Arquivo do blog

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Meu caro confrade Frei Arno Reckziegel

Deu na Adital:
Selvino Heck *
Soube da tua doença no Dia das Mães, 11 de maio, na devoção de domingo na igreja São Luiz, Santa Emília, Venâncio Aires, Rio Grande do Sul. Fizeram uma prece por ti, por tua saúde. Perguntei ao teu cunhado Celso Picinini, que estava do meu lado, o que estava havendo. Me disse que estavas com hepatite B, incubada faz anos, cujos efeitos começaram a se fazer sentir há algum tempo, fizeste exames, nada revelaram, até fazer o de hepatite B, e aí descobriram que o fígado já estava contaminado, o câncer se espalhara.

Não acreditei. Como pode, meu Deus? Como aceitar isso, uma doença que agora se descobre como que vindo do nada? Alguém jovem, pouco mais de sessenta anos, cheio de vida, que celebrou casamentos este ano onde estive presente, como os da sobrinha Cíntia e do Pingüim, como sempre todo alegre, as pessoas querendo te ouvir, beber tuas palavras ditas de um jeito todo especial, que só tu tinhas capacidade de dizer.

Busquei teu telefone com a mana Lourdes e te telefonei no mesmo dia. Estavas conformado e ao mesmo tempo alegre, dizendo que estavas tranqüilo, já tinhas feito na vida o suficiente, agora estava tudo nas mãos de Deus, eu não querendo acreditar, não podendo acreditar. Como agora não estou acreditando, duas semanas depois, 26 de maio, à noite, quando recebi a notícia do teu falecimento e comecei a escrever estas mal traçadas, chorosas e saudosas linhas. (Não sei se conseguirei dormir, quero chorar, estou sozinho, o que me salva é escrever).

Sábado seguinte, 17, dia da Solidariedade no Rio Grande do Sul, te visitei na comunidade dos freis na Morada do Vale III em Gravataí. Te conhecendo, resolvi levantar teu astral, embora sabendo da gravidade da situação, tu magro, sem vontade de comer, apenas um ovo depois de eu e os freis terminarmos o almoço. Falamos bastante sobre a vida, o governo Lula, a ministra Dilma, perguntaste sobre a Marta, minha ex-mulher, onde estava, o que fazia. E entregavas tudo nas mãos de Deus e de São Francisco. Te respondi, nada disso, precisamos de ti. Na saída, falei com o Frei Orestes, teu guardião, me disse que tivera uma conversa séria contigo. Reagiste positivamente, buscando remédios e perguntando por alternativas de tratamento.

Na quinta, Corpus Christi, soube que estavas no hospital, muito inchado. No encontro estadual do Movimento Fé e Política do Rio Grande do Sul, dediquei minha fala sobre as razões da fé e da militância a ti e ao Dr. Celso Gaiger, outro lutador, que falecera no dia anterior.

A tristeza e inconformidade com tua morte prematura não é por sermos primos e nossas famílias morarem 200 metros uma da outra, em Santa Emília. Vem porque, quando foste para o Seminário em Taquari alguns anos antes de mim. já eras referência. Vem porque foste pioneiro no trabalho de pastoral popular nas vilas da Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre, no início dos anos setenta, quando isso era ousado, revolucionário. Viver em comunidade no meio do povo trabalhador, nas periferias, em casa igual a eles, fora de conventos, sem a estrutura institucional de uma paróquia, reunindo grupos de família em torno do Evangelho, ajudando-os a se organizar em busca dos seus direitos e melhor qualidade de vida.

Quando fui morar contigo em 1977, na parada 13, rua São Pedro da vila São Pedro, na verdade aprendi tudo: a cozinhar, a lavar a roupa, a ouvir as pessoas, a amar quem luta todos os dias para sobreviver e dar de comer à sua família, a unir a fé e a política na prática da vida, a tentar viver os valores evangélicos e franciscanos.

(Quando cheguei na Lomba do Pinheiro, na casa dos freis, não sabia cozinhar um ovo frito, coar um café, fazer um chimarrão, nada, nada. Ordem de Frei Arno: "Aqui todo mundo cozinha, em rodízio, e todo mundo come seja o grude que for sem reclamar". Assim, aprendi a cozinhar feijão, a fazer um arroz que não fique empapado, a temperar uma carne. É o que tem me salvado ao longo do tempo, quando casei, me separei e moro sozinho há muitos anos.)

Eras um igual, mesmo quando viraste provincial dos franciscanos do Rio Grande do Sul. Depois, te tornaste vigário na paróquia São Francisco, bairro Santana, Porto Alegre. E agora, com toda alegria e simplicidade, foste morar no meio do povo trabalhador mais sofrido, em Gravataí, junto com jovens frades, como se frade jovem fosses, e o eras de fato.

Nunca me esqueço de uma coisa que disseste em alemão à tua mãe, minha tia Bertha, quando te tornaste definitivamente franciscano: "Agora, mamãe, deixo de ser teu filho para ser filho de Francisco. Por isso, não esperes que eu te visite sempre ou seguido". E assim fizeste.

Não deu tempo para estar no teu velório e enterro no Convento São Boaventura em Daltro Filho. Mas sei que estás no meu coração, como estás no coração do povo de Santa Emília, do Pinheiro, do bairro Santana e da Morada do Vale II, dos frades, não só os do Rio Grande do Sul.

É difícil aceitar. Dá vontade de dizer um palavrão pra Deus e perguntar se ele sabe mesmo o que faz. Teu exemplo, tua vida de fé, teu compromisso franciscano com os pobres, com a justiça permanecerão sempre vivos, muito vivos, totalmente vivos.

Saudações, até a próxima. E me permita, do teu sempre confrade Selvino.
* Assessor Especial do Presidente da República. Fundador e Coord. do Movimento Fé e Política
Extraído de http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=33272

terça-feira, 27 de maio de 2008

AMÉM! ASSIM SEJA!

AMÉM! ASSIM SEJA!

“Assim fala o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus”.
(Ap 3, 14b).

A palavra é para o hebreu mais do que apenas um som, ela representa a própria identidade do que fala, por isso, o hebreu sintetiza toda sua experiência em poucas palavras. Jesus se referindo aos seus dizia: “Para bom entendedor, meia palavra basta”. Ou: “Quem tiver ouvidos para ouvi que ouça”. Por isso, o “amém” vem sempre no final de cada oração, suplica ou invocação do Senhor, pois, ele representa uma síntese do que foi falado a Deus; ou ainda, uma confirmação daquilo que foi dito pelo Senhor ou ao Senhor.

“Em hebraico, a palavra “amém” está ligada à mesma raiz da palavra “crer”. Esta raiz exprime a solidez, a confiabilidade, a fidelidade. Assim, compreendemos porque o “amém” pode ser dito da fidelidade de Deus para conosco e de nossa confiança nele.

No profeta Isaías encontramos a expressão “Deus de Verdade”, literalmente “Deus do amém” , isto é, o Deus fiel às suas promessas: “Todo aquele que quiser ser bendito na terra quererá ser bendito pelo Deus do amém” (Is 65,16). Jesus emprega com freqüência o termo “amém” (Cf Mt. 6,2.5.16), por vezes em forma duplicada (Cf Jo 5,19), para sublinhar a confiabilidade de seu ensinamento, sua autoridade fundada na verdade de Deus”. (CIC).

Vejamos agora o exemplo de confirmação da oração do “Creio em Deus Pai....”. “O “amém” final do Credo retoma e confirma suas duas primeiras palavras: “eu creio”. Crer é dizer “amém” às palavras, às promessas, aos mandamentos de Deus, é confiar totalmente naquele que é “Amém” de infinito amor e de fidelidade perfeita”. (CIC). Outro exemplo de “amém” acontece na oração do “Pai nosso”; normalmente na missa os fieis costumam rezar o “amém” logo após o término desta oração, mas na liturgia o “amém”, como resposta de confiança na providência divina, se dá logo após as duas orações que seguem à oração do “Pai nosso” e não após o “Pai nosso”, pois, o “amém” é como que uma entrega à providência divina, é um confiar-se às mãos do Pai de misericórdia a quem pertencemos.

Prezados leitores e leitoras, o “amém” também pode ser um reconhecer a validez da palavra pronunciada e um comprometer-se com ela pessoalmente. Quando respondo “amém”, minha resposta torna-se minha adesão à verdade do que sou em comunhão com a vontade eterna de Deus. Com isso, ponho-me à disposição do Senhor para que “faça- se em mim segundo a Sua Palavra”.

Em suma, irmãos e irmãs, podemos dizer que “o próprio Jesus é ‘o amém’ (Ap 3,14). Ele é o ‘Amém’ definitivo do amor do Pai por nós; assume e consuma nosso “Amém” ao Pai: “todas as promessas de Deus, com efeito, têm em Cristo Jesus seu sim; por isso, é por Ele que dizemos “amém” a Deus para a glória de Deus” (2Cor 1,20):

Por Cristo com Cristo, em Cristo,
a vós, Deus Pai todo-poderoso,
na unidade do Espírito Santo,
toda honra e toda glória,
agora e para sempre.
AMÉM”. (CIC).

