas, 1986, pp. 17ss.

[5] Um amor igual para todos mas que começa pelos pobres e continua pelos ricos, sem fazer entre eles nenhuma diferença; um “amor igualitário, mas com uma orden de prioridade”, simplesmente.

[6] Quem opta “preferencialmente” pela justiça, opta também, ainda que seja menos preferencialmente, pela injusticia. No dilema de justiça e injustiça não há “simples preferências” possíveis: a opção está diante de alternativas de uma disjuntiva excludente.

[7] Recordemos a posição teológica medieval (o “voluntarismo ético”) de quem sustentava que a ordem moral atual não era necessário, mas sim contingente, e que obedecia a uma vontade positiva e gratuita (arbitrária) de Deus. A ordem moral – esta doutrina sustentava – teria podido ser outra, inclusive a contrária da atual, se Deus assim o tivesse querido em um inescrutável desígnio arcano de sua vontade.

[8] J.M. VIGIL, Opción por los pobres, ¿preferencial y no excluyente?, in J.M. VIGIL, Sobre la opción por los pobres, Santander: Sal Terrae, 1991, pp. 57ss. Editado também na Nicarágua (Editorial Nicarao, 1991), Chile (Rehue, 1992), Colômbia (Paulinas, 1994), Equador (Abya Yala, 1998), Itália (Citadella, 1992), Brasil (Paulinas, 1992).

[9] Como quando se argumentava que os ricos eram os verdadeiros pobres (pobres em riquezas espirituais, das quais os pobres materiais eram muito ricos)… Chegou-se a verdadeiros jogos de palavras ou malabarismos conceptuais para não entender o óbvio. Casaldáliga deu testemunho poético disso em suas Bem-aventuranças da conciliação pastoral.

[10] Pobreza de espírito, pobres de Javé, virtude da pobreza, anawin, infância espiritual…

[11] “Opção pelos injustiçados” é uma expressão precisa, que escapa à possibilidade de ser mistificada ou metaforizada.

[12] Como é o caso das pobrezas “naturais”, não históricas, sem culpa de ninguém.

[13] Por isso os novos sujeitos não necessitam de uma “opção” pela mulher, pelo/a indígena ou afro… uma vez que a própria opção pelos “injustiçados” inclui a todos/as eles/as.

[14] “Definição essencial”, no dizer da lógica clássica, é aquela que não somente discrimina adequadamente seu objeto, mas que o faz em referência à sua essência (e não, por exemplo, com base em um ”próprio” ou a um conjunto de acidentes suficientemente discriminante.

[15] J.M. VIGIL, Opción por los pobres, ¿preferencial y no excluyente?, in J.M. VIGIL, Sobre la opción por los pobres, Santander: Sal Terrae, 1991, pp. 57ss.

[16] O das classicamente chamadas “obras de misericórdia”; por isso, a Opção Preferencial pelos Pobres pode ser chamada com propiedade, efetivamente, “amor preferencial pelos pobres”. Isso é o que é. A Opção pelos Pobres é outra coisa.

[17] O ato pelo qual uma pessoa faz sua Opção pelos Pobres ou escolhe seu lugar social participa do caráter antropológico existencial que a assim chamada “opção fundamental” tem.

[18] Deus não tem favoritismos (Rm 2,11). O Soberano de todos não faz diferença entre as pessoas e não fará caso de grandeza (Sb 6,7). Um juízo implacável espera os poderosos; o pequeno tem desculpas e merece compaixão, mas os poderosos serão castigados severamente. Ele criou os grandes e os pequenos e de todos cuida igualmente. Os poderosos serão examinados com mais rigor. (Sb 6,6.7b.8). Mestre, sabemos que és justo e que não fazes acepção de pessoas… (Mt 22,16). O ser humano olha as aparências, mas Javé olha o coração… (1Sm 16,7).

[19] “A luta pela justiça é como outro nome do Deus do Antigo Testamento e do Deus de Jesus»: R. VELASCO, La Iglesia de Jesús, Estella: Verbo Divino,1992, p. 33.

