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sábado, 31 de março de 2012

Por Missões (realmente) Populares


Estamos às portas de mais um grande evento de massa da ICAR: as Missões Populares. Para algumas pessoas, é o momento de conquistar almas para Cristo. Já, outras acreditam em uma grande cruzada contra o avanço dos heréticos evangélicos. Mas há quem deseje, do fundo do coração, que essas missões sejam populares de fato. Para essas pessoas, é momento de ir ao encontro das irmãs e irmãos, independente de sua profissão de fé.

O discurso oficial da Igreja fala em conhecimento das diversas realidades. Desculpem o meu ceticismo, mas isso cheira a censo. Primeiro, porque a ICAR se organiza, ainda, de forma territorial. Ou seja, os limites geográficos de uma determinada região fazem parte de (leia-se: “pertencem a”?) uma certa comunidade/paróquia. Segundo, porque esse é o mesmo discurso do governo para justificar a atuação do IBGE. E sabemos (não sabemos?) que essas pesquisas têm a finalidade de mapear a população para, depois, entre outras coisas, cobrar impostos.

A Bíblia diz que o censo é pecado. Mas ela não se limita à pura e simples constatação. Sua preocupação é denunciar o mal por trás da ação. Em 2Sm 24, a crítica a Davi é velada e faz com que o próprio Javé incite o rei contra o povo (v. 1), fazendo-o arrepender-se depois (v. 10). Mas Salomão não é poupado. Em 2Cr 2,16-17, diz-se abertamente que foram contados os homens disponíveis para a guerra e a corveia (trabalho forçado para o rei). Logo, o censo deveria ser uma vergonha para nós, cristãs e cristãos.

Quanto às cruzadas, basta-nos a História. Há quem ainda defenda as “boas intenções” da Igreja. Mas qualquer uma, qualquer uma que tenha o mínimo conhecimento dos Evangelhos sabe que a Boa nova de Jesus não estava na ponta de uma espada. Aliás, quando um de seus discípulos resolveu utilizar esse recurso, Jesus o repreendeu: “Quem usa da espada, pela espada morrerá” (Mt 26,52). Óbvio que não veremos espadas nas missões-cruzadas, mas o princípio ainda é o mesmo: destruir o oponente.

Se querem ser populares, então que as missões estejam mais de acordo com a Bíblia na ótica do pobre. Mostrar um Deus cujo único objetivo é se dar a conhecer parece atitude de quem quer impor sua religião, sua verdade. Javé quer mais! Ele se interessa, conhece a realidade de seu povo (Ex 3,7) e desce para libertá-lo (Ex 3,8 – entenda-se: “vai ao seu encontro”, “caminha com ele”). No Primeiro Testamento, envia Moisés e os profetas. No Segundo, Ele mesmo encarna a condição humana na Pessoa de Jesus. O chamado, isto é, a Missão não é privilégio, não busca benefício próprio; antes, é a resposta divina ao clamor de um povo.

Tal resposta não se dá de cima para baixo. Ir ao encontro não é sinal de superioridade, mas igualdade. Ao ser questionado por um especialista em leis sobre quem era o seu próximo, Jesus contou a história do homem assaltado e resgatado por um samaritano (Lc 10,25-37). Ao final, Ele inverteu a pergunta: “Quem foi o próximo da vítima?” O escriba não conseguia dizer “samaritano” (havia, de fato, uma rixa entre estes e os judeus), mas reconheceu que era aquele que havia praticado misericórdia (v.37). O superior escolhe quem deve se aproximar dele, mas Cristo nos envia a sermos as próximas, a estarmos próximos de quem realmente necessita, independente de religião, cor, sexo, idade ou condição social.

E quem necessita de nós? De quem estamos mais próximos? Nas missões populares, iremos às casas de nossos vizinhos. Alguns seguidores de João Batista, quando convidados a seguir Jesus, quiseram saber onde Ele morava (Jo 1,38). Exigência boba? Não! Prudência! Seguir um sonhador, que não vive a realidade concreta de sua própria casa, é loucura. Jesus se mostrou uma pessoa concreta, que vivia em uma casa concreta e passava o dia-a-dia no meio do povo. Com certeza, Ele se interessava pela vida de seus vizinhos (de forma positiva, construtiva, é claro), e isso bastou para que os discípulos de João acreditassem n’Ele e o seguissem (v.39).

E, já que a ideia não é converter as pessoas, o que devemos fazer nas casas? Bom, quem disse que a intenção não é converter? O problema é que nós pensamos, hoje, o processo de conversão como uma adesão de fé. Ora, é isso também... Mas não é isso! Aliás, essa deve ser a nossa última preocupação. Quando enviou seus discípulos, dois a dois (Lc 10,1-12), Jesus  recomendou que levassem somente o necessário, anunciassem a paz, permanecessem nas casas, comessem, bebessem, curassem os doentes e anunciassem que o Reino está próximo. Pelo que vemos, não disse nada sobre adesões ao cristianismo. Então, que raio de conversão é essa? É a conversão dos costumes, dos gestos, de uma cultura enfim.

Mudar uma cultura não é fácil. Quando os discípulos pediram que Jesus despedisse a multidão faminta, Ele os repreendeu: “Alimentem vocês mesmos o povo” (Mc 6,35-37a). E eles ficaram bravos: “Como conseguiremos fazer isso sozinhos?” (v.37b – interpretação livre). Jesus, então, ensinou o grande segredo: “Não façam pelo povo; façam com o povo. Organizem-nos. Façam-nos sentar (entenda-se: “que estejam em condições de igualdade”), formando grupos de 50 e de 100 (isto é, grupos pequenos). Que cada grupo tenha autonomia, mas que ajam em rede, conectados, em verdadeira comunhão.” (vv. 38-44 – novamente, versão livre). Moisés já havia tentado isso, quando nomeou os juízes (Ex 18,13-27). Mas esse projeto igualitário foi suplantado pela instituição da monarquia (1Sm 8). 300 anos depois da morte de Jesus, o cristianismo também ficou submisso ao poder do império romano. O projeto de vida em abundância para todas e para todos (Jo 10,10) é a utopia, a realização plena do Reino, o projeto sonhado por Deus, mas o caminho para chegar até lá depende de nós – e é longo, árduo e perigoso.

Mas não devemos desanimar. As missões populares, portanto, devem ser o grande momento de reunir o povo, ser fermento na massa. Isto é, que entendamos o ser missionária, ser missionário como ser agentes de transformação, ajudando o povo a ser organizar em busca da terra prometida, ou seja, da realização da vida plena, o grande sonho de Deus.

sexta-feira, 30 de março de 2012

SEM A CONVERSÃO DO CORAÇÃO NÃO HÁ SALVAÇÃO






















Por que os homens se matam tanto?
Porque veem na morte a única solução para os seus conflitos...
É triste constatar que a solução humana para suas crises...
seja um fim tão difícil, tão trágico...

Mas porque ocorre isto?
Porque vivemos num mundo que se esquece de Deus...
Porém, se lembra frequentemente do inimigo de nossas almas...
Por isso o serve com uma presteza de causar espanto...
Pois quase tudo o que empreende o leva para o mal...

Vejamos o porquê...
Cidades mal planejadas,
pervertidas administrações e péssima prestação de serviço público...
Eis o que constatamos nos centros avançados ou nos mais recônditos lugares onde os senhores da política entram em ação...
E não é por falta de dinheiro não...
Mas sim, por conta da corrupção e os desvios de verbas...
Que só servem para aumentar as reservas materiais do afortunados de plantão...
E assim os pobres miseráveis são empurrados para as encostas e sarjetas da vida...
Onde infelizmente são soterrados pelas catástrofes naturais e dessa infame corrupção...

