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quarta-feira, 31 de março de 2010

Dinheiro e Semana Santa

Dom Demétrio Valentini*
Adital -
Segunda-feira Santa - A paixão de Cristo e o dinheiro

O Evangelho da segunda-feira da Semana Santa traz a história do perfume precioso, derramado por Maria sobre os pés de Cristo na casa de Lázaro. Era caro, e segundo Judas, valia "trezentos denários".

Dinheiro e política compõem o cenário da paixão de Cristo. Por trinta moedas subornaram Judas para entregar Jesus. E se valeram das veleidades políticas de Pilatos para condená-lo à cruz: "se soltas este homem não és amigo de César".

Dinheiro e política compõem também o cenário do drama do povo. A amizade com os "césares" continua condicionando as causas do povo. E assim os recursos financeiros não são aplicados segundo as necessidades urgentes dos pobres, como a saúde, a educação, a moradia, o transporte, o emprego.

Judas, o zelador da "bolsa", diz que o perfume poderia ser vendido, para que o dinheiro fosse dado aos pobres. Na verdade, ele queria roubar o dinheiro.

Assim fazem entre nós os demagogos: levantam a bandeira dos pobres, mas entram na política por interesses pessoais. Judas traiu Cristo, os demagogos traem o povo.

Jesus coloca critérios de valor para o uso do dinheiro. À primeira vista, o perfume derramado por Maria era um desperdício. Na verdade, era uma ação educativa: o dinheiro precisa estar sempre disponível para as grandes causas. Jesus estava prestes a empenhar sua própria vida pela causa da humanidade. O dinheiro do perfume derramado sobre seu corpo se revestia da mesma finalidade. Jesus estava dando o critério para a destinação primordial do dinheiro: "pobres sempre tereis convosco".

O dinheiro entrou na paixão de Cristo. Ele entre no drama da vida humana. É necessário que ele seja assumido, com responsabilidade. Faz parte de nossos compromissos analisar a serviço de que causas está sendo colocado o nosso dinheiro.

Terça-feira Santa - Dinheiro: amor ou traição?

A traição de Judas é capítulo indispensável da paixão de Cristo. É o que a liturgia coloca nesta terça-feira da Semana Santa. E, de novo, o dinheiro integra o cenário desta traição.

Diz o Evangelho que o Mestre estava perturbado diante da iminência da traição. Partilha esses sentimentos com seus discípulos. Pois o contexto era de intimidade, de amizade, de confiança: uma refeição. Tanto mais destoava a traição, pois vinha de um amigo, e usava as aparências da amizade para se perpetrar.

Observa o Evangelho que Judas pôde sair tranqüilo da sala, e partir para a traição, aparentando as boas intenções do seu ofício: como encarregado do dinheiro, todos pensavam que ele fosse "comprar o que precisavam para a festa, ou dar alguma coisa para os pobres".

Para isto serve o dinheiro: para a festa da vida, e para ajudar os pobres.

Nada mais comovente do que ver a alegria dos pobres partilhando o pouco que possuem. As festas dos pobres são bonitas. Com seus parcos recursos, multiplicam a alegria da convivência, da acolhida mútua, da descontração, da alegria de viver. Parece o milagre da multiplicação dos pães: a carência de todos se transforma em surpreendente abundância, e resulta que todos se saciam, e ainda sobre alguma coisa.

Na casa do pobre sempre há lugar para mais um. Quando chega o visitante, é bem acolhido, é convidado à mesa, e ninguém se preocupa se a comida será suficiente.

Com um pouco de dinheiro dá para multiplicar o amor. Aí o dinheiro se transforma em vida e em alegria. Ele fica abençoado. Ele atinge sua finalidade.

O dinheiro que caía na bolsa de Judas deveria servir ao amor. O drama é que o dinheiro está tão perto da traição, quando passa a ser objeto de cobiça. Aí ele perde sentido, e leva para a perdição.

Viver a Páscoa é recolocar o dinheiro a serviço da vida e do amor.

Quarta-feira Santa - Dinheiro e poder: os critérios da negociação

Em plena Semana Santa, o Evangelho insiste em mostrar a presença e a ação do dinheiro na história da paixão de Cristo.

Nesta quarta-feira Mateus nos conta que Judas foi negociar com os sumos sacerdotes. A traição ficou cotada em trinta moedas. Acertaram-se no preço, na quantia de dinheiro. Mas com isto o Justo ficou sacrificado. Fizeram acordo. Entenderam-se a respeito do valor monetário. Mas esqueceram o valor da vida, que não tem preço. E assim o Cristo foi condenado a morrer.

Diante desta história do Evangelho, podemos situar melhor o problema dos acordos financeiros.

Entre nós se discute tanto, e com razão, os termos dos acordos que regem hoje as relações financeiras no mundo globalizado. Até os pobres falam no FMI. No Brasil foi feito o plebiscito sobre a Dívida Externa, e a primeira pergunta dizia respeito, exatamente, aos "acordos com o FMI". Mesmo sem conhecer os termos exatos destes acordos, o povo intui que eles se revestem de uma perversidade que não pode ser aceita.

E’ que os acordos não podem se limitar a reger relações financeiras. Eles precisam estar relacionados com a vida do povo. Caso contrário, correm o risco de serem injustos, e de colocarem em risco a sobrevivência dos pobres.

Sem a vinculação ética que a deve reger, a economia perde sentido, e se torna instrumento para condenar à morte a multidão dos excluídos.

O dinheiro, por pouco que seja, dá um poder de negociação. Com uma pobre bolsa na mão, Judas se transformou em negociador diante do sistema do poder estabelecido. E foi capaz de provocar uma grande injustiça.

Usar corretamente o poder de negociação que nosso dinheiro nos proporciona, é um sério dever ético, para todos, em nosso tempo. Pois está em causa a vida das pessoas, sobretudo dos indefesos.

Quinta-feira Santa - Gratuidade além do dinheiro

No clima comovente de despedida, o Evangelho narra hoje o gesto de Cristo, de lavar os pés dos apóstolos. E explica como este gesto nascia de um amor sem limites: "tendo amado os seus, amou-os até o extremo" (Jo 13,1).

De novo, o contraponto deste amor é o ódio cego, que já tinha se instalado no coração de Judas. A ganância do dinheiro tinha toldado o horizonte de Judas. O acordo com os sumos sacerdotes o condicionava, e ele se sentia na obrigação de trair o Mestre. "O diabo já tinha seduzido Judas para entregar Jesus" (Jo 13,2). O diabo se instala a partir da lógica do lucro.

É importante evitar de entrar nesta lógica. Pois uma vez instalada, tem a força de uma coerência, tantas vezes afirmada enfaticamente pelos economistas, que teimam em insistir na "verdade única" da inexorabilidade do processo econômico excludente que impõe seus critérios. Não se trata de negar esta coerência intrínseca. Trata-se de mudar de princípio. Trata-se de substituir o "diabo" do lucro pela gratuidade do amor, feito serviço aos irmãos. Como fez Cristo na quinta-feira, em contraste total com o que foi fazer Judas, no mesmo dia e na mesma hora.

A lógica do lucro produz insensibilidade humana, e fecha dentro de "direitos" que se respaldam em leis inspiradas para sua defesa. A força do amor leva a ultrapassar os "deveres", e chega a gestos surpreendentes, rompendo os horizontes das formalidades, e estabelecendo uma nova atitude de solidariedade e de comunhão. Os discípulos nunca mais irão esquecer o Mestre que lavou seus pés. E descobrem nele um motivo para a entrega de suas vidas, além das medidas humanas, e muito além da lógica do lucro.

Só o amor, transformado em serviço gratuito, rompe os limites do lucro.

Sexta-feira Santa - Condenação de Cristo - julgamento do sistema

Hoje o dia nos convida a olhar, com respeito, para o Cristo condenado na cruz. O fato permanece como a interpelação mais profunda da história humana: como foi possível uma pessoa que "passou fazendo o bem a todos", ser condenada na cruz?

As lições permanecem inesgotáveis. No seu conjunto, atestam com evidência a diferença de critérios a presidir um projeto de vida e de sociedade. Um projeto que se guia pelos contra valores do ter, do poder e do prazer, não tolera um projeto que se guia pela doação, pelo serviço e pelo amor. E se sente na obrigação de eliminar os que o contestam com o testemunho da própria vida. Sua urgência de condenar é confissão da própria fraqueza, incapaz de encontrar justificativas humanas para se sustentar.

Foi assim que o próprio Cristo entendeu o significado de sua iminente condenação: ela iria significar o julgamento dos que o estavam condenando.

Cristo bateu de frente com o sistema de dominação religiosa, política re econômica, exercida sobre o povo pelos detentores do poder. Mas estes, para executar seus planos, acionaram a ambição financeira. Ofereceram dinheiro para Judas entregar o Mestre, para ser submetido a julgamento, e ser condenado a morrer.

Com o Cristo crucificado se identificam milhões de inocentes, condenados a morrer pelo sistema que os exclui da vida. São vítimas da ambição do poder, da ânsia desordenada do ter, e do desejo desenfreado do prazer, dos que hoje ainda detêm em suas mãos o destino das pessoas.

Mas o condenado na cruz nos convida a fazermos a opção certa, e assumir o seu projeto.

Sábado Santo - Empréstimo provisório

Depois da sexta-feira intensa e movimentada, carregada de tensões e sofrimentos, veio o sábado do repouso.

Como faz bem um dia de repouso, sem agenda, sem acontecimentos, sem agitação, sem notícias. Para ser vivido no silêncio, na paz, no sono, na espera.

Um dia que parece vazio. Mas que na verdade se enche de mistério e de esperança.

As atenções se voltavam para o túmulo, onde ainda estava o corpo do Cristo. Um túmulo emprestado. Um túmulo de família rica. Após a morte de Cristo, José de Arimateia e Nicodemos saíram do anonimato, e ofereceram seus préstimos às mulheres, para darem ao falecido uma sepultura digna. Compraram caros perfumes, conseguiram emprestado um túmulo, e nele depositaram o corpo do Senhor.

