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sábado, 30 de outubro de 2010

O pequeno bombeiro

III Semana pela Paz e não violência em Porto Feliz 2010

Nesta quarta-feira, a fraternidade através de seus irmãos seculares, celebraram o dia 27 com atividades em unidades educacionais:

Ana Cândida, da fraternidade São Maximiliano Maria Kolbe, organizou na escola municipal de ensino fundamental Coronel Esmédio, reunindo funcionários, alunos e professores para um culto ecumênico  como parte da III Semana pela Paz e Não Violência em Porto Feliz. Os participantes, ouviram a mensagem da história de São Francisco de Assis e o lobo de Gúbio, rezaram e deram uns aos outros um grande abraço de Paz, contando com a participação do prefeito Claudio Maffei, vice Julio Bronze e o pastor da Igreja Suprema Graça Daniel Maddalena. Com os pássaros da Paz, os Tsuru, feitos pelos alunos com técnicas de origami, e numa profusão de bexigas coloridas com mensagens de Paz escrita pelas crianças, o céu de nossa cidade ganhou as cores de Paz.

Felipe Miranda da fraternidade São Maximiliano Maria kolbe, organizou no Ceim Violeta (creche), também comemorações para o dia mundial de oração pela Paz e não violência. O dia começou com um café da manhã com todos juntos, com oração, músicas, em seguinda no pátio houve uma pintura coletiva de desenhos símbolos da paz divididos por cada fase, e um bexigaço (azuis e brancas) na quadra da escola. Foram 5 salas e dois berçários. Os berçários carimbaram as mãos dos bebés e formaram pombas da Paz. Após estas atividades, elas ficaram fixadas em mural para apreciação de pais.

 

Vejam as fotos:
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Professora Daniela Silva, crianças de 2 anos


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Professora Cristina Elisa, crianças de 3 anos


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No total,  de bebes a crianças de 6 anos, somando 140 crianças

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Crianças de 3 anos

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Crianças de 2 anos

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Carimbo das mãozinhas dos bebés de até 1 ano de vida

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Pré-escola crianças de 3 e 4 anos

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Crianças de 4 anos


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Professora Gisele de música

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Auxiliar Fernanda e Valéria professora

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Alcidina professora professora de pré-escola

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Professora Sueli, crianaças de 5 anos

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Priscila Auxiliar

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Priscila Magaldi auxiliar


O papa e a política

Já havia lido o discurso do Papa Bento XVI, aos Bispos do Maranhão, em visita ad limina apostolorum. Muito interessante o discurso do Papa. Ele não pode deixar de cumprir sua missão de Pastor Universal, exortando o Povo de Deus, especialmente no que diz respeito à defesa da VIDA.

O Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações, porque o Estado Brasileiro é laico, mas seu povo é religioso, e isto precisa ser respeitado. Quando digo que o povo é religioso é porque está disposto a fazer a Vontade de Deus e não somente dizer: Senhor, Senhor…, como às vezes se pretende, de maneira especial dentro da própria Igreja. Existem facções sociais, políticas e religiosas especializadas em fazer lavagem cerebral, deixando as pessoas sem convicções, mas com obsessões, e com a consciência invencivelmente errônea. Ficam semelhantes aos grãos de pipoca que levados ao fogo não estouram, e com mais fogo, mais duros ficam. Tornam-se donas da “verdade”. Estão até manipulando o texto do Papa, para justificar a sede do poder. (cf. http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp)

É a Vontade de Deus que nos salva e não a nossa, e sobre isto precisamos sempre nos exortar mutuamente, como diz o Apóstolo São Paulo. Portanto, que nossa fé seja sempre vivificada pela mútua exortação. Pode ocorrer de nos esquecermos que somos todos peregrinos caminhando para a Casa do Pai, e quando lá chegarmos, poderemos ouvir de Jesus o seguinte: “Afastai-vos de mim, vós que praticastes a injustiça, a maldade” (Lc13,27). Creio que ninguém vai querer ouvir isto naquela hora. Seu passaporte está em dia? Pode ter certeza de que a eternidade existe… Assim, busquemos alimentar nossa fé, sem esquecer, como diz o Papa, que ela deve implicar na política. A fé sem obras é morta, diz a Escritura Sagrada. E uma das obras que deve provir da fé, é o nosso voto consciente em pessoas que vão governar para o bem comum, respeitando a vida em todas as suas etapas e dimensões.

No mesmo dia em que li o discurso do Papa, assistindo ao telejornal, à noite, escutei o pronunciamento da candidata e do candidato à presidência do Brasil a respeito do discurso do Papa. Ambos concordaram com as Palavras do Papa, dizendo que é missão dele exortar para uma vida coerente com os valores da fé e da moral, e que as palavras do Papa valem para todas as pessoas de fé, no mundo inteiro.

O Papa falou, também, que o voto deve estar a serviço da construção de uma sociedade justa e fraterna, defensora vida.

Como Bispo da Igreja Católica, e como cidadão brasileiro, fico feliz por saber que nosso Presidente tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.

Nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar e, depois de 500 anos, nosso povo quer eleger, pela primeira vez, uma mulher que tem compromisso com a vida e provou isso com sua própria vida. Como? Ela não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada. Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor, servindo aos ideais de liberdade e justiça, com sua própria vida. Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos” (Jo 15,13).

Obrigado Santo Padre por suas sábias palavras! A Dilma é a resposta para as nossas inquietações a respeito da vida. Quem sofreu nos porões da ditadura, não mata. Mas teve gente que matou a vida no seu ventre para fugir da ditadura, e portanto não deveria se comportar como os fariseus, que jogam pedras, sabendo-se pecadores. E Jesus disse: “Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem entregar sua vida por causa de mim, vai salvá-la”(Mt 10,39)

Vamos fazer o nosso Brasil avançar ainda mais, com Dilma, que já provou ser coerente, competente e comprometida com a VIDA. O dragão devastador não pode voltar ao poder.

Deus abençoe os leitores e eleitores, governos e governados. Saúde e paz a todos (as)!

Tudo o que você me desejar, eu lhe desejo cem vezes mais. Obrigado.

Caçador, 28 de outubro de 2010

Dom Luiz Carlos Eccel
Bispo Diocesano de Caçador

Extraído de http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2010/10/29/bispo-de-cacador-divulga-carta-em-apoio-a-dilma/ acesso em 30 out. 2010.
Foto: Catedral São Francisco de Assis em Caçador/SC / foto de
Claudemir Todo Bom. 2008. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Catedral_de_Ca%C3%A7ador.jpg acesso em 30 out. 2010.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

PAPA ASSINALA A BISPOS DO BARSIL

Santa Sé


Papa assinala a bispos do Brasil dever de emitir juízo moral em matérias políticas
Em circunstâncias em que “os direitos fundamentais” ou “a salvação das almas” exigirem
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 28 de outubro de 2010 (ZENIT.org) – O Papa Bento XVI afirmou nesta quinta-feira a bispos brasileiros que “os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”, quando “os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem”.O Papa, ao discursar para bispos do Maranhão no contexto da visita ad Limina Apostolorum, afirmou que em determinados pontos “política e fé se tocam”, e que os bispos, ao defender a vida, não devem temer “a oposição e a impopularidade”.
O dever dos bispos, no trabalho por alcançar uma ordem social justa, é “contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna”.
“Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”, afirmou o pontífice, citando a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (n. 76).
“Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, consequência ou circunstância.”
Segundo Bento XVI, “seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural”.
“Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal?”, questionou.
“Quando os projetos políticos contemplam – prosseguiu o Papa –, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases.”
“Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida ‘não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo’”, disse, citando a Evangelium Vitae (n. 82).
Catequese social
Segundo o pontífice, a melhor maneira de ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente é “uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja”.
“Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum”, disse o Papa, referindo-se novamente à Gaudium et Spes (n. 75).
“Neste ponto, política e fé se tocam”, afirmou. “A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão.”
Com efeito – prosseguiu o pontífice –, “sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambiguidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana”.
“Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve ‘encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política’”, destacou o Papa, citando a encíclica Caritas in veritate (n. 56).
(Alexandre Ribeiro)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

EU E O TEMPO










EU E O TEMPO

O tempo presente é nosso aliado...
ele age sempre em nosso favor...
Por isso, tenhamos em vista, que ele, o tempo é tempo feliz...
Porque recebeu de Deus o encargo de nos conduzir à eternidade...
Verdade definitiva onde todos havemos de chegar...