E o que dizer dos grandes empresários deste mundo que só visam o lucro de seus negócios e nada mais?
Estes pouco ou nada se importam com os assalariados que passam a maior parte do tempo trabalhando por migalhas de pão,
adquirido com muito enfado, suor, lágrimas e sofreguidão...

Enquanto isso, os “caríssimos” políticos, magistrados ou colarinhos brancos, etc., se aproveitam dos encantos do poder para fazerem suas farras particulares...
Desse modo, criam leis e as administram em causa própria...
manipulando-as ao bel prazer com as facilidades que o poder político lhes dá...
Mentir! Ah! Pra eles é fácil e rápido por maiores que sejam as evidências de seus golpes...

Ah! Liga pra isso não, na próxima eleição é só comprar os votos...
Ou se valer do famigerado “habeas corpus”...
Ou mesmo recorrer das sentenças por meio de liminares compradas e pronto, está resolvido o imbróglio que os ameaçava;
Além do mais o povo esquece fácil...
O que importa mesmo é nunca perder o poder, nunca,
aconteça o que acontecer...

Por isso, pergunto:
Já viram algum político corrupto preso por muito tempo?
Ou algum magistrado na cadeia ou mesmo sem aposentadoria compulsória quando pego em falcatruas?
E assim esse veneno de hipocrisia se alastra como uma epidemia danosa...
Corroendo as massas perdidas nos labirintos desta vida...
Onde sempre ganha o mais forte, o quem tem mais e por isso manda mais...

E assim vamos nós eternidade adentro,
sofrendo as barbáries, os tormentos...
daqueles que se acham donos do poder neste mundo, imundo,
afundado nos mais terríveis pecados...
Destruído pelos vícios, guerras, fomes, assassinatos...
Doenças incuráveis, catástrofes medonhas e destruição dos bons costumes...
Enquanto os justos não passam de estrumes para os injustos...
que lhes impõe as regras que o mal traçou...

Será que existe alguma saída pra tudo isto? Existe sim...
É preciso crer no Filho de Deus, único caminho...
Única Verdade que dissipa todos os vícios
e todas as maldades desta nossa sociedade decaída...
Pois, somente Nele temos vida nova, temos ressurreição...
Mas infelizmente os desvios de conduta têm levado muitos à perdição...
Pois, só seguindo os passos de Jesus é que podemos chegar aonde ele chegou...
Isto é, no oceano do amor de Deus Pai, por uma vida íntegra...
Amparada no plano da salvação que o Senhor mesmo para nós preparou...

Então, só há uma solução para que haja a verdadeira libertação da humanidade...
Conversão, conversão, conversão...
Como aconteceu em Nínive, a cidade do pecado...
Porque sem a conversão do coração,
não há salvação para essa nossa humanidade hedionda...
afundada na lama da própria perversão...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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quinta-feira, 29 de março de 2012

DEUS É AMOR




DEUS É AMOR


Deus é amor e com seu amor abrange tudo e todos...
Nunca falhou para com suas criaturas...
No entanto, suas criaturas falharam e falham para com Ele...
Não obstante, revelou-se misericordioso ao infinito...
Perdoando os pecadores por seu Filho, que disse:
“Não vim salvar os justos, mas sim, os que estavam perdidos”...

Por isso, as criaturas,
mesmo não medindo as consequências de seus atos falhos,
Não perdem a liberdade totalmente enquanto não forem julgadas...
A Princípio pela morte temporal...
Em seguida pelo Próprio Deus...
que lhes destinará à condição eterna que escolheram para si...

Todavia, ninguém pode acusar o Criador de nada,
pois, agachando-se da Plenitude de sua divindade,
se fez homem para salvar os homens e toda a obra criada...
Por seu sacrifício cruento ainda no tempo,
para que por meio de seu Sangue derramado,
reparasse todo pecado e eliminasse o mal de entre sua criação...

Assim o Senhor realizou o seu Plano de salvação,
por nunca abrir mão de suas criaturas...
Ora, os males que hoje vemos tem seus dias contados;
porque não é possível que o pecado e o mal,
vençam a justiça e a bondade divinas...

Por isso, digo e repito...
Deus é amor, Infinito amor...
E quem ama permanece em Deus, e Deus nele...
“Pois todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus...
Daqueles que são seus eleitos”, (Rom 8,28)...
mesmo as coisas que não entendemos...

Portanto, devotamente procuremos entender...
Baseados em nossa liberdade precisamos dizer sim a Deus...
E dizer sempre não ao pecado e ao mal...
Porque, pelo que vivemos sabemos que neste mundo tudo tem fim...
Mas quem ama o Filho de Deus, Nele tem a vida eterna...
Porque já não vive para si, mas para o Senhor que nos criou...
E que nos deu em seu amor ressuscitar como ressuscitou...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.



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quarta-feira, 28 de março de 2012

O jovem Francisco se encontra com os pobres

 
Por Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Viver é sempre um desafio. Viver cristãmente requer atenção e pericia na linha da sabedoria. Ao longo de um certo tempo Francisco de Assis foi tentando descobrir seu caminho.  Foi tentando descobrir o sentido de sua vida.  O encontro com os pobres parece ter marcado seu caminho de discernimento vocacional.

1. Nascemos, crescemos e somos colocados diante de encruzilhadas existenciais.  Nosso caminho existencial não é revelado da noite para o dia.  Há escolhas que vamos fazendo ao longo da estrada. Há pessoas que abrigamos em nossa intimidade. Vamos descobrindo os elementos de nossa vocação, dessa  convocaçao da vida a que sejamos gente e gente de valor. É sempre preciso dar tempo ao tempo.  Há encontros com pessoas, circunstâncias particulares a cada um,  visitas que nos são feitas, inspirações do alto.  Podemos nos espelhar no caminho que foi sendo descoberto e palmilhado por Francisco de Assis.   Aquele rapazinho de Assis que começava a sentir o gosto, o poder e a força do dinheiro. Ele era herdeiro de uma pai que estava sendo vitorioso no comercio de tecidos.  Andava ele, o entanto, visitando seu interior e sentindo  fome de plenitude.  Era preciso respeitar as etapas. Depois da prisão, da doença esse moço  sentia que seu interior ia se transformando. Era o encontro consigo mesmo.

2. O encontro com os pobres marca a vida de Francisco.  Continuava ele   cheio de interrogações e inquietações.   O segundo encontro foi marcado e caracterizado pela saída de si mesmo e abertura ao mundo dos outros, de modo particular o mundo dos pobres.  Num primeiro momento manifesta uma certa ou forte reserva para com o mundo dos mendigos, pobres, andarilhos.  Num segundo momento adota, talvez, uma postura paternalista: resolve dar esmolas. E termina se identificando com os pobres.  Ele será conhecido através de todos os tempos como o  pobrezinho, o poverello.  Nutrirá uma paixão pelo  Cristo pobre e  da pobreza fará sua esposa, a dama pela qual se apaixona, a Madona Povertà.  A  Legenda dos Três Companheiros  faz uma observação que vale a pena ser ressaltada.  Ele dizia a si mesmo: “  Visto que és generoso e cortês para com os homens dos quais nada recebes, a não ser favor transitório e fútil, é justo que, por amor de Deus que é generosíssimo em retribuir, sejas cortês e generoso para com os pobres”  ( Legenda dos Três Companheiros,  3,3).  Um pouco mais adiante se diz:  “Embora fosse comerciante, era distribuidor muito leviano das riquezas mundanas”.

