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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Nova edição crítica dos escritos de S. Francisco

Encarregado, em 2005, pelo Ministro geral e pelo seu Definitório de fazer nova edição crítica dos Escritos de S. Francisco, como contribuição ao VIII Centenário da Fundação da Ordem, Fr. Carlo Paolazzi, da Província de Trento e membro do Colégio S. Boaventura de Grottaferrata, após vários anos de intenso esforço, concluiu seu trabalho. A versão em latim-italiano saiu do prelo em dezembro de 2009. Logo mais, serão preparadas as edições em latim-inglês e latim-espanhol.

O texto crítico, que se intitula “Francisci Assisiensis Scripta”, editado por Fr. Carlo Paolazzi, divide-se em três secções: Louvores e Orações, Carta, Regras e Admoestações. Além disso, há um apêndice com “Ditos” e cartas perdidas. O texto aparecerá nas edições “Collegii S. Bonaventurae ad Claras Aquas, Grottaferrata, Roma 2009”.

Extraído de: Fraternitas [em Português]. Roma : OFM, ano 43, n. 161, 1 jan. 2010. P. 2. Dsisponível em http://www.franciscanos.org.br/v3/noticias/2010/pdf/0110por.pdf acesso em 230 dez. 2009.

Natal Franciscano

Com um pouco de atraso,
mas só descobri hoje
este vídeo:

Marcas do que se foi

Composição: Roberto Pera e Flecha


Este ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...

O tempo passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...

Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...(2x)

Este ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...

O tempo passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...

Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...(4x)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CRER NO IMPOSSÍVEL




















CRER NO IMPOSSÍVEL...

Crer no impossível...
É transpor o limite de nossa razão...
É crer na Verdade de Deus...
que está trilhões de anos luz...
acima da verdade que somos no mundo...

Crer no impossível...
É saber que o tempo nos leva à eternidade...
E isso já é o impossível...
que não conseguimos deter...

Crer no impossível...
É dizer não à incredulidade...
e às teorias que a gera...
porque são imaginações fúteis...
que nos encerra no nada...

Crer no impossível...
É deixar de seguir os famosos ateus...
que dizem não crer em Deus...
mas nada fazem além de suas negações barulhentas...

Crer no impossível...
É dizer não ao pecado todos os dias...
Porque todos os dias ele se nos apresenta...
tentando nos derrubar...

E quando caímos,
perdemos o estado de graça...
e somos corroídos pela traça dos vícios...
que geram a morbidez...
a insensatez...
e toda espécie de contradição...

Crer no impossível...
É não perder a esperança nunca...
É vivê-la a cada passo dado...
no ritmo do plano salvífico...
que Deus traçou para a nossa vida....

Afinal, a força atrativa do Senhor é tamanha...
que nada e nenhuma criatura a consegue parar...
Muito menos o mistério da iniqüidade...
Ao contrário esse mistério apressa mais ainda...
a segunda vinda do Filho de Deus...

Vejam o exemplo da Cruz...
Dela pendeu Jesus...
cumprindo em tudo a vontade do Pai...
Morrendo, matou a morte...
Ressuscitado nos deu a ressurreição...
O que pra nós naturalmente era impossível,
Para Ele não...

“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida.
Aquele que crê em mim,
ainda que esteja morto, viverá.
E todo aquele que vive e crê em mim,
jamais morrerá.
Crês nisto?”

“Sim, Senhor.
Eu creio que tu és o Cristo,
o Filho de Deus,
aquele que devia vir ao mundo”. (Jo 11,25-27).

Paz e Bem!

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A «Oração de Jesus»

Tradução: Pe. Pavlos Tamanini, hieromonge

Apresentação

xiste uma profunda relação entre a veneração milenar a Santa Face de Jesus Cristo (Mandylion) e outras devoções também dirigidas aos traços de sua Pessoa: seu Santo Nome, à Eucaristia (devoção por excelência), a seu Sagrado Coração. Com efeito, as quatro se referem aos aspectos mais significativos do ser humano e todas, em ultima instância nos conduzem à Pessoa em si do Deus encarnado.

  1. A Face, expressão do interior e que nos relaciona com o outro.
  2. O coração, sede da vida e, por analogia, da emoção mais profunda e espiritual do ser humano, o amor. O amor é o que define Deus. Se era “O Que É” no Antigo Testamento, João o define como Amor no Novo Testamento. Desse Ser que é Amor nós participamos. E este ser por essência, que é amor, se manifesta tornando-se um de nós com coração humano e palpitante.
  3. A Eucaristia, meio privilegiado escolhido por Cristo para permanecer realmente entre nós, escondido aos olhos físicos humanos, mas vivo e real aos olhos do espírito daqueles que crêem.
  4. O Nome, que define a Pessoa como um todo e, que quando o invocamos, como fez o cego de Jericó, suplicamos com ele à Pessoa que nomeia, implorando sua ajuda e misericórdia: «Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!»

A oração do coração ou a oração da invocação de Jesus, remonta às origens do monacato. O primeiro a mencioná-la explicitamente foi Diadoco de Fotice, no século IV: «Os que não cessam de meditar nas profundezas de seu coração o Nome santo e glorioso de Jesus, poderão ver um dia a luz em seu espírito.»

Sua origem, porém, é mais antiga, pois é já encontrada nos Evangelhos: «Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!», gritava com insistência o cego que estava à beira do caminho de Jericó. O mesmo clamavam os dez leprosos, nas terras de Samaria: «Jesus, Mestre, tem piedade de nós!» Todos foram curados, graças à sua fé e a profundidade de seu clamor. Esta invocação contínua do Nome de Jesus feita de um desejo cheio de doçura e de alegria, faz com que o espaço do coração se transborde em alegria ate a serenidade, até o pensamento não cessar de invocar o Nome de Jesus e o espírito estar totalmente atento à invocação do Nome divino; luz do conhecimento de Deus cobre com sua sombra toda a alma como uma nuvem inflamada em chamas. A oração Jesus é semelhante à oração do rosário de Maria em sua origem e objetivo: ambas têm suas raízes nos meios monásticos do Oriente (a oração de Jesus) e do Ocidente (rosário); ambas são orações de súplicas; em ambas imploramos aquilo que mais desejamos e necessitamos de verdade e que não sabemos, porque podemos desconhecer aquilo que desejamos; em ambas pedimos para que o Espírito fale em nós, utilizando para isto palavras da Escritura ou propostas pela Igreja e pela Tradição; ambas são orações para todas as pessoas, que recitadas com tranqüilidade e sem pressa, concentrando docilmente o ânimo no que dizemos, produzem sossego e, com o tempo e perseverança, a paz duradoura e a restauração da vida.

A oração de Jesus, por sua brevidade, pode ser rezada em qualquer lugar e em todas as horas. Mesmo que sua base seja a oração do cego de Jericó, pode ser dirigida por pessoas variadas: «Jesus, Filho de Deus, tem piedade de nós!» Ou, «Jesus, Filho de Deus, por meio da Virgem Maria, tem compaixão de nós pecadores!» etc.

Esta oração ajusta-se perfeitamente ao conselho evangélico: “É preciso orar incessantemente, sem desfalecer”. Se te sentires chamado a seguir este caminho da oração do coração, busca um bom conselheiro (pai espiritual) que te guie e começa já. Deus irá fazendo o resto, se é que deseja que este seja a tua forma de te dirigires a Ele.

