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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Desafios para o cristianismo no alvorecer do novo milênio

Frei Eduardo F. Melo, OFMcap*
Acabo de ler a obra primordial do sociólogo brasileiro Ricardo Mariano: Sociologia do Novo pentecostalismo no Brasil. Com a leitura deste livro do renomado pesquisador do fenômeno religioso no país, percebo o intenso desespero que muitos ministros do Evangelho vêm sofrendo por conta dos rumos obscuros e inóspitos da religiosidade pós-moderna. Pude abrir meu campo de reflexão e de análise sobre a fé cristã a partir de alguns referenciais que a leitura deste livro trouxe para mim. Por isso, hoje quero compartilhar com você o fruto desta reflexão....

Vivi parte de minha adolescência nas décadas de oitenta e noventa. Naqueles anos, o rock nacional e as bandas do famoso movimento grunge de Seattle estouravam nas rádios e na MTV. Acompanhei por quase 10 anos a evolução de diversos gêneros musicais dentro do universo do Rock em geral. Fui a shows de diversas bandas consideradas por alguns como as mais sinistras possíveis. Lembro-me de uma vez que fui a um festival de bandas de "noise-core", um estilo musical altamente agressivo e beligerante no município onde morava. Os headbangers, exaltados com a gritaria e com a rapidez tremenda das guitarras, pulavam monstruosamente dos palcos e se digladiavam como loucos numa jaula onde a violência e a histeria soavam como diversão. Um lugar onde a droga e a prostituição eram marcas obrigatórias de um público que se rebelava contra a vida e contra Deus.

O universo intelectual, as academias e as rodas literárias daquele tempo discutiam o existencialismo de Sartre e a filosofia social da escola de Frankfurt. As mulheres se libertavam lendo Simone de Beauvoir. Che Guevara inspirava os ideais revolucionários dos latino-americanos. Os valores defendidos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) ainda eram o motor e a alavanca dos sonhos utópicos de libertação nacional.

Neste tempo (década de 80), as drogas se tornaram uma obsessão mundial. O haxixe e a maconha deixaram de ser consumidas no submundo da marginalidade e dominaram as universidades das Américas. Tomavam-se doses mínimas de LSD para viajar por horas no mundo alucinógeno. Os picos de heroína nas veias abreviavam a vida de milhares de pessoas. Pink Floyd era a banda do momento...

Hoje, um pouco mais velho percebo que os tempos mudaram. A rebeldia dos jovens aquietou-se, os heróis comunistas ruíram; o consumismo substituiu as antigas aspirações revolucionárias e a techno music substituiu o rock nas festas Rave espalhadas pelo país. Aquelas drogas que entorpeciam e deixavam seus usuários num estado zen, foram suplantadas por outras que ativam, energizam e potencializam o ser humano. Hoje, a busca do prazer compulsivo e a pornografia implícita reinam num mundo virtual que não revela nem identidades nem endereços. Pessoas se desgastam numa busca desenfreada de poder e de consumo. Vemos uma geração que perde sua alma sem perceber. E isso é terrível...

Hoje, substituíram-se os tóxicos que causavam torpor alucinógeno por outros que oferecem uma sensação de poder e de autonomia. Assim, vivemos um período em que quase não se fala mais em heroína ou em LSD. As drogas da moda são a cocaína e sua versão mais barata, o crack. E absurdamente cresce a busca pelas drogas sintéticas, como o ecstasy, que prometem um melhor desempenho para o viciado, inclusive sexual.

Percebo que a religião também mudou muito. Naqueles anos, predominava entre os jovens o conceito de que a religião servia aos interesses das elites, pacificando os oprimidos. Era década de oitenta, e eu pequeno, via as revoltas estudantis e as marchas de protesto pela tela da TV e me assustava com aquele espírito hard e underground que pairava na face dos estudantes. Os debates reforçavam o pensamento de Karl Marx que em 1844 afirmou:

"O sofrimento religioso é, a um único e mesmo tempo, a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento do povo".

Marx acreditava que a religião é o único suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. Seus contemporâneos repetiram sua conclusão: "A religião é o ópio do povo". Confesso que desde que ouvi esta frase pela primeira vez no colégio, sempre fiquei intrigado com ela. Confesso também que minha experiência religiosa na adolescência não foi das mais perfeitas. Mas os tempos mudaram. Hoje olho para meu passado remoto e reconheço como tudo foi importante ter acontecido daquela forma. Mas voltemos ao assunto...

Marx afirmava que a religião não é um narcótico qualquer. Ele a identificava com um entorpecente poderosíssimo de seus dias: o ópio. As condições sociais perversas da Europa no século XIX condenavam os trabalhadores a pouco mais que escravos. Homens e mulheres enfrentavam uma situação de sobre-vida em seus trabalhos, sufocados pelo calor e pela má conservação das fábricas, chegando a trabalhar 18 horas por dia.

Marx entendia que as mesmas condições também produziram uma religião que prometia um mundo melhor só para a próxima vida. Depois que li essas teorias, disse pra mim mesmo que precisava rever meus estudos filosóficos e políticos, tamanha era a pertinência dessas assertivas. Hoje tento escrever sobre isso, procurando identificar as possíveis coerências internas do pensamento marxista. Mas continuemos...

Assim, tanto ele como seus seguidores difundiram que a religião não é apenas uma ilusão, mas que ela cumpre uma função social importante e essencial: distrair os oprimidos e apaziguar as consciências diante da possível tragicidade do momento presente (tal como já havia afirmado Freud na sua crítica à religião).

Exatamente por isso, Marx afirmava que a religião é um narcótico que não apenas alivia a dor do trabalhador, como lhe embriaga, roubando-lhe o poder de transformar sua realidade. Para ele, a esperança religiosa era um ópio que prometia felicidade no porvir, adiando o furor revolucionário. O pior é que de alguma forma, ele tinha razão em suas análises. A igreja cristã de seus dias realmente estava decadente e, aliada à aristocracia, desempenhava exatamente esse papel anestesiante. Mas continuemos nossa reflexão.

Porém, com a pós-modernidade, a religião já não cumpre essa tarefa entorpecente do ópio. No ocidente cristão (americanizado), a proposta religiosa vem crescentemente se tornando mais parecida com uma outra droga: a cocaína. O neoliberalismo, pai deste materialismo consumista tão bem representado no fascínio pelos shoppings centers e pelas grifes, já entorpece como o ópio. Por outro lado, a religião de hoje procura excitar e produzir sensações de poder parecidas com a da cocaína. Interessante...

Venho pesquisando o universo religioso evangélico há alguns anos. Reconheço que minhas conclusões ainda são preliminares, e seguindo a linha dos bons sociólogos desta geração, constato certas tendências no protestantismo brasileiro (cópia barata do modelo americano), em especial, que algumas igrejas neopentecostais - como a polêmica Igreja Universal do Reino de Deus - objeto de meu estudo, se multiplicam alicerçadas em três paradigmas centrais para a vida do "crente":

- Promete que ele nunca mais vai ter doenças;
- Promete que o crente vai pisar a cabeça do diabo e nunca mais sofrer;
- Promete que ele vai ficar rico porque é filho de Deus e não merece o sofrimento;

Essas Igrejas repetem exaustivamente que ninguém precisa transferir para a eternidade o que pode ser reivindicado já nesta vida. E isso é alarmante para o evangelho verdadeiro! Essa é a tese de um dos grandes evangelistas americanos, sr. Kennet Haggin, fundador da teologia da prosperidade iniciada nos idos da década de 40 nos EUA, e que veio aportar aqui no Brasil através das famosas igrejas pentecostais Assembléia de Deus (Gunnar Vingren), Igreja Deus é Amor (pr. David Miranda) e Igreja Universal do Reino de Deus (bispo Macedo).

Algumas Igrejas insistem na promessa feita a Israel de que o fiel é "cabeça e não cauda". Assim o crente que freqüenta os cultos da prosperidade, por exemplo, recebe semanalmente uma injeção de cocaína espiritual no sangue, fazendo com que se sinta o dono do mundo e o detentor dos poderes que podem lhe garantir a felicidade plena, em todas as áreas de sua vida (econômica, afetiva, física e espiritual). Mas isso é uma mentira....

POSSO AFIRMAR COM TODA CERTEZA QUE ESSA MENSAGEM É TÃO PERIGOSA E SORRATEIRA QUE DARIA ATÉ PRA ENTRAR COM UM PROCESSO NO PROCON CONTRA A PROPAGANDA ENGANOSA QUE VEM SENDO FEITA EM NOME DE DEUS POR CERTOS PASTORES EVANGÉLICOS EM ALGUMAS IGREJAS HOJE!!

Nem que seja por apenas alguns minutos de culto, essa espécie de "CRENTE" sonha ingenuamente com tudo o que os seus olhos gulosos viram as empresas de marketing oferecerem na televisão. E isso é tenebroso!!! Tenebroso porque estão colocando o patrimônio da Fé cristã numa tremenda enrascada, barateando a mensagem do Evangelho de Cristo com uma promessa mentirosa e tacanha.

Hoje posso afirmar com certa propriedade: algumas igrejas cristãs nesse início de milênio se transformaram em verdadeiras ilhas da fantasia capitalista. Simplesmente porque, nas pesquisas de campo que venho realizando nestes últimos anos já vi ministros sagrados enganando fiéis, extorquindo dinheiro e cativando pessoas pobres e despreparadas emocionalmente (que na maioria das vezes vão até lá bem-intencionadas, porém não menos gananciosas), prometendo-lhes sucesso e bem estar, mas isso é um absurdo.