“Aquele que atesta estas coisas diz: ‘Sim! Eu venho em breve!’ Amém. Vem, Senhor Jesus!”. (Ap 22,20b).

Paz e Bem!

domingo, 25 de maio de 2008

A Tetra Pak e o Meio Ambiente

A TETRA PAK E O MEIO AMBIENTE
Os textos abaixo foram extraídos do site da Tetra Pak, sobre suas ações com o meio ambiente e a reciclagem de seus produtos.
A EMBALAGEM LONGA VIDA E SUAS MATÉRIAS PRIMAS
A embalagem longa vida possui uma estrutura multicamadas que fornece a proteção ideal aos alimentos nela depositados. Ela é formada por três materiais: papel, plástico e alumínio, distribuídos em seis camadas.
O papel representa cerca de 75% da embalagem, e sua celulose é extraída de florestas replantadas e certificadas (FSC) passando por um processo produtivo livre de cloro até chegar a Tetra Pak. Suas principais funções são dar suporte mecânico à embalagem e receber a impressão. Traz as vantagens ambientais de ser um recurso natural renovável e pode ser reciclado após o descarte.
O alumínio representa cerca de 5% da embalagem e tem a importante função de dar proteção contra a entrada de luz, de oxigênio e de impedir a troca de aromas entre alimento e o meio externo. Ele é extraído da bauxita e na embalagem ficará entre várias camadas de plástico, não entrando em contato com o alimento.
O plástico, cerca de 20% da embalagem, poderá ser encontrado em quatro camadas. Nas embalagens longa vida é usado o polietileno de baixa densidade que é extraído do petróleo. O plástico será útil para isolar o papel da umidade, impedir o contato do alumínio com o alimento e servir como elemento de adesão dos materiais presentes na estrutura. As camadas de plástico e alumínio da embalagem longa vida também podem ser recicladas após a separação das fibras de papel, sendo usadas para a produção de objetos como canetas, réguas, pente, cabides, etc.
Além desses três materiais há também tinta, usada na impressão dos rótulos. Esta tinta é não-tóxica, usando a água como solvente e pigmentos orgânicos ao invés de metais para a coloração, sendo adequada para as indústrias alimentícias.

ESTRUTURA DA EMBALAGEM LONGA VIDA E SUA RECICLAGEM
A embalagem longa vida possui seis camadas que formam uma verdadeira barreira protetora, preservando o aroma e o sabor dos alimentos por meses a fio, dispensando totalmente o uso de conservantes.
Todos os materiais das embalagens longa vida - papel, plástico e alumínio - podem ser reciclados. Para isso, usa-se o hidrapulper, uma espécie de liquidificador gigante que hidrata as fibras de papel, separando-as do plástico e do alumínio que se transformam em: - Papel: caixas de papelão, papel para impressão, bandejas de ovos, palmilhas de sapato, papel toalha e papel higiênico.
- Plástico e alumínio: peças plásticas como vassouras, cestos de lixo, cabides, réguas, canetas, paletes, placas e telhas para a construção civil.

CAIXINHAS LONGA VIDA DEIXAM A CASA MAIS FRESCA Uso da embalagem como isolante térmico ajuda a reduzir a temperatura nos ambientes em até 8º C
São Paulo - Caixinhas de leite que sempre vão parar no lixo podem ser reaproveitadas e transformadas em isolante térmico alternativo para residências e galpões, reduzindo a temperatura no interior dos imóveis em até 8º C.
A utilização das embalagens Tetra Pak pode ser feita de forma artesanal, pelo próprio morador, diminuindo os custos. Outra opção são as telhas feitas de caixas de Tetra Pak recicladas, vendidas com preços até 25% menores do que os materiais concorrentes. A idéia de reaproveitar as embalagens de forma artesanal virou tema de estudo na Unicamp e resultou no Projeto Forro Vida Longa - uma alusão ao leite Longa Vida. O professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e coordenador do projeto, Celso Arruda, explica que a proposta partiu do engenheiro Luís Otto Schmutzler, que juntamente com professores da faculdade desenvolveu todo o processo de aproveitamento das caixinhas de Tetra Pak para uso em habitações populares. Arruda afirma que a transformação das embalagens em isolante é simples e pode ser feita por qualquer pessoa.
Como fazer
O primeiro passo é abrir totalmente as caixinhas, descolando as emendas e fazendo um corte vertical para que a embalagem fique completamente plana. Em seguida, é feita a limpeza com água, sabão em pó e um pouco de desinfetante. Depois de secas, as embalagens devem ser coladas lado a lado, com cola branca ou de sapateiro, formando uma manta sobre a laje superior da casa, abaixo do telhado.
Para o perfeito funcionamento do isolamento térmico, é muito importante que a manta não encoste nas telhas, deixando um espaço mínimo de dois centímetros para a circulação do ar. O professor da Unicamp diz que a manta de Tetra Pak bem aplicada tem o mesmo desempenho dos placas de alumínio (foils) vendidos no mercado, ajudando inclusive na proteção contra goteiras provocadas por falhas no telhado. A explicação está na composição das caixinhas, formadas por 5% de alumínio, 20% de plástico e 75% de papelão. O alumínio reflete mais de 95% do calor, ajudando a diminuir a temperatura interna dos ambientes em até 8º C.
Baixo custo
Para Arruda, as mantas de Tetra Pak são uma boa solução para favelas, habitações populares e galpões, já que a instalação tem custo muito baixo, não exige mão-de-obra qualificada e também não há compromisso com a estética.
A idéia, no entanto, tem conquistado um público maior. Recentemente, a solução foi adotada pela arquiteta Consuelo Carleto na construção da nova unidade da fábrica de calçados Pé de Ferro, em Franca (SP). No projeto, as caixinhas foram coladas no seu formato original, sem serem desmontadas antes, para redobrar a proteção térmica nos 200 m² que cobrem a área administrativa da empresa.
"As pessoas trabalham melhor com a temperatura agradável e os gastos com ar-condicionado diminuem bastante."
Sem ir para o lixo
Ainda há o lado ecológico, já que as embalagens que vão para o lixo levam dezenas de anos para se decompor nos aterros. Para incentivar a reciclagem das caixinhas, a Tetra Pak desenvolveu uma tecnologia para que fabricantes pudessem transformar o alumínio e plástico presente nas embalagens em telhas e chapas planas.
A Ibaplac, localizada em Ibaté (SP), produz mensalmente 7 mil peças, entre telhas e placas, utilizando cerca de 100 toneladas de matéria-prima. "São telhas mais leves do que as de fibrocimento, mais duráveis e mais baratas", afirma o diretor industrial da empresa. Eduardo Gomes.
Outras oito fábricas espalhadas pelo País fabricam esse tipo de produto. Segundo o diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak, Fernando Von Zuben, mais de 60 mil telhas são fabricadas mensalmente. "Além de garantirem conforto térmico, as telhas custam até 25% menos do que as de amianto ou fibrocimento." A partir das embalagens, também são fabricados móveis, vassouras e uma série de produtos para casa.
De acordo com Zuben, 30 mil toneladas de Tetra Pak são reciclados por ano, mas o volume corresponde somente a 20% do total produzido pela empresa. "Todas as embalagens separadas na coleta seletiva são recicladas e ainda existe uma capacidade ociosa de 40% para aumentar a reciclagem", avisa.

Vamos contribuir para aumentar este número de embalagens recicladas, pois até agora, pouco ou quase nada fizemos!!!!
Temos que continuar fazendo a nossa parte, para que a nossa Mãe Terra continue sendo um lugar abençoado e acolhedor como Deus o criou...

PAZ E BEM!!!!!
Ana Cristina Opitz
COODHJUPIC

Santa Isabel da Hungria, Rainha, 1207-1231



Creative Commons License
Isabel da Hungria - renunciar para servir ao próximo by Eugenio Hansen is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial 2.5 Brasil License.

De quem é a Amazônia? De quem é o Planeta?

De quem é a Amazônia? De quem é o Planeta?

É notório um ar de prepotência na reportagem do jornal estadunidense "The New York Times", intitulada "De quem é esta floresta amazônica, afinal?" (18/05/08). Mas, penso que a questão colocada na reportagem é bem vinda para os dias de hoje. Realmente, nós humanos precisamos ter um diálogo franco, com o máximo possível de serenidade e nos perguntarmos sobre isto. Afinal, de quem a Amazônia? E o Planeta, é de quem mesmo? Quem é ou quem são "os donos" das florestas, dos rios, dos mares, das praias, das geleiras, das nascentes, dos mananciais, dos aqüíferos, das terras, das cidades? Enfim, precisamos questionar as apropriações que existem ao redor da Terra.