[20] Eclesiásticas ou disciplinares, por exemplo.

[21] “Persoalmente opino que com a opção preferencial pelos pobres produziu-se a grande e necessária revolução copernicana no seio da Igreja, cujo significado transborda o contexto eclesial latino-americano, concerne à Iglesia universal. Sinceramente, creio que esta opção significa a mais importante transformação teológico-pastoral aconctecida desde a Reforma protestante do século XVI». L. BOFF, citado por J. LOIS, Teología de la liberación: opción por los pobres, Madrid: IEPALA, 1986, p. 193.

[22] É o que se queria dizer com a preferência do adjetivo dinâmico “empobrecidos” (como dinâmico é também o conceito de “injustiçado”) sobre o nome estático de “pobres”.

[23] Por “modo de vida do rico” entendemos tudo o que implica o rico – exceto sua própria pessoa –: seu estilo de vida, seu papel social, a Causa à qual objetivamente serve, seu luxo, sua exploração dos pobres, sua participação no sistema que os explora…

[24] Casaldáliga expresava o conflito entre os dois deuses e as duas justiças em seu poema “Equívocos”: Onde tu dizes lei / eu digo Deus. / Onde tu dizes paz, justiça, amor, / eu digo Deus! / Onde tu dizes Deus, / eu digo liberdade, / justiça, / amor!

Extraído de http://servicioskoinonia.org/relat/371p.htm acesso em 25 out. 2009.

sábado, 24 de outubro de 2009

Família Franciscana do Brasil: 2009/2012

Foi eleita na manhã deste sábado, 24 de outubro, na Casa de Retiros São Francisco, no bairro de Brotas, em Salvador - BA, a nova diretoria da Família Franciscana do Brasil, que está reunida na XV Assembleia Geral Ordinária e comemorando também seus 15 anos de fundação. Eis os (as) eleitos (as):

Triênio 2009-2012
CONSELHO DIRETOR
Diretora Presidente: Irmã Petronila Souza Soares, SMIC (PA);
Diretora Vice-Presidente: Irmã Jacinta Bichiling, Franciscanas de Dillingen (RJ);
Conselheiros:
Frei Érderson Queiroz, OFMCap. (MG);
Vanderlei Suélio Gomes, OFS (GO);
Irmã Maria Flávia de Brito, Franciscana de Dillingen (PB).

Suplentes do Conselho Diretor:
Frei Rubival Cabral, OFMCap (BA);
Irmã Carmen Polo, Franciscanas de Ingolstad.

CONSELHO FISCAL
José Cavalcante Bezerra, OFS (DF);
Nivaldo Moreira da Silva, OFS (GO);
Irmã Luzia Pereira Nunes, FPCC

Suplente do Conselho Fiscal:
Irmã Tereza Albanez, Filhas da Divina Providencia.

Desejamos sucesso p/ tds os eleitos e que Deus vos abençoe.
Em breve, o resumo completo de toda a XV Assembleia Geral da Família Franciscana do Brasil.
Fraternalmente.

Jackson dos Santos Barbosa, OFS/JUFRA

Secretário Fraterno Nacional

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A ARTE DE FAZER AMIGOS















A ARTE DE FAZER AMIGOS

A arte de fazer amigos
nasce do cultivo dos valores eternos...
Ninguém tem ou é um amigo verdadeiro...
Se não for primeiro amigo de Deus...
Porque Deus é o fundamento da amizade
e quem for seu amigo...
também o será daquele que o Senhor lhe conceder...

Quem vive na amizade do Senhor...
O obedece em tudo...
E lhe é fiel e generoso...
Por isso, espera confiante...
o prazeroso cumprimento de suas promessas...
Esse sim, não tem pressa,
porque sabe em quem confia...

Quem se faz amigo de Deus...
também se faz amigo dos seus...
porque o verdadeiro amigo é aquele que diz,
para ver o seu amigo feliz,
não o que ele quer ouvir...
Mas sim, o que ele precisa ouvir...

Paz e Bem!


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FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.

Seu nome é Jesus Cristo...