3. Certa vez, enquanto estava preocupado com o trabalho de vendedor de tecidos, chega um pobre, pedindo-lhe esmola pelo amor de Deus. Não acolhe nem o pedinte, nem o pedido.  Se o homem tivesse pedido esmola em nome de um “figurão” da cidade talvez ele tivesse atendido à solicitação.  De repente, “entrando em si mesmo”,  Francisco teria ido atrás do mendigo e  feito uma generosa esmola.  Talvez a palavra generosidade seja  muito apta para explicar o caminho de discernimento vocacional de Francisco e o nosso.  A alma franciscana é generosa.  Nunca mais Francisco negaria esmola aos pobres.  Generosidade significa abertura aos outros.

4. Sempre fora ele dadivoso para com os pobres. Dava-lhes as próprias roupas. Comprava objetos para o decoro das pobres igrejinhas de Assis  e escondido do pai mandava os presentes para os pobre sacerdotes das pobres igrejas.  Aproveitava a ausência do pai e enchia a mesa de pães para os pobres.  Fixemos este aspecto:  pobre de coração é aquele que é desprendido.

5. Outro momento importante da caminhada de discernimento cristão de Francisco se deu em Roma, no aspecto da pobreza.  Aconteceu, segundo a Legenda dos Três Companheiros,  que Francisco, por motivo de peregrinação,  chegou a Roma.  Entrando na Igreja de São Pedro se deu conta que as esmolas eram mesquinhas.  Inquietava-se com o fato. Ali estando o túmulo de Pedro as pessoas deviam ser mais generosas. Francisco fez um estardalhaço.  Pegou moedas em sua bolsa e as jogou com bastante barulho.  Ao sair havia pobres pedindo esmolas. Resolve  trocar suas roupas com as roupas de um mendigo.  Começou a pedir esmolas em francês.  Não bastou a generosidade para com os pobres, mas desejava experimentar o que experimentam os pobres.  Por ai vai seu discernimento vocacional.  “A vocação é autêntica quando não se reduz a uma mera relação intimista  com Deus, mas abre a pessoa  aos serviço dos outros” (F. Marchesi).

6. O tema da pobreza é complexo. Não é aqui o lugar de fazer considerações teológicas e espirituais.  Fique claro: Francisco foi compreendendo que a pobreza era uma trilha real porque  Jesus,  escolheu para si esse caminho, nascendo pobre no presépio, vivendo pobremente, não tendo nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça.  Morreu nu e pobre no alto da cruz.  Pobreza para Francisco tem um nome:  Jesus.  Francisco será pobre de bens, pobre de seus interesses pequenos pessoais.  Livre de todo apego para ser somente de Deus, de seu amado.

7. Vivemos num mundo de opulência e de gastança.  Há muitos jovens e adultos literalmente estragados pela gastança. A ordem é consumir para  fazer girar a economia e  ajudar o crescimento do PIB. Mas… Os franciscanos haverão de ser pessoas desejosas de  viver o progresso no mundo, mas sempre mostrarão posturas de simplicidade e de não se apoiarem no dinheiro e  no poder. Parece importante cultivar esse espírito de despojamento: na maneira, no estilo de se viver a família, na maneira de conviver com os outros. Não querer sempre o melhor para si.  Nunca se deixar dominar pelo dinheiro.

8. Muitas de nossas reflexões se inspiraram em  Fernando Uribe, OFM, em texto que fala do processo vocacional de Francisco  (Verdad y Vida, enero-abril 2001, p.  75ss).  Terminamos nossa reflexão com palavras do autor:  “O encontro de  Francisco com os pobres é garantia da autenticidade de sua vocação.  Sua busca de Deus não se reduziu a um relacionamento intimista de solidão, nem sua prática  da pobreza era uma simples ação ascética de domínio próprio e de libertação das coisas terrenas.  Seu encontro  com Deus na oração  tem no encontro com os pobres a demonstração de que não está buscando a si mesmo”.

Para continuar a reflexão
  • Como Francisco foi descobrindo a pobreza  e os pobres
  • Legenda dos Três Companheiros  8-11 
Para refletir
  1. O que chama sua atenção no tocante às posturas de Francisco para com os pobres?
  2. O verdadeiro pobre de coração é aquele que esvazia-se de si mesmo: O que está frase quer dizer.
  3. O que significa viver a pobreza no mundo de hoje?

terça-feira, 27 de março de 2012

Clara de Assis: a coragem de uma mulher apaixonada


 Há 800 anos, na noite de 19 de março de 1212, dia seguinte à festa de Domingos de Ramos, Clara de Assis, toda adornada, fugiu de casa para unir-se ao grupo de Francisco de Assis na capelinha da Porciúncula que ainda hoje existe. As clarissas do mundo inteiro e toda a família franciscana celebram esta data que significa a fundação da Ordem de Santa Clara, espalhada pelo mundo inteiro.

Clara junto com Francisco – nunca devemos separá-los, pois se haviam prometido, em seu puro amor, que “nunca mais se separariam” segundo a bela legenda da época – representa uma das figuras mais luminosas da Cristandade. É bom lembrá-la neste mês de março, dedicado às mulheres. Por causa dela, há milhões de Claras e Maria Claras no mundo inteiro. Ela, de família nobre de Assis, dos Favarone, e ele, filho de um rico e afluente mercador de tecidos, dos Bernardone.

Com 16 anos de idade quis conhecer o então já famoso Francisco com cerca de 30 anos. Bona, sua amiga íntima, conta, sob juramento nas atas de canonização, que entre 1210 e 1212 Clara “foi muitas vezes conversar com Francisco, secretamente, para não ser vista pelos parentes e para evitar maledicências”. Destes dois anos de encontro nasceu grande fascínio um pelo outro. Como comenta um de seus melhores pesquisadores, o suíço Anton Rotzetter em seu livro “Clara de Assis: a primeira mulher franciscana” (Vozes 1994): “neles irrompeu o Eros no seu sentido mais próprio e profundo pois sem o Eros nada existe que tenha valor, nem ciência, nem arte, nem religião, Eros que é a fascinação que impele o ser humano para o outro e que o liberta da prisão de si mesmo”(p. 63). Esse Eros fez com que ambos se amassem e se cuidassem mutuamente mas numa transfiguração espiritual que impediu que se fechassem sobre si mesmos. Francisco afetuosamente a chamava de a“minha Plantinha”. Três paixões cultivaram juntos ao longo de toda vida: a paixão pelo Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a paixão um pelo outro. Mas nesta ordem. Combinaram então a fuga de Clara para unir-se ao seu grupo que queria viver o evangelho puro e simples sem glossas e interpretações que lhe tirariam o vigor.

A cena não tem nada a perder em criatividade, ousadia e beleza, das melhores cenas de amor dos grandes romances ou filmes. Como poderia uma jovem rica e bela fugir de casa para se unir a um grupo parecido com aos “hippies” de hoje? Pois assim devemos representar o movimento inicial de Francisco. Era um grupo de jovens ricos, vivendo em festas e serenatas que resolveram fazer uma opção de total despojamento e rigorosa pobreza nos passos de Jesus pobre. Não queriam fazer caridade para pobres, mas viver com eles e como eles. E o fizeram num espírito de grande jovialidade, sem sequer criticar a opulenta Igreja dos Papas.

Na noite do dia de 19 de março de 1212, Clara, escondida, fugiu de casa e chegou à Porciúncula. Entre luzes bruxoleantes, Francisco e os companheiros a receberam festivamente. E em sinal de sua incorporação ao grupo, Francisco lhe cortou os belos cabelos louros. Em seguida, Clara foi vestida com as roupas dos pobres, não tingidas, mais um saco que um vestido.

Depois da alegria, das canções dos trovadores franceses que Francisco tanto gostava e das muitas orações, foi levada para dormir no convento das beneditinas a 4 km de Assis. 16 dias após, sua irmã mais nova, Ines, também fugiu e se uniu à irmã. A família Favarone tentou, até com violência, retirar as filhas. Mas Clara se agarrou às toalhas do altar, mostrou a cabeça raspada e impediu que a levassem. O mesmo destemor mostrou quando o Papa Inocêncio III não quis aprovar o voto de pobreza absoluta. Lutou tanto até que o Papa enfim consentisse. Assim nasceu a Ordem das Clarissas.