Prometer em nome de Deus uma coisa que não se pode dar é crime. Crime contra a pessoa do crente e um assinte à pessoa de Deus!

De certo modo, podemos afirmar que essas igrejas estão entrando num processo perigoso e sutil, tornando-se mesmo um ópio para grande parte da população brasileira, que empobrecida e desanimada com todo o caos social reinante no país, busca nesses templos um refúgio e um alívio pra lidar com as mazelas que tocam o coração e a alma humana. As últimas pesquisas realizadas pelo censo do IBGE de 2000 (presente no Atlas da Filiação Religiosa Brasileira- ed. PUC rio), já afirma que o número de evangélicos chega aos 30 milhões de pessoas no país.

Empresários falidos, artistas em fim de carreira, jogadores de futebol mal-sucedidos, empregados sem qualificação, correm para as infindáveis campanhas religiosas promovidas por essas igrejas buscando reverter a pretensa "maldição" que paira sobre suas vidas. E, depois de espoliados e extorquidos, são devolvidos à dura realidade da vida, obrigados a encarar a triste chegada da segunda-feira.

Dependurados nos trens suburbanos ou parados nas enormes filas pelas calçadas atrás de um emprego, eles sofrem tristes e deprimidos como os foliões do carnaval que voltam para seu destino na madrugada da quarta-feira de cinza. Sozinhos, enfrentam a dura realidade de que não são reis ou rainhas, mas apenas sub-empregados, obrigados a viverem com um salário mínimo miserável, num mundo que os exclui sem dó nem piedade...

Infelizmente chego à conclusão de que hoje, a própria definição do que seja a FÉ vem sofrendo enormes mudanças. Antigamente entendia-se fé como uma adesão a um conceito teológico ou mesmo como uma habilidade sensitiva de perceber o mundo espiritual. Pessoas de fé discerniam as ações de Deus e do mundo espiritual com maior acuidade e prudência. Eram pessoas que confiavam no caráter de Deus, mesmo sem evidências que comprovassem sua palavra. Tenho pessoas na minha família que revelam e muito essa experiência com Deus...

Hoje se entende FÉ como uma mera capacidade de instrumentalizar os poderes de Deus egoisticamente. Por isso vemos cristãos intrépidos e ao mesmo tempo, vorazes em defender sua religião, que fazem de tudo para demonstrar sua diferença estética em relação aos outros, mas com pouco conteúdo doutrinário e pouca demonstração de verdade e de transparência de caráter.

Nesse aspecto temos de concordar com Marx que "fé" e cocaína possuem enormes semelhanças. Simplesmente porque dão uma falsa sensação de poder e geram pessoas artificialmente soberbas. Mas eu não tenho dúvida de que tanto a ressaca da cocaína como a ressaca da fé pós-moderna será terrível, porque vem sempre acompanhada de depressão e desengano. Talvez seja por isso que os cultos de determinadas igrejas evangélicas brasileiras estão sempre cheios. Igrejas abarrotadas de gente que não se satisfez totalmente com o efeito amortizador de promessas falsas e inóspitas.

Por isso, creio que hoje precisamos mais do que nunca, na Igreja cristã deste novo milênio, resgatar o cerne do Cristianismo verdadeiro:

A MENSAGEM DE QUE DEUS NOS AMA E NOS QUER BEM, SEM ESPERAR NADA EM TROCA. APESAR DE TODA APARÊNCIA DE PERVERSIDADE QUE HÁ NO MUNDO E NO CORAÇÃO HUMANO, PRECISAMOS VOLTAR A AFIRMAR QUE DEUS AINDA ACREDITA EM NÓS, E VEM APOSTANDO TUDO PARA QUE DE FATO SEJAMOS PARTE DE SUA FAMÍLIA, A FIM DE QUE CONSTRUAMOS UMA VIDA MAIS BONITA E PLENA DE SENTIDO.

Assim, o tóxico religioso de hoje é sempre mais estimulante. E é nesta perspectiva que os novos mercadejadores da fé precisaram redefinir, inclusive, a imagem de Deus.

Porque para alguns pastores evangélicos de hoje, a divindade pós-moderna só existe para servir aos caprichos das pessoas. Os cultos se transformaram em centros de aperfeiçoamento e aprimoramento humano. As igrejas deixaram de ser espaços para se cultuar a pessoa de Deus, seu caráter e sua ação na história, para se tornarem centros de especialização sobre como ensinar as pessoas a manipularem a Deus.

As liturgias espiritualizam as técnicas mais populares de como "liberar o poder de Deus", "afastar encostos", "tomar posse dos direitos", "conquistar gigantes". As pessoas se aproximam de Deus cheias de direitos, vontades e desejos, acreditando que são o centro do universo e que tudo e todos lhes devem obrigações. Perde-se o estado de "maravilhamento", de reverência e de submissão ao Eterno.

O que podemos afirmar, avaliando alguns segmentos protestantes no atual mercado religioso deste início de milênio, é que o propósito de toda atividade religiosa se tornou homocêntrica e nunca teocêntrica. Deus está a serviço dos caprichos humanos, e o indivíduo não percebe a necessidade de colocar sua vida à disposição dos princípios do Criador, porque só Ele pode lhe garantir a possibilidade de construção de uma vida autêntica e verdadeira.

De certa forma, algumas igrejas evangélicas atualmente acabaram se transformando em balcões de serviços religiosos e a relação do ministro com o fiel acabou se tornando a mesma do empresário para com o cliente. Redobram-se os esforços de oferecer uma maior gama de atividades que agradem os fiéis, que a esta altura e sem perceberem, tornaram-se ferozes consumidores religiosos com um nível de exigência tremenda.

Meu amigo e minha amiga, se você chegou até aqui acompanhando meu raciocínio e minhas constatações a respeito da crítica à religiosidade cristã contemporânea, eu quero lhe apresentar alguns argumentos a respeito da ética cristã vivida por Jesus, pertinente a esta temática:

Fim de análise de um angustiado...

1- NA LÓGICA DE JESUS, ÉTICA E RELIGIÃO NUNCA PODEM SE CONTRAPOR!

Acredito que a genuína mensagem do evangelho não pode ser comparada ao ópio (como fez Marx) e nem à cocaína (como fazem os pregadores evangélicos da religiosidade pós-moderna). Afirmo isso, simplesmente porque Jesus Cristo não prometeu um celeste porvir que acabaria com todo sofrimento existente na terra e que anestesiaria as consciências das pessoas, aliviando sua lutas. NÃO!

"Eu vos falei estas coisas para que tenhas de fato, a paz em Mim. Porque no mundo tereis muitas aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!"
( João 16, 33 )

Seus discípulos foram convocados a serem o sal da terra e luz do mundo (Mt 5, 13-16), a fim de enfrentarem os reis poderosos e transformarem a realidade no aqui e agora da História. Antes que se levante o sol da justiça e que o Senhor volte trazendo salvação sob suas asas, Ele comissionou sua igreja a enfrentar as estruturas humanas que produzem a morte e declarar guerra ao próprio inferno (Mt 28, 16-20). Assim, não posso temer que o meu amanhã seja obscuro e tenebroso.

Do mesmo jeito que Jesus teve de enfrentar seus opositores para conquistar os louros da vitória, embora isso tenha lhe custado a vida, assim eu quero enfrentar os terremotos e avalanches que vierem sobre mim. Precisamos voltar a meditar na riqueza da presença de Jesus em nossas vidas, que como um amigo e companheiro de jornada, está orando ao pai continuamente por nós e pela nossa felicidade, sem com isso, anular a nossa liberdade e o nosso querer.

2- PARA JESUS, FÉ GENUÍNA E VERDADEIRA NÃO TEM NADA A VER COM FUGA DO SOFRIMENTO NA VIDA.

Em seu caminhar sobre a terra, tampouco Jesus prometeu que nos tornaríamos os donos do mundo, ricos e prósperos, e nunca mais padeceríamos das doenças e dos traumas humanos que afligem grande parte da população neste planeta. Fomos chamados a encarnar o mesmo sentimento e a mesma disposição que tinha o coração de Cristo, que sendo de forma divina não teve por usurpação ser igual a Deus, mas tomou a forma de servo, humilhando-se até a morte e morte de cruz, padecendo as mesmas dores e temores que todos nós padecemos todos os dias (Filipenses 2, 5-8), e sofrendo na pele as angústias que rondam a mente humana todos os dias.

Diferentemente de todas as outras religiões construídas na história da humanidade, o cristianismo se ancora na premissa de que Deus andou entre nós fazendo o bem, de que Deus teve os mesmos sentimentos e dores que cada um de nós sente no próprio coração, e que precisou por isso, como humano que era, passar pelos mesmos processos pedagógicos de aperfeiçoamento que cada um de nós passamos nesta vida:

"Embora sendo o filho de Deus, Jesus aprendeu a obediência pelo sofrimento, e levado à perfeição, tornou-se para todos os que lhe conhecem o princípio de salvação eterna". ( Hebreus 5, 8-9 )

3- PARA JESUS, A FUNÇÃO DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA AUTÊNTICA É FORMAR O CARÁTER DAS PESSOAS PARA A RETIDÃO E PARA PRÁTICA A JUSTIÇA, E NÃO PARA ALIENAÇÃO RELIGIOSA.