Como é bom aprender com o tempo...
Como é bom aprender a não perder tempo...
Porque o tempo bem aproveitado...
Torna-se supervalorizado em ganhos contra a ociosidade...
contra o pecado da preguiça e da maldade...
contra a injustiça e outros vitupérios...

Sabemos também por experiência singular...
que o tempo é médico e medicina...
Cura em nós as toxinas da dor...
E nos leva a testemunhar com amor...
o que em nós foi curado...

Ah tempo amigo...
leva-me contigo ao nosso Pai Criador...
Seja eu nesse trajeto que falta a ser percorrido...
Fiel e justo contigo,
nunca deixando vácuo algum em meu coração...
Porque quero ser oração,
colóquio íntimo com o Senhor...
e amá-lo com todo amor...
em todo tempo e lugar...

Assim poderei chegar à plenitude da felicidade...
sem falta grave alguma...
Por isso te proponho e recomendo,
disponhas sempre de mim,
Tempo de Deus...
Tempo para Deus...
Tempo sem fim...
Porque depois de ti,
tudo é eternidade...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.



terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mídia, política e religião: possibilidades e limites

Entrevista especial com Pedrinho Guareschi

“As igrejas são instituições que tentam, na medida do possível, comunicar, transmitir as ‘mensagens’ das diferentes religiões. Mas as igrejas são apenas ‘embalagens’, e nenhuma ‘embalagem’ dá conta de transmitir toda a mensagem”, diz Pedrinho Guareschi. Em entrevista à IHU On-Line, realizada por e-mail, o professor analisou o entrelaçamento que tem se dado entre religiões e política neste segundo turno das eleições presidenciais. Ele também reflete sobre como a mídia está tratando essa questão e afirmou: “Numa sociedade democrática e pluralista, que se costuma chamar de laica, todos devem ter o direito de dizer sua palavra, expressar sua opinião, manifestar seu pensamento, inclusive as igrejas. Outra coisa bem diferente é as igrejas quererem arvorar-se em donas também do político, querendo obrigar a todos a seguirem seus princípios e crenças. Elas devem servir e orientar seus fiéis com humildade e respeito”.

Pedrinho Guareschi é graduado em Teologia pelo Instituto de Estudos Superiores de São Paulo. Também possui graduação em Letras, pela Universidade de Passo Fundo e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Imaculada Conceição. Na PUCRS fez especialização em Sociologia. É mestre em Psicologia Social pela Marquette University Milwaudee. Na mesma área fez doutorado pela University Of Wisconsin At Madison. Atualmente, é professor da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É autor de Mídia e Democracia (Porto Alegre: Evangraf, 2005), Os construtores da informação: meios de comunicação, ideologia e ética (Petrópolis: Vozes, 2000), entre outros.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como o senhor analisa a dimensão que a religião está tomando nesse debate para o segundo turno?

Pedrinho Guareschi – Começaria sugerindo que se tenha clara uma distinção, que é mais ou menos pacífica, entre religião e igrejas. As igrejas são instituições históricas e, por isso mesmo, carregam consigo todas as limitações de sua historicidade: incompletude, contradições, mudanças, etc. Ao passo que as religiões são inspirações, conjuntos de mensagens, tentativas de resposta a problemas vivenciais do ser humano, tentativas de dar sentido às aspirações transcendentes de toda pessoa.

A partir daí, podemos dizer que as igrejas são instituições que tentam, na medida do possível, comunicar, transmitir as “mensagens” das diferentes religiões. Mas as igrejas são apenas “embalagens”, e nenhuma “embalagem” dá conta de transmitir toda a mensagem. A mensagem faz explodir qualquer embalagem. Só mesmo um fundamentalista (e são muitos!) para dizer que sua embalagem contém toda a mensagem e que essa é a única verdade.

IHU On-Line – A mídia, tanto tradicional quanto alternativa, tem poder sobre a formação de opinião ou decisão de voto?

Pedrinho Guareschi – Aqui se apresenta outra distinção fundamental: as “mensagens” são atingidas pela fé, pela crença. Não há maneira de você querer obrigar alguém a “acreditar” através de processos científicos. Isso seria ir além de suas possibilidades. A ciência (sociologia, psicologia social, antropologia etc.) pode ter algo a dizer sobre determinadas instituições, mas devem calar quando se fala de crença e fé.

IHU On-Line – Muitos dos padres que têm “saído em campanha” neste pleito são jovens formados recentemente. O que o senhor pode nos dizer sobre a formação atual do clero?

Pedrinho Guareschi – Aqui chegamos a um problema extremamente delicado: as ciências podem ter algo a dizer quando as crenças são claramente manipuladas a serviço de determinadas instituições. Como diz, com argúcia, o sociólogo Peter Berger, deve-se começar a desconfiar quando há uma correlação altíssima entre “acreditar na Santíssima Trindade” e a distribuição de renda das pessoas; só chegam a acreditar os que recebem determinada quantia. Alguma coisa estranha estaria acontecendo.

IHU On-Line – Tanto a Canção Nova quanto os programas do pastor Silas Malafaia tem sido usado para abrir o voto e defender Serra. Que papel essas mídias têm na opção do voto dos fiéis?

Pedrinho Guareschi – Há, pois, um campo específico que é o da fé e da crença, isto é, o da religião. A dimensão religiosa fica sendo a janela aberta ao transcendente. Ela não pode ser trancada e a busca por essa transcendência não pode ser impedida. Que deveriam fazer, então, as igrejas (instituições religiosas)? Elas deveriam ser as que levam à frente, as que impulsionam os seres humanos em busca dessa transcendência. Elas deveriam se ocupar desse espaço transcendente, místico, religioso afinal.

Mais um passo: A política é uma ciência que trata da organização da sociedade. Esse é seu campo específico. E deve trabalhar através da reflexão, da pesquisa, da busca das melhores estratégias para poder servir melhor à população.

IHU On-Line – Analisando essa relação entre religião e política, para o senhor, o está acontecendo hoje no Brasil?

Pedrinho Guareschi – Começando pela política. Percebe-se, e essa é uma prática desonesta e inaceitável, que alguns políticos e partidos tentam fazer uso desse espaço transcendente para conseguir seus intentos: eleger candidatos, impor determinados sistemas etc. Querem fazer uso da fé e da crença das pessoas para proveito próprio. Deve-se, então, repudiar, com veemência, a manipulação e instrumentalização eleitoral que se faz da religião, de modo oportunista, com a clara intenção de confundir as pessoas.

E é igualmente desonesto e inaceitável quando igrejas (ou seus responsáveis institucionais), que deveriam ocupar-se da promoção desse espaço transcendente, explicitando os valores éticos e os princípios que retiram da “mensagem”, começam a fazer uso dessa dimensão para eleger, controlar determinados candidatos e condenar determinados partidos. Estão extrapolando de seu papel. As igrejas podem, com toda humildade, como “servidoras”, lembrar aos fiéis que a elas aderem através de uma fé livre e esclarecida, esses princípios e orientações. Ao mesmo tempo essas igrejas deveriam repudiar a manipulação e a instrumentalização eleitoral da “religião” com a clara intenção de confundir, iludir e tirar proveito de pessoas menos esclarecidas.

Numa sociedade democrática e pluralista, que se costuma chamar de laica, todos devem ter o direito de dizer sua palavra, expressar sua opinião, manifestar seu pensamento, inclusive as igrejas. Outra coisa bem diferente é as igrejas quererem arvorar-se em donas também do político, querendo obrigar a todos a seguirem seus princípios e crenças. Elas devem servir e orientar seus fiéis com humildade e respeito.

E os partidos e candidatos deveriam saber que a dimensão da crença, da fé, é sagrada e não pode ser manipulada para proveito político. Como o povo brasileiro se guia mais pelo coração que pela razão, e a religião se situa nessa dimensão do afeto e da crença, é uma grande desonestidade aproveitar-se disso tanto para rebaixar outros candidatos como para tirar vantagem política.

Para ler mais:

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37683 acesso em 26 out. 2010.