É um tanto quanto contraditório um cidadão estadunidense, seja alguém da imprensa ou um líder político, como é o caso de Al Gorre, questionar a política de proteção da Amazônia, dada pelas nações que dividem seu território. Afinal, os Estados Unidos estão cercando seu país, impedindo a entrada de estrangeiros em suas cidades. Eles não têm uma política territorial fraterna, humana e civilizada. Não há dúvida de que o jornal fez bem em colocar este tema em questão, mas a forma como colocou é muito às avessas.

Não parece nada sensato que alguns líderes internacionais e/ou a própria imprensa estrangeira venha a dizer como deve ser a política territorial dos países latino-americanos que dividem o território amazônico. O que é realmente necessário, é que a Comunidade Humana, através de seus legítimos organismos internacionais, faça um diálogo verdadeiramente democrático sobre a forma de como podemos melhor proteger todo o patrimônio natural da Humanidade. E diante disso, cabe discutir também sobre os mais diversos tipos de patrimônio, como por exemplo, o financeiro, o científico, o tecnológico, o intelectual e etc. Pois, as riquezas e toda a produção dos países são frutos da natureza e do trabalho humano.

A produção das grandes indústrias e do agronegócio, o lucro de todas as empresas, dos bancos e dos mais diversos setores da economia mundial, de alguma forma, são frutos da exploração dos recursos naturais e da força de trabalho do ser humano. Isto significa que estas empresas deveriam reverter a maior parte de seus lucros para preservar o meio ambiente e melhorar a vida das pessoas em todas as partes do mundo. Porém, não é isto que fazem e ainda querem obter sempre mais lucro. Agem como se fossem os donos do mundo, como se o planeta fosse um quintal particular. É hora de pensar nisso. Será que as grandes indústrias e o agronegócio, o grande capital têm o direito de se apropriar tão vorazmente das riquezas do nosso planeta? O mundo é de todos os seres humanos e de todas as formas de vida. O planeta Terra é nossa casa comum, é a morada desta geração e das futuras gerações.

Para preservar a saúde da Terra e construir um futuro melhor é preciso que cada pessoa cuide bem da vida que está ao seu redor e que cada nação desenvolva políticas públicas de sustentabilidade. Também se faz necessário que os governos unam forças para preservar todo o patrimônio de vida que existe em nosso planeta. Porém, não se pode abrir a ferida do conflito com desrespeito a soberania de cada nação. No caso da Amazônia, é sensato que todos os países estejam preocupados e que realmente despendam esforços, empenhos para ajudar a cuidá-la. Mas, respeitando a política territorial de cada país.

Frei Pilato Pereira

www.olharecologico.blogspot.com


Fontes franciscanas e clarianas online

Paz e bem!

Links para as fontes franciscanas e clarianas traduzidas para o português e disponíveis online:

sábado, 24 de maio de 2008

Capítulo Geral 2008 da OFS : Documento Preparatório

DOCUMENTO PREPARATORIO

PARA TRATAR LOS TEMAS DEL PRÓXIMO CAPÍTULO GENERAL

“LA PROFESIÓN DEL FRANCISCANO SEGLAR Y SU SENTIDO DE PERTENENCIA”

Introducción

¿Qué es la Orden Franciscana Seglar? ¿Cuál es su naturaleza eclesial? ¿Quién es, qué hace el franciscano seglar? ¿Cuál es su identidad más profunda y la naturaleza de su pertenencia a la Iglesia y a la Familia Franciscana? ¿Cómo se ubica el franciscano seglar y la Orden en su conjunto de frente al mundo y cuál es su cometido?

Se trata de preguntas importantes que se nos dirigen con frecuencia, aunque surgen también dentro de nosotros, y las respuestas que se den determinan de manera vital la autoafirmación de nuestro “ser” y califican nuestro “obrar”.

De los casi 800 años de existencia, por más de 500 años (hasta 1978 y más allá), la historia de la Orden ha sido caracterizada por una vida “disminuida”, a raíz de una imposibilidad práctica de auto-determinarse y de asumirse responsablemente como Orden.

A la Orden se le había impedido, de hecho, “hacer su historia”, dar su aporte como Orden en su conjunto, para asumir plenamente la providencial tarea que le correspondía, en el contexto de la Familia Franciscana, tal como le había sido confiada a Francisco de Asís por el Crucifijo de San Damián.

Hoy, esta posibilidad se ha convertido en una realidad ¡ y depende en gran parte de nosotros !

La Iglesia, a la luz de las enseñanzas del Concilio Vaticano II, ha reflexionado providencialmente acerca de nuestra existencia y ha querido reconocer a nuestra Orden la unidad y la autonomía en una estructura mundial y centralizada. Nuestra historia ha demostrado cómo estos elementos, ya existentes de manera embrionaria en su origen, fuesen esenciales para realizar plenamente el proyecto confiado por Dios a San Francisco para nosotros, en favor de la Iglesia de todos los tiempos.

Pero, ¿estamos realmente preparados?, ¿En qué medida y de qué manera hemos madurado en nosotros el sentido de pertenencia a una “Orden”?, ¿Cuál es la conciencia real y concreta que los franciscanos seglares tienen de pertenecer a una verdadera Orden, a una Orden que, finalmente después de ocho siglos, tiene una estructura unitaria y centralizada?

“(Francisco) instituyó una verdadera Orden, la de los Terciarios, no vinculada por votos religiosos, como las dos precedentes, sino conformada por la simplicidad de costumbres y por el espíritu de penitencia. De esta manera y felizmente, fue él el primero en concebir y llevar a la práctica, con la ayuda de Dios, lo que ningún fundador de Orden regular había imaginado hasta ese momento: hacer que el tenor de vida religiosa fuese común a todos” (Benedicto XV, Encíclica “Sacra Propediem”, n.5, del 6 de enero de 1921).

“Vosotros sois una Orden: Orden laical, sí, una verdadera Orden. Ordo veri nominis como la llamó Nuestro Predecesor de s. m. Benedicto XV (Sacra propediem, 6 de enero de 1921). No sois, como es obvio, una asamblea de perfectos; pero debéis ser una escuela de perfección cristiana. Sin esta resuelta voluntad no se puede formar parte de una tan elegida y gloriosa milicia” (Pio XII, 1° de julio de 1956, Discurso a los Terciarios en Roma).

“… vosotros sois también una ‘Orden’, como dijo el Papa (Pío XII): ‘Orden laical, sí, una verdadera Orden; y, por lo demás, ya Benedicto XV había hablado de ‘Ordo veri nominis’. Este término antiguo – podemos decir medieval – de ‘Orden’ no significa otra cosa que vuestra estrecha pertenencia a la gran Familia Franciscana. La palabra ‘Orden’ significa la participación en la disciplina y en la austeridad propia de aquella espiritualidad, la cual sin bien en la autonomía propia de vuestra condición laical y seglar, comporta a menudo sacrificios no menores de aquellos que se experimentan en la vida religiosa y sacerdotal” (Juan Pablo II, 14 de junio de 1988, al Capítulo general OFS).

De esta manera, en época reciente, tres Papas de grande espesor y autoridad espiritual han hablado de nuestra Orden Franciscana Seglar!

Somos una Orden, Orden laical, sí, una verdadera Orden, Ordo veri nominis !

Es asombroso cómo a lo largo de los siglos se haya siempre hablado de Orden, incluso cuando la Orden no existía como entidad estructurada y autónoma. A partir de 1471 y hasta 1978, la Orden había vivido en un estado de sustancial inferioridad, de división y sujeción. En la práctica sólo existían Fraternidades locales, que eran simplemente apéndices de las respectivas Órdenes religiosas que las guiaban. Sin embargo, esta conciencia de ser una sola entidad y de obrar de una forma virtualmente unitaria y concorde, no había jamás disminuido ni en la conciencia de los “terciarios”, individualmente, ni en la de la Iglesia.

El anhelo de unidad y autonomía había nacido con el mismo movimiento laical de la penitencia de San Francisco y, para quien conoce la historia de la OFS, es por demás conocido cómo, sin embargo, dichas aspiraciones hayan sido frustradas ya desde el comienzo.

Nosotros, franciscanos seglares de hoy, podemos muy bien decir que somos unos privilegiados, pues somos protagonistas de un momento histórico de una nueva época, en la que se está realizando el sueño de todos nuestros predecesores. Es absolutamente necesario darse cuenta de esto y desempeñar con responsabilidad y sentido de la historia nuestro cometido.

La OFS es todavía una creatura frágil. La Orden se debe consolidar, debe crear ex novo estructuras y modus operandi originales para hacer que la Orden sea capaz de hacer frente a los desafíos que el mundo nos presenta, tanto internamente como externamente, para desenvolver con eficacia su cometido en el tercer milenio de historia cristiana.