Foi tarde demais a intervenção deles? Não podiam ao menos ter pago um advogado, para defender o acusado, num processo tão cheio de irregularidades jurídicas?

Em todo o caso, agora agiam sem constrangimentos, respaldados pela dignidade da morte, que tem a força de se sobrepor às injustiças contra a vida. A morte dos pobres se constitui em força irresistível em favor de suas vidas. Como a morte de Cristo, plantada no túmulo, de onde brotaria com força nova e irresistível a vida ressuscitada.

Nunca é tarde para colocar nossos recursos a serviço da vida. O túmulo emprestado lembra os empréstimos dos ricos para os pobres. Aquele foi um empréstimo provisório, de apenas três dias, e que compôs o contexto de onde a vida eclodiu, exuberante, para sempre.

Um empréstimo provisório, que serviu para uma vida definitiva. Ao contrário de muitos empréstimos de hoje, que mais parecem túmulos definitivos, a sepultar para sempre as esperanças dos pobres.

Esta sábado ensina aos nicodemos de hoje que o melhor fruto dos recursos financeiros não sãos os juros acumulados, mas a alegria de ver ressuscitada a vida dos pobres.

Domingo de Páscoa - Túmulo vazio - corações cheios

O domingo da ressurreição começou na madrugada, com Madalena e as outras mulheres. E terminou noite a dentro, com os discípulos de Emaús e os apóstolos reunidos. Um longo aprendizado, para passar da decepção do túmulo vazio, para a plenitude da alegria com a presença do Senhor Ressuscitado.

Todos os pequenos episódios deste dia ensinam a passar das decepções para a esperança, da morte para a vida, do sofrimento para a alegria.

O túmulo vazio não era fruto de roubo praticado. Era ausência de morte, era sinal de vida.

O vazio de Deus em nossa vida é sinal de sua presença, é espaço para nossa afirmação, é convite para mergulharmos em seu mistério de amor.

As interrogações dos discípulos não eram prova do contra senso, eram pistas para a descoberta da verdade.

As decepções dos apóstolos não eram confirmação do engano, mas purificação das mentes, para se abrirem aos desígnios divinos, que superam as falsas expectativas humanas.

Para experimentar a presença do Senhor não precisavam de muita coisa. "Tendes aí alguma coisa para comer?" (Lc 24,41). Bastam algumas coisas! Não precisamos abarrotar nossas despensas, não precisamos de grandes somas em nossas contas bancárias, não precisamos de grandes investimentos nas bolsas. A frugalidade está mais próxima da alegria e da plenitude. Corações abarrotados de desejos não deixam entrar a luz da vida. O Ressuscitado atravessou paredes e portas fechadas, mas não passa pela barreira da ganância e por cima do acúmulo.

Assim, a paixão tinha preparado os corações para a alegria do reencontro, para a paz que vem do Senhor, para o perdão gratuito e total, para o Espírito que era concedido aos discípulos como primícias da vida nova e definitiva que já brilhava no corpo ressuscitado do Senhor.

Estavam removidos os obstáculos da morte, estava aberto o caminho da vida verdadeira. Por ele somos convidados a andar, à luz da fé no Ressuscitado!

(www.diocesedejales.org.br)
* Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira

Extraído de http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=46316 acesso em 31 mar. 2010.

Foto: D. Demétrio Valentini, bishop of Jales, São Paulo, Brazil / José Cruz. [S.l.] : Agência Brasil, 07 abr. 2008. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Valentini.jpg acesso em 31 mar. 2010.

Cristãos da Terra Santa Celebram Domingo de Ramos e abertura da Semana Santa





Este ano, todas as Igrejas celebram a Páscoa e, portanto, a Semana Santa, nos mesmos dias. Assim, neste domingo, dia 28 de março, desde às 7 horas da manhã, a Basílica do Santo Sepulcro se encheu de peregrinos enquanto se celebravam ao mesmo tempo todos os ofícios. Neste caso, meditação dos fiéis é questão de fé, porque os espaços que pertencem aos distintos ritos estão muito delimitados e as vozes, sobretudo os cantos, entrecruzam-se e, em algumas ocasiões, criando uma sinfonia que se pode definir como… singular.
Graças aos livros litúrgicos que se colocam à disposição dos peregrinos, aquele que quiser seguir realmente e concentrar-se na liturgia franciscana no Santo Sepulcro pode participar da oração e viver a comemoração do dia: a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém.
Mas, antes de escutar a leitura da Paixão, o momento mais belo e ao mesmo tempo mais solene é o da bênção dos Ramos, realizada pelo bispo – este ano quem presidiu a celebração foi Mons. Kamal Hanna, representante do Patraiarca Mons. Fouad Twal - e, depois, a procissão em torno da Tumba vazia.
A semiescuridão em que se encontra a estas horas da manhã a basílica, o vermelho dos paramentos sacerdotais, o verde dos grandes ramos de palma, carregados pelos seminaristas do patriarcado e pelos numerosos franciscanos presentes, o ruído das palmas quando se agitam, as aclamações de alegria dos peregrinos coptos egípcios cada vez que passa pelo seu espaço… tudo isso acontece nas três voltas da procissão em torno à Edícula, ao mesmo tempo, algo belo, solene, impressionante e emocionante, tanto se se tem a sorte de seguí-la como se tão somente se pode observar quando esta passa.
A procissão da tarde é também uma celebração que tem seu começo no santuário de Betfagé com uma leitura, a proclamação do Evangelho e uma bênção do patriarca, e que termina em Santa Ana, junto aos Padres Brancos, com um pequeno discurso do patriarca e uma bênção solene. Porém, em comparação com a da manhã, esta procissão é muito mais festiva, quase folclórica, alegre como nenhuma outra e decididamente ecumênica. De fato, a procissão se uniu a numerosos coptos egípcios ortodoxos vindos do Egito, e também a um bom número de protestantes das distintas Igrejas presentes em Jerusalém, até a pequena comunidade Mennonita, que se entrecruza mais e mais pelo bairro cristão da Cidade Velha.
Até os franciscanos se adaptam a este novo estilo: a solenidade do gregoriano dá espaço à alegria de hinos mais espontâneos. Os estilos que se podem ver são tantos como numerosos são os grupos que estão presentes: os fiéis das paróquias de Ramallah, Taybeh, Nazaré, Jafa, as distintas comunidades religiosas da Terra Santa e os muitos grupos de peregrinos que estão de passagem. Uma vez dentro dos jardins de Santa Ana, todos são recebidos pelos cantos e a animação do grupo de música cristã Al Raja.
Com a chegada do Patriarca se faz silêncio. Sua Beatitude desceu até o Monte das Oliveiras acompanhado pelo Núncio Apostólico, Mons. Antônio Franco, de diferentes bispos, do Custódio da Terra Santa, frei Pierbattista Pizzaballa, precedido pelos seminaristas maiores e menores e seguido por alguns convidados, entre estes o Cônsul Geral da França, Mr. Fréderic Desagneaux.
Suas primeiras palavras recordam que Jesus não teve que passar pelas vigilâncias nem sofrer nenhuma humilhação para chegar até Jerusalém. Estas palavras se referem seguramente ao que ocorreu com dois paroquianos dos territórios ocupados por Israel, de quem não se lhes permitiu passar o posto de vigilância, apesar de haver obtido um salvo-conduto para a festa. Posteriormente, o Patriarca prosseguiu com um convite para “seguir a Cristo e entrar, como Ele fez, na cidade, na sociedade, para escutar suas palavras, observar seus gestos, compreender o amor que explodirá nesta cidade santa e martirizada, para criar um mundo novo, de homens, mulheres, jovens, santos e servidores de Deus. Deixemo-nos ensinar pelo seu exemplo para que nós possamos também ajudar àqueles que sofrem a injustiça, a falta de liberdade e a hipocrisia. A Paixão de Cristo é uma prova através da qual o Senhor carrega sobre si nossos sofrimentos e nos conduz à Ressurreição. Todos estes dias da Paixão de Cristo não se podem explicar a não ser através do amor”. O resto da semana nos permitirá redescobrir até que ponto o Senhor amou.

terça-feira, 30 de março de 2010

Blog das Franciscanas da Adoração Perpétua

Blog das Franciscanas da Adoração Perpétua

Conforme o exemplo de nosso Santo Pai Francisco empenham-se as irmãs em unir a vida contemplativa com a vida ativa na adoração perpétua e na prática das obras de misericórdia.

segunda-feira, 29 de março de 2010

ONDE SE ESCONDE O DEMÔNIO?















ONDE SE ESCONDE O DEMÔNIO?

O mistério da iniquidade...
é uma realidade que ultrapassa nosso entendimento...
Seus efeitos e sua presença, porém,
estão aquém, em toda parte...
Bem à nossa vista...

É certo dizer que ele age em sua maldade...
tentando destruir o amor...
a verdade e a bondade...
Virtudes com as quais Deus nos criou...

Ninguém se engane...
Por trás de toda ação pecaminosa...
se esconde o demônio...
autor e princípio do pecado...
nosso pior adversário...
E como só vemos o resultado do pecado...
ele pouco se destaca...
e ainda tenta passar despercebido...
Como se nada tivesse acontecido...
como se não fosse ele nosso pior inimigo...
e causador de toda maldade praticada...

Todos os homens receberam de Deus a vida,
a liberdade e a autoridade de decisão...
Nada do que fazemos...
deixa de passar pelos nossos pensamentos...
para receberem ou não a nossa aprovação...
Para que, de igual modo,
sejam por nós praticados ou não...

Ora, somos filhos de Deus...
e não temos mal algum pra pensar, falar ou fazer...
Caso pensemos o mal,
falemos mal ou pratiquemos o mal...
isso só se dá quando ao mal sedemos...
a nossa liberdade...
e a nossa autoridade de decisão...

Desse modo,
temos visto milhares e milhões...
caírem nas “mãos” do demônio,
por meio de práticas nefastas...
que chocam e envergonham...
a nossa humanidade...