"Buscai em primeiro ligar, o Reino e Deus e a sua JUSTIÇA, e tudo mais vos será acrescentado. Não vos perturbeis, portanto, com o dia de amanhã, pois a cada dia basta sua preocupação".
( Mateus 6, 33-34 )

Apoiado numa série de testemunhos de homens e mulheres que vem dando sua vida pela causa do Reino, hoje, estou convencido de que: O verdadeiro culto cristão não pode ser encarado como uma forma de aperfeiçoamento humano ou se transformar num centro de auto-ajuda onde os fiéis precisam aprender as técnicas sobre como obter o favor de Deus para se tornarem felizes e ricos de um dia para o outro.

PRECISAMOS SIM, APRENDER A CELEBRAR O SEU GRANDE AMOR DE PAI QUE NOS QUER BEM, APESAR DE NOSSA PRÓPRIA PEQUENEZ E REBELDIA.

Hoje, acredito que Marx estava certo quando denunciou o que acontecia com a igreja que se colocava a serviço das aristocracias do seu tempo. Aquela religião adoecida e morta realmente merecia a pecha de ópio do povo. Os líderes religiosos que comiam nas mesas dos poderosos e que desdenhavam da sorte dos miseráveis realmente buscavam entorpecer os mais pobres. Uma igreja que se contenta em simplesmente legitimar a opressão e a política corrupta de um sistema capitalista precisava sofrer a afronta deste economista e filósofo do pensamento moderno.
Já Maquiavel afirmava que :

"Quem come na mão do príncipe, não pode denunciá-lo".

Assim, o que se oferece de muitos púlpitos pós-modernos hoje, não é o Evangelho de Jesus Cristo, mas mera cocaína religiosa. E se algum outro filósofo ateu afirmar que aquela religião aristocrática que se espalhou no ocidente medieval e moderno combinava com o narcótico da moda, também seremos obrigados a concordar. E aqui nós os cristãos ocidentais temos de lamentar e chorar por conta de nossa fraca experiência religiosa. Experiência que se contenta hoje com um mínimo de ação e um mínimo de tempo investido na companhia e no conhecimento do Caráter de Deus. Talvez esse seja o segredo da vida cristã para este início de novo milênio.

Repito:

PRECISAMOS RE-VER A PESSOA DE DEUS COMO UM PARCEIRO, QUE NA LONGA JORNADA DA VIDA, QUER NOS AJUDAR A DESCOBRIRMOS OS RUMOS PARA DELINEARMOS UMA NOVA HISTÓRIA.

COMO UM AMIGO FIEL, ELE QUER NOS AJUDAR A DESVENDAR OS MISTÉRIOS ESCONDIDOS NO FUNDO DE NOSSO CORAÇÃO. COMO UM PARCEIRO CERTO E COMPANHEIRO DE LUTAS, ELE PODE NOS INSPIRAR ATRAVÉS DO EXEMPLO DE HUMANIDADE E DE SENSO ÉTICO DE SEU FILHO JESUS, A FIM DE QUE SEJAMOS HOMENS E MULHERES DE UMA VIDA AUTÊNTICA, BONITA E PLENAMENTE REALIZADA.

Dessa forma, a nossa religião não será talvez um ópio alienante para as consciências das pessoas, mas a possibilidade de uma experiência cada vez mais transformante e humanizadora para todos nós.

E que assim se cumpra em nossa vida!!!

Um desabafo.
Uma constatação.
Uma pesquisa.
Uma angústia.
Um grito de minh'alma.
Uma felicidade em escrever.
Um mundo a desvendar.

"O Melhor ainda está por vir..."

"Tu tens, Senhor Jesus, a última palavra. E nós apostamos em Ti".
Reanima nossa Esperança, confirma nossa Fé!"

* Frei Eduardo F. Melo concluiu o curso de Teologia pelo ITF em 2006

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/itf/artigos/2009/007.php acesso em 31 ago. 2009.

sábado, 29 de agosto de 2009

Fraternidade N. Sª dos Anjos da Porciúncula elegeu seu conselho

Na tarde de hoje, na sala de encontros da Paróquia São Francisco de Assis, sob a presidência de Izabel V. Teixeira, Coordenadora do 11º Distrito do Regional Sul3 da OFS (por delegação do ministro regional), foi realizado o 2º Capítulo Eletivo da Fraternidade N. Sª dos Anjos da Porciúncula que reúne-se nesta paróquia.

Participaram 19 irmãos professos num processo que durou quase a tarde inteira. O Conselho ficou assim constituido:

  • Newton L. S. Machado, Ministro
  • André L. L. Silva, Viceministro e 2º Secretário
  • Lorena Prodorutti, Mestra de Formação
  • Aline Gautier, 1ª Secretária
  • Neide S. Lopes, 1ª Tesoureira
  • Elaine M. Souza, 2ª Tesoureira
  • Adolfo S. Almeida, COODHJUPIC
  • Maria Constanza R. Rojo, SEI
  • Eugenio C. G. Hansen, Comunicação
  • Frei Dorvalino Fassini, OFM, Assistente Espiritual
Rezemos para que o Deus Uno e Trino guie estes irmãos neste serviço que agora assumem.

Fotos:
1 O ministro Newton com o seu vice, André, em frente ao estandarte com a logomarca da fraternidade.
2 O Conselho eleito: Elaine. Dorvalino, Aline, Neide, Constanza, Lorena, André, Newton, Eugenio, Adolfo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Clara de Assis e a valorização do feminino

Frei Fernando Araújo, OFMConv.
Em todo tempo da história da humanidade prevaleceu a visão de que os homens eram superiores às mulheres e que elas precisavam de certa proteção devido às suas limitações como “seres inferiores” que eram. E hoje, em determinados lugares do mundo, a mentalidade de uma sociedade patriarcal é muito grande e os valores femininos são completamente esquecidos e ignorados.

Mas fazendo uma volta ao passado, encontramos uma mulher que soube ultrapassar a mentalidade de sua época. Essa mulher chama-se Clara de Assis, e ela respondeu ao chamado de Deus para seguir o seu Filho de maneira simples e pobre como estavam fazendo Francisco de Assis e seus companheiros.

E toda essa bonita história começa a convicção de Clara de que era uma escolhida de Deus para ajudar Francisco nessa nova maneira de seguir Jesus. Chegando ao grupo do jovem de Assis, Clara começa a trabalhar e mostrar para quê veio acrescentar um novo sentido ao movimento dos pobres de Assis. Desse modo, Clara começa a dar um traço feminino à forma de vida que Francisco iniciou. E esse novo sentido começa a ganhar força com as primeiras companheiras de Clara de Assis, num grupo que aumentava cada vez mais.

Não restam dúvidas que Clara de Assis marcou os inícios do franciscanismo com sua personalidade e visão de mundo, e que ajudou Francisco em seu itinerário de santidade e a organizar a vida dos frades. Com sua decisão firme e corajosa, chama a atenção daqueles e daquelas que se dispuseram a abraçar o Cristo crucificado, a fim de que não desistissem de continuar no caminho que traçavam por amor ao pobrezinho de Belém e a sua Mãe Santíssima. Com essa atitude, mostrava todo sofrimento que passara para seguir a Jesus Cristo. Mostrava também que rompera completamente com o sistema dominante de sua época, lutando a todo custo para seguir o Evangelho em sua radicalidade. Com essas atitudes percebe-se a mulher forte que é Clara de Assis.

Tudo isso foi possível porque Clara soube assumir profundamente todas as suas potencialidades femininas como enriquecimento da própria aventura evangélica. As potencialidades femininas de Clara era a de não impor, nem tomar uma decisão que colocaria todos ao seu redor em perigo e constrangimento. Com amor e delicadeza, zela pelo bem de todos e procura dar sentido à sua vocação de mulher consagrada edificando a Igreja e atualizando o Evangelho em sua vida.

Ela demonstra, através da raiz e do desenvolvimento de sua jornada espiritual, que como mulher é preciso escolher um caminho próprio, determinando seus atalhos com esforço e angústia, em direção à identificação do seu ser de mulher. E vai mais longe em sua luta pela valorização da mulher de sua época, tendo a coragem de pedir a aprovação de uma regra para ela e suas irmãs. Clara tornou-se assim a primeira mulher a ter uma regra de sua autoria aprovada em uma sociedade totalmente patriarcal.

Clara tem uma força que faz o diferencial da forma de vida religiosa na Idade Média. Ela não quer para si o modelo reinante da vida religiosa para as mulheres. Clara deseja do fundo do coração anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para toda a cidade de Assis e para todo o mundo, e deseja ardentemente morrer por amor, pela causa do Evangelho de Cristo. Ela tinha uma atitude madura, despojada, pobre e livre, e ao mesmo tempo tinha plena consciência de que estava fazendo uma ruptura com o modelo reinante de sua época. Clara é o protótipo da mulher disponível diante da plenitude de Deus, porque estava completamente aberta em sua psicologia integrada e sensível. Clara se faz peregrina, caminhante em busca do Reino que vem. Todo o seu ser de mulher é colocado à disposição deste Reino que já se faz presente na comunhão de vida que ela vive com suas irmãs, como todos os seres humanos e com todas as criaturas de Deus.