Seu corpo intacto depois de 800 anos comprova, uma vez mais, que o amor é mais forte que a morte.

  • Leonardo Boff é autor de Francisco de Assis: ternura e vigor, Vozes 2003.

segunda-feira, 26 de março de 2012

CONDUZIDOS PELO ESPÍRITO





Os homens se acham seguros em sua insegurança. E por que isso acontece? Porque a todos foi dado um tempo que pode ser encurtado ou não, isso depende da conduta e de como se vive a liberdade que cada um recebeu de Deus. Todavia, por Deus fomos chamados não só à vida e à liberdade naturais, mas também à vida eterna Nele, isto é, à vida em estado de graça, sem pecados. Quem o conhece pela fé, o ama e o segue rumo ao infinito do seu amor, e sabe que a vida vivida no Senhor, em nada se compara com o que vivemos naturalmente neste mundo.

Ora, tudo Deus criou e tudo sustenta com o seu poder, porém, é preciso que reconheçamos isto; caso contrário, seguiremos nosso próprio itinerário existencial rumo a lugar nenhum, porque não sabemos por nós mesmos, quem somos, de onde vimos e para onde vamos. Por isso, Deus nos deu o seu Espírito, por meio do seu Filho Jesus Cristo, para que por ele vivamos em plena comunhão de amor com o Senhor, que é Pai de nossas almas. Mas, para seguirmos o itinerário do Espirito, precisamos renunciar ao nosso projeto de vida, para seguirmos o Plano de Deus para a nossa salvação e de toda a criação, plano este que consiste no seguimento de Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo.

Sem o Espírito Santo nada podemos, porque “o Espírito conhece todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus”. E Ele que conhece todas as coisas e as tem unidas, sabe muito bem o que precisamos para que a Vontade de Deus aconteça em nossa vida, ou seja, o Espírito sabe o caminho certo para a implantação do Reino de Deus a partir deste mundo e por isso nos dá a graça, o entendimento e a fortaleza, para cumprirmos tudo o que temos que cumprir sem hesitação alguma, como aconteceu com Jesus de Nazaré, nosso Senhor e Salvador.

Logo, precisamos do Espírito de Deus em todos os sentidos da vida, porque quando nos deixamos conduzir por ele, perdemos o medo, nos enchemos de coragem e dos seus dons e virtudes que nos capacitam para as boas obras que Deus de antemão preparou para que nós as pratiquemos; assim, trabalhamos a nossa salvação a partir de nossa entrega incondicional ao Senhor, permanecendo em sua presença todos os instantes de nosso viver.

Porém, isso requer de nós, seus filhos e filhas, alguns procedimentos básicos para que a obra do Senhor se realize perfeitamente em nós e por meio de nós, porque o Senhor nada quer fazer sem a nossa cooperação. Então, como cooperar com o Senhor em sua ação redentora? Primeiro, precisamos da vida de oração e escuta atenta da Sua Palavra, porque nela está consignado o seu Plano salvífico que o Senhor traçou para nós; depois, precisamos da vivência dos Sacramentos, especialmente o do batismo, da confissão e da eucaristia, fontes inesgotáveis da sabedoria e da força divina que nos sustenta nesta vida; e ainda, precisamos de formação bíblica, litúrgica, catequética; estudo atento do Catecismo da Igreja, para conhecê-la e conhecer sua doutrina; e formação humana e educacional, necessárias à nossa sobrevivência e bem estar na vida em sociedade.

Por fim, se pôr a serviço do Reino de Deus nas mais diversas vocações: consagração matrimonial, consagração religiosa, consagração leiga; para o serviço da Igreja nas mais diversas pastorais e movimentos, nas novas comunidades eclesiais; como também nos mais diversos serviços em nossa sociedade, como por exemplo: militância política, serviços profissionais, tais como: medicina, advocacia, comércio, etc... De tal forma que toda a sociedade fique impregnada do Espírito Santo, para que haja harmonia, unidade e paz em todos os sentidos da vida comunitária.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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O dia em que Chiara Favarone saiu para "fora do acampamento"


Clara e Francisco queriam viver como eles acreditavam que Jesus pretendia que as pessoas vivessem, com vidas transformadas por uma reordenação do que significa ser família.

A análise é do teólogo católico leigo Jon M. Sweeney, autor de Light in the Dark Ages: The Friendship of Francis and Clare of Assisi [Luz na Idade das Trevas: A amizade de Francisco e Clara de Assis] e de The St. Clare Prayer Book: Listening for God’s Leading [O livro de orações de Santa Clara: Ouvindo a orientação de Deus].
O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 20-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.
O domingo passado [18 de março] marcou o 800º aniversário da fundação das Clarissas, a segunda das ordens franciscanas. Oitocentos anos atrás, nesse mesmo dia, Chiara Favarone, aos 18 anos, aquela que hoje conhecemos como Clara de Assis, foi à igreja com a sua família. Era um domingo, mas não apenas qualquer domingo.

Esse era o Domingo de Ramos, e os eventos do dia envolviam todos os cidadãos de Assis. No início da manhã, as pessoas se reuniam fora dos muros da cidade com ramos e flores nas mãos, esperando que a procissão começasse. Havia um drama intensificado dada a leitura da Paixão. Um barítono melodioso recitava as palavras de Cristo, enquanto uma voz masculina deliberadamente dissonante iniciaria os cânticos a partir da multidão, assim como as palavras de Judas. Era esse tipo de interpretação dramática que permitia que todos pudessem compreender o que estava acontecendo, apesar do uso de um texto em latim.

No fim da missa, era então costume que cada menina em idade de casar saudasse pessoalmente o bispo, apresentando-se a ele de uma forma condizente com uma dama. Para a maioria das meninas do vilarejo, isso representava um ponto alto no ano, e todas ficavam preocupadas a respeito e se preparavam por semanas. Era um prelúdio às suas cerimônia de casamento, quando todos os olhos se voltavam para a glamurosa e alegre procissão da noiva pelo corredor da igreja, assim como agora.

Mas com Clara seria diferente. Ela se recusou a se apresentar como uma mulher disponível naquele dia. Como todos os refinados habitantes de Assis puderam assistir, Clara não se apresentou para saudar o bispo quando chegou a sua vez. Seu biógrafo mais antigo nos conta que Francisco havia instruído Clara sobre como atuar juntamente com o drama rotineiro do Domingo de Ramos. Ele lhe disse para se vestir com roupas finas e ir à frente com as outras meninas para receber a palma da mão do bispo. Mas Clara decidiu não ir.

A sua conversão à vida religiosa culminou naquela noite, enquanto ela fugia às escondidas da casa de seus pais no extremo leste da cidade e se juntava a Francisco e aos freis na Porciúncula, uma pequena capela no vale. Imagine uma jovem mulher correndo no meio da noite para se juntar a um bando de seguidores de Francisco, hippies e amantes da pobreza, do lado de fora da cidade. Era escandaloso! Os membros homens da sua família a seguiram e tentaram afastá-la fisicamente, mas ela resistiu.

Depois de 800 anos, as pessoas têm sido atraídas com curiosidade pela vida de Francisco e Clara. Nós observamos as personalidades e as intenções dos primeiros franciscanos como um daqueles momentos na história da Igreja quando a religião era jovial e vibrante. No entanto, a rejeição das suas famílias tornou possíveis as suas vidas religiosas. Seria isso algo para se imitar?