Filme Dúvida (dublado) - Maledicência - Fofoca - Inveja

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O teísmo, um modelo útil, mas não absoluto para ''imaginar'' Deus

"O teísmo é visto sempre mais como um modelo, um, não o único e não necessário", escreve José Maria Vigil, teólogo, em artigo publicado pela Agência Adista, 18-10-2010. A tradução é de Benno Dischinger.
Segundo Vigil,  "o teísmo é um instrumento cultural que se mostrou sumamente útil e até genial; mas, não é uma “descrição fiel” da Realidade última, a qual não podemos “imaginar”. Ou seja, para o teólogo, "ao teísmo não se opõe mais o a-teísmo, mas o pós-teísmo: a conduta profunda de quem crê na Divindade de sempre, mas sem considerá-la theós".
Vigil é licenciado em Teologia pela Universidad Pontificia de Salamanca. Na Universidade de Santo Tomás de Roma, obteve a licenciatura em Teologia Sistemática. Foi ordenado sacerdote em 1971. Durante treze anos, trabalhou na Nicarágua e, atualmente, mora e trabalha no Panamá. É autor do livro Teologia do Pluralismo Religioso. Para uma releitura pluralista do cristianismo (São Paulo: Paulus, 2006).
Eis o artigo.
VER
Uma longa, mas não eterna história da idéia “Deus”
Os antropólogos insistem no fato que o homo sapiens foi homo religiosus desde o princípio. Este primata começou a ser “humano” quando chegou a ter necessidade de um sentido para viver, chegando com isso a perceber uma dimensão espiritual, sagrada, misteriosa... Pensávamos que aquela dimensão religiosa indicasse uma relação necessária e indiscutível com “Deus”. Mas, hoje sabemos que nem sempre foi assim. Agora temos dados que indicam que durante todo o Paleolítico (70.000-10.000 a.C.) os nossos ancestrais adoravam a Grande Deusa Mãe, que não era um “Deus” feminino, mas a “Divindade”, confusa e profusamente identificada com a Natureza. A idéia concreta de “deus”, tal como depois chegou a nós, é de uma época muito posterior, ou seja, somente da época da revolução agrícola (há 10.000 anos). O deus pessoal, masculino, guerreiro, que habita no céu e se alia com a tribo para defendê-la e lutar contra os seus inimigos.. é uma idéia relativamente recente, que se generalizou e se impôs prevalentemente nas religiões “agrárias”. 