Se a Igreja respira com dois pulmões – Oriente e Ocidente – pode-se dizer que a oração de Jesus é a expressão mais característica da espiritualidade da Igreja Oriental. Pelo bem que tem feito e faz, e pela influência que atualmente tem no Ocidente, vale a pena conhecer um pouco desta fonte escondida de piedade e espiritualidade. Para ampliar o conhecimento sobre o tema siga lendo outros fragmentos baseados em apontamentos traduzidos livremente do original em catalão, de Julià Maristany - SJ.

Raízes Históricas da Oração de Jesus

Jesus, salva-me! Kyrie eleison! Este clamor do coração que se encontra no centro da oração do Oriente procede diretamente do Evangelho: é o clamor do cego de Jericó e a súplica do publicano. Este pedido de auxílio é, antes de tudo, um ato de fé em Jesus Salvador. O próprio nome de Jesus significa « salva» e é uma confissão, no Espírito Santo, de que Ele é o Senhor. Recordemos que «ninguém pode pronunciar o Nome de Jesus sem a ajuda do Espírito Santo.» (I Cor 12,3).

O nome de Jesus não foi tão somente um nome que seus pais puseram-no quando nasceu --de acordo com o que pediu José e Maria em sua Anunciação: «Lhes porás o nome de Jesus» -- mas é também um nome divino que lhe foi dado pelo Pai, tal como disse Jesus na Oração Sacerdotal (Jo 17,11): «Pai Santo, guarda-os em teu nome aqueles que me destes, para que sejam um, como o somos nós.»

São Paulo também dirá em um hino, (Fl 2, 9-11) a propósito da humilhação e exaltação de Cristo: «Foi-Lhe concedido o Nome que está acima de todo nome, para que, ao Nome de Jesus dobrem-se os joelhos, nos céus, na terra e nos abismos e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.» A glória do cristão é proclamar este Nome, e a sua felicidade estará em sofrer por ele: «Se receberes insultos porque pregais em nome de Cristo, felizes sois vós! O espírito de glória, que é o Espírito de Deus, repousa sobre vós.» (IPd 4, 13).

Em seu Nome os cristãos são batizados; por causa de seu Nome, são perseguidos; por seu Nome sofreremos e seremos glorificados (Lc e At). Pedro confessa ante o Sinédrio (At 4,2): «A salvação não se encontra em mais ninguém porque, sob o céu, Deus não deu aos homens outro nome no qual possam ser salvos.» Paulo, depois de perseguir àqueles que invocavam o Nome do Senhor (At 9,14), dirige-se, em sua Carta aos Coríntios, a todos aqueles que invocam o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, animando seu estimado discípulo Timóteo a buscar a fé e a caridade com todos os que, com o coração puro, invocam o Nome do Senhor.

Os textos que fazem referência ao Nome de Jesus são inúmeros e pertencem a todas as tradições: Paulo, os Sinóticos e João. O Nome de Jesus é divino e forte. E quem o invoca, sempre é escutado. Ele mesmo disse em Jo 16, 23-24: «Em verdade vos digo, que meu Pai os concederá tudo o que pedires se o fazeis em meu Nome. Até agora não haveis pedido nada em meu Nome; fazei-o em meu Nome e recebereis tudo o que pedis, e vossa alegria será plena.»

O Nome de Jesus é Eucarístico: «Tudo o que façais, seja por palavras seja por obras, fazei em nome de Jesus, dirigindo ação de graças a Deus por meio dEle» (isto significa Eucaristia – Col 3, 17). Os textos de Efésios, Tessalonicenses e Lucas nos animam a orar sempre e em toda a ocasião e constantemente. A invocação ao Senhor é uma oração interior, porque não sabemos o que pedir, para rezar como é devido; é Ele, o Espírito, quem ora em nosso lugar (Rm 8,26). E ninguém pode dizer «Jesus» se não é movido pelo Espírito Santo (1Cor 12,3). Assim, pois, o Novo Testamento legitima a invocação do Nome de Jesus e como ela nos insere na graça batismal. Esta invocação do Nome de Jesus não se converterá na Oração de Jesus até que não se una ao desejo da oração contínua expressa nas invocações breves que contém o Nome do Senhor ou de Jesus. São Cassiano e Santo Agostinho dão testemunho da existência destas breves orações ou jaculatórias entre os eremitas do deserto do Egito.

Os Padres do Deserto

Os Padres do deserto retomam a oração do publicano no século IV. Ammonas, no deserto egípcio, aconselha que se conserve sempre no coração as palavras do publicano, para experimentar a salvação e Macário interrogado sobre como orar, ensina: «Não é necessário perder-se em palavras; é suficiente que estendais as mãos e digais: Senhor, como Tu queres e como Tu sabes, tem piedade! E se vier o combate (a tentação): Senhor, vem em meu auxilio! Ele sabe o que nos convém e terá misericórdia.»

Foi Diadoco de Fótice, no século V, quem propôs invocar no fundo do coração sem interrupção ao Senhor Jesus e a seu santo e glorioso Nome, para purificar e unificar a alma dividida pelo pecado, e experimentar a Graça como base da perpétua recordação de Deus: Quando, recordando a Deus, fechamos as saídas do espírito, este só precisa que lhe deixem alguma atividade adequada para manter em ação seu natural dinamismo. Este é o momento de entregar-lhe a invocação do Nome de Jesus como única atividade em que pode concentrar-se tudo o que quer. Está escrito: «Ninguém pode dizer: Senhor Jesus, senão pelo Espírito Santo.» E Barsunufio insiste: «A nós débeis, só nos resta refugiarmo-nos no Nome de Jesus.»

Foi em Gaza, no deserto Palestino, onde os monges deram à invocação do Nome de Jesus uma formulação mais desenvolvida. O jovem Dositeo manteve sempre a memória de Jesus durante a grave enfermidade da que deveria morrer. Seu pai espiritual, Doroteo, o havia ensinado a repetir sem descanso: «Filho de Deus, vem em meu auxilio!» Esta era sua oração contínua. E quando já estava tão enfraquecido que não podia repeti-la, deu-lhe a seguinte conselho: «Tem presente somente a Deus e pense que Ele está do teu lado.» Assim pois, encontramos que a tradição da invocação do Nome de Jesus ou, Oração de Jesus, se estendia pela Palestina, quando tem início a segunda etapa em que se associa o hesicasmo sinaítico ao do Monte Atos.

Monte Atos

Na segunda metade do século XII e ao longo do século XIV, floresceu no Monte Athos, a Santa Montanha de Macedônia, o renascimento do ideal hesicasta. A oração de Jesus era acompanhada por uma disciplina da respiração, sistematizada por Nicéforo, o hesicasta, e por Gregório o Sinaíta. O método se baseia em retardar a respiração e buscar o lugar do coração dentro de si mesmo e se concentrar. Tudo isto, simultaneamente, com a invocação repetida da oração de Jesus; «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim» – acompanhando a inspiração e a expiração.

Este movimento de interiorização se faz em dois tempos, segundo as duas partes que compõem a fórmula da oração: «Senhor Jesus, Filho de Deus» e «tem piedade de mim pecador.» O ritmo da respiração e as batidas do coração participam também da oração complementando-se mutuamente: em simultaneidade com a primeira parte da oração: os pulmões inspiram o nome de Jesus, o qual permite à diástole que o espírito se lance por inteiro fora de toda a matéria e, simultaneamente, a segunda parte da oração: «tem piedade de mim, pecador», os pulmões expiram o ar contaminado, na vez que, pela sístole do coração, o espírito vem sobre si mesmo. A oração de Jesus tem pois, certo aspecto técnico e precisa de um adestramento. Mas não se pode reduzir a uma simples mecânica, porque «ninguém pode dizer ‘Senhor Jesus’ senão por influxo do Espírito Santo» (1Cor 12,3). Isto não impede que tais indicações dadas pelos monges, sejam de uma grande ajuda, porque são fruto de sua própria experiência.