Seja quem for o pecador...
devemos ter misericórdia dele...
E nunca esquecer,
que ele é uma presa demoníaca...
que precisa se arrepender...
e se converter...
Isto é, voltar-se totalmente para Cristo Jesus...
que por seu Sacrifício de Cruz e seu perdão...
nos deu a libertação do pecado,
do demônio e da morte...
...

“Feliz o homem que suporta a tentação.
Porque, depois de sofrer a provação,
receberá a coroa da vida...
que Deus prometeu aos que o amam.
Ninguém, quando for tentado, diga:
É Deus quem me tenta.
Deus é inacessível ao mal
e não tenta a ninguém.

Cada um é tentado pela sua própria concupiscência,
que o atrai e alicia.
A concupiscência, depois de conceber,
dá à luz o pecado;
e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.

Não vos iludais, pois, irmãos meus muito amados.
Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima:
descem do Pai das luzes,
no qual não há mudança,
nem mesmo aparência de instabilidade.
Por sua vontade é que nos gerou pela palavra da verdade,
a fim de que sejamos como que as primícias das suas criaturas”. (Tiag 1,12-18).
...

E mais...
“Outrora éreis trevas,
mas agora sois luz no Senhor:
comportai-vos como verdadeiras luzes.
Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade.

Procurai o que é agradável ao Senhor,
e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas;
pelo contrário, condenai-as abertamente.
Porque as coisas que tais homens fazem ocultamente...
é vergonhoso até falar delas.

Mas tudo isto, ao ser reprovado,
torna-se manifesto pela luz.
E tudo o que se manifesta deste modo torna-se luz.
Por isto (a Escritura) diz:
Desperta, tu que dormes!
Levanta-te dentre os mortos...
e Cristo te iluminará (Is 26,19; 60,1)!

Vigiai, pois, com cuidado sobre a vossa conduta:
que ela não seja conduta de insensatos,
mas de sábios que aproveitam ciosamente o tempo,
pois os dias são maus.
Não sejais imprudentes,
mas procurai compreender...
qual seja a vontade de Deus”. (Ef 5,8-17).
...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

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Site da Custódia da Terra Santa

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Custódia da Terra Santa
Os franciscanos a serviço dos lugares santos e das comunidades cristãs

http://www.custodia.fr/?lang=pt

domingo, 28 de março de 2010

Páscoa não é fim, mas recomeço de jornada



Páscoa é sinal de mudança, passagem, se é fim de quaresma é também início de jornada, com a saída do Egito os judeus não entraram diretamente na terra prometida, não foi uma mudança radical de estado, ela marca o fim da escravidão nas terras egípcias, mas ainda exige um esforço pessoal de cada um dos judeus que saíram do Egito, é preciso ainda retirar o Egito do coração do povo eleito, pois a todo instante e a cada tropeço do caminho, recomeçavam a se lamentar e a comparar a provação do deserto, com o pouco de bom que deixaram no Egito, a cada momento jogavam sobre Moisés a saudade das panelas de carne que ficaram pra traz, existe justiça nisso? até haveria se junto com as panelas de carne, lembrassem também dos açoites,das provações da própria escravidão, porém nenhum desses que se levantavam contra o Senhor e contra Moisés fala sobre a escravidão, se no Egito de fato haviam as panelas de carne no deserto eles tiveram o pão dos céus as codornas e a água que nunca faltou mesmo se extraída diretamente da pedra; nesse sentido devemos entender a quaresma como preparação de jornada e não como fim de provação, a quaresma equivale a escravidão do Egito e as pragas que assolavam apenas os Egípcios, todos aqueles que estavam em sintonia com a palavra de Deus passaram com tranquilidade, do mesmo modo devemos entender a morte e ressurreição de Cristo como inicio de um novo caminhar, só que agora podemos seguir com a mesma confiança de nossos irmãos da antiga aliança, existe ainda um caminho a percorrer, o que nos serve de consolo é a promessa de Cristo, de que não estamos sós!

sábado, 27 de março de 2010

A SEMANA SANTA















A SEMANA SANTA

QUINTA-FEIRA SANTA

1. A celebração eucarística na Ceia do Senhor inaugura o Tríduo pascal que terminará com as II Vésperas do Domingo de Páscoa. Estes três dias são o coração do ano litúrgico e de todo o mistério cristão. Não só nos recordam o que o amor de Deus realizou por nós, mas também significam e comunicam a graça do mistério neles celebrado.

SUGESTÕES PARA A CELEBRAÇÃO E A VIVÊNCIA DA LITURGIA

a) Inicia-se o tríduo sagrado, chamado também de o "Tríduo do crucificado, do sepultado e do ressuscitado".

b) Cruz processional, velas, turíbulo fumegando.

c) Matracas.

d) Pode-se entrar na procissão de entrada os santos óleos que foram abençoados pela manhã na Catedral pelo Bispo. Prepara-se no presbitério uma mesa para colocá-los. Para serem levados ao presbitério os santos óleos, poderiam três jovens vestir túnicas das respectivas cores dos óleos: ROXO (óleo dos enfermos); ROSA (óleo do Crisma); BRANCO (óleo do batismo).

e) Pode ser decorado perto do altar e nunca em cima do mesmo, com pão, uva, vinho.

f) Antes da celebração, o sacrário deve estar vazio. As hóstias para a comunhão dos fiéis devem ser consagradas na mesma celebração da missa de maneira suficiente para o dia seguinte também (Sexta-feira santa).

g) Reserve-se uma Capela para conservação do Santíssimo Sacramento e seja ela ornada de modo conveniente, para que possa facilitar a oração e meditação: recomenda-se o respeito.

Daquela solenidade que convém à liturgia destes dias, evitando ou renovando qualquer abuso contrário.

h) Durante o canto do hino do "Glória" tocam-se os sinos (da torre e do altar). Concluído o canto eles ficarão silenciosos até o "Glória" da Vigília Pascal.

i) O órgão ou outros instrumentos a partir do canto do "Glória", só serão utilizados para sustentar o canto. De maneira que não se use nem bateria e nem pandeiros...

j) Seja conservada para o lava-pés a escolha de alguns homens, e como sugestão podendo ser 12 que significa os 12 apóstolos. Neste momento o celebrante retira a casula e cinge-se com uma toalha grande que possa ser amarrada à cintura e ao mesmo tempo enxugar os pés dos discípulos, a casula ficará aberta sobre o altar. Após terminar o lava-pés e ter lavado as mãos vestirá novamente a casula. Pode ser dado para os homens um pão.

k) Na procissão do ofertório tendo sido feita uma conscientização na comunidade, a comunidade pode fazer doação de alimentos não perecíveis para os menos favorecidos, como nos sugere o Missal Romano.

l) Na consagração, não se toca a campainha e sim as matracas.

m) Após a oração da comunhão, forme-se o cortejo, passando por toda a Igreja, que acompanha o Santíssimo Sacramento ao lugar da reposição. A procissão é precedida pelo cruciferário, as velas, o turíbulo fumegando e as matracas.

n) Usa-se a Umbela para cobrir o Santíssimo.

o) Nunca se pode fazer a exposição com o ostensório. (A reserva Eucarística deverá ficar dentro do sacrário).

p) Na adoração até a meia-noite, pode ser lida uma parte do evangelho segundo João Capítulos 13-17. Após a meia noite, esta adoração seja feita sem solenidade já que começou o dia da paixão do Senhor. Recomenda-se o silêncio.

q) A capela do Santíssimo pode ser ornada com flores, com todo esplendor.

r) O sacerdote deveria usar pluvial e véu umeral festivo na transladação do Santíssimo Sacramento em direção ao altar da reposição. Na falta do Pluvial use pelo menos o véu umeral sobre a túnica ou alva com estola.

s) Concluída a missa é desnudado o altar da celebração. Convém cobrir as cruzes da Igreja com um véu de cor vermelha ou roxa.

Para a missa deve-se preparar:

a) Âmbulas com partículas para consagrar para essa missa e para a Sexta-feira;
b) Véu de ombros;
c) Turíbulo com naveta;
d) Tochas e velas;

Para o lava pés:

a) Assentos para os homens designados;
b) Jarro de água e bacia;
c) Toalha para enxugar os pés;
d) Sabonete (para o sacerdote lavar as mãos)

2. Momentos fortes:
São momentos altos deste memorial: a escuta da Palavra, o lava-pés, a oferenda do pão e do vinho acompanhados pelas ofertas para os pobres recolhidas durante a Quaresma, a oração eucarística (com comemorações próprias deste dia), a fração do Pão, a participação no Corpo e Sangue do Senhor consagrados na própria ação litúrgica (é "proibido" o recurso à reserva eventualmente conservada no Sacrário o qual, segundo a vontade da Igreja, deveria estar vazio no começo da celebração).

3. Bênção dos Santos Óleos (Celebração na Catedral com o Arcebispo pela manhã).

Na Quinta-feira Santa, óleo de oliva misturado com perfume (bálsamo) é consagrado pelo Bispo para ser usado nas celebrações do Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordenação. Sempre que houver celebração com óleo, deve estar à disposição do ministro uma jarra com água, bacia, sabonete e toalha para as mãos.

Não se sabe com precisão, como e quando teve início a bênção conjunta dos três óleos litúrgicos. Fora de Roma, esta bênção acontecia em outros dias, como no Domingo de Ramos ou no Sábado de Aleluia. O motivo de se fixar tal celebração na Quinta-feira Santa deve-se ao fato de ser este último dia em que se celebra a missa antes da Vigília Pascal. São abençoados os seguintes óleos:

Óleo do Crisma - Uma mistura de óleo e bálsamo, significando plenitude do Espírito Santo, revelando que o cristão deve irradiar "o bom perfume de Cristo". É usado no sacramento da Confirmação (Crisma) quando o cristão é confirmado na graça e no dom do Espírito Santo, para viver como adulto na fé. Este óleo é usado também no sacramento do sacerdócio, para ungir os "escolhidos" que irão trabalhar no anúncio da Palavra de Deus, conduzindo o povo e santificando-o no ministério dos sacramentos. A cor que representa esse óleo é o branco ouro.