Papa pede que cristãos sejam testemunhas da preservação ambiental

"Os cristãos são chamados a unir-se no oferecer ao mundo um testemunho crível da responsabilidade pela salvaguarda da Criação"


Cidade do Vaticano, 22 out (RV) - Bento XVI enviou uma mensagem ao patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, para a abertura, nesta quarta-feira, em Nova Orleans, Louisiana, EUA, do Simpósio de Religião, Ciência e Ambiente, que tem como tema "Restabelecer o equilíbrio: o grande rio Mississipi".

Na mensagem, o papa faz um apelo aos cristãos a fim de que ofereçam ao mundo um testemunho crível da responsabilidade pela salvaguarda da Criação e recorda o furacão Katrina, que em 2005 atingiu a referida localidade estadunidense.

As palavras do Santo Padre foram lidas pelo arcebispo de Nova Orleans, Dom Gregory Michael Aymond.

"Os cristãos são chamados a unir-se no oferecer ao mundo um testemunho crível da responsabilidade pela salvaguarda da Criação e a colaborar de todos os modos possíveis para assegurar que a nossa terra possa conservar intacto aquilo que Deus lhe deu: grandeza, beleza e generosidade."

Com essas palavras, Bento XVI quis saudar o patriarca Bartolomeu I e os 150 participantes do VIII Simpósio de Religião, Ciência e Ambiente dedicado ao Mississipi.

"A solução das crises ecológicas do nosso tempo requer necessariamente uma profunda mudança por parte de nossos contemporâneos": a esse propósito, o pontífice se diz "plenamente de acordo" com o patriarca Bartolomeu I sobre o fato que "os problemas urgentes que concernem ao cuidado e proteção do ambiente", contemplando importantes questões políticas, econômicas, técnicas e científicas, são, todavia, "essencialmente de natureza ética".

Citando a Caritas in veritate, o Santo Padre recorda que a natureza "é uma prioridade para todos" e, como fundamento da nossa vida, deve ser usada "responsavelmente" e "com respeito".

O papa ressalta ainda que um conhecimento "puramente econômico e tecnológico" do progresso inevitavelmente provocará "conseqüências negativas" para indivíduos, povos e para a própria criação. Um autêntico desenvolvimento humano chama a uma justiça entre gerações e à solidariedade com os homens e as mulheres do futuro, que têm também eles o direito de gozar dos bens que a criação oferece a todos com abundância, como querido por Deus – ressalta Bento XVI.

O pontífice prossegue a sua mensagem frisando que esse simpósio sobre o Mississipi nos recorda o ocorrido em Nova Orleans e nas adjacências, em 29 de agosto de 2005 com a passagem devastadora do furacão Katrina: "meus pensamentos e minhas orações se voltam para todos aqueles, especialmente os pobres, que experimentaram sofrimento, privação e deslocamentos, e para todos que se empenharam no paciente trabalho de reconstrução e renovação" – escreve o Santo Padre.

Na linha da observação do pontífice, segundo o qual "hoje os grandes sistemas fluviais de todos os continentes estão expostos a sérias ameaças, muitas vezes como resultado de atividades e decisões do homem", o patriarca Bartolomeu I ressaltou, em seu discurso, que "todos nós temos o nosso papel a desempenhar, a nossa sagrada responsabilidade" pelo amanhã. Porque – concluiu o patriarca ecumênico de Constantinopla – "toda decisão, pessoal e coletiva, determina o futuro do planeta". (RL)

Fonte: Rádio Vaticano

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O caminho franciscano na espiritualidade

Palestra de frei Vitório Mazzuco Fº, OFM proferida no
5º Congresso Franciscano de Espiritualidade
Curitiba, Paraná, Brasil: 2009.

Introdução

Sei que é de praxe dedicar livros, amostras e canções; mas gostaria de dedicar esta palestra e este momento a Santa Clara. Não falarei dela de um modo específico, porém ela está plenamente presente por dois motivos:

1. Não se pode trilhar um caminho sem a força de um grande amor inspiracional. Amar alguém intensamente, de um modo subjetivo, é levar o Amor para os nossos grandes objetivos.