O Hesicasmo

A palavra hesiquia, em grego, traduz-se como sendo um estado de tranqüilidade, de paz ou de repouso. Quem a possui encontra-se equilibrado, vive em paz; as vezes cala e guarda silêncio. Recorda a atitude que Platão afirma ser a do autêntico filósofo: mantém-se tranqüilo e se ocupa daquilo que lhe é próprio. Também se ajusta às palavras do Livro dos Provérbios: «O homem sensato sabe se calar»; ou ao estilo do solitário de quem disse o Profeta Baruc: «É bom esperar em silêncio a Salvação do Senhor.»

No Novo Testamento, o próprio Cristo disse a seus discípulos; «Vinde a Mim todos os que estais cansados sob o peso de vosso fardo, e eu vos darei descanso. Tomai sobre sobre vós o meu jugo, e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso (hesiquia) para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve». (Mt 11, 28-29). Ammonas, sucessor de Santo Antônio do Egito, fala de como a hesiquia é o caminho próprio do monge e escreve uma carta mostrando que é o fundamento de todas as virtudes.

Foram os anacoretas os primeiros a se chamarem hesicastas. Se a virtude dos cenobitas (monges que vivem em comunidades) é a obediência, a dos hesicastas (anacoretas ou solitários) é a oração perpétua. A busca da hesiquia é tão antiga como a vida monástica.

No século VI São João Clímaco, abade do Monastério do Sinai e autor da «Escada do Paraíso», uniu a hesiquia e a Recordação de Jesus. A hesiquia é a adoração perpétua na presença de Deus: que a recordação de Jesus se una a tua respiração e rapidamente te darás conta da utilidade da hesiquia. A oração ideal é a que elimina os raciocínios e se converte em uma só palavra.

A memória de Jesus provê de forma e conteúdo este tipo de oração. A união da memória (lembrança) de Jesus e a respiração será novamente empreendida por Hesiquio de Batos que já a chama Oração de Jesus: «Se, com sinceridade queres afugentar os pensamentos, viver em quietude, sem dificuldade, e exercer a vigilância sobre teu coração, deves aderir a Oração de Jesus à tua respiração e prontamente o conseguirás.» A união da respiração com a Oração de Jesus, em sua fórmula desenvolvida: «Senhor Jesus, Filho do Deus vivo, tem piedade de mim, pecador!», constituirá o fundamento do hesicasmo bizantino do Monte Atos, no século XIV.

«Quando rezares, inspira ao mesmo tempo e, que teu pensamento, dirigindo-se ao interior de ti mesmo, fixe tua meditação e tua visão no lugar do coração de onde brotam as lágrimas. Que tua atenção permaneça ali, tanto quanto te for possível. Será para ti de grande ajuda. Esta invocação de Jesus libera o espírito de sua atividade, outorga a paz, e ajuda e descobrir a Oração Incessante do coração, por graça do Espírito vivificante, em Jesus Cristo, Nosso Senhor.»

A Filocalia

Já em fins do século XVIII compila-se e traduz-se para o eslavo a Filocalia com o que a tradição hesicasta chegará primeiramente à Rússia, e logo à Romênia, e dali a toda à Europa Ortodoxa. A Filocalia (termo grego que significa amor ao belo e ao bom) está composta por uma antologia de textos ascéticos e místicos, recopilados por Macário de Corinto e Nicodemo, o Hagiorita. Foi publicada em Veneza, em 1782 e diz-se que ela constitui o breviário do hesicasmo. Sua publicação coincide com o renascimento da fé ortodoxa na Grécia do século XVIII e, ao ser traduzida para o eslavo por Paissy Velichkovsky, e para a língua russa por Ignacio Brianchaninov, em 1857, marcou a renovação do monaquismo oriental. A filocalia eslava foi utilizada pelo grande São Serafim de Sarov e constitui o núcleo dos relatos sinceros de um peregrino russo ao seu pai espiritual, pequena obra que apareceu em Kazan em 1870.

Os Relatos de um Peregrino Russo

«Os Relatos de um Peregrino Russo» pertencem ao movimento literário russo do século XIX, no que tem de mais sereno e puro. O peregrino faz com que o leitor penetre no coração da vida russa, pouco depois da Guerra da Crimea e antes da abolição da servidão, ou seja, entre os anos de 1856 e 1861. Tudo está enquadrado numa planície imensa, com igrejas de cores claras e sinos refulgentes e sonoros.

Cristão ortodoxo como é, sua preocupação é passar da «noite escura» à «noite luminosa»: a contemplação da Santíssima Trindade.

O peregrino (strannik) descreve sua odisséia através da Rússia, que percorre com um alforje, contendo tão somente um pão seco e uma Bíblia. Em um monastério encontra um starets (pai espiritual) e o interroga sobre a maneira de praticar o conselho do apóstolo: orar sem cessar. O staretz lhe explica a prática da oração de Jesus. Submete-lhe – se se pode falar desse modo – a um regime de treinamento progressivo. Faz-lhe dizer a oração de Jesus, primeiro três mil vezes por dia, depois seis mil vezes e finalmente, doze mil vezes.

Logo o peregrino deixa de contar o numero de orações; associa o “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus, tem piedade de mim pecador!”, com cada respiração, com cada batida do coração. Chega o momento em que já não pronuncia nenhuma palavra: os lábios se calam e só resta escutar falar o coração. Assim, a oração de Jesus serve de alimento que sacia a fome, serve de bebida para sacia a sede, de repouso para a fadiga, de proteção contra os adversários e demais perigos; inspira as conversações que o peregrino tem com as pessoas que encontra, pessoas simples do povo, como ele. A fé do peregrino não é emotividade poética.

Nutrido dos ensinamentos teológicos, todas as suas ações são guiadas pelo desejo da perfeição da vida espiritual, cuja meta última é a contemplação. Se a fé precede às obras, sem obras a fé não existe. Consegue ignorar o frio, a fome e a dor; a própria natureza lhe parece transfigurada.

“Arvores, ervas, terra, ar, luz, todas estas coisas me dizem que existem para o homem e, para o homem dão testemunho de Deus: todas oravam, todas cantavam a glória de Deus.”

O campesino, em seu peregrinar pelas estepes da Rússia invocando constantemente o Nome de Jesus e falando a todos da oração de Jesus, conheceu condenados a trabalhos forçados, desertores, nobres, membros de diferentes classes, sacerdotes do campo... Mas nada lhe detinha.

Este pequeno livro popularizou esta oração, tanto no Oriente como no Ocidente. Graças a esta obra a Oração de Jesus ou a Oração do Coração, ultrapassou os muros dos monastérios para chegar à piedade popular. Já se disse que esta obra fez mais pela compreensão entre os cristãos que um sem número de reuniões teológicas.

Recordemos Textos seletos:

A oração de Jesus, interior e constante, é a invocação contínua e ininterrupta do Nome de Jesus por meio dos lábios, do coração e da inteligência, sentindo sua presença em todas as partes e em todo momento, inclusive quando dormimos. Se expressa com estas palavras: ‘Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim!’ Aquele que se habitua a esta invocação sente um grande consolo e a necessidade de dizê-la sempre; e depois de um certo tempo já não podemos passar sem dizê-la, e, sozinha, ela nasce do interior.”»