Óleo dos Catecúmenos - Catecúmenos são os que se preparam para receber o Batismo, sejam adultos ou crianças, antes do rito da água. Este óleo significa a libertação do mal, a força de Deus que penetra no catecúmeno, o liberta e prepara para o nascimento pela água e pelo Espírito. Sua cor é vermelha.

Óleo dos Enfermos - É usado no sacramento dos enfermos, conhecido erroneamente como "extrema-unção". Este óleo significa a força do Espírito de Deus para a provação da doença, para o fortalecimento da pessoa para enfrentar a dor e, inclusive a morte, se for vontade de Deus. Sua cor é roxa.

3. Ceia do Senhor (Lava-pés)

3.a - Um momento solene

No 13º capítulo do seu Evangelho, João fala sobre Jesus fraco, pequeno, que terminará sendo condenado e morto na cruz como um blasfemador, um fora da lei ou um criminoso. Até então, Jesus parecia tão forte, havia feito tantos milagres, curado doentes, ordenado que o mar e o vento se acalmassem e falado com autoridade para os escribas e os fariseus.

Ele parecia ser um grande profeta, quem sabe até o Messias. O Deus do poder estava com Ele. Mais e mais pessoas estavam começando a segui-lo, esperavam que Ele os libertasse dos romanos, resgatando assim, a dignidade do povo escolhido. O tempo da páscoa estava próximo. A multidão e os amigos dele pensavam: "Será que Ele vai se revelar na páscoa? Então, todos acreditarão nele."

Todos esperavam que algo extraordinário acontecesse. No entanto, em vez de fazer algo fantástico, Jesus tomou o caminho oposto, o da fraqueza, o da humilhação, deixando que os outros o vencessem. Este processo de humilhação teve início quando o Verbo se fez carne no seio da Virgem Maria, e continuou visível para os discípulos no lava-pés. Terminará com a agonia, paixão, crucifixão e morte.

O começo deste capítulo é muito solene: "Antes do dia da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado à hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado aos seus, que estavam no mundo, amou-os até ao extremo. Começada a ceia, tendo já o demônio posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a determinação de entregá-lo, sabendo que o Pai tinha posto em suas mãos todas as coisas, que saíra de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, depôs o manto, e apegando uma toalha cingiu-se com ela." (Jo 13,1-4).

Estas palavras são muito fortes: "Jesus, sabendo que o Pai tinha posto em suas mãos todas as coisas, que saíra de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, depôs o manto..." Então, Ele se ajoelhou diante de cada um de seus discípulos e começou a lavar-lhes os pés, em uma atitude de humilhação, fraqueza, súplica e submissão. De joelhos ninguém pode se mover com facilidade nem se defender. João Batista havia dito que ele não era digno nem de desatar as sandálias de Jesus (Mc 1,7). No entanto, Jesus se ajoelha em frente a cada um de seus discípulos.

Os primeiros cristãos devem ter cantado o mistério de Jesus, que se desfez da sua glória e se fez fraco, como encontramos nas palavras de S. Paulo aos Filipenses: ?O qual, existindo na forma (ou natureza) de Deus, não julgou que fosse uma rapina o seu ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido por condição como homem?. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de cruz! (Fl 2,6-8)

Nós estamos frente a um Deus que se torna pequeno e pobre que desce na escala da promoção humana, que escolhe o último, que assume o lugar de servo ou escravo. De acordo com a tradição judia, o escravo lavava os pés do senhor, e algumas vezes as esposas lavavam os pés do marido ou os filhos lavavam os do pai.

4. Desnudação do Altar

A desnudação do altar hoje, é um rito prático, com a finalidade de tirar da igreja todas as manifestações de alegria e de festa, como manifestação de um grande e respeitoso silêncio pela Paixão e Morte de Jesus.

A desnudação do altar (denudatio altaris), ou despojamento, como preferem alguns, é um rito antigo, já mencionado por Santo Isidoro no século VII, que fala da desnudação como um gesto que acontecia na quinta-feira santa.

O sacerdote, ajudado por dois ministros, remove as toalhas e os demais ornamentos e enfeites dos altares que ficam assim desnudados até a Vigília Pascal. No antigo rito, durante a desnudação recitava-se um trecho de um salmo. O gesto da desnudação do altar tinha o significado alegórico da nudez com a qual Cristo foi crucificado.

O rito atual é realizado de modo muito simples, após a missa. Feito em silêncio e sem a participação da assembleia. As orientações do Missal Romano pedem que sejam retiradas as toalhas do altar e, se possível, as cruzes da igreja.

Caso isso não seja possível, orienta o Missal que convém velar as cruzes e as imagens que não possam ser retiradas. (Cf. Missal Romano, p. 253, n. 19).

O significado é o silêncio respeitoso da Igreja que faz memória de Jesus que sofre a Paixão e morte, por isso, despoja-se de tudo o que possa manifestar festa.

Instituição da Eucaristia

Na véspera da festa da Páscoa, como Jesus sabia que havia chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Jo 12, 1).

Caía a noite sobre o mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de Deus para com a humanidade iam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. A Eucaristia foi instituída durante a noite, preparando antecipadamente a manhã da Ressurreição. Jesus ficou na Eucaristia por amor..., por ti.

Comecemos desde já a pedir ao Espírito Santo que nos prepare para podermos entender cada expressão e cada gesto de Jesus Cristo: porque queremos viver vida sobrenatural, porque o Senhor nos manifestou a sua vontade de se dar a cada um de nós em alimento da alma, e porque reconhecemos que só Ele tem palavras de vida eterna.

A fé leva-nos a confessar com Simão Pedro: Nós acreditamos e sabemos que tu és o Cristo, o Filho de Deus. E é essa mesma fé, fundida com a nossa devoção, que nesses momentos transcendentes nos incita a imitar a audácia de João, a aproximar-nos de Jesus e a reclinar a cabeça no peito do Mestre, que amava ardentemente os seus e, como acabamos de ouvir, iria amá-los até o fim.

Tenhamos em mente a experiência tão humana da despedida de duas pessoas que se amam. Desejariam permanecer sempre juntas, mas o dever - seja ele qual for - obriga As a afastar Se uma da outra. Não podem continuar sem se separarem, como gostariam. Nessas situações, o amor humano, que, por maior que seja, é sempre limitado, recorre a um símbolo: as pessoas que se despedem trocam lembranças entre si, possivelmente uma fotografia, com uma dedicatória tão ardente que é de admirar que o papel não se queime. Mas não conseguem muito mais, pois o poder das criaturas não vai tão longe quanto o seu querer.

Porém, o Senhor pode o que nós não podemos. Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não nos deixa um símbolo, mas a própria realidade: fica Ele mesmo. Irá para o Pai, mas permanecerá com os homens. Não nos deixará um simples presente que nos lembre a sua memória, uma imagem que se dilua com o tempo, como a fotografia que em breve se esvai, amarelece e perde sentido para os que não tenham sido protagonistas daquele momento amoroso. Sob as espécies do pão e do vinho encontra-se o próprio Cristo, realmente presente com seu Corpo, seu Sangue, sua Alma e sua Divindade.

5. Transladação do Santíssimo

A transladação do Santíssimo tem notícias históricas desde o século II. Mas o rito da adoração, na quinta-feira santa entrou na Igreja a partir do século XIII e foi difundindo-se até o século XV.

O que mais impulsionou foi a devoção ao Santíssimo Sacramento, a partir da segunda metade do século XIII, época em que o Papa Urbano IV decretou a festa de Corpus Christi para toda a Igreja (em 11 de agosto de 1264).

Foi, portanto, a prática devocional da eucaristia a principal responsável para a adoração ao Santíssimo na quinta-feira santa, após a missa da Ceia do Senhor.
O rito atual é muito simples e tem o seguinte significado: após a oração depois da comunhão, o Santíssimo é transladado solenemente em procissão para uma capela lateral ou para um dos altares laterais da igreja, devidamente preparado para receber o santíssimo.

Antes da transladação, o sacerdote prepara o turíbulo e incensa o Santíssimo três vezes. Depois, realiza-se uma pequena procissão dentro da igreja, que é precedida pelo cruciferário (pessoa que leva a cruz processional), velas e incenso.

Durante a procissão, canta-se o "Pange Língua", traduzido em português, "Vamos todos...", exceto as duas últimas estrofes, "tantum ergo" (tão sublime sacramento...) que são cantadas depois da chegada da procissão na capela lateral, onde ficará o Santíssimo.

Após a transladação, a comunidade é convidada a permanecer em adoração solene até um horário conveniente. O significado é de ação de graças pela eucaristia e pela salvação que celebramos nestes dias do Tríduo Pascal.

SEXTA-FEIRA SANTA

1. Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor - Único dia durante o ano em que não se celebra missa, apenas distribui-se a comunhão. Nesta celebração somos convidados a compreender e a viver mais profundamente o mistério da cruz: o sofrimento e a morte assumidos por Cristo foram em vista da nossa salvação. A Paixão segundo o Evangelho de João apresenta a cruz como glorificação de Jesus, ela é sinal de salvação e de vitória (cf. Jo 3, 14).

A Cruz é símbolo de Cristo e da vida nova que ele nos oferece, por isso, ao reverenciarmos a cruz nós estamos adorando o próprio Redentor. A Oração Universal rezada nesta celebração nos faz lembrar que Cristo veio para que todos, sem distinção, tivessem vida em abundância.

SUGESTÕES PARA A CELEBRAÇÃO E A VIVÊNCIA DA LITURGIA

a) Criar clima de silêncio; o altar deve estar despojado, ou seja, sem cruz, sem toalha, sem candelabros, etc.; o Evangelho pode ser dialogado (assim como no domingo de Ramos ao ler a Paixão não se faz à saudação - O Senhor esteja convosco); a cruz (descoberta) pode entrar em procissão, trazida pelo presidente acompanhado com velas acesas enquanto canta três vezes "Eis o lenho da cruz..." - depois todos vão fazer a "adoração"; o modo comum é aquele em que o presidente coloca-se no altar (ou na frente do altar) com a cruz coberta (pano vermelho ou roxo) e aos poucos vai descobrindo-a (primeiro a parte de cima, depois o lado direito e por fim toda) enquanto canta "Eis o lenho da cruz..."; no momento da Adoração deve-se cantar algo apropriado, ou seja, cantos que lembrem o sacrifício de Cristo na cruz.