Los desafíos son inmensos

Habrá que “inventar”, “crear” un modo de ser y de realizar las gestiones propias de una Orden que tiene sus exigencias, que está compuesta en su mayoría por laicos, plenamente inmersos en las cosas del mundo y en las actividades ordinarias de la familia, del trabajo, de la sociedad.

Deberemos ser capaces de conjugar las exigencias de coordinación y de íntima conexión de todas las partes del cuerpo, sin que por esto la Orden pierda su capacidad de ser, en todas partes, igual y distinta, para expresar el común carisma en las más variadas y múltiples situaciones presentes en cada parte del mundo, con aquella agilidad, capacidad de adaptación e inagotable empuje carismático que, solamente, pueden permitir una verdadera incidencia en el tejido vital del mundo.

Los desafíos se pueden vencer, aunque también se pueden perder y los éxitos no están asegurados.

Estructura centralizada

La estructura centralizada era y es necesaria con la finalidad de permitir que la Orden ocupe su puesto en la Familia Franciscana y en la Iglesia y que sea eficaz la proyección apostólica del carisma franciscano en el mundo seglar.

La Novitas de Francisco tiene connotaciones misioneras, cuyo radio de acción es el mundo entero y dicha misión nos ha sido confirmada, desde siempre, por el mismo Romano Pontífice.

Somos un cuerpo compuesto por más de 430.000 Profesos, que junto a los más de 150.000 religiosos franciscanos debemos llevara adelante en el tiempo y en la historia la misión que el Crucifijo de San Damián confió a San Francisco.

Todo esto se podrá realizar plenamente adquiriendo, viviendo y haciendo crecer en cada uno de nosotros, en cada parte del mundo, un muy profundo Sentido de Pertenencia y una conciencia viva y operante de la Gracia de la Profesión que nos ha hecho Franciscanos, realizando nuestra vocación Bautismal en plenitud y nos ha insertado íntimamente en el cuerpo de la Orden Franciscana Seglar y en la entera Familia Franciscana.

Profesión y Sentido de Pertenencia

Profesión y Sentido de Pertenencia son dos elementos fundamentales e imprescindibles para realizar lo que hemos dicho, y sin los cuales la Orden no existe, no puede existir.

¿ Qué conciencia real tenemos del hecho que la Profesión nos ha constituido en el estado de Profesos, impartiéndonos el carácter franciscano, insertándonos vitalmente e indisolublemente en el cuerpo de la Orden Franciscana Seglar ?

Este sentido de la absoluta corporeidad de la pertenencia ¿ supera los confines de los estados, de los idiomas, de las clases sociales, de las culturas para hacer de nosotros un único cuerpo, invencible, para la difusión del Evangelio y la restauración de la Iglesia en Cristo y la restitución de un mundo redimido a Dios Padre ?

El Capítulo General

El próximo Capítulo general tiene como temas estos dos fundamentales aspectos de nuestra vida.

Es imprescindible que todas las Fraternidades nacionales reflexionen sobre estos dos aspectos, de manera que los excelentes aportes que recibiremos por parte de los Conferenciantes no se apaguen en el silencio y un posible obstáculo que puede significar la falta de preparación de los Capitulares, una vez que los ponentes terminen sus presentaciones.

Los Consejeros Internacionales

Por lo tanto, es esencial que los Consejeros Internacionales vengan al Capítulo bien preparados y cargados de la experiencia, y de la reflexiones que surgirán de los debates que deberán realizarse en cada país, para hacer que esta fundamental reflexión capitular sea un auténtico momento de gracia, un kairós, un latigazo de santidad y de santos propósitos que hagan fuerte y vital nuestra Orden en su conjunto y no tanto como simples individualidades de personas comprometidas.

Por lo tanto, sugerimos que en cada Fraternidad nacional, constituida o emergente, el Consejo Nacional organice momentos de reflexión calificada para abordar estos temas. Las pistas de reflexión son las que ofrecemos en este documento.

Los formadores

Los formadores a todos los niveles se deben comprometer a profundizar con todos los hermanos y hermanas acerca de la naturaleza de la Profesión, sus efectos concretos de incorporación a la Orden, y los efectos de pertenencia que esta incorporación produce.

Los frutos de este trabajo deben ser entregados al Consejero internacional para que el Capítulo pueda, a través de los Conferenciantes y de todos Capitulares, proveer de respuestas, estímulos, aclaraciones, proyectos y compromisos que hagan crecer nuestra Orden y todos nosotros, singularmente y colectivamente, para asumir con plenitud nuestro papel en la Iglesia y en el mundo.

Conclusión

Quedamos a la espera de recibir por parte de todos y cada uno de vosotros un eco a esta carta y que nos hagan conocer las iniciativas que se tomarán en cada Fraternidad nacional, constituida o emergente.

A título puramente indicativo, les ofrecemos, en forma de preguntas, otras posibles pistas de reflexión y de discusión, dejando a todos la plena libertad de realizar este trabajo preparatorio según la propia discreción.

1. ¿En qué medida vuestro ser franciscano seglar es parte esencial de vuestra vida? ¿Vuestra vida de Fraternidad es solamente un encuentro entre tantos otros?

2. ¿Qué cosa podríais hacer para estar más involucrados en la vida íntima de la OFS?

3. La Profesión por su naturaleza es un compromiso permanente. ¿Lo vives de esta manera?

4. ¿Por qué, en tu opinión, la Fraternidad local es tan importante en la vida de la OFS? ¿Cómo evaluarías tu Fraternidad en cuanto lugar que ayuda a realizar lo que la Profesión te exige?

5. La Fraternidad, ¿te ayuda a permanecer fiel a tu Profesión y a darte un sentido de pertenencia ? ¿En qué medida actúas para que esto se realice en los otros hermanos y hermanas de tu Fraternidad?

6. ¿Por qué has querido entrar en la Orden Franciscana Seglar? ¿Cuál es tu aporte a la OFS en la vivencia de tu Profesión y de tu presencia?

7. ¿En qué medida piensas que la nueva Regla haya incidido en los cambios que se han producido en el modo de “sentir” y de “ser” en la Orden?

8. Crees que el sentido de pertenencia que hoy vives, corresponda de manera genuina a lo que la Orden es verdaderamente, a su “naturaleza” y a su misión? ¿O se trata más bien de algo que pertenece al pasado o a una concepción personal de la Orden?

En caso de que tú pienses que no exista un sentido de pertenencia en la Orden que sea satisfactorio, ¿cuáles son, en tu opinión las razones?

1. ¿Falta de formación?

2. ¿Falta de comunicación?

3. ¿Falta de aportes y de un compartir fraterno?

4. ¿Otra?

Extraído de http://www.ciofs.org/circ/gia8es64a.htm acesso em 24 maio 2008.

Oração pelo Capítulo Geral 2008 da OFS

Ó altíssimo e glorioso Deus,
nós te louvamos e te rendemos graças
por tua presença no mundo
e pelo imenso dom de nossa vocação franciscana.

Concede, Senhor,
a cada irmão e irmã da Ordem Franciscana Secular
tua santa inspiração
no caminho da preparação do próximo Capítulo Geral na Hungria.

Concede a sabedoria necessária
a nossos irmãos e irmãs que participarão do Capítulo,
de maneira que saibam discernir
as prioridades para a vida de nossa Ordem
e eleger aqueles que Tu queres
para nos guiar e nos animar.

Guia-nos, Senhor,
para que possamos seguir
o Santo Evangelho e nossa Regra
com maior fidelidade
e sejamos teus colaboradores
para reconstruir a Igreja e o mundo.

Nós te pedimos
por Jesus Cristo
Nosso Senhor
e por intercessão da Bem-Aventurada
Virgem Maria,
de são Francisco,
de Santa Clara
e de nossos Patronos,
Santa Isabel
e São Luís.

Amém.

(Tradução do Ministro Nacional José Carlos de Andrade)

Extraído de:
PAZ E BEM. Rio de Janeiro : OFS do Brasil, ano 46,
n. 291, maio/jun. 2008. P. 29.

A vitória sobre o anjo


Frei Betto *

Adital -
Sei o que experimentou Jacó ao duelar com o anjo. Enfrentei-o quando aos meus pés faltou chão e, no horizonte, o sol se apagou aos meus olhos. A escuridão invadiu-me: primeiro engoliu as pernas; em seguida, os braços; depois, todo o meu ser. Por fim, dragão insaciável, tragou-me a identidade.

Mergulhado na noite, partido, perdido, exilei-me em dúvidas. No início, senti-me sugado pelo abismo. Tudo em volta se me evaporou. Fiquei às tontas, em queda livre num poço sem fundo. Todas as minhas certezas se volatilizaram, meu mapa converteu a geografia num hermético labirinto, minhas crenças professaram a negação de toda fé. Cego, viajei numa espiral alucinada, acorrentado à desrazão da insensatez. Sufocava-me o afluxo da vida em despropósito. Náufrago num oceano vazio de águas e limites, ocupei o lugar de Jonas no ventre da baleia.