2. Estamos iniciando neste ano o grande Tríduo em preparação ao Jubileu da chegada de Clara junto ao lugar da fraternidade: a Porciúncula, em 1212; de modo que, em 2012, serão 800 anos da comemoração do fato real de Clara juntar-se no mesmo caminho e nos mesmos passos do Evangelho e de Francisco. Por isso, proponho aos organizadores deste Congresso Franciscano que, nos próximos eventos até 2012, façam um Congresso com o tema "O Sagrado Feminino".

Queria dedicar também esta reflexão ao meu amigo o professor Alberto Moreira, idealizador, alma e concreção de todos os congressos realizados pelo IFAN; ele não tem idéia da sua influência no meu caminho de vida, pesquisa e pensamento franciscano. Aprendi com ele a tirar de cada palavra seu fervor existencial e seu mundo significante; como diz o goiano - "é bom demais da conta" - ter o Alberto no eito desta estrada.

Há muito tempo, no Rio de Janeiro, assisti, ao vivo, a um show de Jorge Aragão, que mais tarde foi lançado em DVD. No show e no DVD aparecem a sua sugestiva fala inicial: "Isto aqui não é um show não. Vim aqui apenas para cantar um sambinha com vocês!". Parafraseando Jorge Aragão, quero também dizer: "Isto não é uma palestra. Vim aqui fazer apenas uma reflexãozinha com vocês!". Então, vamos lá:

A história é a narração de uma existência. No esforço de se compreender a existência, os gregos criaram os mitos e os franciscanos medievais as Legendas, um modo de edificar a vida, um modo dinâmico de apontar sendas seguras. O passado helênico, o franciscanismo medieval têm valor na medida em que trazem luz para o presente. Todos estamos vivendo um ausente que trazemos para, agora, a atualidade através de uma interpretação.

Francisco de Assis e o Franciscanismo não são um dogma, uma doutrina, mas sim um CAMINHO. Com eles, aprendemos a andar na existência, na graciosidade da vida. Diante de um homem como Francisco, a vida é desvelada no que ela é.

Estamos hoje assistindo a um movimento que chamamos "o retorno ao Sagrado", uma busca da proposta espiritual e religiosa que toca o ser, que provoca o conhecimento, que atinge a vida pessoal, social e os caminhos da história. Há 800 anos, Francisco vem antecipando estes acenos típicos da busca pós-moderna do sagrado. Ele é uma hierofania (a constante manifestação do sagrado) concreta. Para ele, o sagrado transcende qualquer ente; faz-se presente em lugares e momentos. Ele coloca o sagrado ao alcance da experiência humana. No tempo, no real, na cultura, no agora e nas coisas, deixa transparecer o eterno. Francisco dialoga e convive bem com o limitado e o infinito, a morte e a vida.

Ele é, ainda hoje, um provocador da razão científica e industrial pós-medieval que afugentou os deuses. A modernidade desconstruiu o conceito de Deus a tal ponto que Nietzsche declarou sua morte e a morte do ateísmo. Por que não acreditar ou ser contra algo que não existe?

Francisco inaugurou, já no seu tempo, a construção pós-moderna: Ele existe em tudo e nos detalhes da existência; Ele ajuda-nos a reencontrar a Fraternidade perdida.

Não seria este o Caminho?

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/vitorio/virtudes_191009/01.php acesso em 22 out. 2009.

1 A palavra caminho ou o sentido do caminho na espiritualidade

Continuação de http://brasilfranciscano.blogspot.com/2009/10/introducao.html

Tudo na vida começa por um passo; é a mística de Santiago de Compostella, o movimento dinâmico da existência.

O essencial do humano é ele mesmo pôr-se a caminho na procura de um sentido para a sua vida.

A espiritualidade é o inspirar, expirar, respirar e transpirar. O Espírito é o fôlego do caminho que sente, percebe e harmoniza o ritmo do próprio sopro com o ritmo do próprio passo. Isto é o essencial do humano. Viver é respirar. A vida respira. O Universo respira! Podemos dizer com o salmista: "Tudo o que vive respira, louve o Senhor!"