É preciso levar em consideração a compreensão monástica de conversão. No século VI, São Bento escreveu em sua Regra sobre a importância de passar por aquilo que se chama de conversão de vida, uma renúncia ao passado a fim de se concentrar somente no que é de Deus. Isso inclui se afastar de todos aqueles que anteriormente consolaram ou obstruíram o candidato. Seu velho "eu" está agora morto, e o seu "eu" convertido já começou. Ao se converter, Clara estava se afastando do cativeiro do mundo, no qual ela acreditava incluir a sua família. Sua mãe, seus tios, seu antigo modo de vida, tudo estava no meio do caminho da sua conversão.

Às vezes, a linguagem das conversões monásticas pode ser exagerada. Tomás de Celano descreve o mundo que Clara deixou para trás como "a sordidez da Babilônia", uma descrição que seria absurda se aplicada ao seu confortável lar e à sua família aparentemente amorosa. Mas Tomás utiliza outra frase para descrever Clara fugindo às pressas no meio da noite, a partir de Hebreus 13: ela saiu para "fora do acampamento", escreveu ele, descrevendo Clara ao deixar o ambiente seguro e familiar pelo desconhecido. Ao longo das narrativas da conversão de Francisco e de Clara, quando os santos deixaram suas famílias para trás, eles são retratados como soldados indo lutar contra o desconhecido.

Imaginem, irmãos, se a sua irmã, ou imaginem, mães, se sua filha fugiu de casa e foi morar com um grupo de homens considerados pela maioria das pessoas como lunáticos. O que vocês fariam? Olhariam para a sua irmã ou filha fugitiva como bem encaminhada no seu caminho à santidade? É claro que não! Quando os homens da família de Clara foram ao encontro dela, ela se recusou a ouvir e não lhes permitiu que a retirassem. Virar as costas para seus pais terrenos era visto como necessário, se isso significava que sua identidade poderia ser plenamente realizada em Deus. Quando Clara chegou à Porciúncula naquela primeira noite, nas palavras de um biógrafo, ela "apresentou ao mundo a sua carta de divórcio", pois ela adotou o corte de cabelo, as roupas e os votos de uma mulher casada com Cristo.

Geralmente, imaginamos Clara e Francisco com pássaros, flores e coelhos ao seu redor, mas poderíamos muito bem ouvi-los como profetas que procuravam uma forma inteiramente diferente de viver. Eles acreditavam que a verdadeira liberdade que vem de uma falta de acessórios supera facilmente os efeitos negativos da conversão, como o fato de deixar a família para trás. Clara e Francisco queriam viver como eles acreditavam que Jesus pretendia que as pessoas vivessem, com vidas transformadas por uma reordenação do que significa ser família.

Imagine um grupo de pessoas que verdadeiramente seguem os ensinamentos de Jesus e você verá como os primeiros franciscanos viviam uns com os outros. As reivindicações das famílias biológicas – por casamentos, filhos, propriedades, heranças – não se aplicam mais. O pai e a mãe de cada um podem não ser escolhidos biologicamente, mas sim espiritualmente.

Nossa "supersentimentalização" das crianças e da infância hoje provavelmente obscurece a nossa capacidade de ver claramente a cena, mas, em março de 1212, aqueles que observavam Clara sabiam que ela estava dando um passo radical, mas necessário, escolhendo quem a sua família passaria a ser. Seríamos capazes de ver isso dessa forma hoje?

domingo, 25 de março de 2012

São Francisco: entre Giotto e Dante

 Francisco tentou o impossível: o retorno pleno aos ensinamentos de Cristo e do Evangelho combinado ao vínculo indissolúvel com uma instituição eclesiástica que dele se afastou. Fugindo de qualquer tentação herética, Francisco acabou, assim, imprimindo à sua vida o carimbo de um ardente martírio, que agora pede apenas para ser contado. Como fizeram Dante e Giotto.

A opinião é do poeta italiano Franco Marcoaldi, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 17-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.

A ação tem o seu epicentro na Basílica de Assis dedicada a São Francisco de Assis e se consume em um período histórico que vê a Igreja dramaticamente envolvida em um fronte duplo, interno e externo: de um lado, a proliferação de forças religiosas centrífugas que colocam em discussão a sua autoridade teológico-política; de outro, a força crescente do poder estatal.

Por sua parte, Francisco tentou o impossível: o retorno pleno aos ensinamentos de Cristo e do Evangelho combinado ao vínculo indissolúvel com uma instituição eclesiástica que dele se afastou. Fugindo de qualquer tentação herética, Francisco acabou, assim, imprimindo à sua vida o carimbo de um ardente martírio, que agora pede apenas para ser contado.

É o que irá acontecer no canteiro poético da Comédia dantesca e, antes ainda, no canteiro pictórico de Assis, segundo as diversas sensibilidades dos dois "mestres de obras": Dante e Giotto (embora, nesse segundo caso, os artistas envolvidos são múltiplos, e as suas obras, objetos de controversas atribuições).

Esse, porém, é o fascinante confronto proposto por Doppio ritratto [Duplo retrato], um breve e muito denso livro de Massimo Cacciari (publicado pela Adelphi), que, partindo de longe, acaba interrogando com extrema eficácia o nosso presente.

Giotto é um pintor querido pelos poderosos em geral e pela corte pontifícia em particular. Dante está em constante batalha contra todos os "falsos deuses" do seu tempo. Ambos reconhecem a excepcionalidade da santidade encarnada de Francisco. Mas Dante insiste na necessidade de combinar a doutrina militante dos dominicanos e a caritas franciscana, a dura pregação dos primeiros e a misericordiosa pobreza dos segundo: "Francisco deve se unir com o outro 'príncipe' para salvar a Igreja que desmorona"; uma Igreja que repetidamente entrará em conflito com a proposta de Francisco, enquanto, no ciclo de Assis, é a própria corte pontifícia que acompanhará harmoniosamente esse processo, acabando assim por normalizar um episódio, ao contrário, escandaloso. Portanto, nada de pregos nem de corpo nu e chagado, nem luta "contra e com a Igreja, e a sua própria Ordem, e o mundo".

Muito espaço, ao invés, na basílica da Úmbria, é dedicado ao Francisco poeta (que o poeta Dante, de algum modo, ignora). Espaço ao novo discurso sobre a natureza e sobre uma criaturalidade intrinsecamente divina, como indica o sermão aos pássaros, que, anota Cacciari, na realidade sobe até Deus graças a um canto comum de ser humano e animal.

A ideia e a experiência de vida franciscana – na realidade – se cruzam e se anulam continuamente nesse "duplo retrato". Com mais uma demonstração da inefável radicalidade de Francisco, tão evidente naquela imagem extrema da "Senhora Pobreza" que caracteriza o seu destino.

Pobre é quem se liberta não apenas das posses, mas de si mesmo, da própria pessoa. E, graças a isso, ele será ainda mais poderoso (porque terá atingido o essencial) e ainda mais feliz (porque viverá só do amor e no amor pelo outro).

É a última passagem a mais ousada de todas. Nem Dante (atraído pela ideia "real" de Francisco), nem Giotto (que insiste principalmente na obediência e na humildade) conseguirão representar até o fim o paradoxo de uma "vitória" que surge do próprio cume da miséria, que se anuncia alegremente na derrota".

Mas essa "incompreensão", essa "traição", questiona-se Cacciari, não são talvez as mesmas que Cristo sofreu, a quem Francisco olha insistentemente como único e inalcançável modelo?

Irrepetível, exemplar, a vida de Francisco – sobre a qual se centraram os repetidos e admiráveis estudos de Chiara Frugoni – continua fascinando pela sua radicalidade. Por aquele seu modo ao mesmo tempo simples e paradoxal de estar no mundo, que esse vibrante ensaio de Cacciari investiga dobra por dobra em toda a sua santa loucura. No impulso absoluto pelo próximo, que chega a desfazer e a recriar a própria ideia de pessoa. Na escolha da pobreza como sinônimo de suprema leveza e alegria. De uma verdadeira, completa liberdade.