«Senta-te no silêncio e na solidão; inclina a cabeça e fecha os olhos; respira mais suavemente, olha com tua imaginação ao interior de teu coração, recolhe tua inteligência, quer dizer, teu pensamento da mente ao coração. De vez em quando repita silenciosamente ou simplesmente em espírito: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim!” Esforça-te por afastar todo pensamento, seja paciente e repita este exercício sempre.»

«Todo meu desejo estava fixo sobre uma só coisa: dizer a oração de Jesus e, desde que me consagrei a isto, estive tomado de alegria e de consolo. Era como se meus lábios e minha língua pronunciassem por si mesmas as palavras, sem esforço de minha parte.»

«Então senti como um rápido calor em meu coração, e tal amor por Jesus Cristo em meu pensamento, que me imaginei, a mim mesmo, ajoelhando-me a seus pés – Ah se pudesse vê-lo! – abraçando-o, beijando com ternura seus pés e agradecendo-lhe com lagrimas haver me permitido, em sua graça e seu amor, encontrar em seu nome tão grande consolo – a mim sua criatura indigna e pecadora. Em seguida sobreveio em meu coração um calor agradável que se expandiu para todo meu peito.»

«Algumas vezes meu coração resplandecia de alegria, parecia leve, pleno de liberdade e de consolo. As vezes eu sentia um amor ardente por Jesus Cristo e por todas as criaturas de Deus... As vezes, invocando o nome de Jesus, estava repleto de felicidade e, depois disto, conhecia o sentido destas palavras: “O reino de Deus está dentro de vós”»

Os relatos, são na verdade uma autobiografia? Ou um conto espiritual, ou uma obra de propaganda? Neste caso, de que meio emana? Trata-se de perguntas para as quais não temos respostas. Nem tudo está explicito, resplandecente como ouro. A oração de Jesus está apresentada, talvez excessivamente, como atuando ‘ex opere operato’. Um teólogo, um hegúmeno um sacerdote que tenha almas sob sua responsabilidade, se expressaria com maior sobriedade e prudência. Mas não poderia permanecer insensível ao frescor do relato, à sua aparente sensibilidade e tampouco à sua beleza espiritual e finalmente aos dons literários do autor. Os relatos tiveram continuação: uma segunda parte, atribuída ao mesmo autor que a primeira, apareceu vinte e seis anos depois e, nas mesmas condições misteriosas. A segunda parte é muito diferente. Ela teologa, reproduz conversas que foram feitas entre um professor e um starets, não tem a ingenuidade (talvez só aparente) e o encanto da obra primitiva e provavelmente não foram escritas pela mesma pena.

Significado da Oração de Jesus

«Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!»

Senhor: vem de «Kyrios» e é como dizer, Deus. Pois para dizer «Jesus é Senhor» é preciso a ajuda do Espírito Santo – Deus.

Jesus: é nome e mistério de Salvação.

Cristo: quer dizer Messias ou seja, Sacerdote, Profeta e Rei.

No Antigo Testamento o nome de Deus passa de nome pronunciável a indizível ou inefável, pelo que se substitui por Adonai para não permitir imagens sequer do nome de Deus. No Novo Testamento o Nome de Deus é pronunciável porque na nova economia Deus se une a nossa carne. «Porás o nome de Jesus, porque Ele salvará seu povo de seus pecados.»

A Oração Hesicasta ou Oração de Jesus contém toda a verdade dos Evangelhos e incorpora os dois grandes mistérios que caracterizam a revelação e a fé cristã.

  1. A Encarnação - Jesus (humanidade) Filho de Deus e Senhor (divindade).
  2. A Trindade – Filho de Deus (o Pai) , Jesus - Senhor (Espírito Santo que nos dá a força para confessá-lo).

É uma prece de adoração e penitência que, unida à inspiração, expressa acolhida e, unida à expiração, expressa o abandono. A Oração de Jesus aparece intimamente associada às atitudes de ‘metanóia’ (mudança interior, nova escala de valores); à compunção e humildade, à confiança segura e audaz, à atenção dos sentidos e, o coração, às palavras e à Presença; e em ultimo lugar, à hesiquia (busca da quietude e da autêntica unificação interior através da invocação do Nome de Jesus).

A Oração de Jesus pode ser praticada de duas maneiras diferentes:

  1. Livre: permite encher o vazio entre o tempo de oração e as atividades ordinárias da vida e unir-nos a Deus em momentos de trabalhos.
  2. Formal: concentrados e com afastados de toda outra atividade. Para isto, é bom estar sentado, com pouca luz, olhos fechados, segurando, se for preciso, um rosário oriental ou ocidental, que é um meio para nos concentrar melhor.

Recomenda-se não mudar muito a fórmula escolhida desde o início, ainda que certas variações nos pareçam oportunas para evitar o tédio. Aos que começam, recomenda-se a alternativa entre a invocação pronunciada pelos lábios e a oração interior: «Quando se reza com a boca, há que se dizer a oração com calma, docemente, sem agitação alguma, para que a voz não atrapalhe ou distraia a atenção do espírito, até que este se habitue e possa rezar por si só, com a Graça do Espírito Santo.»

Todas estas indicações não tem maior objetivo que alcançar a concentração em Jesus, do corpo, da alma e do espírito. De fato, as palavras que compõem a oração de Jesus variam segundo as épocas e os autores. A fórmula mais breve repete unicamente o Nome de«Jesus», e a mais longa diz: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tem piedade de mim, pobre pecador!» Mas, uma vez escolhida, recomenda-se evitar o quanto possível variá-la.

Assim, no coração, ao estar integradas e unificadas todas as forças e partes do ser humano, «o coração absorve o Senhor e o Senhor absorve o coração, e os dois se fazem um.» E continua o texto: «Mas isto não é obra de um dia ou dois. Requer muito tempo. Há que se lutar muito e durante muito tempo para alcançar o afastamento do inimigo e a habitação de Cristo em nosso interior.»

Este estalo de amor no pobre coração humano o eleva acima de todas as criaturas. Não se trata, porém, de uma elevação que implique uma exclusão, mas o contrário: tal elevação de amor é uma inefável inclusão de tudo o que foi criado; é uma capacidade e potência de amor por todas as pessoas e coisas.

Isaac, o Sírio, é quem melhor falou, no Oriente, deste amor universal, com uma ternura e simplicidade que recorda Francisco de Assis, no Ocidente:

«Que é um coração compassivo? É um coração que arde por toda a Criação: os seres humanos, pássaros, animais, demônios e por toda criatura. Quando pensa nisto e quando os vê, seus olhos se enchem de lágrimas. Tão intensa e violenta é sua compaixão, tão grande é sua constância que seu coração se encolhe e não pode suportar ouvir a presença do menor dano ou tristeza no seio da Criação. Por isso que, com lágrimas, intercede pelos animais irracionais, pelos inimigos da verdade e por todos os malfeitores, para que sejam preservados do mal e perdoados”. É a mesma compaixão que deve brotar do teu coração: uma compaixão sem limites, à imagem de Deus. Porém, nada pode ser forçado. A oração deve ir estabelecendo seu próprio ritmo e freqüência que é o ritmo que Deus quer para nós.»

A invocação do Nome de Jesus no Ocidente

A Igreja Romana tem uma festa do Santo Nome de Jesus. Desde Pio X, esta festa é celebrada entre o domingo que fica entre o dia primeiro de Janeiro e a festa Epifania no dia 02 de janeiro. A liturgia e o ofício da festa foram compostos por Bernardino dei Busti (+1500) e aprovados pelo Papa Sixto IV. Originalmente era restrita aos conventos franciscanos e, mais tarde, foi estendida para toda Igreja de Roma.