Não há sofrimento maior do que perder-se de si torturado pelo esplendor da lucidez. Quem me dera, naquela noite escura, fosse eu tomado pela sadia loucura dos atropelos irreversíveis da mente. Quisera, qual demente, estar fora de mim sem a consciência do banimento ontológico. E apoiar-me em qualquer uma das referências que, até então, haviam servido de marco em minha estrada de vida: um sonho, um encantamento, uma idéia compulsiva, um desejo irrefreável, uma crença em forma de sacrário. Ao menos um ruído, como o apito do trem que cortava a minha cidade e, agora, ainda atravessa-me a nostalgia do coração. Ou o cheiro morno do pão de queijo trazido do forno à mesa, a suave elasticidade do polvilho, o aroma adocicado e quente do café.

Nada disso me consolava. Havia apenas o vazio, o vazio, o vazio. O caos primordial, antes que Javé despertasse de seu sono eterno e, distraído, tropeçasse na idéia de criar o mundo.

Deu-se então o início do meu aprendizado. Primeiro, a consciência de que era preciso fazer a travessia. Às cegas. Jogar-me no rio sem a menor noção de quão distante se encontrava a margem oposta. Caminhar rumo ao plexo solar. Desatar os nós. Mergulhar naquele abismo infindável, atirar-me do trapézio com os olhos vendados, empreender a ousada viagem no rumo da morte, apoiado apenas por um fio de esperança: do lado de lá me aguardava, não a morte, e sim a plenitude da vida.

Caminhei na senda escura entre escorpiões e escaravelhos, aranhas e lagartos, a mente assaltada por fantasmas que, nela, suscitavam desde as mais pavorosas fantasias ao hedonismo desenfreado. Desprendida da alma, a imaginação se ensoberbece e cavalga, alada, o carrossel da luxúria. A razão desalinha, as idéias esvoaçam, os propósitos atolam-se na lassidão do espírito fenecido.

É preciso pôr-se de joelhos e, reverente, escutar o silêncio. Como Elias, não aguardar o trovão, o rugir dos ventos, a voracidade flamejante do fogo. Apenas a brisa suave, assim como o navegador, finda a borrasca, recebe contente a chegada da calmaria. Mas isso custa. Isso é inesperado, indescritível, mistérios dos mistérios. Para chegar lá, urge amansar leões, enfrentar dragões, conviver, destemido, no ninho das serpentes. E saber perder. Vão-se as ilusões, as máscaras; vai-se aquele outro que insiste em se disfarçar de eu. No fogo tímido da lenha úmida, todas as falsas verdades são lentamente queimadas. Então, instaura-se a nudez. É a hora da vertigem.

No duelo com o anjo, apenas na hora da vertigem me dei conta de que não brotava de minhas forças o ímpeto que me fazia atingir a terceira margem do rio. Alguém soprava o vento que inflava as velas de meu barco. Alguém movia as águas. Essa consciência de que uma estranha energia me impelia sem que eu pudesse identificá-la, tornou-se progressivamente aguda. Sim, minha vontade havia dado o primeiro passo; minha razão denunciara, insistente, a insensatez da travessia; meus atavismos resistiram a abandonar a margem de origem.

Havia, porém, um outro fator que só percebi ao perder de vista a margem que deixara sem, no entanto, vislumbrar a oposta. A queda transmutou-se em ascensão; o abismo, em montanha; a vertigem, em enstase. (Atenção editor: o termo, teológico, é este mesmo, enstase, e não êxtase)

O anjo depôs armas, afastou-se da porta do Éden e deixou que Ele se me apossasse. Fiquei visceralmente apaixonado. Tudo em mim e à minha volta transluzia amor. E nada me atraía mais fortemente do que perder tempo na alcova. Outra coisa eu não pensava nem queria ou desejava do que sentir-me abrasado de amor. As entranhas queimavam; o peito ardia em febre; a mente, calada, observava a razão tragada pela inteligência. Eu me encontrava em alguém fora de mim que, no entanto, se escondia no recanto mais íntimo do meu ser e, de lá, projetava a sua luz sem se deixar ver ou tocar.

* Frei dominicano. Escritor.

Extraído de http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=33166 acesso em 24 maio 2008.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Os Sete Sacramentos da Igreja

OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

“Eis que eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” (Jo 13,34).

Amar é o mesmo que dar: dar a vida, a salvação, a paz, a eternidade, a felicidade...; enfim, dar o que nós temos, somos e vivemos...dar a graça em toda a sua plenitude; dar a satisfação, a realização, a santificação. Para São João amar é dar a devida obediência aos santos mandamentos da Lei de Deus (Cf.1Jo 5,3) e isso é sinônimo de plena comunhão com a vontade divina e constitui a nossa verdadeira liberdade, pois, ser livre é escolher o Bem o Sumo Bem e o Sumo Bem é Deus. E ninguém ama a Deus e ao próximo se não guarda os Seus Mandamentos e não sabe doar-se. Os Sete Sacramentos da Igreja são essa expressão doadora de Deus.

A palavra Sacramento significa: sinal sagrando onde Deus opera diretamente realizando o seu Eterno Plano de Amor, ou seja, é Deus mesmo fazendo a Sua Obra por meio destes Sinais Sagrados. Na verdade os Sacramentos são os fundamentos da vida e da fé cristãs. Eles foram instituídos pelo próprio Cristo, assim designados: Batismo: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Ide, pois; de todas as nações fazei discípulos, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. (Mt 18b-19).

Confirmação ou Crisma: “Chegando em Éfeso Paulo encontrou alguns discípulos e lhes perguntou: ‘Recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?’ – Mas eles lhe responderam: ‘Nós nem mesmo ouvimos falar do Espírito Santo!’ Paulo perguntou: ‘Então que batismo recebestes?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Paulo continuou: ‘João ministrava um batismo de conversão e pedia ao povo que cresse naquele que viria depois dele, isto é, em Jesus’. Eles o escutaram e receberam o batismo em nome de Jesus. Paulo lhes impôs as mãos, e o Espírito Santo veio sobre eles: falavam em línguas e profetizavam”. (At 19,1b-8).

Eucaristia: “Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de ter pronunciado a benção, ele o partiu; depois, dando-o aos discípulos, disse: ‘Tomai, comei, isto é o meu corpo’. A seguir, tomou uma taça e, depois de ter dado graças, deu-a a eles, dizendo: ‘Bebei dela todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado em prol da multidão, para o perdão dos pecados’”. (Mt 26,26-28).

Penitência: “Então Jesus lhes disse de novo: ‘A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio’. Tendo assim falado, soprou sobre eles e lhes disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados. A quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos’”. (Jo 20,21-23).

Unção dos Enfermos: “Jesus chama os Doze. E começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. Eles partiram e proclamaram que era preciso converter-se. Expulsavam muitos demônios, faziam unções com óleo em muitos doentes e os curavam”. (Mc 6,7.12-13).

Ordem: “Jesus sobe à montanha e chama aqueles que Ele queria. ‘Com efeito, há eunucos que nasceram assim do seio materno; há eunucos que foram feitos pelos homens; e há os que se tornaram eunucos por amor ao Reino dos céus. Quem puder compreender compreenda’”. (Mc 3,13a ;Mt 19,12).

Matrimônio: “Eis que o homem deixará seu pai e sua mãe e se ligará à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne”. (Gn 1,27). “Assim, eles não são mais dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu!” (Mt 19,6).

Caríssimos irmãos e irmãs, “os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual”. (CIC).

Paz e Bem!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Como São Francisco nos ensinou amar...


Amados irmãos e irmãs, os afetos de um coração, quando verdadeiros, nascem da Fonte Inesgotável do Amor de Deus e neste sentido, a vivência desses afetos torna-se caminho de salvação e de vida eterna, porque vividos na sinceridade daqueles e daquelas que permanecem nesse Amor Eterno de Deus.

Agradeço ao Senhor por todos os dias em que posso dizer a algum dos meus irmãos e irmãs, com toda a pureza de minha alma: Eu te amo! E isso soar como um cântico de glória, um cântico de louvor a Deus que preenche a vida de quem escuta tais palavras. Por isso, quero dizer com todo o meu ser, a cada irmão ou irmã que se aproxima de mim: verdadeiramente EU TE AMO, por mais fraco ou fraca que sejas: EU TE AMO e espero que esse AMOR, verdadeiro fundamento da vida, solidifique a nossa amizade e nos faça pessoas mais felizes, amantes uns dos outros como dádivas do Amor de Deus.
Caríssimos irmãos e irmãs, aprendi tudo isso de São Francisco de Assis que nos indicou o caminho do amor ao irmão, como sendo o caminho do mesmo amor da mãe pelo filho ou filha.
"E onde quer que estiverem e se encontrarem os irmãos, mostrem-se afáveis entre si. E, com confiança, manifestem um ao outro as suas necessidades, porque, se uma mãe ama e nutre seu filho carnal, com quanto maior diligência não deve cada um amar e nutrir seu irmão espiritual?" (Regra de São Francisco de Assis).