Lembretes: preparar antes uma toalha e o corporal para o momento da comunhão; esta celebração geralmente é feita às três da tarde (pode ser realizada mais tarde, porém não depois das nove da noite); pode-se organizar uma via-sacra ou caminhada silenciosa; convidar a todos para que depois da oração final retirar-se em silêncio. A cor é vermelha. Neste dia não se celebra a Eucaristia.

b) Guarda-se o jejum e a abstinência.

c) Só se celebram nestes dias os sacramentos da Unção dos enfermos e da Confissão.

d) Prepara-se tapete e almofadas para os sacerdotes (presidente e concelebrantes).

e) Os sacerdotes prostam-se, os demais ministros, coroinhas e povo ajoelham-se.

f) Prepara-se uma cruz que deve ser esplendorosa coberta com um véu vermelho e dois castiçais com velas (na credencia no fundo igreja).

g) Durante a adoração e o beijo devocional, canta-se hinos apropriados e salmos.

h) Depois da comunhão proceda-se à desnudação do altar, deixando a mesma cruz no centro do altar, com quatro castiçais.

i) Pode-se fazer até a hora da procissão do Senhor Morto a via-sacra.

j) Tendo a procissão do Senhor Morto, pode-se deixar o esquife a veneração pública, juntamente com a imagem de Nossa Senhora das Dores. Na procissão recomenda-se silêncio e orações e também o uso das matracas, bem como um carro de som com canto gregoriano, ou cantos penitenciais.

Na credencia:

a) Missal
b) Lecionário
c) Toalhas para o altar
d) Jogos completos de alfaias
e) Purificatório
f) Velas para o altar.
g) Âmbulas

2. PARALITURGIAS E PIEDADE POPULAR

Sexta-feira Santa: Sermão das 7 Palavras, descimento do Senhor Morto da cruz e procissão do Senhor morto (Em alguns lugares o povo tem a tradição de dar um beijo na imagem do Senhor morto.) É mais uma oportunidade para evangelizar, fazendo com que a devoção seja mais significativa, através dos vários grupos, movimentos, pastorais, etc. Destacar e dar um significado ao beijo das crianças, dos jovens, dos casais, dos homens e das mulheres, dos idosos, dos doentes, etc. Uma pequena paraliturgia pode ser preparada para este momento, com cânticos penitenciais e fazendo uma ligação com a Campanha da Fraternidade 2010.

3. MOMENTOS FORTES:

Elementos da Celebração

O elemento fundamental e universal da liturgia desse dia é a proclamação da Palavra, uma vez que a Igreja, por antiquíssima tradição, não celebra hoje a eucaristia. A celebração compõe-se de três partes:

a) A liturgia da Palavra

O evangelho, conforme uma longa tradição é o da Paixão segundo S. João (Jo 18,1-19.42). A Igreja reserva para este dia precisamente pela perspectiva com que o apóstolo apresenta a vida e a morte de Jesus.

A primeira leitura é o texto do profeta Isaías que narra a passagem do servo sofredor ( Is 52,13-53,12). É um trecho do quarto cântico do Servo de Javé. Com esta leitura é oferecida a imagem do Cristo sofredor, conduzido ao matadouro como uma ovelha muda, carregando todos os nossos pecados, causa da nossa justificação.

O Salmo responsorial é tirado do Sl 30, cujo versículo 6 Jesus pronunciou na cruz (Lc 23,46) "... Sou o opróbrio dos meus inimigos... Confio em ti, Senhor... Fazes brilhar tua face sobre teu servo...? A liturgia atribui a Jesus o Salmo inteiro, encontrando nele a descrição de sua paixão e de seu pleno abandono nas mãos do Pai.

A Segunda leitura, é proclamado um trecho da carta aos Hebreus ( 4,14-16;5,7-9). Ela nos mostra Cristo obediente que se torna causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.

A.1) Oração Universal

Depois da leitura da Sagrada Escritura e da homilia, a liturgia da Palavra termina com as orações solenes (= Oração universal) segundo o esquema da antiga prece litúrgica: convite, intenções, prece em silêncio, "coleta" (= oração das preces por parte do presidente da assembleia).

São 10 súplicas: pela Igreja, pelo papa, pelas ordens sagradas e por todos os fiéis, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos não cristãos, pelos que não creem em Deus, pelos governantes e pelos atribulados...

Podemos assinalar a teologia que emerge do lugar que essas orações solenes ocupam depois da proclamação da palavra de Deus. A assembleia, iluminada pela palavra, abre-se à caridade orando pelas necessidades atuais, começando pela Igreja e assim por diante.

b) A adoração da Santa Cruz

Não se oferece o sacrifício eucarístico na Sexta-feira santa. Em lugar da eucaristia fazem-se a apresentação e a adoração da cruz. A atenção da Igreja se fixa no calvário. É um rito que nasce como consequência da proclamação da paixão de Jesus. Há nesta veneração o antigo costume de mostrar aos fiéis a cruz, descobrindo-a progressivamente enquanto se canta, três vezes, o Ecce lignum crucis (eis o lenho da cruz), ao que o povo responde: "Vinde, adoremos!" Para a adoração da cruz, aproximam-se os cristãos que exprimem sua adoração pela genuflexão, pelo beijo ou por outros sinais adequados. Ao terminar a adoração, põe-se a cruz sobre o altar, que é símbolo do sacrifício e sacerdócio de Jesus Cristo. A assembleia contempla seu Senhor (Jo 19,37).

C. Liturgia da comunhão

Terminada a liturgia da adoração da cruz, cobre-se o altar com uma toalha e traz-se o Santíssimo Sacramento. O presidente da assembleia adora-o, fazendo uma genuflexão. Pronuncia-se o Pai Nosso e o embolismo seguido da aclamação do povo, como nas missas. Em seguida dá-se a comunhão à comunidade.
Podemos dizer que o significado desta comunhão fundamenta-se em São Paulo, que alude a uma relação profunda e misteriosa entre a comunhão sacramental e a paixão e morte de Cristo. Na 1Cor 11,26 ele lembra: "Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha." A Eucaristia também é participação da morte de Cristo (1Cor10,15-16).

A solene ação litúrgica da paixão e morte do Senhor termina com a oração pós comunhão, que é uma ação de graças pela nova vida que o Pai nos comunicou pela "morte e ressurreição" de seu Filho, e logo em seguida, a oração sobre o povo que menciona junto a morte e a ressurreição, pedindo que "venha o vosso perdão, seja dado o vosso consolo; cresça a fé verdadeira e a redenção se confirme", e o povo se retira em silêncio após esta bênção.

4 - O jejum pascal

Nesse dia observa-se o jejum chamado "pascal", porque nos faz reviver a passagem ("transitus") da paixão à alegria da ressurreição. É um sinal exterior da participação interior do sacrifício de Jesus (2Cor 4,11), e também como sinal de que chegamos aos dias em que nos tiraram o Esposo (cf. Lc 5,33-35). A tradição desse jejum é antiquíssima, atestada por Tertuliano e Hipólito que, em Roma, a celebração anual da Páscoa começava com o jejum da Sexta-feira santa e prolongava-se durante todo o Sábado, até a celebração da Vigília na noite entre o Sábado e o Domingo.

A Sacrossanctum Concilium, a constituição sobre a liturgia, prescreve: "Sagrado seja o jejum pascal, a se observar na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor e, se for oportuno, a se estender também ao Sábado Santo, a fim de que se chegue com o coração livre e aberto às alegrias do Domingo da Ressurreição?” (SC 110). O jejum pascal não é um elemento secundário, mas parte integrante da celebração do tríduo pascal.

SÁBADO SANTO

1. Inicia-se na noite do Sábado Santo em memória da noite santa da ressurreição gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo. É a chamada "A mãe de todas as santas vigílias", porque a Igreja mantém-se de vigília à espera da vitória do Senhor sobre a morte. Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a benção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a liturgia da Palavra, que é uma série de leituras sobre a história da Salvação; a renovação das promessas do Batismo e, por fim, a liturgia Eucarística.

SUGESTÕES PARA A CELEBRAÇÃO E A VIVÊNCIA DA LITURGIA

a) Pode continuar exposta durante o dia para a veneração dos fiéis, uma imagem do Cristo crucificado, ou morto bem como a imagem da Santíssima Virgem das Dores.

b) Pedir com antecedência que os fiéis tragam velas ou a paróquia oferece.
c) Evite-se com todo o cuidado que os salmos da vigília sejam substituídos por canções populares.

d) No canto do "Glória", tocam-se os sinos, e também se podem preparar fogos de artifício.

e) O círio Pascal é colocado no presbitério, ao lado do ambão. O pedestal onde ficará o círio poderá ser decorado com flores.

f) O tempo pascal vai até o dia de Pentecostes, nesse dia sairá solenemente do presbitério o Círio Pascal, o qual ficou todo esse tempo no presbitério. A partir desse dia só será usado, nas cerimônias do batismo e Crisma. (O Sacerdote poderá usar o Rito para apagar o Círio Pascal).

O que preparar:

Para o fogo:

a) Uma fogueira podendo ser na frente da Igreja e que seja bem expressiva, quer dizer, que sua luz possa clarear mesmo.

b) O Círio Pascal (que seja novo, nunca se deve reaproveitar o Círio do ano que passou).

c) Cinco cravos, com grãos de incenso colocados nos mesmos.

d) Um estilete, para fazer a incisão no círio.

e) Uma vela grande para o celebrante acender o círio com o fogo novo.

f) Lanterna para iluminar os textos que o celebrante há de recitar.

g) Pegador de macarrão, para o turiferário tirar as brasas acesas do fogo novo e colocá-las no turíbulo.

h) Candelabro para o círio pascal, posto junto do ambão.

i) Preparar um microfone e um bom som, para o celebrante e o comentarista, onde começará a cerimônia, com a bênção do fogo novo.