Estudando a vida de Clara de Assis, logo se percebe que ela é portadora do Evangelho. Diante de todos, não tem medo de mostrar o amor de Deus pela humanidade por meio do seu Filho Jesus Cristo. O que era proibido para as mulheres, em Clara ganha força e adeptos, em sua maneira de viver a forma evangélica e de falar, de enfrentar todos os perigos e preconceitos, sempre por amor do Evangelho. Com seu ardor missionário e apostólico falava a todos sobre a importância de abraçar a causa do verdadeiro bem e do verdadeiro valor da vida, que era o Evangelho de Cristo Jesus. E para que isso se realizasse, ela rompe com silêncio e com empenho e força a anuncia a mensagem evangélica.

Irmã Maria Bernarda, clarissa capuchinha, em seu artigo sobre a vida de santa Clara afirma que Francisco, como todos de sua época, pensava que a mulher era um ser fraco e frágil, carente de cuidados específicos como as crianças e os idosos, necessitando de apoio e proteção. Mas depois percebeu a força e a determinação de Clara quando ela mostrou a importância da mulher na divulgação do Evangelho. Em outras palavras, Francisco percebe que em Clara a mulher ganha espaço e importância na vida social e religiosa de Assis.

Pesquisando os escritos de santa Clara percebemos grandes expressões que mostram essa recuperação do feminino. As freqüentes citações escriturísticas são trechos esponsais dos salmos, como o Salmo 44, ou o Cântico dos Cânticos, citado onze vezes, especialmente nas cartas a Inês de Praga.

O relacionamento com Jesus Cristo que Clara tem é relacionamento nupcial, que caracteriza todo relacionamento feminino da pobre de Assis com o sagrado. Jesus é o esposo bem-aventurado, celeste, de origem nobre, enquanto ela é a esposa de Jesus Cristo, do cordeiro imaculado.

Roberto Zavalloni, em seu livro A Personalidade de Santa Clara de Assis – Estudo psicológico mostra que na visão mística clariana o relacionamento nupcial com Jesus esposo caracteriza-se por uma ótica tipicamente feminina. Cristo, o esposo, como todos os esposos, é o mais belo entre os homens; sua beleza é sedutora, e ele concede os mais diversos favores à sua esposa. Tal conceito é muito recorrente na vida de Clara.

A santa de Assis vive a fidelidade como valor qualificador, seja de sua experiência religiosa, seja de sua personalidade de mulher. E fidelidade para Clara significa imitação, seguimento, observar o que prometeu guardar os valores humanos e religiosos. A fidelidade é um ponto chave para entender o pensamento de Clara de Assis e todo o seu movimento que mostra uma nova concepção de ser mulher da Idade Média. Com Clara foi rompida uma visão de mundo que não respondia ao convite do Evangelho. Clara foi uma mulher que deu sentido à sua existência, mostrando numa época pouco provável que as mulheres sempre ocuparam um espaço importante na sociedade e têm muito a contribuir para desenvolvimento – inclusive espiritual – da humanidade.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Documento final do XXXII Capítulo Nacional Ordinário Eletivo

Manaus (AM) - Após reflexões das diferentes Áreas em que está dividida a OFS no Brasil os capitulares recomendam o empenho no trabalho das seguintes prioridades:

Ação missionária do franciscano e da franciscana seculares

Elaboração de um programa de animação missionária que contemple a atuação
  • nas famílias, células primeiras para a transformação do mundo;
  • nas comunidades, locais privilegiados para o testemunho que atrai;
  • no encontro com os pobres,não perdendo de vista que eles são nosso ponto de partida;
  • nas atividades além fronteiras, sendo braço da Igreja onde a Igreja não pode estar,
  • sempre vigilantes para não cair na tentação do ativismo.

Revigoramento das reuniões mensais e da vida fraterna

  1. Conscientização dos Conselhos locais sobre a importância da preparação da reunião geral, de forma criativa e vigorosa, procurando envolver todos os participantes, quer professos,quer formandos,iniciantes ou simpatizantes;
  2. Manutenção da Pastoral dos Faltosos;
  3. Busca de uma maior aproximação com as Ordens e Congregações Franciscanas e Clarianas;
  4. Conscientização e preparação dos irmãos e irmãs para participação nos serviços fraternos à Fraternidade;
  5. Visitas com regularidade aos irmãos e irmãs do SEI (Serviço dos Enfermos e Idosos);
  6. Aplicação efetiva do DMR (Diretório das Mútuas Relações entre OFS e JUFRA);
  7. Busca do envolvimento dos familiares dos irmãos e irmãs da Fraternidade.

Promover a consciência ambiental

  1. Busca de ações solidárias na preservação e cuidado com a criação, dom de Deus para nós.
  2. Sensibilização e compromisso com o consumo consciente
  3. Acompanhamento e apoio aos Projetos de Lei relacionados às questões ambientais.
  4. Presença nos Conselhos Municipais ligados ao Meio Ambiente.
Manaus, 23 de agosto de 2009

Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo.


Santo Hélder Câmara, 7 fev. 1909 - 27 ago. 1999

terça-feira, 25 de agosto de 2009

CARTA CIRCULAR DE DOM PEDRO CASALDÁLIGA

CARTA CIRCULAR DE DOM PEDRO CASALDÁLIGA


Terça-feira, 2 de Junho de 2009

Como Igreja queremos viver, à luz do Evangelho, a paixão obsessiva de Jesus, o Reino. Queremos ser Igreja da opção pelos pobres, comunidade ecumênica e macroecumênica também. O Deus em que acreditamos, o Abbá de Jesus, não pode ser de jeito nenhum causa de fundamentalismos, de exclusões, de inclusões absorventes, de orgulho proselitista. Chega de fazermos do nosso Deus o único Deus verdadeiro. “Meu Deus, me deixa ver a Deus?”. Com todo respeito pela opinião do Papa Bento XVI, o diálogo inter-religioso não somente é possível, é necessário. Faremos da corresponsabilidade eclesial a expressão legítima de uma fé adulta. Exigiremos, corrigindo séculos de discriminação, a plena igualdade da mulher na vida e nos ministérios da Igreja. Estimularemos a liberdade e o serviço reconhecido de nossos teólogos e teólogas. A Igreja será uma rede de comunidades orantes, servidoras, proféticas, testemunhas da Boa Nova: uma Boa Nova de vida, de liberdade, de comunhão feliz.

Uma Boa Nova de misericórdia, de acolhida, de perdão, de ternura, samaritana à beira de todos os caminhos da Humanidade. Seguiremos fazendo que se viva na prática eclesial a advertência de Jesus: “Não será assim entre vocês” (Mt 21, 26). Seja a autoridade serviço. O Vaticano deixará de ser Estado e o Papa não será mais chefe de Estado. A Cúria terá de ser profundamente reformada e as Igrejas locais cultivarão a inculturação do Evangelho e a ministerialidade compartilhada. A Igreja se comprometerá, sem medo, sem evasões, com as grandes causas de justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anuncio, de denúncia, de consolação. A política vivida por todos os cristãos e cristãs será aquela “expressão mais alta do amor fraterno” (Pio XI ).

Nós nos negamos a renunciar a estes sonhos quando possam parecer quimera. “Ainda cantamos, ainda sonhamos”. Nós nos atemos à palavra de Jesus: “Fogo vim trazer à Terra; e que mais posso querer senão que arda” (Lc 12, 49). Com humildade e coragem, no seguimento de Jesus, tentaremos viver estes sonhos no dia a dia de nossas vidas. Seguirá havendo crises e a Humanidade, com suas religiões e suas Igrejas, seguirá sendo santa e pecadora. Mas não faltarão as campanhas universais de solidariedade, os Foros Sociais, as Vias Campesinas, os movimentos populares, as conquistas dos Sem Terra, os pactos ecológicos, os caminhos alternativos da Nossa América, as Comunidades Eclesiais de Base, os processos de reconsiliação entre o Shalom e o Salam, as vitórias indígenas e afro y, em todo o caso, mais uma vez e sempre, “eu me atenho ao dito: a Esperança”.

Cada um e cada uma a quem possa chegar esta circular fraterna, em comunhão de fé religiosa ou de paixão humana, receba um abraço do tamanho destes sonhos. Os velhos ainda temos visões, diz a Bíblia (Jl 3,1). Li nestes dias esta definição: “A velhice é uma espécie de postguerra”; não precisamente de claudicação. O Parkinson é apenas um percalço do caminho e seguimos Reino adentro.

DOM PEDRO CASALDÁLIGA

BISPO EMÉRITO DA PRELAZIA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA

CIRCULAR 2009

domingo, 23 de agosto de 2009

Escritos de Santa Clara de Assis

Paz e bem!

A Editorial Franciscana de Braga, Portugal,
também disponibilizou para download o livro
Escritos de Santa Clara de Assis.

Para fazer o download:

sábado, 22 de agosto de 2009

OFS do Brasil : Conselho Nacional

Paz e bem!

Este é o Conselho Nacional
eleito no Capítulo Eletivo
em Manaus:

Ministro: Antonio Benedito de Jesus da Silva Bitencourt (PA)
Viceministro: Vanderlei Suélio Gomes (GO)
Secretário: Anderson Moura (RJ)
Tesoureiro: Edivaldo Rogério de Oliveira (SP) – reeleito
Coordenadora de Formação: Verônica Trevisan (RS)
Assessor Jurídico: José Carlos de Andrade (MG)
Coordenadora da Área Norte: Helena Freitas (AM)
Coordenadora da Área Nordeste “A”: Maria Aurenice Castro (CE) – reeleita
Coordenador da Área Nordeste “B”: Ubiraci Silva (PE) – reeleito
Coordenadora da Área Sudeste: Joana D’Arc Andrade (MG) – reeleita
Coordenadora da Área Sul: Teresinha Neotti Bandeira (PR) – reeleita
Coordenador da Área Centro-Oeste: Edvaldo Dias (MS)

Informação obtida de http://tribunapopular.wordpress.com/2009/08/21/17948/ acesso em 22 ago. 2009, 19h45min

OFS do Brasil tem novo Ministro Nacional

O Capítulo Nacional da OFS do Brasil, que começou ontem (20) na cidade de Manaus (AM), iniciou a pouco o seu processo eletivo. E já temos um novo Ministro... Com 28 votos em 3º escrutínio, os capitulares elegeram Ministro Nacional o irmão Antonio Benedito de Jesus da Silva Bitencourt (PA), que no Conselho cessante esteve no serviço de Coordenador da Área Norte.