Então, nesse sentido, na gratuidade do meu ser, amo a cada um de vocês na certeza de que esse amor verdadeiramente é a Vontade de Deus, vivida não só por estas palavras, mas também pela oração e comunhão Eucarística em favor de todos, todos os dias...
Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

domingo, 18 de maio de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte V

DESCANSAR??? PRA QUÊ???

E no sétimo dia (Deus) descansou.” (Gn 2,2)

Eis uma pergunta que não quer calar: Deus descansa? Mas que irresponsabilidade é essa? Deixar a gente aqui, sem mais nem menos, vulnerável às intempéries do mundo?

Ele nos colocou aqui, foi descansar e agora a gente que se vire???

Bem... Algumas interpretações do texto chegam inevitavelmente a esta conclusão. Mas são interpretações descontextualizadas, que não levam em conta nem a época em que o texto foi escrito, quanto mais o que estava acontecendo.

Estamos lembrados??? A época é de Exílio! Os judeus estão na Babilônia. Bom... Nem todos os judeus! Só a corte judaica é que foi deportada, na verdade...

A elite judaica estava habituada à vida sedentária da corte. Na Babilônia, tinha que trabalhar de sol a sol.

Descanso? Dia de folga? Pra quê??? Na Babilônia, quem comandava o calendário eram os astros (particularmente a Lua). Então os descansos e dias de festa eram raros, se comparados ao descanso semanal dos judeus.

O calendário judaico era organizado por semanas de 7 dias, assim como o nosso, de hoje em dia. Mas o dia de descanso era o sábado.

Então o autor relata que Deus conclui a obra em 6 dias e descansa no sétimo, reforçando que o descanso sabático é querido por Javé.

Afinal, o trabalho também não pode ser um ídolo. O lucro a qualquer preço e o consumismo desenfreado coisificam a pessoa.

É preciso redescobrir que o trabalho só dignifica o homem (e a mulher?) se, em nossa escala de valores, o trabalho estiver a serviço da humanidade, e não o contrário.

Mas o autor parece querer dizer mais! Vejamos...

Outro motivo para não parar de trabalhar. Dizem os mais velhos que “mente vazia é oficina do diabo.” Os babilônios sabiam disso muito bem. Escravo parado é mente trabalhando; mente trabalhando é revolta organizada, na certa.

O sétimo dia encerra uma obra. São 6 dias de organização do caos; e a conseqüência disso é a Vida.

Um calendário diferente implica uma organização diferente da nossa rotina, do dia-a-dia. Um dia de descanso por semana é tempo mais que suficiente para organizar a resistência contra a opressão.

Além disso, ao dizer que o sabbath é fruto da Vontade de Javé, o autor excita a memória dos(as) leitores(as).

O dia de descanso é tempo de lembrar, ao redor da fogueira, os tempos felizes, em que Javé estava ao lado do povo. É tempo de rever nossa conduta, perceber que a condição atual é fruto de nossos erros, e que Deus continua ali, ao nosso lado, motivando-nos a levantar e nos voltarmos para Ele.

O ápice do primeiro capítulo, portanto, é o sétimo dia. Inclusive, se lermos atentamente Gn 2,2-4, veremos que não houve uma tarde e uma manhã (cf. Gn 1,5.8.13.19.23.31). Ou seja... O sétimo dia dura até os dias de hoje!

O que isso quer dizer? Simples... O número da perfeição é o 7, mas a obra foi concluída em 6 dias. Mais ainda... Em 6 dias, Deus realizou 8 obras (veja que tanto o terceiro quanto o sexto dia encerram duas obras cada um).

Com isso, o autor reforça que a criação está pronta, mas não é perfeita. É no sétimo dia que ela vai atingir a perfeição. E quem recebe o “chapeuzinho de Mestre-de-Obras” no sétimo dia?

E lá vamos nós, aos trancos e barrancos! Tentando aperfeiçoar a obra, mas cometendo um deslize aqui, outro ali... As ordens do Projetista são claras, mas o Mestre-de-Obras comete 5 errinhos básicos e, em virtude deles, estamos até agora tentando trazer a obra de volta à planta original.

E olha que já recebemos até a visita de um dos Idealizadores deste Projeto...

Quais são estes 5 erros??? É o que veremos, na seqüência!

Até lá!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Como São Francisco de Assis nos ensinou amar...

COMO SÃO FRANCISCO NOS ENSINOU AMAR...

Amados irmãos e irmãs, os afetos de um coração, quando verdadeiros, nascem da Fonte Inesgotável do Amor de Deus e neste sentido, a vivência desses afetos torna-se caminho de salvação e de vida eterna, porque vividos na sinceridade daqueles e daquelas que permanecem nesse Amor Eterno de Deus.

Agradeço ao Senhor por todos os dias em que posso dizer a algum dos meus irmãos e irmãs, com toda a pureza de minha alma: Eu te amo! E isso soar como um cântico de glória, um cântico de louvor a Deus que preenche a vida de quem escuta tais palavras. Por isso, quero dizer com todo o meu ser, a cada irmão ou irmã que se aproxima de mim: verdadeiramente EU TE AMO, por mais fraco ou fraca que sejas: EU TE AMO e espero que esse AMOR, verdadeiro fundamento da vida, solidifique a nossa amizade e nos faça pessoas mais felizes, amantes uns dos outros como dádivas do Amor de Deus.

Caríssimos irmãos e irmãs, aprendi tudo isso de São Francisco de Assis que nos indicou o caminho do amor ao irmão, como sendo o caminho do mesmo amor da mãe pelo filho ou filha.
"E onde quer que estiverem e se encontrarem os irmãos, mostrem-se afáveis entre si. E, com confiança, manifestem um ao outro as suas necessidades, porque, se uma mãe ama e nutre seu filho carnal, com quanto maior diligência não deve cada um amar e nutrir seu irmão espiritual?" (Regra de São Francisco de Assis).

Então, nesse sentido, na gratuidade do meu ser, amo a cada um de vocês na certeza de que esse amor verdadeiramente é a Vontade de Deus, vivida não só por estas palavras, mas também pela oração e comunhão Eucarística em favor de todos, todos os dias...
Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

...mas livrai-nos do mal

...MAS LIVRAI-NOS DO MAL
“Eu não te peço que os tire do mundo, mas que os guardes do Maligno.”

Desde os primeiros momentos da criação que o mistério da iniqüidade ronda a obra do Criador e os filhos que Ele criou à sua imagem e semelhança. O mistério do mal no mundo não é uma abstração (alucinação), mas uma realidade, personificada por São João como o “príncipe deste mundo”, “Satanás”, “o Maligno” , o anjo que se opõe a Deus, ou ainda aquele que divide, “que se atira no meio” do plano de Deus e de Sua obra de salvação realizada em Cristo.

No evangelho de João, Jesus diz que o Maligno é: “Homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), e o Apocalipse menciona-o como “sedutor de toda a terra habitada”. (Ap 12,9). “Foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo e é por sua derrota definitiva que a criação toda será ‘liberta da corrupção do pecado e da morte’” (CIC); derrota esta já anunciada por Jesus: “O Espírito Santo convencerá o mundo a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado”. (Jo 16,11). Essa “vitória sobre o ‘príncipe deste mundo’ foi alcançada , de uma vez por todas, na Hora em que Jesus se entregou livremente à morte para nos dar a sua vida”.

Caríssimos irmãos e irmãs, antes, porém, da vinda triunfal de Jesus, sabemos que devemos passar por diversas tribulações, como foi revelado pelo Espírito Santo nos Atos dos Apóstolos: “Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações”. E pelo próprio Senhor no Evangelho de João: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”. (At 14,22; Jo 16,33b).

O que dizer, então, dessas provações? “Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma”. (Tg 1,2-3). Além do mais, “ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado”, e “não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela” (Hb 12,4; 1Cor 10,13).

Quando pedimos na oração ao Senhor Deus “que nos livre do Maligno, pedimos igualmente que sejamos libertados de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais o Maligno é o autor ou instigador. Neste último pedido da oração do Senhor, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a libertação dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e a graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo.

Rezando dessa forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de tudo naquele que ‘detém as chaves da Morte e do Hades’ (Ap 1,18), ‘o Todo Poderoso, Aquele que é, Aquele que era e Aquele que vem’” (Ap 1,8): “Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador”. (CIC).
“Pois vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre!” (MR). Amém! Assim seja! Vem, Senhor Jesus!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

domingo, 11 de maio de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte IV

O QUE É PIOR DO QUE O ANTROPOCENTRISMO???