Para a liturgia batismal (se houver):

a) Recipiente com água;
b) Quando se administram os sacramentos da Iniciação Cristã: óleo dos catecúmenos, Santo Crisma, vela batismal, Ritual Romano.
c) Apagam-se as luzes da Igreja.
d) Mesmo não havendo batismo deve-se preparar um recipiente (sugiro talhas de barro) com água para a aspersão.
e) Caldeirinha (vazia) com hissope (ramos) para a hora da aspersão.

Benção do Fogo e Preparação do Círio:

a) O Celebrante vai com paramentos brancos, à sua frente vai um dos acólitos ou Ministro com o Círio Pascal.
b) Não se leva a cruz processional nem velas acesas.
c) O turiferário leva o turíbulo sem brasas com a naveta.

Procissão:

a) Depois de acender o Círio, o celebrante deita o incenso no turíbulo, se houver diácono ou padre concelebrante este levará o Círio Pascal, na falta destes o Celebrante principal o levará.

b) Organiza-se a procissão que entra na Igreja. À frente de quem leva o Círio (Padre ou Diácono), vai o turíbulo fumegando. Seguem-se outros ministros, coroinhas e todo o povo com as velas apagadas na mão.

c) À porta da Igreja, o celebrante (ou diácono) erguendo o Círio canta: "Eis a luz de Cristo!" e todos respondem: Graças a Deus!

d) Depois, o celebrante principal (ou diácono) avança até ao meio da Igreja, pára e, erguendo o Círio, canta a Segunda vez: "Eis à luz de Cristo!" e todos respondem: Graças a Deus! Todos acendem as suas velas. Passando o fogo de uns para os outros.

e) Ao chegar diante do altar, o celebrante (ou diácono) pára, e, voltado para o povo, canta pela terceira vez: "Eis a luz de Cristo!" e todos respondem: Graças a Deus! Em seguida coloca o Círio no candelabro preparado junto do ambão.

f) Acendem-se todas as luzes da Igreja.

Precônio Pascal:

a) O celebrante coloca incenso do turíbulo e benze-o como para o Evangelho na Missa.

b) Havendo diácono ou padre concelebrante este fará a proclamação da Páscoa.

c) Enquanto isso da cadeira o celebrante principal segura uma vela acesa na mão, de pé, para ouvir o precônio pascal.

d) Todos se conservam igualmente de pé com as velas acesas na mão.

e) Terminado o precônio pascal, todos apagam as velas e sentam-se.

f) Após a última leitura do Antigo Testamento, com o seu responsório e respectiva oração, acendem-se as velas do altar e é entoado solenemente o hino: "Glória a Deus nas alturas" neste momento tocam-se os sinos, e os demais instrumentos que até então estavam silenciosos. Neste momento, também o altar é decorado com arranjos de flores, que deverão estar preparados na sacristia.

g) Na proclamação do Evangelho, não levam as velas, somente o turíbulo fumegando.

h) Após o Evangelho, faz-se a homilia; proceda-se a liturgia batismal, se houver.

i) Havendo batismo, sua liturgia efetua-se junto a pia batismal ou mesmo no presbitério. Onde por antiga tradição, o batistério estiver localizado fora da Igreja, é lá que se tem de ir para a liturgia batismal.

j) Primeiro faz-se a chamada dos catecúmenos, que são apresentados pelos padrinhos ou se forem crianças, levados pelos pais e padrinhos.

k) A liturgia batismal acontecendo no presbitério, após a monição do celebrante principal, segue-se a ladainha cantada, à qual o povo responde, de pé, por ser tempo pascal.

l) Terminada a ladainha, o Celebrante principal, de pé, junto da fonte batismal, com as mãos estendidas, benze a água. Pode-se introduzir na mesma água o círio pascal, uma ou três vezes, como vem indicado no missal.

m) Terminada a benção da água e dita a aclamação pelo povo, o celebrante principal, interroga os “eleitos” adultos, para que façam à renúncia, segundo o Rito da Iniciação Cristã dos adultos, e os pais ou padrinhos das crianças, segundo o Rito para o batismo de criança.

n) Faz-se agora a unção com o óleo dos catecúmenos.

o) O celebrante interroga os eleitos a cerca de sua fé. Tratando-se de crianças, pede-se a profissão de fé dos pais e padrinhos ao mesmo tempo.

p) Após o interrogatório, o celebrante batiza os eleitos.

q) Terminado o batismo, acontece à unção com o óleo da crisma.

r) Após a unção o celebrante, acende a vela no Círio Pascal.

s) Terminada a oblação batismal e os atos complementares e efetua-se, o regresso aos bancos, em procissão e com as velas acessas. Durante o retorno, canta-se um canto batismal.

t) Sendo batizados adultos, é lhes administrado também o sacramento da confirmação.

Renovação das Promessas do Batismo:

a) Concluído o rito do batismo e da confirmação, ou, se não tiver havido nenhum nem outro, após a benção da água, o celebrante principal estando de pé voltado para o povo, recebe a renovação das promessas da fé batismal dos fiéis, que se conservam de pé com as velas acessas na mão.

b) Terminada a renovação das promessas do batismo, o celebrante principal ajudado pelos padres concelebrantes ou diáconos, se houver, asperge o povo com água benta, enquanto isso se canta um canto de sentido batismal.

c) Por fim, a missa decorre como de costume, e com solenidade.

d) Em algumas paróquias tem-se o costume de fazer a procissão do Senhor Ressuscitado e do triunfo de Nossa Senhora. Portanto, a Imagem de Jesus Ressuscitado, deve estar em um andor devidamente ornado para a procissão ou carreata após o término da Vigília pascal.

2. REFLEXÃO BÍBLICO-PASTORAIS

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: "O meu Senhor está no meio de nós". E Cristo respondeu a Adão: "E com teu espírito". E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: 'Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: 'Vinde para a luz!'; e aos entorpecidos: 'Levantai-vos!'

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só é indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci a terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim no paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face às bofetadas que levei para restaurar, conforme a minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso. Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o meio dos céus preparado para ti desde toda a eternidade". (De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo - Liturgia das Horas)

DOMINGO DE PÁSCOA

Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor

1. Estamos em festa, portanto no Domingo da Ressurreição nenhum cristão pode ficar mais triste nem se sentir desamparado, pois algo de glorioso aconteceu: Cristo ressuscitou! Aleluia! Cabe-nos cantar jubilosos o grande sonho de Deus: que um dia ressuscitemos todos com o Cristo Senhor!

2. Todos os cristãos celebram neste dia a Ressurreição do Senhor.

" Passado o sábado, Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para ir embalsamá-lo.

De manhã, ao nascer do sol, muito cedo, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro (...) Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas. Ele disse-lhes: «Não vos assusteis!

Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou; não está aqui»" Mc 16

SUGESTÕES PARA A CELEBRAÇÃO E A VIVÊNCIA DA LITURGIA

a) Hoje são proibidas todas as outras celebrações, e todas as Missas de defuntos.

b) Proibidas as Missas em oratórios privados.

c) A Missa do dia de Páscoa deve ser celebrada com grande solenidade. Em vez do ato penitencial, deve fazer-se a aspersão com água benzida (na Vigília), para recordar o batismo.
d) O círio pascal, a colocar junto do ambão ou do altar, deve acender-se nas celebrações litúrgicas mais solenes deste tempo, ou seja, na Missa, nas Laudes e nas Vésperas, até ao Domingo de Pentecostes.

Depois do Domingo de Pentecostes, o círio pascal deve manter-se em lugar de honra no batistério, para que, na celebração do batismo, nele se acendam as velas dos batizados. Nas exéquias, deve colocar-se o círio pascal junto do túmulo, para lembrar que a morte, para o cristão, é a sua verdadeira páscoa. Fora do Tempo da Páscoa o círio pascal não deve utilizar-se nem acender-se no presbitério.

e) Onde estiver em uso, conserve-se com toda a diligência ou, se for possível, introduza-se o
costume de celebrar, no dia de Páscoa, as Vésperas batismais. Ao celebrá-las, enquanto se cantam os salmos vai-se em procissão até à fonte batismal.

f) Com as Vésperas do Domingo da Ressurreição encerra-se o Tríduo Pascal.

REFLEXÕES BÍBLICO-PASTORAIS

1. Nexo entre as leituras

A fé na ressurreição do Senhor é o tema fundamental deste dia. "Esse é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade", canta o salmo 117,24. É o domingo por excelência. É o dia em que Cristo expressou o seu poder soberano vencendo a morte e que, consequentemente, é motivo de alegria para todos os cristãos. Pedro, no seu discurso, proclama que Deus o mandou pregar ao povo e testemunhar a ressurreição de Cristo.

Os apóstolos são as testemunhas que viram o ressuscitado, que comeram e beberam com Ele. Eles receberam a missão de pregar que Cristo ressuscitado tinha sido constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos (primeira leitura). São Paulo ressalta de modo especial que a ressurreição do Senhor instaura uma nova vida no batizado. O cristão é aquele que morreu e ressuscitou com Cristo para uma vida nova. A fé na ressurreição é a rocha firme para São Paulo, o lugar onde se firma todo o seu dinamismo apostólico (segunda leitura). No evangelho, Pedro e João entram no sepulcro, "vêem e crêem".

O sepulcro vazio é o início de uma meditação que os leva à fé em Cristo ressuscitado.

2. Mensagem Doutrinal

a. Cristo ressuscitou: "A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo", nos diz o Catecismo da Igreja Católica (nº. 638). A comunidade cristã dos primeiros tempos viveu esta verdade como o centro da sua existência. Todas as suas certezas -sua caridade, visível para todos, sua serenidade diante do martírio, seu amor pela Eucaristia- tudo fazia referência ao mistério pascal de Cristo, a sua morte e ressurreição. "Se Cristo não ressuscitou, vã é nossa fé", argumenta São Paulo.