O conceito grego de Deus (theós) teria marcado sucessivamente o Ocidente: é o “teísmo”, um modo de conceber o religioso, centrando-o inteiramente na figura de “deus”. Os deuses vivem num mundo acima do nosso, e são muito poderosos, porém, como nós, eles têm paixões humanas, muito humanas. Os próprios filósofos gregos criticarão aquela imagem demasiado humana dos deuses. O cristianismo também purificará a imagem habitual de Deus, que continuará sendo, no entanto, antropomorfa: Deus ama, cria, decide, se ofende, reage, intervém, se arrepende, perdoa, redime, salva, tem um projeto, se alia... como nós que, de resto, somos feitos à sua imagem e semelhança. Aquele Deus onipotente, Criador, Causa primeira, Senhor, Juiz... permanece, enfim, no centro da cosmovisão religiosa ocidental, como a estrela polar do firmamento religioso em torno ao qual tudo gira. De Deus não se podia sequer duvidar: a dúvida já era um pecado, cometido contra a fé. Crer ou não crer em Deus: esta era a questão decisiva. Todo o mistério da existência da humanidade dependia de Deus, que, sem se manifestar diretamente aos seres humanos, os submete à prova de “crer” firmemente nele, “tendo confiança” em determinados sinais ou indícios deixados no mundo. A “prova” decisiva que Deus colocava à humanidade consistia nisto, em “crer em Deus”, um Deus que não se vê.
A ciência e a modernidade se desencontram com Deus
No entanto, a partir do século XVII, a evolução da ciência faz retroceder “Deus” em relação a tudo o que lhe tinha sido atribuído até então. Grotius formulou-o de maneira emblemática: tudo funciona autonomamente, etsi Deus non daretur, como se Deus não existisse. A ciência descobre as “leis da natureza”, os duendes e os espíritos já não são mais necessários, os milagres desaparecem e se tornam até mesmo inacreditáveis. Bultman dirá: “É impossível fazer uso da luz elétrica e do rádio, tirar proveito das modernas descobertas médicas e cirúrgicas e ao mesmo tempo crer no mundo testamentário dos espíritos e dos milagres”.
Não só a ciência, mas também a psicologia social nos transforma: o ser humano moderno adulto não se sente à vontade ante um Deus paternalista e tapa-buracos (Pere Torras). Bonhoeffer dirá: “Deus se retira, chama-nos a viver sem ele como adultos, num cristianismo sem religião, numa santidade laica”.
Se no século dezoito iniciou o ateísmo, no século vinte o mesmo se multiplicou exponencialmente: foi a escolha “religiosa” que teve maior desenvolvimento. Aumentam os a-theós, os “sem Deus”, que não são pessoas de má vontade que querem combater Deus, mas pessoas a quem esta imagem, este conceito de Deus com freqüência já não resulta crível, e muito menos inteligível. A idéia de um ”deus” é sempre mais profundamente colocada em questão.
Novos modos de impostar a questão
O cristianismo ocidental dos séculos dezoito-dezenove interpretou o ateísmo como anticlericalismo e em parte tinha razão. Porém mais tarde reconheceria que os críticos ateus tinham outra grande parte de razão: “nós cristãos velamos mais do que revelamos a face de Deus” (Vaticano II, Gaudium et Spes 19). A partir do Vaticano II, reconhecemos que com bastante freqüência defendemos, pregamos e sustentamos imagens inadequadas de Deus, e agora são muitos os cristãos que reconhecem que “nem mesmo eu creio naquele Deus no qual não crêem os ateus” (Juan Arias, e o patriarca Atenágoras IV).
Porém hoje estamos dando um passo ulterior. Agora chegamos a pensar que o próprio conceito de “Deus” não é uma obviedade universal e indiscutível. Hoje vemos claramente que este conceito é uma construção humana. Como qualquer outro conceito. É um “modelo” que utilizamos para dar uma forma acessível a um mistério percebido com muita dificuldade. Um modelo, um instrumento cognitivo, não uma descrição daquela realidade que pretende evocar e que está sempre além do instrumento criado pelo ser humano para dar-lhe uma forma cognitiva. A esta altura estamos em condições de descobrir suas limitações e não permanecer ligados à sua mediação obrigatória. Há mais: há quem crê que certos conceitos de deus – seguramente muito difundidos – sejam até prejudiciais por transmitirem idéias profundamente errôneas à Humanidade. Andrés Pérez Baltodano considera urgente modificar a imagem de Deus no seu país, porque a imagem comum que ali é difundida resulta nociva para um desenvolvimento social sadio. A questão é nova e muito séria: que estatuto damos ao conceito “deus”?
JULGAR
A idéia de “theós” tem os seus problemas
Comecemos reconhecendo alguns deles:
- a “objetivação” de deus: Deus torna-se “um ser”, muito especial, porém um ser concreto, um “indivíduo”... que vive no céu, “lá em cima, lá fora”... Ainda hoje a imensa maioria dos crentes deste planeta crê que seja literalmente assim;
- é uma “pessoa”: ama, perdoa, ordena, tem um projeto... como nós... Isso não é antropomorfismo?
- é onipotente, Senhor, dono absoluto de tudo, alguém de quem depende inteiramente o ser humano, um Juiz universal que recompensa e castiga... Uma projeção do sistema agrário?
- toma cuidado, com sua “providência”, da história humana e exerce e detém a responsabilidade última sobre seu curso e sobre seu fim. Não nos desresponsabiliza?
- é o Criador que um dia decidiu criar, ao invés de continuar a deixar existir o nada. Sendo criador, é absolutamente “transcendente”, totalmente diverso do cosmo que teria podido jamais existir, se o Criador não tivesse decidido fazê-lo surgir e mantê-lo continuamente no ser... Estaríamos ante um dualismo radical que põe o Absoluto de um lado e a realidade cósmica, despojada de todo valor, do outro?
- tradicionalmente, tem sido um deus do meu país e da minha religião, que “nos escolheu” e nos protege ante os outros, revelou-nos a verdade e nos dá uma missão universal para salvar os outros... Um deus tribal, particularista, provincial?
Vendo bem, o conceito “Deus” é um modelo que tem sido útil, um modelo genial que conquistou por milênios a humanidade, mas que, com o avançar da história, evidenciou os seus limites, as suas implicações inaceitáveis e também suas graves carências. Tem sido uma forma de modelar o Mistério que percebemos e queremos evocar, mas um modelo que há tempo resulta inaceitável para um número crescente de pessoas, as quais não refutam a sacralidade da vida e da realidade, sua Divindade, mas não conseguem “modelá-la” como um theós, que outra coisa não é senão o modo agrário de imaginar-conceber a Divindade... Se existe o mistério da Divindade – e não são muitos que a negam – deve ser algo mais profundo do que aquilo que aquela fé tradicional tem imaginado como “Deus”.
Estabeleçamos uma distinção: uma coisa é instituir o Mistério, intuir com reverência o Sagrado da realidade, a Realidade última, inexprimível e indescritível, e acolhê-la num reverente e respeitoso silêncio sem formas, e outra coisa é crer que aquele Mistério adote concretamente o modelo “Deus” (theós, um ser onipotente que se encontra lá em cima...). Hoje esta distinção se acentua e salta mais claramente aos olhos. O teísmo é visto sempre mais como um modelo, um, não o único e não necessário.
Crer na realidade última, sem uma imagem de Deus
- Sempre mais seres humanos intuem e percebem que a Realidade última não pode ser tão simples como aquela imagem do deus-theós... Não podemos confundir o que é, em verdade, a realidade última com a nossa idéia “deus”. O teísmo é um “modelo”, um modo concreto de imaginar-conceber o divino, um instrumento conceitual ou cognitivo, uma ajuda, mas não é o único modelo, nem um modelo imprescindível.
- O teísmo é um instrumento cultural que se mostrou sumamente útil e até genial; mas, não é uma “descrição fiel” da Realidade última, a qual não podemos “imaginar”.
- É uma criação humana e por isso sujeita à mudança; pareceu-nos uma idéia evidente, mas a humanidade transcorreu muito tempo sem isso e chega o momento em que muitas pessoas não se sentem mais à vontade com este modelo: não conseguem aceitar aquele modo de imaginar a Realidade última. Sentem que o “teísmo”, o fato de imaginar a Realidade última como “deus”, não é a única maneira de relacionar-se com ela, nem a melhor e nem sempre positiva.
Mas, não há razão para desacreditar o “teísmo” que para muitas pessoas continua sendo útil e até imprescindível. O que importa é que todos, também aqueles para os quais não é um problema, deixem de considerá-lo imprescindível e descubram que é apenas um instrumento e que sempre mais pessoas começam a ter necessidade de outro modelo, não teísta. Ao teísmo não se opõe mais o a-teísmo, mas o pós-teísmo: a conduta profunda de quem crê na Divindade de sempre, mas sem considerá-la theós.
“Crer ou não crer em Deus” não é mais o centro da questão. Dizemos que se pode crer em Deus sem crer em theós; pode-se alimentar a mesma posição de fé de sempre sem sacralizar nem acolher um “modelo” que hoje pode parecer superado. O que agora é decisivo não é mais aceitar ou não um modelo, mas viver a mesma experiência espiritual dos nossos ancestrais com modelos que a nós podem já não servir mais.
AGIR:
O que fazer diante dessa descoberta da iminente superação do teísmo?
- Quem se sente bem na forma teísta tradicional pode continuar a segui-la; pode continuar a considerá-la útil. Ninguém pode ser criticado por sua fé teísta.
- Não obstante isso, muitas pessoas e comunidades tradicionais, às quais o teísmo resulta útil, farão bem em refletir sobre este tema; não é bom desconhecê-lo e não lhe colocar alternativas simplesmente por ignorância ou preguiça.
- Em geral faltam novas imagens, novas metáforas de Deus; muitas daquelas tradicionais estão desgastadas e a muitas agora já não servem mais.
- Devemos estar conscientes que um número crescente de pessoas descobre que o teísmo aparece agora como incompatível com a percepção atual do mundo, e que, paradoxalmente, fora do teísmo – no pós-teísmo – um novo nome se reconcilia com a dimensão divina da realidade, com a Realidade Divina – uma nova imagem, um novo conceito – mais respeitoso, dado àquilo que outros têm modelado como Deus.
- Os teólogos vêem a cada dia ser mais clara a possibilidade de um cristianismo pós-teísta, embora ainda falte muito para que esta intuição se deposite muito bem. Poder-se-ia ser cristãos e não ser teístas, não crer em “deus-theós”, mas na Realidade divina, na Divindade. Obviamente, isso sugere a necessidade de uma “releitura pós-teísta” das religiões atualmente teístas. Uma dificuldade especial – mas não insuperável – pode revestir o caso do cristianismo, tradicionalmente expresso em termos teístas. A humanidade passou de épocas pré-teístas a uma teísta, e talvez esteja se encaminhando para uma época pós-teísta. Se uma religião é chamada a continuar servindo a humanidade além de uma época teísta, é de se supor que contará com recursos internos suficientes para reconverter-se pós-teisticamente. Esta é uma das tarefas em suspenso na teologia atual.
- Pode-se e deve-se reler as religiões além do teísmo (algumas nem são teístas). Porque, assim como o modelo “deus” não é imprescindível, sequer o é a forma teísta das religiões. Podemos viver além do teísmo, embora não além da Realidade Última. Uma reinterpretação pós-teísta do cristianismo já foi levada adiante por muitos, em nível prático e teórico, e convém a todos conhecê-la e estudá-la (Spong).
- A experiência espiritual do ser humano é permanente e continua a aprofundar-se, mas as imagens e as explicações que temos dado a nós mesmos para compreendê-la e exprimi-la mudaram e mudarão com o crescer do nosso conhecimento. O teísmo é um modelo fortemente radicado, o qual tradicionalmente tem sido “transparente” e não perceptível, identificado por definição com a religião. Por isso, a muitos resulta difícil chegar a identificá-lo como um “modelo” separável no interior da própria religião. Mas, quando vemos que a experiência espiritual de muitas pessoas concretas é obstaculizada por tal modelo, nossa opção não pode não tender radicalmente a considerar acidentais os modelos e a dar o primado e o via livre à experiência espiritual, realizando-a com os modelos que cada um considere mais razoáveis e adequados.
- A polêmica tradicional sobre a existência de Deus (crer ou não crer em Deus...), que tão ásperas discussões tem produzido nos últimos séculos, vemo-la hoje como uma discussão sem sentido que muitas vezes permaneceu ligada a um simples “modelo cognitivo” do qual não eram conscientes as partes. De nominibus non est quaestio [não se discute nomes], nem é necessário discutir em torno de “modelos”, procurando discutir em torno da realidade à qual se supõe que correspondam literalmente. O modelo teísta não é absoluto; ele é tão tradicional que a muitos parece imprescindível, mas não o é. E sê-lo-á sempre menos. Mas, em todo caso, a alternativa ao teísmo não é o ateísmo, mas o “pós-teísmo”, ou simplesmente o não-teísmo. E ambas as formas são compatíveis com a experiência espiritual do ser humano.
 Para ler mais:
Disponível em http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37604 acesso em 24 out. 2010.

Ilustração: Gott Vater, Mosaik, Wiedner Hauptstraße 14, Wien-Wieden / foto de Buchhändler. 2009. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wiedner_Hauptstra%C3%9Fe_12.JPG acesso em 24 out. 2010.

Igreja introduziu vírus oportunista na campanha

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 66, afirma que a forma como são abordados religião e aborto nesta campanha está "plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso".

O frade dominicano responsabiliza a própria Igreja Católica por introduzir um "vírus oportunista" na disputa eleitoral.

E define como "oportunistas desesperados" os bispos da Regional Sul 1 da CNBB (São Paulo) que assinaram no fim de agosto uma nota, depois tornada panfleto, recomendando aos fieis não votar em candidatos do PT.

O religioso analisa que os temas ganharam espaço na agenda porque "lidam com o emocional do brasileiro". "Na América Latina, a porta da razão é o coração, e a chave do coração é a religião. A religião tem um peso muito grande na concepção de mundo, de vida, de pessoa, que a população elabora."

Amigo do presidente Lula, de quem foi assessor entre 2003 e 2004 e a quem depois manteve apoio crítico, e eleitor de Dilma Rousseff, Frei Betto defende que as políticas sociais do atual governo evitaram milhões de mortes de crianças e, por isso, discuti-las é mais importante do que debater o aborto.
A entrevista é de Fábio Victor e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 24-10-2010. 