Já deve ter ficado claro o perigo da idolatria, pelo que dissemos até aqui.

Se perguntarmos a qualquer cristão, ou cristã, o que significa a idolatria, eles não vão ter nada agradável a dizer sobre ela.

Entretanto, não é fácil identificá-la! Isso porque ela representa nossos projetos, normalmente de realização pessoal e, por isso mesmo, opostos ao Plano de Deus.

Inconscientemente sabotamos nosso ideal de fidelidade a Deus, por ser natural querermos que sua Vontade nos seja favorável, serva de nossos propósitos.

É por isso que o primeiro relato da criação segue desmistificando os falsos ídolos. Depois do Sol (Marduc) e da Lua (Ishtar -- radical que, na verdade, dá origem à palavra “estrela”), é a vez dos bezerros de ouro, bodes e cabras sagrados etc:

Deus disse: ‘Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos e que as aves voem acima da terra, sob o firmamento do céu’, e assim se fez... E Deus viu que isso era bom. Deus os abençoou e disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos...’ Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia.” (Gn 1,20-23)

Ainda não se fala de nenhum animal terrestre, mas notemos que pela primeira vez Deus bendiz, abençoa sua criação.

A bênção implica a multiplicação da Vida. Fica evidente que não se trata de uma exclusividade, de um “tratamento VIP”, destinado à humanidade.

E por falar em humanidade...

Deus disse: ‘Que a terra produza seres vivos segundo sua espécie: animais domésticos, répteis e feras segundo sua espécie’, e assim se fez. Deus fez as feras segundo sua espécie, os animais domésticos segundo sua espécie e todos os répteis do solo segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom.” (Gn 1,24-25)

O autor repete, no v. 25, o que já havia afirmado no v.24, enfatizando que não só a humanidade, mas todos os animais terrestres foram feitos no sexto dia.

Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança...’ ” (Gn 1,26a)

Quem acompanhou as reflexões até aqui, facilmente consegue ver que, mesmo sob a aparência divina (Imagem e Semelhança), toda a humanidade, incluindo o rei babilônio (auto-denominado “filho do deus Marduc”), não passava da condição de criatura. Mas o texto segue...

‘... e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.’ ” (Gn 1,26b)

E é aí que reside o maior dos males: o homem recebe uma responsabilidade (cuidar do planeta), mas entende isso como um privilégio, do qual pode tirar proveito.

Dito de outra forma: Recebemos o papel de “pastores”, mas resolvemos agir como “lobos”.

Com a maior das responsabilidades na mão, a humanidade ainda encontra tempo para se nomear medida de todas as coisas.

Deus é destronado para a ascensão do homem, do antropos. Pronto... Está instaurado o ANTROPOCENTRISMO.

É em função disso que a relação com a terra (agora já não é mais “Mãe” e escreve-se com minúscula) deixa de ter benefícios mútuos e passa a ser de exploração.

Nisso têm culpa o homem e a mulher, como faz questão de afirmar o v. 27, quando destaca a sua igualdade de condição. Mas o antropocentrismo é tão antropocêntrico que subordina até mesmo a mulher.

O autor, talvez sem perceber o quanto será mal interpretado, segue o texto (v. 28), repetindo a expressão “dominar”, responsabilizando agora também a mulher e acrescentando a bênção divina.

Em sua “inocência”, relata que no princípio não havia carnívoros (vv. 29 e 30). Todos, humanos e animais, eram vegetarianos, pois não é desejo de Deus o derramamento de sangue.

Isso porque o sangue está intimamente ligado à sobrevivência e à manutenção da Vida.

E Deus viu que toda a sua obra é boa. Aliás... Boa não... Muito boa!!! Só que a sua “zeladora”, a humanidade... bem... sobre isso continuamos outra hora! Até lá!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

sábado, 10 de maio de 2008

Não nos deixeis cair em tentação

NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO
“No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”. (Jo 16,33b).

Ninguém, neste mundo, está livre da tentação uma vez que, mesmo libertos do pecado, não estamos isentos da inclinação para o pecado – devido ao livre arbítrio do ser humano – Pois, “Deus não quer impor o bem, ele quer seres livres... Para alguma coisa a tentação serve. Todos, com exceção de Deus, ignoram o que nossa alma recebeu de Deus, até nós mesmos. Mas a tentação o manifesta, para nos ensinar a conhecer-nos e, com isso, descobrir nossa miséria e nos obrigar a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou”. (Orígenes, Or. 29).

“Não cair em tentação” envolve uma decisão do coração: “Guarda teu coração acima de todas as outras coisas porque dele brotam todas as fontes da vida” – “O coração é, na Bíblia, considerado como sede da inteligência, dos desejos, dos pensamentos, da vontade, da consciência”. (Pr 4,23 e Nota). E ainda: “Onde Está o teu tesouro, aí estará também teu coração... Ninguém pode servir a dois senhores”. (Mt 6,21.24). Ou seja, uma vez que nos foi dada à graça da remissão dos pecados mediante o batismo - e se pecarmos, mediante o perdão no sacramento da confissão – devemos viver doravante em Cristo Jesus conduzidos pelo Espírito Santo: “Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito”. (Gal 5,25). Pois, é o Espírito Santo que nos dar a força para vencermos todas as tentações: “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela”. (1Cor 10,13).

Então, qual será o instrumento mais eficaz contra a tentação? Jesus nos ensinou que por meio da oração tudo é possível, pois foi com a oração que ele venceu o tentador, tanto no começo de sua missão como na agonia no monte das oliveiras (Cf. Mt 4,1-11; 26,36-44). Por isso, o Senhor nos alertou para ficarmos vigilantes: “Vigiai e orai, a fim de não cairdes em poder da tentação. O espírito está cheio de ardor, mas a carne é fraca”. (Mt 26,41). Logo, a oração contra a tentação é um combate do coração, é uma constante vigilância como nos ensina São Paulo: “Orai sem cessar”. (1Tes 5,17), neste caso a oração é como o respiro da alma, é o alento necessário para vencermos todo o mal.

Lembro ainda aos irmãos e irmãs aquilo que São Tiago nos ensinou: “Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Ninguém, quando for tentado, diga: ‘É Deus quem me tenta’. Pois Deus não pode ser tentado a fazer o mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o arrasta e seduz. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Não vos enganeis, meus irmãos muito amados”. (Tia. 1,12-16).

Finalmente, caros irmãos e irmãs, nosso Pai celeste pede, por meio de seu Filho Jesus, que sejamos perseverantes, pois: “Aquele(a) que perseverar até o fim será salvo(a)”. (Mt 24,13). E, “ainda não tendes resistido até ao sangue, na luta contra o pecado. Levantai, pois, vossas mãos fatigadas e vossos joelhos trêmulos. Dirigi os vossos passos pelo caminho certo. Os que claudicam tornem ao bom caminho e não se desviem”. (Hb 12,4.12-13).

Senhor, “estarei sempre convosco, porque vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios me conduzirão. E, por fim, na glória me acolhereis”. (Sl 72,23-24). Assim seja!

Paz e Bem”

Frei Fernando, OFMConv.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Canção do Expedicionário (FEB)


Homenagem aos 63 anos da vitória sobre o nazi-fascismo:

Composição: Guilherme de Almeida
Música: Spartaco Rossi

Você sabe de onde eu venho ?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Você sabe de onde eu venho ?
É de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 7

AS ADMOESTAÇÕES DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - VII

7. Admoestação: Que a inteligência deve seguir a boa ação.

“Diz o Apóstolo: ‘A letra mata, mas o espírito vivifica’ (2Cor 3,6). São mortos pela letra os que tão-somente querem saber as palavras, a fim de parecer mais sábios que os outros e poder adquirir grandes riquezas e dá-las aos parentes e amigos. São ainda mortos pela letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito das Sagradas Escrituras, mas só se esforçam por saber as palavras e interpretá-las aos outros. São, porém, vivificados pelo espírito das Sagradas Escrituras aqueles que tratam de penetrar mais fundo em cada letra que conhecem, nem atribuem o seu saber ao próprio eu, mas pela palavra e pelo exemplo o restituem a Deus, seu supremo Senhor, ao qual todo bem pertence”. (Escritos de S. Francisco).

Não é sábio aquele que pensa ser sábio, mas aquele que faz da virtude da humildade seu escudo de proteção e se oferece a Deus como oferta viva por seu amor: “Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”. (Rm 12,1-2).

Então, qual é a verdadeira sabedoria? “Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre com um bom proceder as suas obras repassadas de doçura e de sabedoria. Mas, se tendes no coração um ciúme amargo e gosto pelas contendas, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que vem do alto, mas é uma sabedoria terrena, humana, diabólica. Onde houver ciúme e contenda, ali há também perturbação e toda espécie de vícios. A sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz”. (Tg 3,13-18). O verdadeiro sábio é aquele que serve: "Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos". (Mc 10,45).