[Atualizado às 22:40] Para Vice-ministro Nacional foi eleito o irmão Vanderlei Suélio Gomes (GO), que servia como Coordenador da Área Centro-Oeste. Ele obteve, no 3º escrutínio, 22 votos de um total de 43 votantes.



Louvado seja Deus pela vida desses irmãos que o Espírito Santo escolheu como nossos Servidores.

* * * * *

[Atualizado às 23:59] O irmão Antônio Benedito Bitencourt concedeu a sua primeira entrevista como Ministro Nacional da OFS ao jornalista Wilson Firmo, do jornal Tribuna Popular (Cabo de Santo Agostinho - PE), que também é franciscano secular. Clique aqui para ter acesso à reportagem e ao audio da entrevista.

Extraído de http://ofssudeste2.blogspot.com/2009/08/ofs-do-brasil-tem-novo-ministro.html acesso em 22 ago. 2009 04h08min.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Morte e vida severina

- Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor,
que tiraste em vida.

- É de bom tamanho,
nem largo nem fundo
é a parte que te cabe
deste latifúndio.

- não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.

- É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.

- É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.

- É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.

João Cabral de Melo Neto

A ecologia exterior e a ecologia interior. Francisco, uma síntese feliz

"São Francisco fundou um novo humanismo, uma síntese feliz entre a ecologia exterior (cuidado para com todos os seres) e a ecologia interior (ternura, amor, compaixão e veneração). Ele que é novo, nós somos velhos, mesmo tendo vivido mais de 800 anos antes de nós", afirma o teólogo Leonardo Boff, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.

Renomado teólogo brasileiro, Leonardo Boff foi um dos criadores da Teologia da Libertação. Ele é professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. É autor de mais de 60 livros nas áreas de teologia, espiritualidade, filosofia, antropologia e mística, entre os quais citamos Ecologia: grito da terra, grito dos pobres (São Paulo: Ática, 1990); São Francisco de Assis. Ternura e vigor (8. ed. Petrópolis: Vozes, 2000); Ética da vida (Rio de Janeiro: Sextante, 2006); e Virtudes para outro mundo possível II: convivência, respeito e tolerância (Petrópolis: Vozes, 2006). Boff escreveu um depoimento sobre as razões que ainda lhe motivam a ser cristão, publicado na edição especial de Natal da IHU On-Line, número 209, de 18 de dezembro de 2006, e concedeu uma entrevista sobre a Teologia da Libertação na IHU On-Line número 214, de 2 de abril de 2007.


Entrevista com Leonardo Boff:
A ecologia exterior e a ecologia interior.
Francisco, uma síntese feliz


IHU On-Line - Como São Francisco pode ser entendido nos dias atuais? Qual é a sua maior contribuição para a humanidade em crise, depredada pelo domínio da razão e do individualismo?
Leonardo Boff - São Francisco tem muitas facetas. Ele redescobriu a humanidade pobre de Jesus encarnada nos mais pobres dos pobres que eram os hansenianos (leprosos) com quem foi viver. Inventou o presépio. Fundou uma ordem religiosa itinerante, pois os frades iam pelos caminhos evangelizando na língua vernácula do local e não em latim. Foi o primeiro a ganhar licença de celebrar a missa fora, no campo e nas praças, desde que houvesse a pedra d’ara (um pedaço de pedra contendo uma relíquia de santo). Mas, fundamentalmente, ficou memorável por seu amor cósmico. Depois de séculos em que o Cristianismo se encerrara nos conventos e se concentrara nas palavras sagradas, Francisco descobre Deus na natureza. Ela não é mais paganizada, cheia de divindades, nas fontes, nas montanhas e nas árvores. Ela é o grande sacramento de Deus. Até Francisco, o cristianismo vivia a dimensão vertical: todos são filhos e filhas de Deus. Com ele, começou a se viver a dimensão horizontal: se todos são filhos e filhas, então todos são irmãos e irmãs. Não apenas os humanos, mas cada ser da criação. Com enternecimento chamava com o doce nome de irmão ou irmã a estrela mais distante, o passarinho na rama, o sol, a lua e a lesma do caminho. Esta atitude é, hoje, considerada da maior relevância, pois encerra uma dimensão perdida em nossa cultura que se coloca por em cima da natureza, dominando-a e esquece que todos estamos juntos, ao pé um do outro e formamos a grande comunidade de vida. São Francisco fundou um novo humanismo, uma síntese feliz entre a ecologia exterior (cuidado para com todos os seres) e a ecologia interior (ternura, amor, compaixão e veneração).

IHU On-Line - A Oração da Paz é atribuída a São Francisco, mesmo tendo sido provado que ela não é de autoria do santo. O que ela diz à nossa sociedade atual?
Leonardo Boff - A Oração da Paz é urdida com pedaços de frases dos escritos de São Francisco e totalmente dentro de seu espírito. Ela encerra o segredo da paz possível. Há que ser realista, pois a condição humana, pessoal e social, é feita pelo simbólico e pelo diabólico. Em nosso mundo, há luz e há trevas, há amor e há ódio, há desunião e união. Esta situação é permanente e é sempre dada. Por isso, de certa forma é insuperável. Nem por isso a paz é impossível. Ela pode ser construída. Qual é a estratégia de São Francisco? É enfatizar a dimensão de luz mais que a dimensão de trevas, dar hegemonia ao amor sobre o ódio, faz prevalecer a união à desavença e confiar na vitória da vida sobre a morte. Ao fazer isso, não recalca a dimensão sombria, mas impede que ela ganhe corpo e domine nossa vida. O efeito final é a paz possível. Esta se torna mais segura se for buscada à luz da paz que só Deus pode dar. Cada um pode ser instrumento desta paz divina que fortalece nossas buscas pela paz humana.

IHU On-Line - Quais são as características mais marcantes de Francisco e Clara? Em um de seus livros sobre o santo, o senhor destaca seu vigor e ternura. Como isso aparece na personalidade de São Francisco e como essa personalidade era encarada na Igreja de sua época?
Leonardo Boff - São Francisco representa um dos arquétipos da plena realização humana. Esta é construída a partir de duas forças que constroem nossa identidade que é a dimensão de anima e a dimensão de animus. Com estes termos introduzidos por C. G. Jung , queremos expressar que cada pessoa, homem ou mulher, possui a dimensão de racionalidade, objetividade, de projeto, de determinação na superação de obstáculos, de vontade de ser e de poder (animus). Ao mesmo tempo, tanto no homem quanto na mulher há a dimensão do afeto, da subjetividade, do cuidado, da intuição e da espiritualidade (anima). Eu traduzo estas dimensões como a convivência e integração do vigor com a ternura. Francisco viveu esta integração em sua relação de grande amor com Clara de Assis, exemplo raro na história do cristianismo de como dois seres puros e evangélicos podiam se amar de verdade, sem perder o sentido maior de sua consagração a Deus. Se olharmos a história humana, percebemos que emergem figuras que, de forma exemplar, viveram a ternura e o vigor como Jesus, como Francisco de Assis, Gandhi , Dom Hélder Câmara , João XXIII e, de certa forma, também o Papa João Paulo II . Pelo fato de Francisco realizar estas dimensões de forma seminal, tornou-se uma pessoa livre, podia conviver dentro de uma Igreja de poder sob o Papa Inocêncio III , o Papa mais poderoso de toda a história da Igreja, e simultaneamente andar pelos caminhos de braços dados com um leproso, anunciando a alegria de Deus que é Pai e amoroso e que fazia de cada coisa o sacramento de sua aparição. Esta síntese, assim tão terna e fraterna, nunca mais foi vivida no cristianismo. Mas ele permanece como referência de um cristianismo despojado, alegre, reconciliado com as sombras e confraternizado com todos os seres.

IHU On-Line - Como entender a atualidade de São Francisco? Por que sua eterna busca pela bondade cativa tantos homens e mulheres?
Leonardo Boff - Em São Francisco, tudo é simples e direto. Não há nenhuma sofisticação nem segundas intenções. Nele, aparece o ser humano em sua inocência original, perdida na história por mil interesses individualistas e pela fome de poder, pela busca de cargos e status social e de acumulação de riqueza. Ele mostrou que ser pobre voluntariamente é muito mais que não ter nada, mas a continuada vontade de dar, de mais uma vez dar e de se despojar de todo interesse para poder comungar diretamente com as coisas e as pessoas, sem mediações que se interponham a essa vontade de estar junto e de sentir o coração do outro. No fundo, o ser humano sonha com um mundo no qual reine tal inocência, onde todos possam se sentir filhos e filhas da alegria e não seres condenados a viver no vale de lágrimas.