O estilo retrocede à época em que foram compostos e difere muito do antigo estilo romano. Não se pode mais que admirar a beleza das leituras das Escrituras e das homilias de São Bernardo escolhidas para as matinas. Os hinos ‘Jesu dulcis memória, Jesu rex admirabilis’, atribuídos também a São Bernardo, foram tomados, na verdade, de um ‘jubilus’, escrito por um desconhecido do século XII. As litânias do Santo Nome de Jesus, aprovadas por Sixto V, são de origem incerta; talvez foram compostas, no início do século XV, por São Bernardino de Sena e São João Capistrano. Essas Litanias, tal como mostram a invocações; “Jesus, esplendor do Pai; Jesus, sol de Justiça; Jesus, doce e humilde coração; Jesus, aficionado da castidade, etc” estão consagrados mais aos atributos de Jesus que ao seu próprio Nome. Poderia, até certo ponto, comparar-se ao “Akathistos do Doce Nome de Jesus”, da Igreja Ortodoxa. É sabido que aquela devoção esteve cercada pelo monograma JHS, que não significa, como muitas vezes se diz, “Jesus Hominum Salvator”, senão que, simplesmente, apresenta uma abreviação do nome de Jesus. Os jesuítas, colocando uma cruz sobre o H, fizeram deste monograma o emblema da Companhia.

Em 1564, o Papa Pio IV aprovou a Fraternidade dos Muitos Nomes de Deus e de Jesus, que se transformou, mais tarde na ‘Sociedade do Santo Nome de Jesus’, ainda existente. Esta fundação foi conseqüência do Concílio de Lyon, em 1274, que prescreveu uma devoção especial ao Nome de Jesus. A Inglaterra do século XV usava um «Jesus Psalter», composto por Richard Whytfor, que compreende uma série de petições, das quais, cada uma inicia pela tríplice menção ao Nome sagrado que ainda está em uso.

O grande propagador da devoção do Nome de Jesus, durante a Baixa Idade Média, foi São Bernardino de Sena (1380-1444). Recomendava levar tabuinhas nas quais estava escrito o símbolo JHS. São João de Capistrano, discípulo de Bernardino, era também um propagador fervoroso da devoção do Nome de Jesus. Ambos os santos pertenciam à família religiosa de São Francisco de Assis. Sabe-se que o próprio Francisco enternecia-se com o Nome de Jesus. O culto do Santo Nome de Jesus se transformou em uma tradição franciscana. É muito significativo que uma versão italiana das “Floricillas” realizada em Trevi, em 1458, por um irmão menor da Ordem de São Bernardino, contenha um capítulo adicional sobre o testemunho da devoção que São Francisco tinha pelo Nome de Jesus.

Definitivamente, porém, foi Bernardo de Claraval, no século XII, o mais inspirado devoto do Nome de Jesus, sobretudo em seu sermão XV, sobre o «Cantar dos Cantares.» Comentando a assimilação do Nome de Jesus ao azeite derramado feita pelo Cantar, desenvolve a idéia de que «o Nome Sagrado, como o azeite, ilumina, unge.» Não é na luz desse Nome que Deus nos chamou à sua admirável luz? Recorda-nos os hesicastas: «O nome de Jesus não é somente uma luz, mas também alimento.» E, finalmente: «Se escreves, eu não gosto de teus escritos, a menos que eles lembrem o nome de Jesus. Se discutes ou pronuncias uma conferência, não gosto de tua palavra, a menos que ressoe nelas o Nome de Jesus. Pois Jesus é mel na boca, melodia para o ouvido, alegria para o coração... Porém, o Nome de Jesus é também um remédio. Alguém de nós está triste? Que Jesus chegue ao seu coração e, dali, Ele brote na sua boca ... Alguém cai em crime? Se invoca o nome mesmo da vida, não respirará ao mesmo tempo o ar da vida?»

Estas passagens contém a mais profunda Teologia sobre o Nome Sagrado de Jesus.

Edição: Pe. André Sperandio, hieromonge
Extraído de http://www.ecclesia.com.br/Biblioteca/monaquismo/a_oracao_de_jesus.html acesso em 28 dez. 2009.
Imagens:
Komboskini / Servitiu. 2009. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Komboskini_4.JPG acesso em 28 dez. 2009.
Agiou Dionysiou monastery = Mosteiro de São Dionísio / Mätes II. Monte Atos, 1998. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Athos_Dionysiou_1998_2.jpg acesso em 28 dez. 2009.
Saint Bernardino of Siena / El Greco. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_bernardino.jpg acesso em 28 dez. 2009.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

POR UM FIO



















POR UM FIO...

Esse nosso planeta...
Está em rota de colisão...
com a insanidade humana...
Tudo por causa da ganância...
Da intolerância...
E da agressão à natureza...
que gera a incerteza de dias melhores...

Desde a muito...
gasta-se mais com os vícios...
a violência...
e a pornografia...
do que com a preservação da vida...

Drogas...
Armas...
Lascívia...
Abortos provocados...
Eis as armas do pecado...
de que se serve Satanás...
para levar as almas pro inferno...

E esse inferno começa aqui...
Eis alguns sintomas dele...
Depressão...
Opressão...
Obsessão...
Insônia...

Doenças incuráveis...
Todo tipo de malefícios...
de Blasfêmias...
de sacrifícios humanos...
Todo tipo revolta...
De ódio e estupidez...
Que por sua vez causam os suicídios...

E sabem por quê?
Deixaram Deus de lado;
Para cultuar o diabo abertamente...
Seja nas músicas...
Nas danças...
Nas discrepâncias sociais...

Seja nos carnavais...
Nas paixões imorais...
Na corrupção de menores...
Casamentos homossexuais...
No tráfego de seres humanos...

Seja nos rituais de magia negra...
Nas seitas...
No ocultismo...
No espiritismo...
Cultos afros...
E tudo o mais...

Na literatura... (livros de “auto-ajuda”; livros eróticos; revistas e jornais coniventes com o lixo da corrupção);
No cinema, arte e televisão... (a mídia se vendeu ao inferno);
Na magistratura...(corrupção de juízes e magistrados);
Nos tribunais...(compra de sentenças; habeas corpus; advogados trambiqueiros)
Na política...(mentiras, calúnias, perseguição, corrupção, etc.)...

Por isso vivemos em meio à maldição...
Financiam...
As guerras...
A indústria bélica...
O entretenimento fútil...
Os bancos falidos...
Mas não financiam o equilíbrio do Planeta...

Estamos prestes a sumir do mapa...
O caos total não deve demorar...
É só uma questão de tempo...
De pouco tempo...
Porque a mãe natureza não agüenta mais...
Está no limite máximo de sua serventia...

Talvez digam que eu sou pessimista...
Mas vivendo num cenário desses...
Quem não é?
Basta ver o mal que os homens causam a si mesmos...
Nessa agressão à natureza...
Com toda certeza e convicção...
Estamos por um fio...
O pavio já está acesso...
Só falta a explosão...

Senhor, os homens estão apressando a tua volta...
Porque tudo está acontecendo como disseste:
“Haverá sinais no sol,
na lua e nas estrelas.
Na terra...
a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações...
pelo bramido do mar e das ondas”.

“Os homens definharão de medo,
na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra.
As próprias forças dos céus serão abaladas.
Então verão o Filho do Homem vir...
sobre uma nuvem com grande glória e majestade”.