Na Espiritualidade geral e na Espiritualidade Franciscana temos:
ITER = o lugar, a meta, o ponto de partida, o lugar da objetividade. Colocar a vida no "odós", isto é no ITER, no método ( μέζά+ o§ós) = fixar de antemão um objetivo. Ad quo = ponto de partida, Ad quem = ponto de chegada

ITINERÁRIO = É o ponto de partida. Não precisamos nos prender a um fim, mas lançar-se. Um caminho marcado por uma mística; um caminho determinado por um conjunto temático de sentidos.

VIA = estar imerso na Vida, na consciência da existência como direção

VIA PERFECTIONIS = O CAMINHO DO PER+ FACERE

O caminho do per-fazer-se. A Espiritualidade é dom de conquista, estrada da liberdade que sai dos limites da dominação e se faz caminho.

CURSO, PER + CURSO =

a corrente vital e o circundante que irriga o nosso cotidiano.

A espiritualidade é o Caminho da Perfeição, isto é, uma dádiva na conquista de um Projeto. Elaborar projeto é elaborar caminhos. É preciso enamorar-se do projeto para perceber o dom do bem caminhar, o dom da vida em que se está.

Qual é o dom de Francisco?

  • Seguimento enamorado de Deus
  • Fervor da vida
  • Comunhão Universal
  • Fraternidade

Com isto ele criou uma
VIA ESPIRITUAL =

Viver e aprender no Espírito. Viver segundo o Espírito. Ter uma espiritualidade sólida. Estar compenetrado. Consciência de que assumiu um modo novo de ir!

Cada passo que você caminha é que faz o caminho surgir. O caminho começa a aparecer como a síntese do sentido da vida, mesmo quando se sente perdido. Vou citar um poema que o nosso mestre Hermógenes Harada, muitas vezes recordava em suas aulas:

"Na floresta há sendas
Muitas se perdem
No cerrado da vegetação
De repente, desaparece a trilha
E acaba no intransitado.
Cada senda caminha separada
Na mesma floresta
Quase sempre aparece
uma igual a outra,
Mas, só aparece assim.
Sonhadores e vigias da mata
conhecem os caminhos.
Eles sabem o que é
Estar numa senda perdida"
("Sendas perdidas", de Martin Heidegger)


Caminhar é abrir-se ao conhecimento, é buscar um manancial de sentidos. É per+fazer artesanalmente, passo a passo, a vida, com determinação. No caminho é preciso ver e escutar a vida. A identidade se faz no caminho.

A vida é um dinamismo, um impulso, um passo... é característica de cada ser vivente amar o próprio passo ( nossos familiares festejaram o nosso sair do engatinhar para os primeiros passos com a festa tão grande como a do primeiro ano de vida)

A vida não é só prometida, é participada. Você participa deste Congresso porque deu este passo = Você veio!

O ser humano é essencialmente caminho.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/vitorio/virtudes_191009/02.php acesso em 22 out. 2009.

2 A espiritualidade como caminho


A espiritualidade como caminho é abandonar-se na condução do mistério, é o deixar-se conduzir pelo mistério, a Fonte Nascente do Ser Deus e do Ser Humano = O SER que nos faz SER. Este é o mistério sagrado e seus caminhos. É preciso seguir, captar, sentir. A função da Espiritualidade é ajudar-nos a familiarizar-nos com este caminho.

Para a Espiritualidade, o Caminho tem nome: experiência, história, cultura, pensamento, encontro, aproximação, vizinhança, trazer para perto da intimidade. A experiência íntima é um Caminho que passa pelo coração.

Para a Espiritualidade, o novo nascimento não é a data do aniversário, mas o momento em que a nossa vida, de um modo consciente, lança-se nos caminhos do mundo. É também o caminho do recolhimento; o retirar-se do mundo barulhento para ajudar a recuperar as faculdades perdidas. Ir ao topo das montanhas ou ao ventre das cavernas. Fazer-se romeiro, andarilho, peregrino, para ver o completamente outro. A Espiritualidade é uma abertura para os diferentes toques do caminho; um encontro de convergência com as totalidades, com vidas. As parábolas, fios condutores do caminho, sempre nos recordam esta verdade.