Eis a entrevista.

Desde que deixou o cargo de assessor de Lula, o sr. manteve um apoio crítico ao governo, um certo distanciamento. A pauta religiosa -- ou a forma como ela foi introduzida na campanha -- lhe reaproximou do governo e do PT?

Eu nunca me distanciei. Sempre apoiei o governo, embora fazendo críticas. O governo Lula é o melhor da nossa história republicana, mas não tão ideal quanto eu gostaria, porque não promoveu, por exemplo, nenhuma reforma na estrutura social brasileira, principalmente a reforma agrária.

Mas nunca deixei de dar o meu apoio, embora tenha escrito dois livros de análise do governo, mostrando os lados positivos e as críticas que tenho, que foram "A mosca azul" e "O calendário do poder", ambos publicados pela Rocco. Desde o início do processo eleitoral, embora seja amigo e admire muito a Marina Silva, no início até pensei que Dilma venceria com facilidade e que poderia apoiá-la [Marina], mas depois decidi apoiar a candidata do PT.

Mas você entrou com mais força na campanha por conta da pauta religiosa, sem a qual talvez não tivesse entrado tanto?

Eu teria entrado de qualquer maneira dando meu apoio, dentro das minhas limitações. Agora essa pauta me constrange duplamente, como cidadão e como religioso. Porque numa campanha eleitoral, penso que o mais importante é discutir o projeto Brasil. Mas como entrou o que considero um vírus oportunista, o tema do aborto e o tema religioso, lamentavelmente as duas campanhas tiveram, sobretudo agora no segundo turno, que ser desviadas para essas questões, que são bastante pontuais. Não são questões que dizem respeito ao projeto Brasil de futuro. Ou, em outras palavras: mais do que se posicionar agora na questão do aborto é se posicionar em relação às políticas sociais que evitam a morte de milhões de crianças. Nenhuma mulher, nenhuma, mesmo aquela que aprova a total liberalização do direito ao aborto, é feliz por fazer um aborto.

Agora o que uma parcela conservadora da Igreja se esquece é que políticas sociais evitam milhões de abortos. Porque as mulheres, quando fazem, é por insegurança, frente a um futuro incerto, de miséria, de seus filhos. Esses 7,5 anos do governo Lula certamente permitiram que milhares de mulheres que teriam pensado em aborto assumissem a gravidez. Tiveram seus filhos porque se sentem amparadas por uma certa distribuição de renda que efetivamente ocorreu no governo Lula, tirando milhões de pessoas da miséria.

Por que aborto, crença e religião entraram tão fortemente na pauta da campanha?

Porque eles lidam com o emocional do brasileiro. Como o latino-americano em geral, a primeira visão de mundo que o brasileiro tem é de conotação religiosa. Sempre digo que, na América Latina, a porta da razão é o coração, e a chave do coração é a religião. A religião tem um peso muito grande na concepção de mundo, de vida, de pessoa, que a população elabora.

Mas não foi a população que levou esse tema [à campanha], foram alguns oportunistas que, desesperados e querendo desvirtuar a campanha eleitoral, introduziram esses temas como se eles fossem fundamentais.

O próprio aborto é decorrência, na maior parte, das próprias condições sociais de uma parcela considerável da população.

Quem são esses oportunistas?

Primeiro os três bispos que assinaram aquela nota contra a Dilma, diga-se de passagem à revelia da CNBB. Realmente eles se puseram no palanque, sinalizando diretamente uma candidata com acusações que considero infundadas, injustificadas e falsas.

A Dilma, que já defendeu a descriminalização do aborto, recuou em relação ao tema.

Respeito a posição dela. Agora eu, pessoalmente, como frade, como religioso, como católico, sou a favor da descriminalização em determinados casos. Pode colocar aí com todas as letras. Porque conheço experiências em outros países, como a França, em que a descriminalização evitou milhões de abortos. Mulheres foram convencidas a ter o filho dentro de gravidez indesejada. Então todas as estatísticas comprovam que a descriminalização favorece mais a vida do que a descriminalização. É importante que se diga isso, na minha boca.

Na Itália, que é o país do Vaticano, predominantemente católico, foi aprovada a descriminalização.

O sr. acha que o recuo da Dilma é preço eleitoral a pagar?

Respeito a posição dos candidatos, tanto da Dilma quanto do Serra, sobre essas questões. Não vou me arvorar em juiz de ninguém. Como disse, acho que esse é um tema secundário no processo eleitoral e no projeto Brasil.

Pelo que se supõe, já que não há muita clareza nos candidatos, nem Dilma nem Serra são favoráveis ao aborto em si, mas ambos parecem abertos a discutir sua descriminalização. Por que é tão difícil para ambos debater esse tema com clareza e honestidade?

Porque é um tema que os surpreende. Não é um tema fundamental numa campanha presidencial. É um vírus oportunista, numa campanha em que você tem que discutir a infraestutura do país, os programas sociais, a questão energética, a preservação ambiental. Entendo que eles se sintam constrangidos a ter que se calar diante dos temas importantes para a nação brasileira e entrar num viés que infelizmente está plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso.

Como o sr. vê a participação direta de bispos, padres e pastores na campanha, pregando contra ou a favor de um ou outro candidato?

Eu defendo o direito de que qualquer cidadão brasileiro, seja bispo, seja até o papa, tenha a sua posição e a manifeste. O que considero um abuso é, em nome de uma instituição como a Igreja, como a CNBB, alguém se posicionar tentando direcionar o eleitorado. Eu, por exemplo, posso, como Frei Betto, manifestar a minha preferência eleitoral. Mas não posso, como a Ordem Dominicana à qual eu pertenço, dizer uma palavra sobre isso. Considero um abuso.

E a participação de uma diocese da CNBB na produção de panfletos recomendando fieis a não votarem na Dilma?

É uma posição ultramontana, abusiva, de tentar controlar a consciência dos fieis através de mentiras, de ilações injustificadas.

O sr. acredita, como aponta o PT, que o PSDB está por trás da produção dos panfletos?

Não, não posso me posicionar. Só me posiciono naquilo em que tenho provas e evidências. Prefiro não falar sobre isso.

Quais as diferenças de tratamento do tema aborto nas diferentes religiões?


Ih, meu caro, isso é muito complexo. Agora, na rua... Eu estou na rua, indo para a PUC [para ato de apoio a Dilma, na última terça à noite]. Para entrar nesse detalhe... Eu escrevi um artigo até para a Folha, anos atrás, sobre a questão do aborto. É muito delicado analisar as diferenças. Há nuances. Mesmo dentro da Igreja Católica há diferentes posições sobre quando é que o feto realmente se transforma num ser vivo. Não é uma questão fechada na Igreja. Ainda não há, nem do ponto de vista do papa, uma questão dizendo: o feto é um ser vivo a partir de tal data. É uma questão em discussão, teologicamente inclusive. São Tomás de Aquino dizia que 40 dias depois de engravidar. Isso aí depende muito, é uma questão em aberto.

Em artigo recente na Folha, o sr. disse que conhecia Dilma e que ela é "pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica". O que diria sobre a formação e a religiosidade de Serra?

Eu sou amigo do Serra, de muitos anos, desde a época do movimento estudantil. Nunca soube das suas opções religiosas. Da Dilma sim, porque fui vizinho dela na infância [em Belo Horizonte], estivemos juntos no mesmo cárcere aqui em São Paulo, onde ela participou de celebrações, e também no governo. Não posso de maneira alguma me posicionar em relação ao Serra. Respeito a religiosidade dele.

Se você me perguntasse antes da campanha sobre a posição religiosa do Serra, eu diria: não sei. Mas considero uma pessoa muito sensata, que respeita crenças religiosas, a tolerância religiosa, a liberdade religiosa. Nesse ponto os dois candidatos coincidem.

O que achou do material de campanha de Serra que destaca a frase "Jesus é a verdade e a vida" junto a uma foto do candidato?

Não cheguei a ver e duvido que seja material de campanha dele. Como bom mineiro, fico com pé atrás. Será que é material de campanha, será que é apócrifo?... Agora mesmo estão distribuindo na internet um texto, que me enviou hoje o senador [Eduardo] Suplicy, [intitulado] "13 razões para não votar em Dilma", com a logomarca da Folha, de um artigo que eu teria publicado na Folha, assinado por mim. Não dá para dizer que [o santinho] é da campanha dele.