“Quando começarem a acontecer estas coisas,
reanimai-vos e levantai as vossas cabeças;
porque se aproxima a vossa libertação”. (Lc 21,25-28).

Paz e Bem!


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sábado, 26 de dezembro de 2009

VIDA, FÉ E POESIA




















VIDA, FÉ E POESIA

De fé e versos simples...
É a minha poesia...
Feita de rimas talvez não tão bem rimadas...
Mas plena de conteúdo de vida...

Porque o que digo...
Faço-o como a vida precisa ser...
Assim meus traçados versos...
não são mero dizer...
Porque dizer algo qualquer um diz...
Mas viver o afago da vida em Deus...
requer muito mais que palavras escritas
ou sopradas ao vento...

Requer a coragem e o alento...
de viver e ser profecia...
Profecia que se cumpre...
a cada anúncio feito...
porque é impulso perfeito...
de inspiração divina...

Muitas vezes incomoda,
mas dá resultado...
porque é verdade...
a realidade que descreve...
dando conhecer dos corações...
suas reais intenções mais íntimas...

Por isso minha poesia é diferente...
Porque não é um repente qualquer...
Nem um disse me disse...
Ao contrário é um dizer bendito...
para quem a sabe auscultar...

Ela é como um olhar transparente...
que tudo vê...
até mesmo o recôndito da alma...
e faz transparecer o que precisa ser mudado...

Quem a lê assim...
Muda, se converte, se transforma...
Inunda-se da graça de Deus...
Quem não a lê assim...
Perde o élan vital que ela traz...
em seus versos proféticos...

Porque, de fato, mais que poesia...
ela é profecia que nos faz compreender...
as razões de ser da vida que Deus nos dá...
Porque nela...
nunca digo algo que não seja para o bem...
o Sumo Bem de nossas almas...

Paz e Bem!

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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

QUANTO?




















QUANTO?

Deixo-me tomar por ti Senhor...
Porque, o que sou por mim mesmo?
Ou aonde vou se todos os caminhos temporais
me levam à morte?

Sei disso porque a realidade natural que vivo...
Segue sua trajetória rumo ao fim...
mesmo que eu não queira...
Isto porque a tua Vontade...
está acima de todas as vontades...
E ela se cumpre sempre...

Enquanto todos pensam que o fim é o fim...
Tua Vontade nos aponta para a eternidade...
Porque a tua Vontade é Absoluta e Soberana...
e recompensa quem por Ela se exercita...

A vida que nos deste...
tem sua origem em Ti...
e somente em Ti...
Mas o seu devir...
depende do que fazemos dela...

Quem a vive por amor...
Tem no amor os mais belos frutos de paz...
Porque permanece em Ti...
e não morre mais...
Quem, porém,
dela faz um antro de perdição...
Caminha em sua contra mão...
rumo ao caos infinito...

Tudo isso é Mistério é verdade...
Mas o bom do Mistério...
é que fazemos parte dele Contigo...
e nos vais desvendando-o pouco a pouco...
Dia a dia...
Como uma sinfonia maravilhosa...
que nos encanta com seus belíssimos acordes perfeitos...
Que tu meu Senhor com santa maestria...
reges aos nossos ouvidos e corações imperfeitos...
Porém, afeitos à tua Revelação...

Assim somos nós no tempo que nos dais...
e que vivemos e ainda temos pra viver...
Quanto?
Não sei, Tu o sabes...
Só sei meu Deus...
que nunca quero me apartar de Ti...
Seja aqui no mistério da vida no tempo...
Seja em tua eternidade,
onde na verdade...
a vida não tem fim...

Paz e Bem!

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O pequeno tambor

Clique para ouvir:

Vinde todos, param pam pam pam
O vosso Rei nasceu, param pam pam pam
Para o Deus Menino, param pam pam pam
Levemos o melhor, param pam pam pam
pam ram pam pam pam
Vinde e adorai, param pam pam pam
O Redentor

Meu Jesus, param pam pam pam
Sou pobre como Tu, param pam pam pam
Nada tenho p’ra dar, param pam pam pam
Além de muito amor, param pam pam pam
pam ram pam pam pam
Tocarei p’ra Ti, param pam pam pam
O meu tambor

E Maria, param pam pam pam
Com doce olhar escotou, param pam pam pam
O som do meu tambor, param pam pam pam
E nada mais se ouviu, param pam pam pam
pam ram pam pam pam
E o Menino, param pam pam pam
P’ra mim sorriu

Il Piccolo Tamburino

Tamburino - pa ra pa pa pam
Vieni anche tu con noi - pa ra pa pa pam
La strada è lunga ma - pa ra pa pa pam
Più corta si farà - pa ra pa pa pam
Ra pa pa pam - ra pa pa pam
Se tu suonerai - pa ra pa pa pam
È nato gesù

Gesù disse - pa ra pa pa pam
Anch io son povero - pa ra pa pa pam
Regali non ne ho - pa r apa pa pam
Degni di un vero re - pa ra pa pa pam
Ra pa pa pam - ra pa pa pam
Ma suonero per te - pa ra pa pa pam
Come non mai

Gesù sorrise - pa ra pa pa pam
La notte si schiarì - pa ra pa pa pam
La stella scese giù - pa ra pa pa pam
E il cuore si scaldo - pa ra pa pa pam
Ra pa pa pam - ra pa pa pam
Poi suonò per lui - pa ra pa pa pam
Come non mai

L'enfant au tambour

Parapampam rampampam
Sur la route parapampampam
Petit tambour s'en va parapampampam
Il sent son cœur qui bat parapampampam
Au rythme de ses pas parapampampam
Rapampampam rapampampam

Oh petit enfant pamrapampam
Où vas-tu
Parapampam rampampam

Hier mon père parapampampam
A suivi le tambour parapampampam
Le tambour des soldats parapampampam
Et je m'en vais au ciel parapampampam
Rapampampam rapampampam

La je veux donner pour son retour
Mon tambour
Parapampam rampampam

Tous les anges parapampampam
Ont pris leur beau tambour parapampampam
Et ont dit à l'enfant parapampampam
Ton père est de retour parapampampam
Rapampampam rapampampam

Et l'enfant s'éveille parapampampam
Sur son tambour

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Der kleine Trommler

Durch die stille Nacht,
Pa ra pa pa pum
Da ging ein kleiner Junge
Ra pa pa pum
Hielt seine Spielzeugtrommel
In der Hand
Wollt' zu dem Stalle,
So die Wiege stand
Ra pa pa pum,
Ra pa pa pum
Und die Trommel klang
Pa ra pa pa pum
Durch das Land.

Liebes Christuskind
Pa ra pa pa pum
Bin nur ein kleiner Junge
Ra pa pa pum
Wo alte Könige
Mit Gaben steh'n
Laßt man vielleicht mich
Gar nicht zu dir geh'n
Hab' ja kein Geld,
Hab' ja kein Geld
Kann nur Trommeln für dich
Pa ra pa pa pum
Wenn's dir gefällt.