A Festa do Encontro só acontece na caminhada. O poeta vê o verso do próprio passo. Francisco de Assis é a Poesia do Humano. É o humano no movimento mais natural do humano. Seu caminho de pobreza nos recorda que ser pobre é estar sempre necessitado de um caminho para buscar o que falta. O humano, ao perceber-se na pobreza carente de Amor (Amor non Amatur!), busca o concreto do Amor na riqueza de uma mulher e faz um passo em direção à mulher. O próprio Jesus Cristo revela no caminho a sua identidade: "Quem me vê, vê o Pai", um movimento de busca completa: "Eu sou Caminho, Verdade e Vida". Assim:

  • Santa Tereza D'Ávila e São João da Cruz fizeram um caminho para o mosteiro;
  • São Francisco Xavier fez o caminho das Índias
  • Che Guevara fez o caminho do fuzil
  • Francisco de Assis fez o caminho do Cântico das Criaturas.
  • Quem escreveu o Gênesis fez o caminho da cosmogênese. Somente quem andou nas estradas da criação pode escrever um livro como este.


A liberdade e a felicidade estão, na precisão deste caminho. A nossa caminhada é um desejo que colocamos numa direção de realização.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/vitorio/virtudes_191009/03.php acesso em 22 out. 2009.

3 O caminho franciscano

(ou A ESPIRITUALIDADE FRANCISCANA COMO CAMINHO)

Continuação de http://brasilfranciscano.blogspot.com/2009/10/2-espiritualidade-como-caminho.html

O medieval é um caminhante. Andava o monge, andava o camponês, andava o cavaleiro, andavam as caravanas, o peregrino, o leproso extra-muros, andavam os penitentes... Todos fizeram com o Sagrado, com a eclesiologia de então, com a teologia, com a cultura... um engate de todos os seus passos numa articulação sofrida. Sua errância, sua mobilidade antecipa o humano como eterno peregrino em busca da sua identidade. Passo a passo, atravessou os desafios da vida para buscar a felicidade.

É o tempo das REGRAS de Vida. Abraçar a Regra não é só ter norma de conduta, mas sim indicar as tabuletas do ser. Obedecer para não largar a identidade conquistada (Olhar a Cruz e dizer: "De boa vontade farei!"). O dinamismo do Amor não pára na história; sempre é tempo de construir e reconstruir.

É tempo de Mística: dar um passo para o Mistério; uma experiência extraordinária - É o cumprimento de um caminho de perfeição.

Época de grandes santos, sábios, heróis, mestres e místicos que não se repetem. Não são cópias de ninguém. A mística os fez originais. Francisco encontrou o mundo dos Movimentos Penitenciais, tirou da experiências dos penitentes o que era bom, mas fez um caminho original.

Os penitentes descobriram o Evangelho como livro que podiam ter nas mãos; Francisco descobriu a Palavra que, ao virar a sua vida, entra em seu coração e o coloca em movimento.

Um filósofo quando pensa não é um ser abstrato porque se transforma num pensamento, num pensador. Francisco se fez o Evangelho, transformou a sua vida numa experiência profunda de transcendência. No seu caminho é capaz de dizer: Em mim o Sagrado é tudo. O Todo do tudo - Deus! "Meu Deus é meu Tudo!".

Fez do Evangelho o caminho do aperfeiçoamento humano e isto o aproxima, cada vez mais, de Deus. O aperfeiçoamento veio do seguimento e da imitação. Para ele, Deus, palavra encarnada se encarna também nas coisas. Não é um Deus que cria e se afasta da obra, mas permanece ali comunicando-se com tudo, do sol às estrelas, do mais alto ser do universo aos vermes e relvas. Deus emana nas coisas. Para Francisco, a pedra participa da Divindade. Deus é sem nome e aparece no sussurro do vento. Não só ouviu a Palavra, percebeu que havia um Deus nesta palavra.