Mas tem foto dele, o número dele [tem inclusive o CNPJ da coligação]... Bem, espero que a campanha, o comitê dele desminta isso e, se não desmentir, quem cala, consente.

No mesmo artigo o sr. diz que torturadores praticavam "ateísmo militante". O sr. não respeita quem não crê em Deus?

Meu caro, eu tenho inúmeros amigos ateus. Nenhum deles tirou do contexto essa frase. Com essa pergunta você me permite aclarar uma coisa muito importante: que a pessoa professe ateísmo, tem todo o meu apoio, é um direito dentro de um mundo secularizado, de plena liberdade religiosa.

Agora, a minha concepção de Deus é que Deus se manifesta no ser humano. Então toda vez que alguém viola o ser humano, violenta, oprime, está realizando o ateísmo militante. Ateus que reivindicam o fim dos crucifixos em lugares públicos, o nome de Deus na Constituição -- isso não é ateísmo militante, isso é laicismo, que eu apoio. O ateísmo militante para mim é profanar o templo vivo de Deus, que é o ser humano.

Tiraram do contexto, não entenderam...

É que houve queixas de ateus em relação àquele trecho do seu artigo, tido como discriminatório...

Podem ter se sentido ofendidos por não terem percebido isso. Para mim o ateísmo militante é você negar Deus lá onde, na concepção cristã, ele se manifesta, que é no ser humano. Você professar o ateísmo é um direito que eu defendo ardorosamente. Agora, você não pode é chutar a santa, como fez aquele pastor na Record. Ou seja, eu posso ser ateu, como eu sou cristão, mas eu não digo que a fé do muçulmano é um embuste ou que a fé do espírita é uma fantasia. Isso é um desrespeito.

O sr. relatou no artigo que encontrou Dilma no presídio Tiradentes [em São Paulo] e que lá fizeram orações. Como foram esses encontros?

Ela estava presa na ala feminina, eu na ala masculina e, como religioso, eu tinha direito de, aos domingos, passar para a ala feminina para fazer celebrações. E ela participava. O diretor do presídio autorizava isso.

O sr. já comparou o Bolsa Família a uma "esmola permanente"...

[interrompendo] Não, eu não usei essa expressão. Eu sempre falei que o Bolsa Família é um programa assistencialista e o Fome Zero era um programa emancipatório. Nunca chamei de esmola não. Se saiu isso aí, puseram na minha boca.

Deixa eu buscar aqui o contexto exato...

Quero ver o contexto. Dito assim como você falou agora eu não falei isso não.

Vou achar aqui o texto, espera aí.

Bem, mas não importa o que eu disse. Eu te digo agora o seguinte: o Bolsa Família é um programa compensatório e o Fome Zero era um programa emancipatório.

* Você falou o seguinte [numa entrevista à Folha em 2007]: "Até hoje o Bolsa Família não tem porta de saída. O governo inteiro sabe qual é, mas não tem coragem: é a reforma agrária, a única maneira de 11 milhões de famílias passarem a produzir a própria renda e ficarem independentes, emancipadas do poder público. Você não pode fazer política social para manter as pessoas sob uma esmola permanente. Nem por isso considero o Bolsa Família negativo, devo dizer isso. O problema é que não pode se perenizar".*

Ótimo que você pegou o texto, muito bem, é isso mesmo. Veja bem, não vamos tirar de contexto não.

O que o sr. pensa do Bolsa Família hoje?

Isso que eu te falei: é um programa compensatório. Eu gostaria que voltasse o Fome Zero, que tem um caráter emancipatório, tinha porta de saída para as famílias. E o Bolsa Família, embora seja positivo, até hoje não encontrou a porta de saída, o que eu lamento.

O sr. continua a ser um defensor inconteste do regime cubano? Ainda é amigo de Fidel?

Não, veja bem. A sua afirmação... Não põe na minha boca o que você acabou de falar. Eu sou solidário à Revolução Cubana. Eu faço um trabalho em Cuba há muitos anos, de reaproximação da Igreja e do Estado. Estou muito agradecido a Deus e feliz por poder ajudar esse processo, que resultou recentemente na liberação de vários presos políticos.

O sr. participou diretamente desse processo, dessa última libertação?

Indiretamente sim. Mas não é ainda o momento de eu entrar em detalhes.

O sr. acha que essa tendência de abertura do regime é inexorável?

Sim, claro, tem que haver mudanças. Cuba está preocupada em se adaptar. Mas nada disso indica a volta ao capitalismo.

Sobre o desrespeito aos direitos humanos em Cuba, ainda há presos políticos...

Meu caro, ninguém desrespeita mais os direitos humanos no mundo do que os Estados Unidos. E fala-se pouco, lamentavelmente. Basta ver o que os Estados Unidos fazem em Guantánamo.

Cuba ocupa o 51º no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que é insuspeito. O Brasil, o 75º.

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37615 acesso em 25 out. 2010.
Foto de Patrícia Figueira. Teresópolis, 2008. Disponível em http://www.flickr.com/photos/20770235@N04/2341620238/in/set-72157604139616836/ acesso em 25 out. 2010.

domingo, 24 de outubro de 2010

ORAÇÃO PEDINDO A RESTAURAÇÃO














ORAÇÃO PEDINDO A RESTAURAÇÃO

Senhor, nada mais quero fora de Ti...
Dá-me ser assim como queres que eu seja...
Livra-me do inferno pecaminoso deste mundo...
Não suporto ver o mal que vejo...
Tenho ojeriza e pavor de tudo isso...
Para mim não passa de precipício medonho...
Algo terrivelmente estranho ao teu Infinito Amor...

Talvez, Senhor, seja ousadia de minha parte...
Mas, o que dizer de tanta transgressão na face da terra?
Ponho a mão sobre a boca e nada falo...
Antes me calo, porque sei que com isso estão desafiando à Ti...
Porém, não pode ser assim...
porque jamais o pecado prevalecerá...
E toda desobediência será por tua justiça corrigida...

Não permita Senhor que o inimigo do teu amor prevaleça...
Vede nossa vulnerabilidade, inconstância e fraqueza...
Age em nossa fragilidade...
e dá-nos a liberdade do teu Espírito Santo...
Enxuga o nosso pranto...
e faze-nos experimentar o triunfo do teu infinito amor...
Assim atendidos por teu favor...
seremos capazes de lutar e derrotar todo o mal...

Ajuda-nos Senhor a viver longe de toda pecaminosidade...
Que a tua Realidade se faça presente aqui...
Pai Santo, te amo tanto...
que não suporto ver tantas ofensas conta Ti...
e contra toda humanidade...
Por isso, dá-nos viver aqui...
o que seremos em Ti por toda a eternidade...

Senhor, tudo Te pertence unicamente...
E ser livre é escolher a Tua Vontade...
Caminho de santidade...
Glória da ressurreição...
Porque não há liberdade verdadeira...
onde tua Vontade não se faz presente...

Por isso, vem Senhor sem demora,
restaura o que é Teu...
Porque sem Ti nada podemos...
Mas contigo venceremos...
a nós mesmos e a todo maldade...
Porque só Tu és a Fonte da Verdade...
O nosso Único e Soberano Deus...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


Atualidade de São Pedro de Alcântara

Pode um homem como São Pedro de Alcântara dizer-nos alguma coisa a nós, que fazemos parte de uma sociedade que não gosta de perguntas, e muito menos de respostas, sobre o único necessário? Pode um homem como Pedro de Alcântara, em cuja vida se manifesta "suma pobreza, profunda humildade, desprezo e afastamento de tudo o que parecesse estar sendo dado de presente, comodidade pessoal e temporalidade" , dizer alguma coisa aos homens do final deste século e particularmente a nós, frades menores?

Apesar da distância, que aparentemente parece existir entre São Pedro de Alcântara e nós, há aspectos de sua vida extremamente atuais. Entre todos, quero sublinhar três: homem de profunda contemplação, homem de constante busca e discernimento, homem a serviço dos outros como mestre espiritual.