Da mesma forma como as primeiras comunidades cristãs viviam da fé na ressurreição do Senhor, todos os cristãos foram chamados a viver mais profundamente o mistério da ressurreição. "Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto" (Col 3, 1). Para o fiel, a ressurreição é um dado culminante da sua fé em Cristo; através da ressurreição, todas as promessas do Antigo Testamento se confirmam. O Senhor foi fiel ao seu amor, sem limites, com superabundância. Através da ressurreição se confirma à divindade do Senhor: verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

A ressurreição nos ensina a verdade íntima sobre Deus (Deus é amor) e sobre a salvação humana. No mistério pascal, Cristo leva a revelação de Deus à sua plenitude. Auto-revelação definitiva de Deus. Por isso, a tese do caráter incompleto, limitado e imperfeito da revelação em Cristo, que deveria ser completada com a revelação de outras religiões, é contrária à fé da Igreja Católica (cf. Domine Iesus, nº. 6).

b. As mulheres são as primeiras a anunciar a ressurreição: "Por que procurais Aquele que vive entre os mortos? Ele não está aqui; ressuscitou" (Lc 24, 5-6).

Estas palavras, daqueles "dois personagens com vestes resplandecentes", aumentam a confiança das mulheres que foram até o sepulcro. Elas tinham vivido os trágicos acontecimentos que terminaram com a crucifixão de Cristo no Calvário; tinham experimentado a tristeza e a desorientação. Mas não abandonaram o Senhor no momento da prova. Escondidas, vão até o lugar onde Jesus tinha sido enterrado para vê-lo de novo e abraçá-lo pela última vez. O amor as impulsiona; aquele mesmo amor que as fez segui-lo pelos caminhos da Galiléia e da Judéia, até o Calvário. Mulheres bem-aventuradas! Elas ainda não sabiam que aquela era a aurora do dia mais importante da história. Não podiam saber, justamente elas, que seriam testemunhas da ressurreição de Jesus (cf. João Paulo II, Homilia da Vigília Pascal, 1988).

O evangelho nos conta que as mulheres foram as primeiras mensageiras da ressurreição do Senhor, inclusive antes dos apóstolos. A mulher tem uma particular sensibilidade religiosa e humana. Compreende de maneira mais rápida e intuitiva as verdades religiosas e as verdades humanas. Tendem espontaneamente ao valor religioso, à proteção da vida humana, ao cuidado dos mais fracos. Elas tiveram a missão de anunciar o triunfo definitivo de Cristo sobre a morte. A mulher experimenta, como mostra o Evangelho, uma particular fortaleza de espírito, porque compreende que tem a missão de cuidar, de algum modo, do bem dos homens.

No nosso mundo pós-moderno, fortemente relativista e sem fé, a mulher cristã é chamada a ser de novo a mensageira privilegiada das verdades cristãs. No lar, ela irradiará o amor, a compreensão, e educará a família nos valores sobrenaturais. Podemos dizer que depende da mulher, em grande medida, a fé do lar, porque ela a transmite não só com as palavras, mas com a vida, as atitudes, a capacidade de sofrimento, de perdão. Ela, no seio da família, no seio de uma comunidade religiosa, no seio da sociedade, na vida pública, nos hospitais, nas escolas, é quem faz presentes os valores transcendentes e, o que é mais importante, é quem revela Deus como amor, quem mostra Cristo ressuscitado e conduz as pessoas até Ele. Ela é a mestra da fé. Ela é o sol da família e da sociedade.

c. A esperança cristã: A solenidade da ressurreição do Senhor abre uma nova esperança para o homem. O poder de morte do pecado foi vencido pela força do amor, pela ressurreição do Senhor. Agora o homem pode esperar, apesar de toda aparência de fracasso. Agora o homem pode olhar com confiança para o futuro, não obstante os múltiplos perigos que o cercam nesta vida. Agora o homem pode empreender o caminho da vida lutando pela verdade com amor, com coragem, sabendo que não será defraudado.

Quem estiver se sentindo presa do desânimo, venha contemplar o mistério da redenção; quem estiver se sentindo desesperado diante do mal, não deserte: Cristo ressuscitou! Quem estiver preso pelo desespero, pela fraqueza física, psíquica ou moral, que perceba que a morte foi vencida e que o homem descobriu o rosto amoroso de Deus. Como é grande o amor que Deus teve por nós, a ponto de nos enviar seu Filho para morrer e ressuscitar, nos abrindo as portas do paraíso! Que todos os corações readquiram hoje a sua confiança: Cristo ressuscitou!

Feliz Páscoa! Feliz Ressurreição!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

Fonte:http://www.portalcatolico.org.br/main.asp?View={AF31A9A1-7C2D-4C10-A3CB-6CEC57B1D672} (27/03/2010).

Bento XVI: São Boaventura de Bagnoregio (3)

PAPA BENTO XVI

AUDIÊNCIA GERAL

Praça de São Pedro
Quarta-feira, 17 de Março de 2010

[Vídeo]

São Boaventura (3)

Queridos irmãos e irmãs

Esta manhã, continuando a reflexão de quarta-feira passada, gostaria de aprofundar convosco outros aspectos da doutrina de São Boaventura de Bagnoregio. Ele é um teólogo eminente, que merece ser posto ao lado de outro grandíssimo pensador, seu contemporâneo, São Tomás de Aquino. Ambos perscrutaram os mistérios da Revelação, valorizando os recursos da razão humana, naquele diálogo fecundo entre fé e razão que caracteriza a Idade Média cristã, fazendo dela uma época de grande vivacidade intelectual, e também de fé e de renovação eclesial, muitas vezes não suficientemente evidenciada. Eles são irmanados por outras analogias: tanto Boaventura, franciscano, como Tomás, dominicano, pertenciam às Ordens Mendicantes que, com o seu vigor espiritual, como recordei em catequeses precedentes, renovaram no século XIII a Igreja inteira e atraíram muitos seguidores. Ambos serviram a Igreja com diligência, com paixão e com amor, a ponto de terem sido convidados a participar no Concílio Ecuménico de Lião em 1274, o mesmo ano em que vieram a falecer: Tomás, enquanto ia a Lião, Boaventura durante a realização do mesmo Concílio. Também na Praça de São Pedro as imagens dos dois Santos são paralelas, colocadas precisamente no início da Colunata, a partir da fachada da Basílica Vaticana: uma na Ala da esquerda, e a outra na Ala da direita. Não obstante todos estes aspectos, podemos ver nos dois grandes Santos duas abordagens diversas da pesquisa filosófica e teológica, que mostram a originalidade e a profundidade de pensamento de um e do outro. Gostaria de mencionar algumas destas diferenças.

Uma primeira diferença diz respeito ao conceito de teologia. Ambos os doutores perguntam se a teologia é uma ciência prática ou uma ciência teórica, especulativa. São Tomás reflecte sobre duas possíveis respostas contrastantes. A primeira diz: a teologia é reflexão sobre a fé, e a finalidade da fé é que homem se torne bom, viva segundo a vontade de Deus. Portanto, a finalidade da teologia deveria ser a de guiar pelo caminho recto, bom; por conseguinte, no fundo, ela é uma ciência prática. A outra posição diz: a teologia procura conhecer Deus. Nós somos obra de Deus; Deus está acima do nosso agir. Deus realiza em nós o agir justo. Por conseguinte, trata-se substancialmente não do nosso fazer, mas de conhecer Deus, não do nosso agir. A conclusão de São Tomás é: a teologia implica ambos os aspectos: é teórica, procura conhecer Deus cada vez mais, e é prática: procura orientar a nossa vida para o bem. Mas há um primado do conhecimento: sobretudo, temos que conhecer Deus, depois vem o agir segundo Deus (cf. Summa Theologiae, ia, q. 1, art. 4). Este primado do conhecimento em relação à prática é significativo para a orientação fundamental de São Tomás.

A resposta de São Boaventura é muito semelhante, mas os matizes são diferentes. São Boaventura conhece os mesmos argumentos em ambas as direcções, como São Tomás, mas para responder à pergunta se a teologia é uma ciência prática ou teórica, São Boaventura faz uma distinção tríplice portanto, amplia a alternativa entre teórico (primado do conhecimento) e prático (primado da prática), acrescentando uma terceira atitude, que chama "sapiencial" e afirmando que a sabedoria abrange ambos os aspectos. E depois, continua: a sabedoria procura a contemplação (como a mais elevada forma do conhecimento) e tem como intenção "ut boni fiamus" que nos tornemos bons, sobretudo isto: tornar-nos bons (cf. Breviloquium, Prologus, 5). Depois, acrescenta: "A fé está no intelecto, de tal modo que provoca o afecto. Por exemplo: saber que Cristo morreu "por nós" não permanece conhecimento, mas torna-se necessariamente afecto, amor" (Proemium in I Sent., q. 3).

A sua defesa da teologia, ou seja, da reflexão racional e metódica da fé, move-se na mesma linha. São Boaventura enumera alguns argumentos contra a prática da teologia, talvez difundidos também entre alguns dos frades franciscanos e presentes inclusive no nosso tempo: a razão esvaziaria a fé, seria uma atitude violenta em relação à palavra de Deus, temos que ouvir e não analisar a palavra de Deus (cf. Carta de São Francisco de Assis a Santo António de Pádua). A estes argumentos contra a teologia, que demonstram os perigos existentes na própria teologia, o Santo responde: é verdade que existe um modo arrogante de fazer teologia, uma soberba da razão, que se põe acima da palavra de Deus. Mas a verdadeira teologia, o trabalho racional da teologia verdadeira e boa tem outra origem, não a soberba da razão. Quem ama quer conhecer cada vez melhor e sempre mais o amado; a verdadeira teologia não empenha a razão e sua busca motivada pela soberba, "sed propter amorem eius cui assentit" "motivada pelo amor daquele, a quem deu o seu consentimento" (Proemium in I Sent., q. 2), e que conhecer melhor o amado: esta é a intenção fundamental da teologia. Portanto, no final para São Boaventura é determinante o primado do amor.

Por conseguinte, São Tomás e São Boaventura definem de modo diferente o destino último do homem, a sua plena felicidade: para São Tomás o fim supremo ao qual se dirige nosso desejo é: ver Deus. Neste simples gesto de ver Deus todos os problemas encontram solução: estamos felizes, nada mais é necessário.