A VIDA, EM MARIA, É ETERNA


A VIDA, EM MARIA, É ETERNA...

Quando o Espírito Santo gerou o Filho de Deus no ventre de Maria, a vida eterna chegou até nossa humanidade, tomou posse dela e a redimiu definitivamente; Maria tornou-se, então, arquétipo e modelo dos redimidos e desse modo, toda de Deus em definitivo, assume o papel da nova Eva, isto é, mãe da nova humanidade, redimida pelo sacrifício do seu Filho Jesus, novo Adão, conforme o Plano divino de salvação. Desse modo, Deus entra e se estabelece em sua criatura e assim nossa natureza humana é plenificada de Deus, Deus agora é homem sem deixar de ser Deus e o homem conhece a Deus em sua humanidade.

E Maria, então, por meio dessa perfeita união com Deus, torna conhecido o grande mistério da deificação humana e da humanização divina. Ela não é mais uma simples criatura ou simples mulher, ela, pela presença permanente do Espírito Santo, tem a Deus em seu ventre virginal, cede-lhe a carne e o sangue que o Senhor lhe cedeu quando da criação do homem. Desse modo, Deus resgata em definitivo, não mais um povo, mas todos os povos, dos quais Maria é a primeira resgatada; ela é a mãe e serva de Deus, e Deus é o Pai e Senhor de todos os resgatados em Jesus Cristo, seu Filho, nascido da Virgem.

Esse Mistério que ora vivemos como novos redimidos, se realiza em nós a partir do batismo e da comunhão eucarística, isto é, da comunhão no Corpo e Sague, Alma e Divindade de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos alimenta e constitui nosso novo corpo ressuscitado com o qual fazemos parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja, do qual Jesus é a Cabeça e nós somos os membros. Ora, tudo isso se tornou realidade em Maria desde o momento da concepção do Verbo que a alimenta e é alimentado por ela numa permuta que se completa plenamente. Ele é o Ser divino que dá a vida eterna, mas que, ao mesmo tempo, recebe a vida natural que criou, de Maria, e assim a transforma no que Ele é, ser eterno.

Por isso, em Maria a verdade é permanente, o amor de Deus também é permanente, assim como todas as virtudes nela são atributos, porque a vida natural que tem já não lhe pertence mais, pertence somente a Deus; desse modo, olhar para Maria é contemplar as maravilhas que Deus nela realizou e glorificar o Senhor, que o fará também em nós, não como aconteceu com a Virgem, porque o que nela aconteceu é único e jamais se repetirá, mas da forma como Deus quer, ou seja, por meio da fé (cf. Mc 3,33-34).

Contemplando a vida de Maria santíssima plena de Deus e seu modo de ser diante do Altíssimo, “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra”; qual deve ser a nossa conduta diante do Senhor cada vez que o recebemos na Eucaristia? Além disso, o que dizer ainda mais de Maria, mãe de Deus, mãe da Igreja e mãe da nova humanidade redimida?

O Reino de Deus é o estado por excelência das almas purificadas e adotadas por Deus como seus filhos e filhas; estado onde todos os valores eternos são em plenitude; pois é justamente o que experimentou Maria quando da ação divina nela ainda em sua naturalidade aqui no tempo. Ora, o Poder de Deus é o Amor, o Amor numa escala Infinita, porém, podemos também entender o poder de Deus expresso na criação ou nas forças da natureza, por exemplo: o poder do mar, dos elementos físicos, do sol, das estrelas, do cosmos, etc., como pertencente a Deus; na verdade esses poderes são apenas uma pálida imagem do poder divino.

Agora imaginemos esse divino poder habitando a santíssima Virgem Mãe! Pois, não há limite para a ação divina, como também não há espaço para a Plenitude de Deus, desse modo, somente a alma imortal é capaz recebe-lo, como também fundir-se Nele e para Ele, como seu deu com a Virgem Maria. Por isso mesmo, todo entendimento que tenhamos do que Deus fez e pode fazer ainda é nada em comparação com o amor que Deus expressou por nós na pessoa da Virgem Maria quando da encarnação do seu Verbo divino, Jesus Cristo, nosso Senhor.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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sábado, 24 de março de 2012

O círculo da alegria


Conta Bruno Ferrero que, certo dia, um camponês bateu com força na porta de um convento. Quando o irmão porteiro abriu, ele lhe estendeu um magnífico cacho de uvas.

— Caro irmão porteiro, estas são as mais belas produzidas pelo meu vinhedo. E venho aqui para dá-las de presente.

— Obrigado! Vou leva-las imediatamente ao Abade, que ficará alegre com esta oferta.

— Não! Eu as trouxe para você.

— Para mim? - o irmão ficou vermelho, porque achava que não merecia tão belo presente da natureza.

— Sim! - insistiu o camponês. - Porque sempre que bati na porta, você abriu. Quando precisei de ajuda porque a colheita foi destruída pela seca, você me dava um pedaço de pão e um copo de vinho todos os dias. Eu quero que este cacho de uvas traga-lhe um pouco do amor do sol, da beleza da chuva, e do milagre de Deus, que o fez nascer tão belo.

O irmão porteiro colocou o cacho diante de si, e passou a manhã inteira a admira-lo: era realmente lindo. Por causa disso, resolveu entregar o presente ao Abade, que sempre o havia estimulado com palavras de sabedoria.

O Abade ficou muito contente com as uvas, mas lembro-se que havia no convento um irmão que estava doente, e pensou:

"Vou dar-lhe o cacho. Quem sabe, pode trazer alguma alegria à sua vida."

E assim fez. Mas as uvas não ficaram muito tempo no quarto do irmão doente, porque este refletiu:

"O irmão cozinheiro tem cuidado de mim por tanto tempo, alimentando-me com o que há de melhor. Tenho certeza que se alegrará com isso."

Quando o irmão cozinheiro apareceu na hora do almoço, trazendo sua refeição, ele entregou-lhe as uvas.

— São para você - disse o irmão doente. - Como sempre está em contacto com os produtos que a natureza nos oferece, saberá o que fazer com esta obra de Deus.

O irmão cozinheiro ficou deslumbrado com a beleza do cacho, e fez com que o seu ajudante reparasse a perfeição das uvas. Tão perfeitas, pensou ele, que ninguém para aprecia-las melhor que o irmão sacristão; como era ele o responsável pela guarda do Santíssimo Sacramento, e muitos no mosteiro o viam como um homem santo, seria capaz de valorizar melhor aquela maravilha da natureza.

O sacristão, por sua vez, deu as uvas de presente ao noviço mais jovem, de modo que este pudesse entender que a obra de Deus está nos menores detalhes da Criação.

Quando o noviço o recebeu, o seu coração encheu-se da Glória do Senhor, porque nunca tinha visto um cacho tão lindo. Na mesma hora lembrou-se da primeira vez que chegara ao mosteiro, e da pessoa que lhe tinha aberto a porta; fora este gesto que lhe permitira estar hoje naquela comunidade de pessoas que sabiam valorizar os milagres.

Assim, pouco antes do cair da noite, ele levou o cacho de uvas para o irmão porteiro.

— Coma e aproveite - disse. - Porque você passa a maior parte do tempo aqui sozinho, e estas uvas lhe farão muito feliz.

O irmão porteiro entendeu que aquele presente tinha lhe sido realmente destinado, saboreou cada uma das uvas daquele cacho, e dormiu feliz.