IHU On-Line - O Papa Bento XVI destaca a importância de São Francisco como homem da Igreja. Como o senhor vê o santo e qual sua opinião sobre a definição do Papa?
Leonardo Boff - O Papa é um saudosista e possui uma concepção de Igreja da tradição medieval, superada pela própria Igreja posterior. Ele vê a Igreja como um fim em si mesma e como condição necessária para a salvação da humanidade. Esquece que o Salvador não é a Igreja, mas Jesus que veio para todos, que ilumina cada pessoa que vem a este mundo e que, no fundo, é o Cristo cósmico da teologia de S. Paulo, quer dizer, aquele que redime não apenas a humanidade, mas toda a criação. Se há uma coisa que não define São Francisco é exatamente entendê-lo como homem de Igreja. Ele foi um homem do evangelho vivido “sine glossa”, quer dizer, sem as interpretações dos teólogos que praticamente sempre o emasculam ou o mediocrizam. Por isso, sua regra começa: “A regra e a vida dos frades menores é esta: seguir o santo evangelho de Nosso Senhor Jesus em obediência, pobreza e castidade”. Sabe-se, pela pesquisa histórica, que Roma condicionou a aprovação da regra com o acréscimo “sob a obediência ao Papa Honório e seus sucessores”. Mas Francisco queria que o Espírito Santo fosse o Geral da Ordem e não alguém nomeado pelos frades e aprovado pelos Papas. O que o Papa Ratzinger afirma vai contra todo o espírito de São Francisco. E mais: se enquadra dentro do eclesiocentrismo de sua teologia que no fundo é uma espécie de fundamentalismo, uma patologia religiosa.

IHU On-Line - Em que sentido São Francisco transformava as sombras de sua vida em luz? O senhor teria exemplos concretos da vida do santo que podem elucidar esse ponto?
Leonardo Boff - São Francisco assumia tudo como vindo das mãos de Deus, pois se sentia na palma da mão de Deus. Chamava a tudo de irmão e de irmã. Não apenas as coisas ridentes, mas também as sombrias e dolorosas. Chama as doenças de irmãs doenças. A própria morte é chamada de irmã morte. O curioso nele é que fazia das próprias fragilidades humanas e dos pecados caminhos para chegar a Deus pela via da humildade, da compaixão e da total entrega à misericórdia divina. Sentia-se “miserável vermezinho, pútrido, fétido, mesquinho, miserável e vil”. Seguramente era fétido, pois andava com o mesmo burel todo esburacado e sujo pelos poeirentos caminhos do vale de Rieti e da Umbria. Mas assumia a dimensão de sombras de forma jovial, pois nada, nem o pecado nem a morte, o afastava da íntima comunhão com Deus. Esse tipo de piedade é importante para um cristianismo libertador, pois ajuda os fiéis a superarem o moralismo e o farisaísmo. Assim como somos, pecadores e maus, seremos acolhidos e perdoados por Deus. Pois é essa a novidade do evangelho. Se fossemos tão bons e santos, não precisaríamos do Redentor, nem de seu sangue nem de sua morte. Mas Deus é o Deus da ovelha tresmalhada, do filho pródigo e da moeda perdida. Confiar que apesar destas sombras não saímos da esfera de Deus é libertar a vida para a jovialidade dos filhos e filhas de Deus, é ter descoberto o evangelho como expressão do amor incondicional e do rosto misericordioso de Deus. São Francisco viveu este tipo de experiência religiosa de forma intuitiva, sem reflexão teológica, como algo evidente para quem se orienta pela mensagem do Jesus histórico.

CÂNTICO DAS CRIATURAS

Altíssimo,
Onipotente,
Bom Senhor!
Teus são o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.
Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão Sol, que clareia o dia
e que com sua luz nos ilumina.
Ele é belo e radiante, com grande esplendor
de ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e pelas estrelas,
que no céu formaste, claras, preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens,
pelo sereno e todo tempo
com que dás sustento às tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água, útil e humilde, preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo, pelo qual iluminas a noite.
Ele é belo e alegre, vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa,
produz frutos diversos, flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelos que perdoam, pelo teu amor,
e suportam as enfermidades e as tribulações.
Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã, a morte corporal,
de quem homem algum pode escapar.
Louvai todos e bendizei ao meu Senhor,
dai-lhe graças e servi-o com grande humildade.
Extraído de Revista IHU On-Line. São Leopoldo, n. 238, 01 out. 2007. Disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=724 acesso em 15 ago. 2009.
Foto: Palestra do Leonardo Boff / Wanderley Costa. 21 maio 2009. Disponível em http://picasaweb.google.com/lh/photo/ih8lohTq75tLVCVkzQHlzQ acesso em 15 ago. 2009.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Escritos de São Francisco

Paz e bem!

A Editorial Franciscana de Braga, Portugal,
disponibilizou para download o livro
Escritos de São Francisco de Assis
edição de 2001.

Para fazer o download:

Porto Alegre : Grupo de Estudos das Fontes Franciscanas

Em Porto Alegre (RS) há um
Grupo de Estudos das Fontes Franciscanas,
sob a assessoria do Frei Dorvalino Fassini, OFM,
que reune-se uma vez por mês
das 09h às 11h30min
na Igreja São Francisco de Assis
-- Rua São Luís, esquina com
Rua Domingos Crescêncio --.

Os próximos encontros serão:

  • 30 ago., domingo
  • 04 out., domingo
  • 08 nov., domingo

Os encontros são abertos à todos os interessados,
apareçam!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A BELEZA DA ORLA DO GUAÍBA NÃO COMPORTA “ESPIGÕES”

Que a partir de 23 de agosto seja possível continuar a repetir o gesto de Jerônimo de Ornellas, o primeiro habitante do morro Santana, que frequentemente subia o alto do morro e, contemplando lá de cima a paisagem do Delta do Jacuí, dizia: “Eu VI-A-MÃO de Deus”.

A mão de Deus que está representada pelos cinco rios: Jacuí, Caí, Sinos, Gravataí e Taquari. Os cinco rios representam os cinco dedos da mão de Deus.


Leia a seguir o belo texto do Irmão Antônio Cechin, fundador da Pastoral da Ecologia.


A BELEZA DA ORLA DO GUAÍBA NÃO COMPORTA “ESPIGÕES”


Volta e meia ouvimos alguém falar assim: “As praias do Rio Grande do Sul começam em Santa Catarina”. Ou então outros mais sarcásticos - um deles é um notável articulista de jornal - todos os anos, por ocasião da enxurrada dos “hermanos” argentinos rumo ao norte do Mampituba, saem com essa: “As praias de Santa Catarina dão de goleada nas praias do Rio Grande do Sul”. Ledo engano!... A realidade é que nosso Rio Grande tem dois mares, o de dentro, também apelidado de Costa Doce, e o de fora. Santa Catarina só tem um, o de fora.


Um pescador de Tramandaí, provocado pelo estranhamento de um banhista pela linha reta sem reentrância de espécie alguma, em nosso litoral, começando a norte, no Mampituba, limite com Santa Catarina, e se estendendo até o Chuí, na fronteira-sul com o Uruguai, retruca assim


“Famílias da roça, quando realizam o sonho da casa própria, costumam convidar amigos e vizinhos para a “festa da cumieira”. A colocação do telhado significa que a façanha está chegando ao “gran finale”. Aliás o provérbio dos antigos também confirma esse comportamento quando diz: “o coroamento da obra acontece no fim!”. Em bom latim: “finis coronat opus!”


Quem por primeiro assim procedeu, foi o próprio Deus, o supremo arquiteto do universo. Ele fez o mundo em sete dias. O último contorno de praias que criou foi no litoral brasileiro. Um grande mutirão: Deus com os seus anjos.


Na manhã do sexto dia começaram na costa norte da Terra de Santa Cruz, hoje Brasil, com a Amazônia. Vieram descendo rumo ao sul, num capricho só: praias cheias de recortes com enseadas, penínsulas, cabos, golfos, promontórios, baías, montanhas, estuários, etc. etc. Parecia mesmo um artesanato de mulher rendeira à beira d’água. Pelas 12 horas desse último dia de trabalho, tinham chegado à foz do Mampituba, divisa com o nosso Estado.


Deus Pai Criador se voltou então para os anjos e falou: “Vou me recolher ao seio da Trindade a fim de decidir como e quem vamos colocar para habitar a casa que está ficando pronta”. Deixou um “trabalho de casa” para ocupar os anjos: fazer as praias do Rio Grande do Sul que ainda faltavam.


A confabulação entre Pai, Filho e Espírito Santo concluiu que as criaturas humanas – homem e mulher – seriam feitos à “imagem e semelhança” das três divinas pessoas que, de tanto se amarem formam a melhor Comunidade.


Nesse meio tempo, os anjos arregaçaram as mangas e fizeram esse “retão” de praia a contrastar com tudo que haviam feito antes em companhia do Criador do mundo.


Pelo meio da tarde Deus-Pai, depois de ter resolvido com as duas outras divinas pessoas, o jeito que teriam os moradores da Casa Terra, veio para junto de seus anjos para ver o serviço. Quando deparou com a imensa linha reta da costa, o Criador levou um susto.


- “Então toda uma semana em que trabalhamos juntos não foi suficiente para vocês aprenderem?!”