Vejamos agora o testemunho de São Paulo a este respeito: "Também eu, quando fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloqüência nem da sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Eu me apresentei em vosso meio num estado de fraqueza, de desassossego e de temor.

A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloqüência persuasiva da sabedoria; eram, antes, uma demonstração do Espírito e do poder divino, para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Entretanto, o que pregamos entre os perfeitos é uma sabedoria, porém não a sabedoria deste mundo nem a dos grandes deste mundo, que são, aos olhos daquela, desqualificados.

Pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a nossa glória. Sabedoria que nenhuma autoridade deste mundo conheceu (pois se a houvessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória). É como está escrito: Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito, porque o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus. Pois quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.
Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as graças que Deus nos prodigalizou e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar. O homem espiritual, ao contrário, julga todas as coisas e não é julgado por ninguém. Por que quem conheceu o pensamento do Senhor, se abalançará a instruí-lo (Is 40,13)? Nós, porém, temos o pensamento de Cristo". (1Cor 2).

A todos vós graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de Jesus Cristo seu Filho Unigênito, no poder do Espírito Santo. Amém!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

domingo, 4 de maio de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte III

ECOFILIA SIM; IDOLATRIA NÃO!!!

Até aqui já dissemos o que entendemos por: Bíblia, Juventude e Ecologia.

Além disso, vimos que Deus vence a Morte no terceiro dia; e isso logo nos primeiros versículos da Bíblia.

É Deus que transforma o caos em ordem, torna o deserto verde, submete as trevas à luz e impõe limites às águas agitadas.

Vencida a Morte, estava preparado o terreno para que a Vida florescesse! Mas aí...

Deus disse: ‘Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; que eles sirvam de sinais, tanto para as festas quanto para os dias e os anos; que sejam luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra’, e assim se fez. Deus fez os dois luzeiros maiores: o grande luzeiro como poder do dia e o pequeno luzeiro como poder da noite, e as estrelas. Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, para comandar o dia e a noite, para separar a luz e as trevas, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: quarto dia.” (Gn 1,14-19)

Estamos tão acostumados ao texto que nada percebemos de estranho neste trecho... não é!?! Mas há algo estranho sim... Luz e trevas já não estavam separados por Deus?

Percebam com que insistência o narrador explica a função dos luzeiros. Bastava apenas dizer que o maior rege o dia e o menor rege a noite. Mas ele repete, repete, repete... E não diz o nome dos luzeiros. Não é estranho???

Talvez sim... Mas se nos lembrarmos que o texto foi escrito numa situação de cativeiro (Exílio na Babilônia), as coisas começam a ficar mais claras.

Entre o povo, o sentimento de derrota só não superava o de vergonha. Javé, que até então havia ajudado os judeus a vencer os outros povos, não fez nada contra os babilônios, que dominaram Judá facilmente. A conclusão só podia ser uma: o deus babilônio era mais forte que Javé.

A Babilônia não tinha apenas um deus. O mais poderoso entre eles era Marduc: nome dado pelos babilônios ao Sol. Ishtar (cujo radical, na verdade, dá origem à palavra "estrela") era o nome dado à Lua. Portanto, pronunciar os nomes dos luzeiros era dar força aos deuses babilônios.

Na mitologia babilônica, Marduc vence o caos, igualmente numa cena onde a água é abundante e é sinal de Morte. É que a Babilônia era cercada por dois dos 4 grandes rios conhecidos da época: Tigre e Eufrates, cujas cheias irregulares eram sinal de preocupação constante.

É importante também dizer que os babilônios inventaram o horóscopo. A Natureza era uma confraria de deuses, conspirando contra ou a favor da sorte do povo. Tudo dependeria dos ânimos dos astros.

Tudo dependeria também do filho de Marduc. E esse era ninguém menos do que o Rei da Babilônia: o legítimo portador da vontade de deus.

O autor do primeiro relato de Gênesis, portanto, quer fortalecer a fé e a esperança do povo, mostrando que os astros não são deuses, mas criaturas do Único Deus: Javé.

Não cabe ao relato de Gênesis explicar por que Javé permitiu o Exílio. Isso farão os círculos proféticos, tentando provar que a culpa era proveniente dos pecados do povo.

O que lhe cabe é fazer uma nova Teologia da Criação, reforçando a condição de criatura, conferida a Marduc. Para reforçar isso, o texto mostra que a luz é criada bem antes do astro-rei (4 dias). E se o Sol traz a luz, é porque esta é a missão que Javé lhe confiou. O mesmo acontecendo com a Lua (Ishtar), em relação à noite.

O resultado dessa nova Teologia é que somos novamente livres. Nosso destino não está mais nas mãos de reis, ou astros, ou de qualquer outra ideologia dominante.

Hoje muitos ecólogos querem estabelecer uma relação de verdadeira adoração à Natureza. Novamente se dá força à astrologia, ao poder místico das pedras, à função terapêutica das plantas... Quando o bem-estar que sentem, na verdade, é fruto de uma pequena sintonia com parte do meio ambiente. Nada mais!!!

Sintonia esta que perdemos há muito tempo, conforme veremos no próximo encontro.

Mas convém que se diga, para encerrar este tema, que a verdadeira ecofilia não transforma as criaturas em mais do que elas são. Não preciso dar status de deus ou deusa ao chão que piso, para entrar em sintonia com a Mãe-Terra.

Agindo com arrogância e pretensa superioridade (veremos mais sobre isso quando falarmos em Imagem e Semelhança), a humanidade vem agredindo sistematicamente a Natureza. Isso está matando nosso planeta.

Mas agimos com absoluta leviandade quando trocamos a nossa liberdade de filhos e filhas de Deus por um destino que nos isenta de qualquer responsabilidade diante dos fatos.

Só quando assumirmos que somos tão criaturas quanto o sol ou a lua, e que fazemos parte de um todo que é o cosmo, restabeleceremos de forma saudável e harmoniosa o equilíbrio do Universo.

Paz & Bem!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

sábado, 3 de maio de 2008

"Perdoia-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos..."


“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste vos perdoará.”
(Mt 6,14)

Perdoar, eis o maior dom de cura que Deus em sua infinita bondade nos concedeu, pois toda pessoa que perdoa experimenta no mais profundo de sua alma os efeitos que a misericórdia divina proporciona a si mesmo e aos que são perdoados. O pecado é uma doença mortal para a alma, pois neutraliza nela as graças necessárias para o bem viver. Todo pecador vive em constante conflito que se reflete em tudo o que faz, ele está sempre projetando os frutos do pecado nas suas relações humanas e nas suas relações com Deus. Tem sempre uma concepção errônea da vida, do mundo, das pessoas e de Deus. Por isso vive atingindo, com o seu pecado, a vida, o mundo, as pessoas e se revoltando contra Deus.

Quando Jesus nos ensina a perdoar Ele nos ensina a viver em constante comunhão com a vontade de Deus, pois quem perdoa ama e quem ama permanece em Deus e Deus nele (a). Nunca apóie sua vida nem seu modo de ser ou pensar no pecado, nas fraquezas ou atitudes erradas de ninguém. Porque do pecado não vem nada de bom, todo pecado é veneno mortal para a alma. Trazer o pecado dos outros para dentro de sua vida é se condenar a si mesmo com o pecado alheio. Perdoar essencialmente é não permitir que o mal dos outros entre na sua vida, é vencer-se a si mesmo, é agir em Deus e a partir da misericórdia divina, é viver a liberdade à qual fomos chamados.

São Paulo falando da vida nova em Cristo nos ensina que esta só é possível mediante a vivência do dom do perdão: “Agora deixai de lado todas estas coisas: ira, inimizade, maledicência, maldade, palavras imorais da vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós. Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Triunfe em vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único corpo. E sede agradecidos”. (Col. 3,8-15).

Caros irmãos e irmãs, Jesus nos mostrou que assim como o perdão de Deus é sem medida o nosso também não pode ter medida, pois ficar ofendido com alguém é ofender a si mesmo, é mutilar-se e não gozar da verdadeira reconciliação com o nosso Pai do céu: “Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará”. (Mt 6,15). Então, Pedro se aproximou de Jesus e disse: “Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” Respondeu Jesus: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. (Mt 18,21-22). Isto é, sempre.

Que fique conosco também este versículo da Carta de São Tiago: “Haverá juízo sem misericórdia para aquele (a) que não usou de misericórdia. A misericórdia, porém, triunfa sobre o julgamento”. E ainda: “A sabedoria que vem de Deus é primeiramente pura, depois pacífica, compreensiva, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz”. (Tia. 2,13; 3,17-18).

Vem, Senhor Jesus! Assim, seja!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

Firefox