Ser peregrino e forasteiro é ir desapegado de tudo, tendo apenas a obediência como bagagem. Ir é obedecer! Francisco descobre que a verdadeira e única obediência é aquela que faz escutar a voz, uma grande voz; compreender sua vontade e segui-la. Obedecer é deixar-se guiar, no caminho.

Obedecer é fazer do caminho uma Revelação. Deixar muito tempo, muito espaço, muitas paradas... para escutar a Inspiração. O caminho obediente sempre exige uma atitude de escuta.

Obedecer é imitar a vida; é imitar o modelo. O caminho de Francisco não é um caminho monástico, é um caminho de pobreza Interior; um sem nada de próprio que respeita tudo.

Quem não obedece a algo muito grande, obedece ao próprio egoísmo.
No caminho obediente, Francisco aprendeu a servir, ser disponível, compreender a partir do comum, fazer nascer Fraternidade. O obediente tem uma iniciativa imediata para o serviço.

A ascese de Francisco não nasceu do sofrimento, mas do Amor que viveu e, por causa deste Amor, foi capaz de sofrer. Abraçou a dor do leproso como um serviço. Para ele, a vida vale muito pelo bem que habita na dor. Abraçou a dor do outro, fazendo da dor um instrumento de vida. Fazer da dor um serviço! A vida é o lugar onde acontece a dor. Ficar duro diante da dor quando a vida parece nos quebrar; ranger os dentes, quando a vida nos range os ossos. Ele fez da dor um processo de maturidade. Ele aprendeu com o AT e NT que a dor e o sofrimento são terapias de Amor. Mas falar de ascese sem estar dentro de um estado de Amor e santificação, não tem sentido.

FRANCISCO APRENDEU COM O CRUCIFIXO DE SÃO DAMIÃO A SER ÍNTEGRO EM TODO DESMORONAMENTO

A cruz, para ele, não é um quadro para ser aceito, mas uma vida para ser alegremente aceita. Fez da Cruz um Caminho de alegria e sacrifício. Esta é a sua ascese = recolher a vida! Ascese só tem sentido quando é exercício de consagração à uma causa.

Francisco não é um místico intocável, voltado só para dentro de si ou longe do mundo real. Sente a dor nos limites humanos. A dor transborda as medidas do humano.

É preciso a valorização da experiência da plenitude da existência.
Existir é experimentar alguém!

Existe o caminho da utopia = voltar a sonhar com este lugar que não existe, mas fazê-lo possível de existir. Numa das cenas do filme "Francesco", de Salvatore Molla e Michelle Soave, a mãe de Francisco diz para seu filho: "Francisco, você sonha com um mundo que não existe!" Sonhar um estado ético, o paraíso da graça, a sociedade absolutamente integrada, a harmonia, o humano reconciliado, a criança bricando com a serpente, a não agressividade, a irmandade, a visão messiânica que prega a união de todas as formas de convivência = o humano e a natureza.

A concretização da utopia de Jesus, que se chama Reino; livres das opressões históricas da doença, da fome, catástrofes, vinganças, ódios, mortes. Que nada ameace ou faça mal; é livrar a criação dos elementos diabólicos.

Fazer a realidade toda: pessoal, social, individual... ser carregada de possibilidades, uma sementeira de forças, de energias, de movimentos históricos que mexa com a cultura, com a arte, com a música.

Sem sonhos há fechamento e esclerose. Temos que mostrar que o mundo que vivemos nao é ideal; mas criar iniciativas de positividade e grandiosidade: "Sou o Arauto do Grande Rei!"

Francisco tem projetos concretos para melhorar a vida: vai ao leproso e o integra. Vai à sociedade e gera fraternidade. Vai ao Cântico das Criaturas e traz o universo empapado de espírito.

Entrega ao povo a leitura do Evangelho, fala com o natural, cria uma vida itinerante, vai onde o povo está, vai onde ninguém quer ir. Não é apenas um contestador, é um Carisma encarnado e provoca em todos a sensação de que o mundo não está perdido.