Para São Boaventura, o destino último do homem é outro: amar Deus, o encontrar-se e o unir-se do seu e do nosso amor. Esta é para ele a definição mais adequada da nossa felicidade.

Nesta linha, poderíamos dizer também que para São Tomás a categoria mais elevada é a verdade, enquanto para São Boaventura é o bem. Seria errado ver nestas duas respostas uma contradição. Para ambos, a verdade é também o bem, e o bem é também a verdade; ver Deus é amar, e amar é ver. Portanto, trata-se de aspectos diferentes de uma visão fundamentalmente comum. Ambos os aspectos formaram diferentes tradições e diversas espiritualidades, e assim mostraram a fecundidade da fé, uma só na diversidade das suas expressões.

Voltemos a São Boaventura. É evidente que o aspecto específico da sua teologia, do qual só dei um exemplo, se explica a partir do carisma franciscano: o Pobrezinho de Assis, para além dos debates intelectuais do seu tempo, tinha mostrado com toda a sua vida o primado do amor; era um ícone vivo e apaixonado de Cristo e assim, na sua época, tornou presente a figura do Senhor não convenceu os seus contemporâneos com as palavras, mas com a sua vida. Em todas as obras de São Boaventura, precisamente também as obras científicas, escolares, vê-se e encontra-se esta inspiração franciscana; ou seja, observa-se que ele pensa a partir do encontro com o Pobrezinho de Assis. No entanto, para compreender a elaboração concreta do tema "primado do amor", temos que ter presente mais uma fonte: os escritos do chamado Pseudodionísio, um teólogo sírio do século VI, que se escondeu sob o pseudónimo de Dionísio, o Areopagita, referindo-se com este nome a uma figura dos Actos dos Apóstolos (cf. 17, 34). Este teólogo tinha criado uma teologia litúrgica e uma teologia mística, e falara amplamente das diversas ordens dos anjos. Os seus escritos foram traduzidos em latim no século IX; na época de São Boaventura estamos no século XIII surgia uma nova tradição, que despertou o interesse do Santo e dos outros teólogos do seu século. Duas coisas chamavam a atenção de São Boaventura de modo particular:

1. O Pseudodionísio fala de nove ordens dos anjos, cujos nomes tinha encontrado na Escritura e depois disposto à sua maneira, desde os anjos simples até aos serafins. São Boaventura interpreta estas ordens dos anjos como degraus na aproximação da criatura a Deus. Assim eles podem representar o caminho humano, a elevação rumo à comunhão com Deus. Para São Boaventura não há qualquer dúvida: São Francisco de Assis pertencia à ordem seráfica, à ordem suprema, ao coro dos serafins, ou seja: era puro fogo de amor. E assim deveriam ser os franciscanos. Mas São Boaventura sabia bem que este último grau de aproximação a Deus não pode ser inserido num ordenamento jurídico, mas é sempre um dom particular de Deus. Por isso, a estrutura da Ordem franciscana é mais modesta, mais realista, porém deve ajudar os membros a aproximar-se cada vez mais de uma existência seráfica de amor puro. Na quarta-feira passada, falei sobre esta síntese entre realismo sóbrio e radicalidade evangélica no pensamento e no agir de São Boaventura.

2. Contudo, São Boaventura encontrou nos escritos do Pseudodionísio outro elemento, para ele ainda mais importante. Enquanto para Santo Agostinho o intellectus, o ver com a razão e o coração, é a última categoria do conhecimento, o Pseudodionísio dá mais um passo: na escalada rumo a Deus pode-se chegar a um ponto em que a razão já não vê. Mas na noite do intelecto, o amor ainda vê vê aquilo que permanece inacessível à razão. O amor estende-se além da razão, vê mais, entra mais profundamente no mistério de Deus. São Boaventura sentia-a fascinado por esta visão, que se encontrava com a sua espiritualidade franciscana. Precisamente na noite obscura da Cruz aparece toda a grandeza do amor divino; onde a razão já não vê, o amor vê. As palavras conclusivas do seu "Itinerário da mente em Deus", a uma leitura superficial podem parecer como expressão exagerada de uma devoção sem conteúdo; por outro lado, lidas à luz da teologia da Cruz de São Boaventura, elas são uma expressão límpida e realista da espiritualidade franciscana: "Se agora desejas saber como isto acontece (ou seja, a escalada para Deus), interroga a graça, não a doutrina; o desejo, não o intelecto; o gemido da oração, não o estudo da letra; ...não a luz, mas o fogo, que tudo inflama e transporta em Deus" (VII, 6). Tudo isto não é anti-intelectual e não é anti-racional: supõe o caminho da razão, mas transcende-o no amor de Cristo crucificado. Com esta transformação da mística do Pseudodionísio, São Boaventura coloca-se nos primórdios de uma corrente mística, que elevou e purificou em grande medida a mente humana: é um ápice na história do espírito humano.

Esta teologia da Cruz, nascida do encontro entre a teologia do Pseudodionísio e a espiritualidade franciscana, não nos deve fazer esquecer que São Boaventura compartilha com São Francisco de Assis também o amor pela criação, a alegria pela beleza da criação de Deus. Cito nesta altura uma frase do primeiro capítulo do "Itinerário": "Quem... não vê os inúmeros esplendores das criaturas, é cego; aquele que não desperta com tantas vezes, é surdo; quem não louva a Deus por todas estas maravilhas, é mudo; aquele que de tantos sinais não se eleva ao primeiro princípio, é estulto" (I, 15). Toda a criação fala em voz alta de Deus, do Deus bom e belo, do seu amor.

Portanto, toda a nossa vida é para São Boaventura um "itinerário", uma peregrinação uma escalada rumo a Deus. Mas só com as nossas forças, não podemos elevar-nos à altura de Deus. O próprio Deus deve ajudar-nos, deve "puxar-nos" para o alto. Por isso, é necessária a oração. A oração como diz o Santo é a mãe e a origem da elevação "sursum actio", acção que nos leva para o alto diz Boaventura. Por isso, concluo com a prece, com a qual ele começa o seu "Itinerário": "Portanto, oremos e digamos ao nosso Senhor Deus: "Conduza-me, Senhor, pela tua via, e eu caminharei na tua verdade. Alegre-se o meu coração no temor do teu nome"" (I, 1).


Saudação

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, desejando que esta visita aos lugares santificados pela pregação e martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo vos ajude a reafirmar sempre mais a fé que opera pela caridade. Que Deus abençoe a vós e às vossas famílias.

Extraído de http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20100317_po.html acesso em 26 mar. 2010.

Ilustração: Witraż z klasztoru franciszkanów w Waszyngtonie DC w Stanach Zjednoczonych, Św. Bonawentura, doktor Kościoła, franciszkanin / foto de Abraham S. 2007. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Swiety_Bonaventura_OFM.jpg acesso em 26 mar. 2010.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Que faz Deus numa cruz?

José Antonio Pagola *

Adital -
[Tradução: Antonio Manuel Álvarez Pérez*]
Segundo o relato evangélico, os que passavam ante Jesus crucificado sobre a colina do Gólgota escarneciam Dele e, rindo-se da Sua impotência, diziam-Lhe: «Se és o Filho de Deus, desce da cruz». Jesus não responde à provocação. A Sua resposta é um silêncio carregado de mistério. Precisamente porque é Filho de Deus permanecerá na cruz até à Sua morte.

As perguntas são inevitáveis: Como é possível acreditar num Deus crucificado pelos homens? Damo-nos conta do que estamos a dizer? Que faz Deus numa cruz? Como pode subsistir uma religião fundada numa concepção tão absurda de Deus?

Um "Deus crucificado" constitui uma revolução e um escândalo que nos obriga a questionar todas as ideias que nós, humanos, fazemos a um Deus a quem supostamente conhecemos. O Crucificado não tem o rosto nem os traços que as religiões atribuem ao Ser Supremo.

O "Deus crucificado" não é um ser omnipotente e majestoso, imutável e feliz, alheio ao sofrimento dos humanos, mas um Deus impotente e humilhado que sofre com nós a dor, a angustia e até a mesma morte. Com a Cruz, ou termina a nossa fé em Deus, ou nos abrimos a uma compreensão nova e surpreendente de um Deus que, encarnado no nosso sofrimento, nos ama de forma incrível.

Ante o Crucificado começamos a intuir que Deus, no Seu último mistério, é alguém que sofre com nós. A nossa miséria afecta-O. O nosso sofrimento salpica-O. Não existe um Deus cuja vida transcorre, por assim dizer, à margem das nossas penas, lágrimas e desgraças. Ele está em todos os Calvários do nosso mundo.

Este "Deus crucificado" não permite uma fé frívola e egoísta num Deus omnipotente ao serviço dos nossos caprichos e pretensões. Este Deus coloca-nos a olhar para o sofrimento, o abandono e o desamparo de tantas vítimas da injustiça e das desgraças. Com este Deus encontramo-nos, quando nos aproximamos do sofrimento de qualquer crucificado.

Os cristãos continuam a tomar todo o género de desvios para não dar com o "Deus crucificado". Temos aprendido, inclusive, a levantar o nosso olhar para a Cruz do Senhor, desviando-a dos crucificados que estão ante os nossos olhos. No entanto, a forma mais autêntica de celebrar a Paixão do Senhor é reavivar a nossa compaixão. Sem isto, dilui-se a nossa fé no "Deus crucificado" e abre-se a porta a todo o tipo de manipulações. Que o nosso beijo ao Crucificado nos coloque sempre a olhar para quem, próximo ou afastado de nós, vive a sofrer
[Enviado por Eclesalia Informativo.
* Português de Portugal].

* Teólogo e biblista espanhol

Extraído de http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=46355 acesso em 25 mar. 2010.

Ilustração: Cristo na cruz / Francisco de Zurbarán. 1627. Chicago : Art Institute. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Francisco_de_Zurbar%C3%A1n_010.jpg acesso em 25 mar. 2010.

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