Und vom Himmel hoch
Pa ra pa pa pum
Da kam ein Stern herab
Ra pa pa pum
Er führte in die
Stille Straßen entlang
Und seine kleine Trommel
Klar im sang
Ra pa pa pum,
Ra pa pa pum
Daß zum Heil der Welt
Pa ra pa pa pum
Christus kam

In dem kleinen Stall
Pa ra pa pa pum
spielte er dem Kind vor
Ra pa pa pum
er gab sein bestes dar
Die kleine Spielzeugtrommel
sang und klang
Ra pa pa pum,
Ra pa pa pum
und das Jesukind
Pa ra pa pa pum
lächelt ihn an

Mi burrito sabanero

Con mi burrito sabanero
voy camino de Belén
Con mi burrito sabanero
voy camino de Belén

Si me ven, si me ven
voy camino de Belén
Si me ven, si me ven
voy camino de Belén

Con mi cuatrico voy cantando
y mi burrito va trotando
Con mi cuatrico voy cantando
y mi burrito va trotando

Si me ven, si me ven
voy camino de Belén
Si me ven, si me ven
voy camino de Belén

El lucerito mañanero,
ilumina mi sendero.
El lucerito mañanero,
ilumina mi sendero.

Si me ven, si me ven
voy camino de Belén
Si me ven, si me ven
voy camino de Belén

Tuqui Tuqui Tuquituqui
Tuquituqui Tu qui Ta
Apúrate mi burrito
que ya vamos a llegar

Tuqui Tuqui Tuquituqui
Tuquituqui Tu qui Ta
apúrate mi burrito
vamos a ver a Jesús

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Para onde vai a Igreja, hoje?

O Instituto Humanitas da UNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) acaba de publicar o n. 320, ano 9 da revista IHU On-line com 9 entrevistas sobre o tema: Para onde vai a Igreja, hoje?

As entrevistas são:

  • Timothy Radcliffe: O desafio da diferença: o diálogo como única forma de compartilhar a fé
  • João Batista Libânio: A Igreja e os secularismos. Campo para o profetismo
  • Claudio Burgaleta: A crescente “latinização” da Igreja dos EUA: uma inculturação às avessas
  • Sandro Magister: Uma Igreja guiada por um “iluminista” em defesa da grande Tradição
  • John L. Allen Jr.: O fim da “guerra fria” interna da Igreja: um desafio pastoral
  • Wolfgang Thönissen: Ecumenismo: desafio para a Igreja
  • Luís Carlos Susin: Uma Igreja tradicionalista nunca será criativa
  • Andrea Tornielli: Beleza e amor: o legado de Bento XVI para a Igreja contemporânea
  • Washington Uranga: A Igreja Católica na América Latina e as contradições do continente
A revista está disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/uploads/edicoes/1261479459.8617pdf.pdf

Postal de Natal

O Nascimento de Jesus, Um Cordel sobre o Natal

Textos: Euriano Sales
Ilustrações: Meg Banhos
Locução e Edição: Euriano Sales
Trilha: Sa Grama

Jingle bells

Jingle bells, jingle bells
Jingle all the way
Oh, what fun it is to ride
In a one horse open sleigh

Ladies and gentlement
I give you the jingle bass

Merry Christmas

Dashing through the snow
In a one horse open sleigh
O'er the fields we go
Laughing all the way
Bells on bob tails ring
Making spirits bright
What fun it is to laugh and sing
A sleighing song tonight

Jingle bells, jingle bells
Jingle all the way
Oh, what fun it is to ride
In a one horse open sleigh
Jingle bells, jingle bells
Jingle all the way
Oh, what fun it is to ride
In a one horse open sleigh

Let me hear you say
Ho Ho Ho

Dashing through the snow
In a one horse open sleigh
O'er the fields we go
Laughing all the way
Bells on bob tails ring
Making spirits bright
What fun it is to laugh and sing
A sleighing song tonight

Everybody's singing

Jingle bells, jingle bells
Jingle all the way
Oh, what fun it is to ride
In a one horse open sleigh
Jingle bells, jingle bells
Jingle all the way
Oh, what fun it is to ride
In a one horse open sleigh

Let me hear you say
Ho Ho Ho

Merry Christmas

Bate o sino pequenino
Sino de Belém
Já nasceu o Deus menino
Para o nosso bem

Paz na terra
Pede o sino
Alegre a cantar
Abençoe, Deus menino
Esse nosso lar

Hoje a noite é bela
Vamos à capela
Sob a luz da vela
Felizes a rezar

Ao soar o sino
Sino pequenino
Vai o Deus menino
Nos abençoar

Mensagem Natalina

surpresas,
choros, risos,
lutas etc.

Por isto
que a festa
do nascimento de Deus
feito homem
nos prepare para
celebrarmos a vida
em cada dia de 2010.


Eugenio, OFS

Happy Xmas (War Is Over)

Composição: John Lennon e Yoko Ono


So this is christmas
And what have you done
Another year over
And new one just begun

And so this is christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young

A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is christmas (war is over...)
For weak and for strong (...if you want it)
The rich and the poor one
The world is so wrong

And so happy christmas
For black and for white
For the yellow and red one
Let's stop all the fight

A very merry christmas
And a happy new year
Lets hope it's a good one
Without any fear

And so this is christmas
And what have we done
Another year over
And new one just begun...

And so happy christmas
We hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young

A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear

War is over - if you want it
War is over - if you want it
War is over - if you want it
War is over - if you want it

Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Então é Natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, do amor como um todo.
Então bom Natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Então é Natal, pro enfermo e pro são.
Pro rico e pro pobre, num só coração.
Então bom Natal, pro branco e pro negro.
Amarelo e vermelho, pra paz afinal.
Então bom Natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Então é Natal, o que a gente fez?
O ano termina, e começa outra vez.
E Então é Natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, o amor como um todo.
Então bom Natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Harehama, Há quem ama.
Harehama, ha...
Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Hiroshima, Nagasaki, Mururoa...

É Natal, É Natal, É Natal.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

As razões cristãs da ecologia

"A tradição cristã não pode e não sabe separar justiça e ecologia, partilha da Terra e respeito pela Terra, atenção à vida da natureza e cuidado da boa qualidade da vida humana: são dois aspectos de uma única urgência: combater a desordem, a vontade de poder, fazer reinar a justiça, a paz, a harmonia."

Essa é a opinião do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, publicada no jornal La Stampa, 20-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Enquanto a atenção mundial estava dirigida às discussões de Copenhague sobre o clima da Terra e a italiana, às consequências do gesto de uma pessoa com problemas psicológicos sobre o clima da convivência civil, a mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz do próximo dia 1º de janeiro passou praticamente despercebida.

Porém, a temática escolhida para esse ano é de ardente atualidade ao indicar o nexo profundo entre a paz e a proteção da criação. Paz, de fato, não é só ausência de guerras – mesmo que isso é o que tantos homens e mulheres nas mais diversas regiões do globo esperam há muito tempo –, mas também uma vida plena, em harmonia com a criação, habitada pela memória reconciliada com o passado, da justiça pelo presente, da esperança pelo futuro.

Assim, retomando e desenvolvendo algumas temáticas já presentes na encíclica "Caritas in Veritate", Bento XVI destaca alguns elementos irrenunciáveis na reflexão contemporânea sobre os problemas que afligem o mundo. Sobretudo a consciência da responsabilidade que nós, seres humanos, temos com relação ao ambiente natural e aos mais fracos dentre nós, particularmente "os pobres e as gerações futuras". Depois, a capacidade que a Igreja, "perita em humanidade", tem de reforçar "a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade" – intergeracional e intrageracional, isto é, capaz de projetar-se "no espaço e no tempo" – que, na situação atual, só pode se conjugar com uma "revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento" e com a "sobriedade".

Mas há também a percepção de uma dicotomia sempre mais pronunciada entre os raros "projetos políticos clarividentes" e os sempre mais frequentes "míopes interesses econômicos": dicotomia particularmente preocupante hoje que a política, também mundial, parece submeter-se à economia, quase resignada a se tornar sua serva impotente.