Os anjos ficaram tristes e até um deles ensaiou uma lágrima, mas Deus que é Amor, imediatamente atalhou: “Nada, nada grave! Agora, retomando nosso mutirão, vamos mostrar as maravilhas que somos capazes de fazer no interior do continente. Vamos fazer o mar de dentro.” Falou e imediatamente espalmou a mão sobre o “continente que é o Rio Grande”. A palma da mão divina é o Guaíba. Cada um dos cinco dedos são os cinco rios: Jacuí, Caí, Sinos, Gravataí e Taquari. Isso tudo, naturalmente ao lado de inúmeros arroios, cascatas, lagos, lagunas, a Lagoa dos índios Patos que é a maior da América, etc. etc.


Dizem até que Jerônimo de Ornellas, o primeiro habitante, do alto do morro Santana em que morava, contemplava, lá de cima o Delta do Jacuí e repetia sempre: Eu VI-A-MÃO de Deus. Expressão que depois passou a ser o nome do município lindeiro de Porto Alegre.


Estava terminada a obra da Criação e a marca de Deus, - sua assinatura – é o Guaíba com os cinco dedos da mão se espraiando Rio Grande acima, em cujas margens vivem os dois terços de toda a população da nossa Terra querida, “defendida por Sepé”.


Será que saberemos preservar, a 23 de agosto, com o primeiro plebiscito de caráter ecológico de nossa história, as maravilhas da natureza com que Deus nos presenteou?...


Por Irmão Antônio Cechin

Contribuições da espiritualidade franciscana no cuidado com a vida humana e o Planeta

Para o Frei Ildo Perondi, São Francisco de Assis foi pobre e optou pela pobreza para se colocar entre “menores” e, com isso, denunciar a pobreza, que é sempre um pecado, sobretudo a que é fruto das injustiças

“Nós podemos construir um mundo mais simples, sem pobres, e não este mundo rico, opulento e excludente. É o que hoje dizemos quando afirmamos que ‘outro mundo é possível’.” A afirmação é do frei capuchicho Ildo Perondi, em entrevista concedida por e-mail à revista IHU On-Line, a respeito das contribuições da espiritualidade franciscana no cuidado com a vida humana e o planeta. A discussão sobre o assunto integra a programação do evento Espiritualidade cristã na pós-modernidade: desafios e perspectivas, realizado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Na visão de Frei Ildo, a fé cristã é profundamente prática. No entanto, “não basta professar a fé por palavras, é necessário vivê-la”. Ao analisar a caminhada de São Francisco de Assis, na opção pelos pobres, ele foi enfático: “Francisco nos ensina ainda que viver a pobreza é, também, assumir um modo de viver diferente desta proposta consumista apresentada pelo atual modelo econômico, sem nenhum respeito para com a preservação da natureza e sem se preocupar com as gerações futuras.”

Ildo Perondi é frei capuchinho, graduado em Teologia no Instituto Paulo VI de Londrina e Bacharelado na PUCPR (Curitiba-PR) e mestre em Teologia Bíblica, pela Universidade Urbaniana de Roma. Atualmente, é Guardião do Convento Santa Clara, dos Freis Capuchinhos, em Londrina (PR). Também é professor de Sagradas Escrituras e Ecumenismo na PUCPR (Câmpus Londrina) e no Instituto Teológico Divino Mestre em Jacarezinho (PR), além de assessor Arquidiocesano para o Ecumenismo em Londrina–PR, membro do MEL (Movimento Ecumênico de Londrina) e assessor bíblico da CRB, CEBI e Escolas Bíblicas para leigos."
Ildo Perondi

IHU On-Line - Quais são as características mais fortes da espiritualidade cristã contemporânea?

Ildo Perondi – Vivemos um tempo em que podemos constatar uma grande sede de Deus. Por mais que estejamos num mundo moderno, há uma forte busca pelo sagrado, pelo transcendente. Porém, esta busca é também diversificada, assim como é a sociedade atual. Por isso, é necessária uma abertura ao Espírito, que “sopra onde quer” (Jo 3,8). O cristianismo nasceu pelo sopro do Espírito que conduziu os Apóstolos para fora das estruturas, para os lugares novos, em busca de outras fronteiras. Hoje, vivemos numa sociedade fragmentada, em crise e em mudanças constantes. Então, creio que a espiritualidade cristã deve ter duas características importantes. Primeiro, uma fundamentação na história da nossa espiritualidade, sobretudo estudo e escuta da Palavra de Deus (com uma necessária e atualizada hermenêutica), ver como foram superadas as crises e caos que o povo de Deus enfrentou na sua caminhada histórica, e com isso sustentar-se em algo seguro. Segundo, é preciso arriscar-se, ir em frente, dar respostas, adaptar-se aos novos tempos, responder às angústias do ser humano de hoje, facilitar o relacionamento com Deus, alimentar sonhos e esperanças neste momento de travessia.

IHU On-Line - Que valores os cristãos devem cultivar nos dias de hoje, em um contexto de pluralismo cultural e religioso?

Ildo Perondi – A fé cristã é profundamente prática. Ser cristão no mundo de hoje é dar testemunho. Não basta professar a fé por palavras, é necessário vivê-la. Quem possui fé deve cultivar a relação amorosa com Deus; contemplar e admirar-se dos feitos de Deus na história; deve viver a ética e ser coerente; empenhar-se na construção do Reino; deve praticar a tolerância diante do diferente, seja ele religioso, racial, de gênero etc.; deve ser pessoa aberta ao diálogo com os outros, ser ecumênico com as outras religiões; viver a radicalidade da fé, sobretudo, quando é necessário o profetismo da denúncia e do anúncio; praticar a solidariedade e o acolhimento dos mais necessitados, das pessoas que sofrem – sejam os pobres e excluídos, como quem sofre das doenças modernas como o stress, a depressão, o vazio, a solidão; a fé deve ser ecológica com compromisso e cuidado com toda a Criação; os cristãos devem viver o mandamento novo ensinado por Jesus “amai-vos uns aos outros”, porque vivemos um tempo de interesses egoístas e o amor é que vai nos salvar. Enfim, creio que os cristãos devem viver este ser humano novo, relacional, criativo que aponte para um futuro com esperança.

IHU On-Line - Qual é a importância da figura de São Francisco de Assis e de sua proposta de vida de pobreza para os dias de hoje?

Ildo Perondi – Francisco foi pobre e optou pela pobreza para se colocar entre “menores” e, com isso, denunciar a pobreza, que é sempre um pecado, sobretudo a pobreza fruto das injustiças. Por isso, ele vai até o leproso e o abraça e se torna solidário com ele. Francisco quis mostrar que era irmão dos pobres e não uma ameaça para eles. É uma mudança de lugar social. Outro motivo é que Francisco abraça a pobreza para viver a simplicidade da vida, para viver da gratuidade, da graça de Deus, porque Jesus também nasceu pobre e fez opção pelos pobres. A pobreza é também uma forma de desprendimento e de viver a liberdade. Nunca houve ninguém que fosse pobre como Francisco de Assis e, ao mesmo tempo, tão gentil e cortês. Ele usava um hábito remendado, mas sabia ser elegante, aberto ao diálogo, foi instrumento de paz e reconciliação, capaz de ter palavras e gestos fraternos. Francisco nos ensina ainda que viver a pobreza é, também, assumir um modo de viver diferente desta proposta consumista apresentada pelo atual modelo econômico, sem nenhum respeito para com a preservação da natureza e sem se preocupar com as gerações futuras. Nós podemos construir um mundo mais simples, sem pobres, e não este mundo rico, opulento e excludente. É o que hoje dizemos quando afirmamos que “outro mundo é possível”.

IHU On-Line - Como a espiritualidade franciscana lida com a tensão entre fraternidade e autonomia pessoal?

Ildo Perondi – A fraternidade é necessária no franciscanismo, porque somos uma Ordem de irmãos, dados por Deus. A fraternidade é composta de irmãos de raças, culturas, aptidões diferentes. É esta multiformidade que embeleza e a complementa. É a resposta de Francisco ao mundo individualista e egoísta. Porém, cada irmão é um dom de Deus, possui a sua individualidade, seu jeito, seu carisma. O diferente é belo e completa o que falta em mim. É interessante analisar a individualidade dos primeiros companheiros de Francisco. Havia pessoas sábias e outras ignorantes; frades que eram clérigos e outros que não eram; exerciam as mais diversas atividades; alguns santos e outros tão singulares, como Frei Junípero. Portanto, a diversidade não elimina a fraternidade, antes a completa. Isso também deve ser verificado na questão econômica. Na fraternidade, todos colocam em comum o que possuem e o fruto do seu trabalho, mas também todos se beneficiam na mesa e da bolsa comum.
Extraído de http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=209&id_edicao=297 acesso em 14 ago. 2009.

Foto: Tancredo Neves neighborhood in Salvador, Bahia, Brazil / AlmostBrazilian. 2007. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tancredo_Neves_through_Fence.jpg acesso em 14 ago. 2009.

POGGIO BUSTONE















POGGIO BUSTONE

Bom dia, boa gente...
Esta é uma linda saudação...
Ela é exaltação da bondade divina...
De Francisco pobrezinho...
Aos seus filhos, suas filhas...

Poggio Bustone
Lugar simples da acolhida dos que foram rejeitados...
E por isso a boa gente por Francisco é chamada...
Para a glória de Deus pelo bem realizado...

Poggio Bustone
Este é o lugar místico da oração contemplativa...
É o lugar da certeza do perdão de São Francisco...
Do envio missionário e da volta tranqüila...

Poggio Bustone
É o lugar da visão do tamanho crescimento da Ordem...
Da vinda dos irmãos de toda parte do mundo...
Para o pobre rebanho da seara do Senhor...