Desta maneira, o círculo foi fechado; o círculo de felicidade e alegria, que sempre se estende em torno das pessoas generosas.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Só começamos a entender algo da fé quando nos sentimos amados por Deus

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 12, 20-33  que corresponde ao Domingo 5º da Quaresma, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

O atrativo de Jesus

Uns peregrinos gregos que vieram celebrar a Páscoa dos judeus aproximaram-se de Felipe com uma petição: “Queremos ver Jesus”. Não é curiosidade. É um desejo profundo de conhecer o mistério que se encerra naquele Homem de Deus. Também a eles lhes pode fazer bem.
Jesus é  visto preocupado. Dentro de alguns dias será crucificado. Quando lhe comunicam o desejo dos peregrinos gregos, pronuncia umas palavras desconcertantes: “Chega a hora de que seja glorificado o Filho do Homem”. Quando for crucificado, todos poderão ver com claridade onde está a Sua verdadeira grandeza e a Sua glória.

Provavelmente ninguém entendeu nada. Mas Jesus, pensando na forma de morte que o espera, insiste: “Quando Eu for elevado sobre a terra, atrairei todos até Mim”. Que se esconde no crucificado para que tenha esse poder de atração? Apenas uma coisa: O Seu amor incrível a todos.

O amor é  invisível. Só o podemos ver nos gestos, nos sinais e na entrega de quem nos quer bem. Por isso, em Jesus crucificado, na Sua vida entregue até à morte, podemos perceber o amor insondável de Deus. Na realidade, só começamos a ser cristãos quando nos sentimos atraídos por Jesus. Só começamos a entender algo da fé quando nos sentimos amados por Deus.

Para explicar a força que se encerra em Sua morte na cruz, Jesus utiliza uma imagem simples que todos podemos entender: “Se o grão de trigo não cai na terra e morre, fica infecundo; mas se morre, dá muito fruto”. Se o grão morre, germina e faz brotar a vida; mas se se encerra no seu pequeno involucro e guarda para si a sua energia vital, permanece estéril.

Essa bela imagem descobre-nos uma lei que atravessa misteriosamente a vida inteira. Não é uma norma moral. Não é uma lei imposta pela religião. É a dinâmica que torna fecunda a vida de quem sofre movido pelo amor. É uma ideia repetida por Jesus em diversas ocasiões: Quem se agarra egoisticamente à sua vida, coloca-a a perder; quem sabe entregá-la com generosidade gera mais vida.

Não é  difícil comprová-lo. Quem vive exclusivamente para o seu bem-estar, o seu dinheiro, o seu êxito, a sua segurança, acaba vivendo uma vida medíocre e estéril: a sua passagem por este mundo não faz a vida mais humana. Quem se arrisca a viver uma atitude aberta e generosa difunde a vida, irradia alegria, ajuda a viver. Não há uma forma mais apaixonante de viver que fazer a vida dos outros mais humana e leve. Como poderemos seguir Jesus se não nos sentimos atraídos pelo Seu estilo de vida?

Para ler mais:
Comentário ao Evangelho do domingo - preparado pelo IHU - 25-03-2012

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Ateísmo e Francisco de Assis

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2012/2012_02_News.shtml acesso em 21 mar. 2012.

Reflexão a partir da "Gaudium et Spes”, 19

Anton Rotzetter OFM Cap

“O ateísmo”, como afirma o Concílio Vaticano II, "... deve ser considerado entre os fatos mais graves do tempo atual", é inclusive, um dos "sinais dos tempos". Em outras palavras, o que aparece como ateísmo deve ser examinado de perto. Nós devemos nos perguntar, se este fenômeno, não será um dos caminhos para Deus se aproximar de nós. De qualquer maneira, o Concílio nos alertou: O ateísmo deve ser “objeto de um exame sério e profundo". E continua o texto:

“O ateísmo se origina, não raramente ou de um protesto violento contra o mal que existe no mundo, ou do caráter do próprio absoluto que se atribui indevidamente a alguns bens humanos, de tal modo que sejam tomados por Deus... O ateísmo, considerado no seu conjunto, não é algo inato, mas antes originado de causas diversas, entre as quais se enumera também a reação crítica contra as religiões e, em algumas regiões sobretudo contra a religião cristã. Por esta razão, nesta gênese, do ateísmo, grande parte podem ter os crentes, enquanto, negligenciando a educação da fé, ou por uma exposição falaz da doutrina, ou por faltas na sua vida religiosa, moral e social, se poderia dizer deles que mais escondem que manifestam a face genuína de Deus e da religião”.

Este é um texto claro! O ateísmo é, não por último, uma reação de insatisfação frente ao testemunho de Deus dado através das religiões, especialmente o cristianismo. É o que se chama "ateísmo prático”! Quantas vezes, à revelia do que a Bíblia fala, se tem o nome de Deus nos lábios, enquanto se vive e age como se Deus não existisse! Esse é o ateísmo prático. Deus é ação, transformação, amor incondicional. E Ele não tem outras mãos senão as mãos daqueles que acreditam nele. Fala-se também no "ateísmo eclesial”. Uma igreja que coloca a si mesma no centro, se proclama e se passa como objeto do anúncio, sem apontar para além de si mesma, é uma “igreja ateísta”. Se ela não reconhece as suas contradições e inconsistências, culpando apenas os fieis, mas nunca a si própria, é ateísta. Ela não pode afirmar, por exemplo, sempre ter ensinado as outras religiões "são caminhos para a salvação", porque isso seria uma mentira concreta e deliberada. Não pode se comunicar o dogma através de uma interpretação que lhe dá o sentido contrário e, em seguida, dizer que aquilo que foi dito hoje, já fazia parte do texto anterior. Também a maneira como se interpreta o Concílio Vaticano II, nos mais altos escalões da Igreja, representa uma compreensão da história, que zomba da verdade. Também a convicção com a qual os mais altos funcionários da Igreja atual ligam diretamente a Jesus algumas formas concretas da Igreja de hoje, apresentando isto como verdade incontestável, revela uma auto-deificação, que deve causar, com razão, a mais violenta oposição. Há ainda as Cruzadas, as guerras religiosas, a Inquisição, a missão violenta, o exercício do poder papal, as intrigas, o silêncio imposto às opiniões diferentes, o abuso dos direitos humanos na igreja, a destruição das iniciativas da Teologia da Libertação e movimentos, a falha da moral sexual, os casos de abuso etc. A igreja traz em si um problema de credibilidade, causado por ela mesma: ela obscurece o rosto de Deus, não só em seus membros, enquanto indivíduos, mas também enquanto instituição e em sua conduta oficial. Se isto representa "Deus", então o ateísmo está certo, confirmam muitos. E muitos estão se voltando para uma imagem confusa ou esotérica de Deus. Entre 1990 e 2009, só na Alemanha mais de 2 ½ milhões de pessoas deixaram a Igreja Católica.

O Concílio começa o nº 19 da "Gaudium et Spes", com uma excelente constatação:
 “A razão principal da dignidade humana consiste na sua vocação do ser humano para a comunhão com Deus. Já desde sua origem, homem e mulher são convidados para o diálogo com Deus. Pois o ser humano, se existe, é somente porque deus o criou e isto por amor. Por amor é sempre conservado. E não vive plenamente segundo a verdade, a não ser que reconheça livremente aquele amor se entregue ao seu Criador.”

Esta dignidade humana nós a encontramos em Francisco de Assis. Nele é visível como a crença em Deus transparece na realidade. O pintor Giotto expressou isso magistralmente, de uma forma única, na Igreja Superior de Assis. A igreja está ruindo (também naquele tempo!)! Sustentando com seu ombro direito o "Edifício", dançando e se alegrando, Francisco, com facilidade espantosa, impediu a queda. Seus olhos enxergam para além do que o quadro nos apresenta. Sua percepção ultrapassa a realidade concreta e descritível. Seguindo a direção de seu olhar, se vê numa outra imagem, o Abraão que, na realidade terrena, não tinha indício algum, que provasse o carinho de Deus para com ele. Nem sua própria força, nem a auto-deificação é o que vai salvar a igreja, mas somente a fé incondicional. Francisco apostou nesse Deus, que se manifestou em Jesus de Nazaré, como o amor e a bondade. Clara o seguiu, porque Francisco falou do "Bom Jesus". Entre os atributos de Deus, ele se empenhou em todas as oportunidades disponíveis, para mostrar a bondade de Deus, em ladainhas, em hinos, em êxtase. Deus é o "único bem".