1) Homem de profunda contemplação

São Pedro de Alcântara é um homem de Deus, é um gigante do espírito, porque deixou Deus crescer nele. A oração e a contemplação são o selo, o fundamento, a alma, o coração ... é o tudo de sua vida. O espírito de oração e devoção constitui a grande prioridade - qualitativamente fa1ando - do projeto de vida da reforma alcantarina: tudo está em função dela e a seu serviço. A penitência e a mortificação encontram seu sentido mais profundo como disposição para uma oração confiante de abandono, na qual o ser humano se coloca por completo nas mãos de Deus. Sua grande atividade apostólica brota da profunda comunhão com Deus, nascida e alimentada pela "oração de mais horas". Este primado qualitativo, porém, traz consigo também o primado prático da oração. Esta há de ser a primeira ocupação e preocupação dos Irmãos.

Os homens de hoje, sobretudo nós frades menores, como São Pedro de Alcântara, precisamos redescobrir a beleza do "coração e mente voltados para o Senhor". O mundo de hoje, marcado por um ateísmo favorável ao religioso, está nos pedindo aos gritos que sejamos testemunhas de Deus, que criemos lugares de experiência de Deus. Nosso futuro dependerá, em grande parte, da capacidade de testemunhar aos outros a presença de Deus. Como nos preparamos, pessoal e comunitariamente, para esse futuro? Como respondemos à vocação de sermos testemunhas de Deus numa sociedade marcada pela secularização?

2) Homem em constante busca e discernimento

Pedro de Alcântara foi um homem em caminho, "peregrino e forasteiro" (1Pd 2,11), não só em sentido físico, mas também, e sobretudo, por sua constante atitude de discernimento e de busca da vontade do Senhor. Porque foi pobre e livre, viveu sempre e inteiramente disponível para o Senhor; porque experimentou a eficácia libertadora da pobreza, se sentiu sempre itinerante, disposto a abandonar atividades, ofícios e estruturas que não respondiam à sua vocação de frade menor.

Os homens de hoje, particularmente os frades menores, precisamos recuperar a liberdade que a pobreza nos dá; recomeçar a itinerância que estimula a criatividade; reacender o anseio pela pátria que nos força a deixar estruturas envelhecidas; abandonar seguranças que nos amarram e certezas que nos imobilizam. Como São Pedro de Alcântara, o discernimento do que o Senhor nos está pedindo aqui e agora há de ser a nossa constante preocupação. Não basta sermos fiéis: o Senhor nos pede uma fidelidade criativa. São Pedro de Alcântara nos ensina a viver abertos àquilo que o Espírito nos pede hoje para sermos fiéis a Cristo, que nos chamou, fiéis a Francisco, que é nosso modelo no seguimento, fiéis ao homem de hoje, a quem temos de testemunhar, com palavras e obras, "que só Ele é onipotente" (CtaO 9).

3) Homem a serviço dos outros como mestre espiritual

São Pedro de Alcântara foi um homem que pôs a serviço dos outros os dons que tinha recebido do Senhor. Um homem em quem a graça do Senhor não foi vã e que fez frutificar os talentos recebidos não só em próprio benefício, mas também em favor dos outros, ajudando a todos que lhe pediam conselho nas coisas que agradam ao Senhor.

São Pedro de Alcântara foi um grande mestre espiritual, porque foi um homem de Deus. Ensinou os caminhos de Deus a partir de sua experiência de Deus. Teresa, a grande, disse de Frei Pedro: "Desde o começo vi que me entendia por experiência própria, e isto era tudo o de que eu precisava ... " E isto, porque "da vida de perfeição - afirma ainda Santa Teresa na sua Autobiografia - só se pode falar com aqueles que a vivem". Só quem vive na luz pode "iluminar tudo". Só pode comunicar Deus quem nele vive.

No mundo de hoje há muitas pessoas, sobretudo jovens, que têm grande fome de Deus. Cabe a nós saciar essa fome a partir de uma profunda experiência daquele que é amor. Cabe a nós conduzi-los aos poços de água viva para saciar sua sede de eternidade. Cabe a nós acompanhá-los para que descubram que aquele, a quem buscam, caminha a seu lado; que aquele, por quem suspiram, pede para permanecer em sua casa.

Celebrar significa fazer memória, e fazer memória significa atualizar aquilo que celebramos e aquilo de que fazemos memória. Celebrar e fazer memória de São Pedro de Alcântara exige de todos nós colocar-nos a caminho para viver, encarnando-as em nosso tempo, as prioridades de seu projeto de vida, que não são diferentes das do projeto de vida de Francisco de Assis.

Isto é o que imploramos da Virgem Mãe, a quem invocamos com a mesma oração que lhe dirigia São Pedro de Alcântara: “Ó Virgem Santíssima, Mãe de Deus e Rainha do céu, Senhora do mundo, Sacrário do Espírito Santo, Lírio de pureza, Rosa de paciência, Paraíso de delícias, Espelho de castidade, Modelo de inocência! Rogai por estes pobres desterrados e peregrinos e derramai sobre eles as sobras de vossa superabundante caridade!"

Trecho da Carta do então Ministro Geral da OFM, Frei Giacomo Bini, em outubro de 1999, por ocasião do V Centenário de Nascimento de São Pedro de Alcântara.
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/carisma/especiais/2009/saopedrodealcantara/02.php acesso em 19 out. 2010.
Ilustração: Monumento a San Pedro de Alcántara / de Navarro Gabaldón ; foto de Cubero. Alcántara (España), 2005. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alc%C3%A1ntara_City04.jpg acesso em 19 out. 2010.

sábado, 23 de outubro de 2010

Os mecanismos subterrâneos da campanha eleitoral

Entrevista especial com Marcelo Zelic

Depois da descoberta de 2 milhões de panfletos assinados, sem autorização, pela CNBB difamando a candidata Dilma Rousseff distribuídos em missas, o advogado Marcelo Zelic escreveu uma carta aberta à instituição católica configurando o ato como crime eleitoral. Em entrevista à IHU On-Line, concedida por telefone, Zelic diz que, durante o período eleitoral, as igrejas podem orientar a população quanto ao voto no sentido do “votar bem”, mas não podem indicar um candidato. “O panfleto está baseado na campanha antiaborto e joga toda uma discussão com relação a quem tem que governar o país e prega anti-PT. Isso é um absurdo”, alerta o advogado.

Na entrevista, Marcelo explica o que pode acontecer com os verdadeiros responsáveis pela produção e pagamento do material e explica outras estratégias utilizadas pelos coordenadores da campanha de Serra a fim de trabalhar o voto daqueles que poderiam vir a votar em Dilma. “Uma coisa é dizer “preferimos esse candidato por isso, isso e isso”, outra coisa é dizer “meu voto é anti-Dilma” e, com isso, publicar mentiras sobre a candidata”, explicou.

Marcelo Zelic é vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. É também coordenador do Projeto Armazém Memória.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O senhor pode nos explicar como a panfletagem encomendada pelo bispo diocesano de Guarulhos se configura como crime eleitoral?

Marcelo Zelic – É considerado crime eleitoral primeiro porque é um documento que a igreja, em época de campanha, não pode publicar. Tanto que a CNBB orienta apenas, nesse período, que é preciso votar bem, mas sem indicar candidato. Quando o bispo parte para fazer as agressões que fez contra o PT, dizendo mentiras e coisas que não estão de acordo com a realidade da campanha, isso é crime. Mesmo assim, insistem em dizer que Dilma vai fazer coisas que já prometeu não fazer, dizem que ela é ou fez coisas que não são verdades. Essas calúnias se configuram em crime eleitoral.

Além disso, documentos eleitorais precisam de uma identificação diferente, como o CNPJ, o que esses panfletos não têm. Eles só divulgam o nome dos três bispos da região e, mesmo assim, existem controvérsias sobre a veracidade das assinaturas. Há quem diga que os bispos assinaram antes e isso atropelou as notas públicas que a CNBB publicou. No entanto, o panfleto é assumido como se fosse um documento da CNBB, e não é. Trata-se de um documento da Comissão de Defesa da Vida.

IHU On-Line – O que diziam os panfletos?

Marcelo Zelic – O panfleto está baseado na campanha antiaborto e joga toda uma discussão com relação a quem tem que governar o país e prega o anti-PT. Isso é um absurdo.

IHU On-Line – O que pode acontecer com as pessoas envolvidas?