Ó Francisco ainda hoje és ali reconhecido...
E por isso a boa gente se saúda como então...
“Buon giorno, buona gente”
Com a tua saudação...

Paz e Bem!


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Carta a Francisco de Assis

Por ocasião dos 800 anos do aniversário da fundação da ordem franciscana, Francisco J. Castro Miramontes, escreve uma carta a São Francisco de Assis, relatando suas preocupações, decepções, alegrias e esperanças.

Francisco J. Castro Miramontes é sacerdote franciscano, Licenciado em Direito Civil e Canônico e Diplomado em Sagrada Escritura. Miramontes é o delegado de Justicia y Paz da ordem franciscana e responsável pelo Lar de Espiritualidade São Francisco de Assis, que acolhe peregrinos, em Santiago de Compostela. É também autor de, entre outros livros, Alter Christus. Francisco de Asís, signo del amor. Madrid: Editorial San Pablo, 2009.

Eis a Carta a Francisco de Assis, escrita por Francisco Castro Miramontes e publicada no sítio espanhol Religión Digital, 16-04-2009. A tradução é do Cepat.

Irmão Francisco: paz e bem. Já se passaram quase oito séculos e ainda continuamos a recordar teu nome, mesmo quando certamente terias preferido passar de maneira discreta pela história, porque na realidade eras, de coração, um cidadão do céu. Quase oitocentos anos ao longo dos quais a Humanidade continuou seu curso e voltamos a cair nos graves erros da tua época. De fato, continuamos a ver em ti, homem do teu tempo, curtido na lida cotidiana em um meio cultural, político, religioso e econômico determinado, alguém que tem muito a dizer-nos hoje. Nesse sentido, está claro que não perdeste nem um pouquinho de atualidade, de novidade e de originalidade.

Mas, ao mesmo tempo em que constato isto, nem por isso deixo de sentir uma espécie de saudade, e ao mesmo tempo de tristeza. Me explico. Sentimos saudades de alguém, de algo, de algum lugar, que identificamos como único, belo, essencial em nossas vidas. E o fazemos precisamente porque tememos tê-lo perdido, ou que já não volta mais, ou que nada volta a ser o mesmo. Minha saudade de ti consiste talvez em que sinto que a tua história de amor ficou empacada, estancada, perdida, como se tratasse de uma ilha, no oceano imenso da história, como se o que tu viveste já não pudesse ser vivido hoje, ao menos não da mesma maneira e com a mesma intensidade. E me refiro não à tua vida concreta que, ao fim e ao cabo, é única e irrepetível, mas à tua experiência de amor solidário e generoso, teu compromisso desde e pela paz, que hoje tanto necessitamos.

A saudade é positiva se nos faz renascer para o que há de melhor em nós mesmos, mesmo que seja a força de idealizar e sonhar com o belo. A tristeza me brota – te confesso – porque comprovo que o ser humano de hoje, na realidade, não evoluiu. É verdade que a tecnologia é deslumbrante. Certamente, te sobressaltava comprovar como se avançou no aspecto da técnica ou da medicina, mas de um modo injusto, já que convertemos o mundo num gigantesco leprosário no qual marginalizamos centenas de milhões de pessoas que necessitam sobreviver (e às vezes nem sequer isso) em meio aos açoites insultantes da miséria. Sim, sem dúvida, tu, hoje, novamente estarias aí, junto destes novos “leprosos”.

O grande avanço, o progresso do qual os políticos tanto falam, na realidade é um pouco fictício. Para algumas pessoas a vida é um pouco mais cômoda, têm (temos) muitos meios materiais, mas o coração continua sendo o mesmo, aquele que tu conheceste em teu tempo. As diferenças, aqui, são de mero matiz. No teu tempo vestias de um jeito, viajavas a cavalo, não tinhas televisão nem internet, mas o coração humano podia chegar a ser imensamente mesquinho, como hoje. A verdadeira revolução, a do coração, iniciada por teu Jesus e continuada por ti, ainda está inconclusa. É um grande fracasso, mas ao mesmo tempo também um estímulo para continuar construindo sonhos e esperanças, porque, como podes comprovar, ainda está quase tudo por fazer. É certo que houve belos acontecimentos, que o bem continua abrindo espaço no meio da história, que há pessoas maravilhosas que se parecem muito contigo, mas o mal segue sendo contumaz e resiste em abandonar o coração humano, em cuja terra brotam todas as sementes de confronto e violência. Das guerras de nosso tempo não quero nem te falar, de tantas formas de guerra muito mais cruentas que as de teu tempo, porque hoje é muito fácil matar: que horror!

Tua família religiosa – ainda que não quiseste fundar nada por não se sentir digno – foi e continua sendo, muito próspera, mesmo que tenha sido uma história de luzes e sombras, de luta para conquistar um belo ideal ao mesmo tempo que a realidade concreta se nos impõe uma realidade cheia de contradições e infidelidades. Hoje existem não sei quantos movimentos religiosos e culturais que seguem o teu caminho. A Igreja beatificou e canonizou várias centenas de seguidores teus (perdoa; seguidores do Evangelho). Também teus filhos e filhas ofereceram seu sangue em martírio, sem olhar para trás, sentindo-se herdeiros do Reino dos Céus, com essa liberdade da qual tu falavas com frequência, aquela que nos leva a fazer só aquilo que é contrário “à nossa alma”. E no meio do mar do mundo continuamos a nos referir à tua “perfeita alegria”, aquela que expressaste ao Irmão Leone a caminho de Santa Maria, quando o tempo piorava e confabulavam com o cansaço e a fome. Chegar à porta da tua casa e não ser recebido devia ser acatado com paciência, a ciência da paz, vencendo-se a si mesmo. É aí, na adversidade, onde vence a humildade da pessoa pacífica e enamorada da vida. Viver comprometidos com o amor é uma aposta na verdade caritativa que tu aprendeste na escola de Jesus de Nazaré.

A Igreja atual continua sendo, em parte, a Igreja do teu tempo, porque é formada por homens e mulheres frágeis. Ela está sendo muito criticada, ma não se quer ver mais do que aquilo que interessa ver. Graças a Deus – a quem tu tantas vezes davas graças por tudo e apesar de tudo – seguem se produzindo no seio da Igreja muitos gestos de entrega generosa pela causa do Evangelho, nem sempre compreendidos por algumas pessoas, e pelos poderes deste mundo, que não desejam ter próximos testemunhas da verdade, por medo de que descubram muitas mentiras sobre as quais se apóia este mundo.

Continua-se a falar de ti – e já sei que isso não lhe agrada muito –, vencedor de vaidades e prepotências, como um homem de coração nobre e espírito humilde, como um grande amante da criação, como testemunha e portador da paz. Anualmente, acodem a Assis, e a outros lugares que guardam a tua memória, muitíssimas pessoas provenientes do mundo inteiro. Por que será? Te lembro aqui as palavras daquele irmão teu que te perguntava por que todos iam ao teu encontro, se na realidade tu eras o contrário do paradigma de herói do teu tempo. A tua resposta foi simples e realista: porque Deus conhecia teu pecado e quis manifestar-se, como sempre, através de um homem frágil e consciente de suas limitações. “O homem é o que são os olhos de Deus, e isso basta”, costumavas dizer. Estavas muito consciente da tua indigência, mas também do grande amor de Deus para com as criaturas.

Te confesso também que em certo modo hoje voltamos a te decepcionar, posto que nos tornamos muito acomodados e pouco comprometidos. Inclusive te “sequestramos”, porque falamos muito de ti, em homenagem a ti erguemos monumentos e majestosos prédios, teu nome está em ruas e até há cidades que tem o teu nome. Plasmarei aqui, por escrito, o que tu dizias: “Os santos fazem as obras, e nós, ao narrá-las queremos receber honra e glória”. Talvez seja assim. É mais fácil falar dos outros do que fazer da própria vida um caminho de encontro com Deus e a bondade. (...).

Dizem que um dos personagens mais conhecidos da história do século XX chegou a dizer – depois de liderar uma revolução – que na realidade ele teria necessitado de uma dúzia de “Franciscos de Assis” para que se tivesse realizado o sonho. Afinal, o lobo que mora em nós sai feito bicho selvagem à procura de quem devorar. Tu foste um rebelde, um revolucionário do coração, e hoje te lembramos por isso, e eu, pessoalmente, te agradeço por isso. Sabes que em minha vida tu és muito importante. Cada vez que dirijo meus passos, caminhando pela rua que leva teu nome, para o convento de São Francisco de Santiago de Compostela, e contemplo a tua efígie de braços abertos no “monumento”, reconheço que me dá a impressão de que a pedra me sorri, de que tu estás presente, na pedra moldada, na água da chuva, nos pássaros que cantam, nos viandantes... na vida, no amor, na paz e na esperança.

Quero concluir esta improvisada carta de amigo, de irmão, com uma oração, para que a recitemos juntos. Trata-se da “oração da paz”, composta muito tempo depois de ti, mas que sem dúvida reflete perfeitamente o teu espírito e estilo de vida. Ficamos combinados para um novo encontro, quando Deus quiser. Já tenho vontade de estar contigo. Até sempre, Francisco, “boamente”:

“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna”.

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21580 acesso em 15 ago. 2009.
Foto: Envelope padronizado alemão / Fotógrafo: Frank C. Müller. 2005. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Briefumschlag_fcm.jpg
acesso em 15 ago. 2009.

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