Francisco mostra sua experiência de Deus entre coisas, numa palavra que deveria servir para ele mesmo e para outros como um estímulo que exige uma resposta: “Per Amorem Caritatis - O amor ao amor, com que somos amados" (Ord 31), deve orientar todo nosso agir. Inumeráveis ​​são as passagens da vida de Francisco, em que ocorre esta frase para justificar a ação. Ele recomenda às pessoas que recebam o amor de Deus, que O levem dentro de si mesmos e que O dêem à luz por obras santas que devem brilhar como exemplo para aos outros!” (1Fi 53). O Deus da fé só é manifestado se o fazemos “nascer” através de nossa ação no mundo.

A crença de Francisco em Deus parece ainda mais fundamental na "festa das festas", como Francisco chama o Natal. Aqui, ele celebra a solidariedade permanente de Deus com todas as criaturas que estão "em penúria", com o amor gratuito e total para as condições terrenas. Deus e o homem, Deus e os pobres, Deus e os animais já não podem ser jogados uns contra os outros. Imediatamente após a "festa das festas", ele quer consultar o imperador a fim de obter leis, que ajudam alcançar para os pobres e os animais os seus direitos divinos. Deus e o mundo são unos.

O CCFMC quer colocar–se com seus programas ao serviço de Deus, que anula a força do ateísmo!

quarta-feira, 21 de março de 2012

A LÓGICA DIVINA & LÓGICA HUMANA












A LÓGICA DIVINA & LÓGICA HUMANA

A Lógica Divina difere da lógica humana...
A Lógica Divina se expressa pela ação do Espírito Santo...
A lógica humana, quando desprovida da graça,
se fundamenta apenas nos interesses pessoais ou coletivos...

A Lógica Divina visa sempre o nosso bem, a nossa felicidade...
Porque ela é a verdade que precisamos para viver...
A lógica humana se reveste de egoísmo individualista ou coletivo...
Por isso, é repleta de conflitos, tensões, guerras e perdições...

A Lógica Divina revela os desígnios de Deus para a humanidade,
E por isso Deus não abre mão deles nunca...
A lógica humana nem sempre compreende esses desígnios,
Pois, para se ter tal compreensão é necessário a vivência da fé...

Assim, a lógica humana sem a comunhão de fé com a Lógica Divina...
Perde-se nas esquinas de sua finitude,
porque o seu raio de ação é limitado,
sem perspectivas para além do que somos naturalmente...

Ora, tudo na Lógica Divina é permanente,
porque não lhe falta nada...
Já a lógica humana está sempre mudando...
conforme mudam os interesses que a move...

Então, o que é a Lógica Divina? E o que é a lógica humana?
A Lógica Divina se traduz pela humanidade de Deus, em Cristo Jesus...
Para que nossa humanidade seja divinizada por sua redenção...
Enquanto que, a lógica humana se traduz pelo desejo de realização plena...
Todavia, frustrado pela morte sempre presente...
Logo, só encontramos resposta definitiva para esse impasse existencial,
na ressurreição de Cristo e na vida eterna que Ele nos oferece...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

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A atualidade do ideal Franciscano


Cinquenta anos do Concílio Vaticano II e a ideal franciscano. Este tema, que inciou no boletim de janeiro, vai ocupar-nos durante o ano todo, porque há razões de sobra pra dizer que as principais decisões e documentos do Concílio, se afinam com os princípios fundamentais da espiritualidade franciscana. Vivemos hoje em uma época de mudanças, cujas dimensões são, divisadas, cujos efeitos porém ainda não são reconhecidos e levados a sério. Embora saibamos que existe uma enorme diferença entre ricos e pobres, reclamamos da distribuição desigual de riqueza e poder na nossa mãe terra, e nos surpreendemos, em seguida, com o terrorrismo e a guerra. Estamos maravilhados com a primavera árabe, mas somos forçados a assistir impotentes, que a comunidade internacional das Nações Unidas não consegue parar a guerra de um cidadão contra seu próprio povo. Nós estamos vendo os sinais da destruição apocalíptica do ambiente, mas não paramos para pensar com intenção de mudar nosso estilo de vida. Faltam visões políticas que sinalizam uma mudança para melhor. A mudança, por sua vez, tem a ver com conversão e reorientação. O que precisamos é de líderes proféticos que nos ajudem a encontrar o caminho para a saída.

Francisco e Clara são estes líderes, nos quais podemos nos espelhar. Eles viviam num tempo de virada similar ao nosso. As ações da Igreja e do Governo eram determinadas por interesses que não tinham nada a ver com o espírito do Evangelho. Ambos ficaram presos em lutas de poder, guerras e cruzadas. Os pobres não tinham vez. O Deus humilde que desce na pessoa de Jesus de Nazaré, às profundezas da nossa vida terrena, e revela claramente a sua preferência pelos pobres, em Francisco e Clara trouxe de volta a memória desta imagem de Deus. Tudo que era majestoso lhes era estranho. Em suas comunidades viviam uma forma fraterna da Igreja, que representava a clara contradição com a estrutura hierárquica da época.

À luz do amor de Jesus os dois entrevêem o advento de mundo novo, o mundo do amor, da irmandade. Seu mundo anterior, o mundo no qual havia os de cima e os debaixo, os privilegiados e os humilhados, os senhores e os servos, entra em colapso. Este mundo, em que as posses davam o prestígio social, eles o abandonaram. Não reconhecem nele o mundo que Deus criou. Eles se convencem que a única alternativa é o evangelho. Aí pode haver um mundo reconciliado, no qual o valor da pessoa não depende de sua capacidade de produzir, nem do volume de sua conta bancária. Um mundo em que todos simplesmente possamos usufruir da riqueza de Deus na criação e no mundo. Poderia haver o suficiente para todos, se tivéssemos a partilha como ideal da vida e, se tivéssemos como imagem de nossa vida pessoal e social a mão aberta e estendida, em vez de punhos cerrados e ameaçadores. Este é o caminho para a paz. Este é o mundo em que as forças da guerra e do terror se esvaem. Um caminho dificílímo e longo. Mas não há outro, se realmente queremos um mundo melhor de paz e justiça. Então, o que nós precisamos é de uma nova cultura da partilha.

Como Francisco, em seu Cântico do Irmão Sol, cantou a unidade fraterna de toda a criação e lembrou-nos que não somos os senhores dela, mas criaturas iguais aos outros seres, assim também devemos aprender a acabar com toda ação que destroi a criação. Trata-se, então redescobrir a unidade de Deus, do homem e da natureza como paradigma de uma espiritualidade franciscana da criação.

A coexistência de diferentes culturas, religiões e valores no mundo, é um dos grandes problemas do nosso tempo. A coexistência pacífica numa sociedade multicultural só poderá acontecer, se entrarmos num diálogo genuíno entre culturas e religiões e chegarmos a redescobrir o caráter pacífico das mesmas.

Estes são alguns dos principais problemas e desafios que vamos abordar no decorrer do ano. A Família Franciscana é um movimento internacional e intercultural, presente em todo o mundo. Para todos aqueles e aquelas que fazem de Francisco e Clara seus modelos de vida, isto deve ser uma prioridade neste ano.

Andreas Müller OFM

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