Propõe uma riqueza humanística, um humano moldado no humano divinizado de Deus. É um fenômeno humano e cristão. Mostra que imitar é seguir, é fazer um caminho de extrema seriedade.

Assume Deus sem cortar vínculos com o profano. Filtra a sua experiência de vida no eixo da procura da "conformitas" com o Filho do Altíssimo.

Faz um caminho de loucura! Que loucura? Ser louco de Deus, ser louco de Amor! O louco não tem nada de errado, tem é excesso de energia. No Oriente, o louco sofre menos que no Ocidente. Aqui, ele é excluído e clinicado. No Oriente, ele é visto como alguém especial. A sociedade cuida dele, respeita porque ele tem uma mistura radical de sábio, doente e criança. Francisco foi considerado louco em Assis e não aceito totalmente no início de sua caminhada. Era um Penitente despojado e livre, um mendigo santo que muito incomodava; ninguém aceita um maltrapilho feliz que fala de Deus com sorriso nos lábios, por isso se apedreja a loucura.

Francisco é um louco que experimenta a vida na sua totalidade. Abraçou o cotidiano e o transcendente. De Assis conseguiu ampliar um horizonte maior. Transfigurou as realidades mais comuns e simples. Temos dois textos das Fontes:

1. Cf. I FIORETTI 10 = "Por que a ti?, por que a ti, por todo mundo corre atrás de ti?". Para Frei Masseo, Francisco foge do comum considerado normal. Não tem nenhuma atração física; na sua pequenez é portador de um cristianismo de sedução.

2. 2 Cel 158: "A maior multidão dos imperfeitos era superada pela virtude de um único santo, porque pelo raio de uma única luz são dissipadas imensas trevas".

Ao examinar o apreço que o mundo tem por Francisco de Assis, vários autores coincidem em pontos comuns: seu caminho espiritual, a virtude evangélica, a pobreza, a humildade, o amor fraterno, a simplicidade e a pequenez, a filiação, a alegria, a liberdade de espírito, a disponibilidade, o cavaleirismo, a nobreza, o modo de cuidar dos pobres, o jeito de estar junto com os pequenos, com a mulher, com os pecadores, com as plantas, com os animais, o modo radical de viver o Evangelho, mas um modo não fundamentalista como alguns de seu tempo (Valdenses, Cátaros, Umiliati). Ele não é um fanático inovador que se apega a esta ou aquela letra; ele abraça o Evangelho todo. Assim se opôs aos hereges de seu tempo. Cada herege tem sua letra e deixa de lado questões essenciais. Francisco devolve para a eclesiologia de seu tempo a verdade completa do Evangelho.

Para ele, a letra mata, o Espírito dá vida. Não quer a espiritualidade dos que domesticam o Evangelho e pronunciam com facilidade o nome de Jesus. Para Francisco é melhor viver o Evangelho curando feridas de leprosos do que apenas lendo e meditando o breviário ou o Evangelho. (cf. 2 Cel 91, 2 Cel 67).

Francisco humanizou a letra do Evangelho. Segue o Jesus da Boa Nova de um modo encarnado, visível, audível, amável, sensível, palpável.

Ele é o homem do um e outro, da união, da unificação, do todo, do universo e da formiga. Ele vive de um modo único a plenitude de Deus, a plenitude do humano e da criação; este é o seu jeito único e íntimo. Deus é para ele Altíssimo, incomensurável, grandioso, íntimo e companheiro, presente e operante, Bom, Todo Bem, doador de toda bondade (Rnb 23).

Para expressar isto, abraça todas as formas de união amorosa: pai, mãe, irmão, irmã, esposo, esposa, noivo, noiva, amigo (Carta aos Fiéis, 48-60) e o seu conhecido Cântico das Criaturas e Bilhete a Frei Leão.

Procura um amor fraterno que supera o jeito de mãe e filho (1Cel 36; 82 e 2Cel 167).

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/vitorio/virtudes_191009/04.php acesso em 22 out. 2009.

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