Marcelo Zelic – O TSE mandou apreender e os responsáveis pela produção do documento podem ser processados. Mas eu acho que não temos que ir atrás de quem está no ponto para distribuir. Nós temos que ir atrás de quem organizou isso. Veja bem: a gráfica é de propriedade da irmã de um assessor do Serra. Ela é membro do PSDB há muitos anos. Além disso, Kelmon Luís de Souza [1] foi quem fez o pedido dos panfletos à gráfica, ele está ligado a uma associação chamada Theotokos. Essa associação está ligada à Frente Integralista Brasileira, um grupo religioso de extrema direita.

Com a apreensão dos panfletos, agora está correndo um processo que busca saber quem pagou esse material. É a diocese de Guarulhos que está pagando isso? Quem desembolsou o dinheiro para fazer isso? É o dinheiro do Paulo Preto [2]? É o bispo de Guarulhos? Essa quantidade de folhetos impressos dava 600 mil reais. O bispo agora assumiu pagar e recorreu no TSE, não sei o que vai acontecer lá, mas ele corre o risco de ser processado. Aliás, os panfletos usam um logotipo da CNBB que já declarou não ter responsabilidade sobre eles. Alguém falsificou isso, então! E quem assumiu a impressão dos dois milhões de documentos está assumindo todas as implicações de um crime eleitoral.

IHU On-Line – Por que está se usando tanto a Igreja contra a candidata Dilma?

Marcelo Zelic – Porque o Serra está desesperado. Ele não tem argumento sobre a questão social e econômica no país. Então, ele vai partir para o terrorismo. Inclusive isso é um trabalho de difamação. Qual é a base da campanha do Serra? Boato, calúnia, ou seja, artifícios difíceis de rastrear. Ele tem usado a internet e feito até telefonemas para algumas pessoas falando mal da Dilma. Isso está acontecendo no Brasil inteiro.

Esse panfleto da igreja é apenas um dos artifícios. Há casos no RS em que ativistas ligados ao período da ditadura que pregaram nos postes cartazes com uma ficha falsa da Dilma. Há uma ação orquestrada até pela mídia. A Folha de S.Paulo, por exemplo, noticiou assim: “Polícia Federal apura o caso da quebra de sigilo”. Aí o jornal mostra que quem fez isso é o jornalista Amaury Ribeiro Junior [3]. Mas ele fez isso há um ano para defender o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Então, o que a Folha faz dessa vez? Publica que Amauri fez isso e o Rui Falcão [4] roubou dele. Este diz que não fez nada disso. A imprensa está atuando como um fator que alimenta esses mecanismos subterrâneos que estão atuando.

A Globo dando espaço para esse caso da bolinha de papel (que virou chacota no Brasil todo). Ela, inclusive, levou um perito ao Jornal Nacional que deu uma avaliação falsa. Não existe uma fita de bobina de fita crepe que atingiu Serra. Eles tentam atingir a campanha da Dilma de todo jeito porque, no primeiro turno, a coligação da Dilma obteve maioria na Câmara e no Senado.

A forma como a mídia está tratando a campanha é uma coisa que precisa ser discutida no país. A imprensa pode fazer o que quer? A imprensa pode publicar matéria falsa? Outro dia a Globo publicou uma matéria sobre aborto que o assessor especial de Lula teve que divulgar uma nota repudiando as mentiras contadas. Temos que continuar a dar nome aos bois e entrar na Justiça contra isso. É preciso atentar que liberdade de imprensa não é escrever o que se bem entende. E não há punição para esse tipo de coisa porque não há regulamentação do setor.

IHU On-Line – Sendo o Brasil um país laico, as igrejas têm o direito de manifestar sua opinião durante a campanha eleitoral por um ou outro candidato?

Marcelo Zelic – Os organismos religiosos, creio, não. Cada indivíduo pode externar a sua opção para os outros e, chegando a um consenso, o grupo, seja ele católico, evangélico ou de qualquer outra religião, pode, então, decidir se vai dizer ou não em quem vão votar. Uma coisa é dizer “preferimos esse candidato por isso, isso e isso”, outra coisa é dizer “meu voto é anti-Dilma” e, com isso, publicar mentiras sobre a candidata. É diferente o procedimento e foi isso que escrevi na carta aberta à CNBB.

IHU On-Line – E como a CNBB deveria agir, em sua opinião?

Marcelo Zelic – O panfleto não politiza no sentido saudável e, assim, a CNBB não deveria se manifestar apenas através de uma nota. Ela deveria colocar essa nota em todos os veículos de comunicação para que haja a contrapostura. Se ela defende o “voto bom”, é preciso pregar o voto bom nos meios de comunicação da Igreja. Isso é ser coerente. Aliás, é necessário mais do que coerente quando se tem uma campanha política baseada na mentira, na calúnia, no boato, no medo que isso provoca.

A mudança dos votos no fim da campanha pode ser explicada pela orquestração feita quando aquele guru indiano Ravi Singh [5] assumiu o sítio oficial da campanha de Serra. Esse homem já trabalhou na campanha da Bolívia, Colômbia, Chile e contra o Obama com os mesmos métodos. E depois que ele foi embora do Brasil, estouraram essas boatarias e ações de fustigação. Um exemplo disso foi a afirmação da Mônica Serra dizendo que Dilma matava criancinhas. Mônica, então, foi desmascarada por uma aluna que, contando sobre um aborto feito pela esposa do candidato e, desde então, Serra foge dessa discussão. As pessoas só deram crédito ao tema quando a Mônica Bergamo publicou isso na Folha. Os jornalistas, inclusive, também não concordam com essa linha por onde estão indo os jornais. Mas o que a imprensa tem feito a mando do Serra? Afastado os profissionais. Esse é o caso do Heródoto Barbeiro [6], da TV Cultura. Inclusive, jornalistas-chave foram enviado para o Chile para cobrir o caso dos mineiros a fim de serem afastados durante a campanha eleitoral. Há todo um movimento no sentido de cercear a liberdade e a sociedade tem fechado os olhos.

Espero que até o fim da campanha a CNBB tenha uma posição mais firme com relação aos bispos que estão envolvidos com os panfletos anti-Dilma, porque, dos 2 milhões de folhetos encomendados, somente um milhão e cem foram apreendidos. Além disso, um dos bispos que assumiu o documento disse que ainda assim vai distribuí-los e pronto. Como fica o esclarecimento da população atingida por um panfleto falso?

Notas:
[1] Kelmon Luís de Souza é integrante do Partido Monarquista Parlamentarista Brasileiro. Segundo o representante da gráfica utilizada para imprimir os panfletos anti-Dilma, Kelmon seria assessor de dom Luiz Bergonzini, que é bispo de Guarulhos. É também presidente da Associação Theotokos e definido como um católico ortodoxo.

[2] Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, é assessor de José Serra. É ex-diretor da Dersa - Desenvolvimento Rodoviário S.A, sociedade de economia mista brasileira, controlada pelo Governo do Estado de São Paulo. Articulador das obras do Rodoanel e da expansão da Marginal do Rio Tietê, Paulo teria levantado, de maneira ilegal, quatro milhões de reais para a campanha de Serra à Presidência.

[3] O jornalista Amaury Ribeiro Junior é investigado por ter encomendado a quebra dos sigilos fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, da filha de José Serra, Verônica, do genro dele, Alexandre Bourgeois, e de outros tucanos entre setembro e outubro de 2009

[4] Rui Falcão foi reeleito deputado estadual em São Paulo, pelo PT. É acusado pela suposta cópia de dados fiscais sigilosos de membros do PSDB. É um dos coordenadores de comunicação da campanha da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff.

[5] O americano de origem indiana Ravi Singh é conhecido por como um “marqueteiro-guru”. Teve uma passagem relâmpago pela campanha de José Serra, sendo o resposnável pela campanha do candidato do PSDB na internet.

[6] O jornalista Heródoto Barbeiro trabalhou na TV Cultura, onde foi apresentador do Roda Viva em duas ocasiões, entre 1994 e 1995 e entre 2009 e 2010. Em junho de 2010, segundo denúncia do jornalista Luis Nassif, Heródoto teria sido demitido da TV Cultura por ordens do ex-governador de São Paulo e candidato a Presidente José Serra. O motivo seria uma áspera discussão entre o político do PSDB e o jornalista acerca dos pedágios cobrados em São Paulo, ocorrida durante gravação do programa de entrevistas Roda Viva, apresentado por Heródoto.

Para ler mais:

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37571 acesso em 23 out. 2010.
Foto: Saudação integralista. Antes de 1935. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:SaudacaoIntegralista1935.jpg acesso em 23 out. 2010.

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