O texto do Papa nos lembra com eficácia que o interesse pela criação, e portanto pela relação da humanidade com ela, é uma instância da fé bíblica: existem "razões cristãs" absolutas e precisas para a ecologia, razões nunca separáveis, justamente, da questão da justiça e da paz. A tradição cristã, de fato, não pode e não sabe separar justiça e ecologia, partilha da Terra e respeito pela Terra, atenção à vida da natureza e cuidado da boa qualidade da vida humana: são dois aspectos de uma única urgência: combater a desordem, a vontade de poder, fazer reinar a justiça, a paz, a harmonia.

A terra é desolada quando menosprezamos a qualidade da vida do homem e da vida do cosmos, e a qualidade da vida humana depende também da vida do cosmos do qual o homem faz parte e que é o seu lar.

Assim, ao enfrentar a questão ecológica, Bento XVI mostra ter no coração que esse anúncio cristão seja proclamado com uma linguagem antropologicamente compreensível por todos e capazes, ao mesmo tempo, de remarcar as peculiaridades que o impedem de ceder "a um novo panteísmo com acentos neopagãos".

Os profetas do Antigo Testamento já haviam procurado anunciar o futuro que espera pela criação com imagens poéticas, pastorais – o cordeiro e o lobo que pastam juntos, a criança de peito e a serpente que brincam juntos, o deserto florido... - mas com o objetivo de despertar nos homens uma atração não por aquilo que se perdeu, mas sim por aquilo que está na frente, como uma vocação e uma promessa.

Essas imagens que chegaram até nós não pretendem inculcar uma nostalgia por culturas não mais atuais ou pedir uma conservação virginal da natureza: ela não é um patrimônio original inviolável e imaculado, e é preciso vigiar mais do que nunca para que não acabe sendo divinizada ou sacralizada como "Gaia", divina mãe virgem e imaculada que pede para ser preservada de toda intervenção humana.

Por isso, a mensagem do Papa exorta a vigiar também sobre um outro perigo: na crise de relação entre o homem e a alteridade da criação – alteridade que o homem hoje não sabe respeita, tentado como é para absorver em si mesmo tudo o que está diante de si – aparece a tentação de eliminar "a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos".

Não se deve esquecer que a nossa geração é talvez a primeira na história a ser consciente de que das suas próprias escolhas dependem a vida ou a morte dos seres, do planeta, e essa consciência, infelizmente, deriva de evidências que se impõem: do ar viciado, das águas envenenadas, do solo mortificado e explorado, do deserto que avança. A verdade é que vivemos uma relação errada com a matéria do mundo, não sabendo reconhecer nela a obra vivificante do Espírito Santo que nos requereria uma relação de respeito e de amor. As criaturas são para nós um objeto neutro de consumo, objeto que servem para satisfazer os nossos desejos, instrumentos para o nosso bem-estar sem limites e sem lei.

Porém, também nesse exigente discernimento, os cristãos teriam diante de si o caminho traçado por Jesus, o "homem segundo Deus", que soube viver com a criação de modo exemplar. O seu agir messiânico não se referia só à relação com os seres humanos, mas também com a criação: Jesus amou a Terra, permaneceu fiel a ela, mostrou-se um contemplativo da criação, capaz de ver nela "um dom de Deus para todos" – como lembra Bento XVI – e uma responsabilidade para o homem.

Reconciliado com a natureza, com os animais, com as fadigas humanas, com a realidade cotidiana, pela contemplação da natureza, Jesus soube tirar lições e consolação, soube responder ao gemido presente em todas as coisas. Os cristãos, seguindo-o, diante do "deserto que avança" anunciado por Nietzsche, diante da Terra sempre mais desolada, deveriam aprender a reconhecer, na profundida da criação, da "signatura rerum", da escritura das coisas, as suas lágrimas e os seus louvores.

Então, talvez saberíamos dirigir de modo confiável aos nossos irmãos e irmãs de humanidade o urgente apelo que Bento XVI quis dar voz: "Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação".


Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28565 acesso em 21 dez. 2009.

Foto: Bento XVI chega a São Paulo e é recebido pelo presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva / Ricardo Stuckert/PR. Agência Brasil, 09 maio 2007. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:BentoXVI-4-09052007.jpgacesso em 21 dez. 2009.

O Tannenbaum

O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Wie grün sind deine Blätter.
O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Wie grün sind deine Blätter.
Du grünst nicht nur zur Sommerzeit,
Nein auch im Winter wenn es schneit.
O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Wie grün sind deine Blätter!

O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Du kannst mir sehr gefallen!
O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Du kannst mir sehr gefallen!
Wie oft hat nicht zur Weinachtszeit
Ein Baum von dir mich hoch erfreut!
O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Du kannst mir sehr gefallen!

O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Dein Kleid will mich was lehren:
O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Dein Kleid will mich was lehren:
Die Hoffnung und Beständigkeit
Gibt Mut und Kraft zu jeder Zeit!
O Tannenbaum, O Tannenbaum,
Wie grün sind deine Blätter!

O pinheirinho de natal
que lindos são seus ramos
o pinheirinho de natal
que lindos são seus ramos
suas flores nascem no verão
e no inverno elas se vão
o pinheirinho de natal
que lindos são seus ramos!

domingo, 20 de dezembro de 2009

O que fazer com o buraco da Rua?

Olá, pessoas!!! Estive muito ausente em 2010, mas é porque foi um ano de muitas mudanças. Além disso, em virtude da minha luta pela hermenêutica juvenil, fui convidado a desenvolver alguns trabalhos e escrever alguns artigos, o que me deixou sem tempo para cultivar meu próprio blog.

Mas enfim... Passado o ano, sinto enorme desejo em partilhar uma experiência que vivi este ano, numa rede de comunidades franciscanas. Foi em Rio Grande/RS, numa das etapas do curso Bíblia e Teatro, curso de parceria entre o CEBI-RS e a ONG juvenil Trilha Cidadã.

Neste curso, eu representava o CEBI. Por isso, minha missão era proporcionar a reflexão bíblica popular. Ora, trabalhando o papel social da Eucaristia nas comunidades paulinas (1Cor 11,17-34), falei sobre a importância de se organizar em pequenas comunidades para subverter o domínio cruel dos sistemas opressores.

Em seguida, as/os participantes produziram uma encenação teatral, tentando demonstrar o papel das comunidades, a partir de suas reflexões. Estava um grupo de Igreja reunido e chegou uma senhora, desesperada, pedindo ajuda. Havia um buraco na rua da casa dela e ninguém resolvia o problema.

Ela disse que alguém havia comentado que o grupo da Igreja poderia ajudá-la. Esse grupo, de fato, era muito bom na acolhida. Pediram para a senhora se sentar com eles e começaram a falar sobre os trabalhos que realizavam.

O problema é que, ao apresentarem seus trabalhos, como a Pastoral Social, Pastoral da Saúde, grupo de panificação, grupo das crocheteiras, Pastoral da Juventude, grupo de pescadores etc., queriam que ela entrasse em algum desses grupos e começasse a trabalhar em prol da Igreja.

Ela, então, perguntou: “E o buraco da minha rua?” Alguém virou pra ela e disse: “Ih, nem esquenta! Deixa o buraco pra lá! Se a senhora começar a trabalhar aqui conosco, verá que o buraco nem incomoda tanto assim...”

Ao fim da peça, havia uma avaliação cênica e outra de conteúdo da mensagem. Chegou a minha vez de falar e eu comentei: “O grande problema de nossas igrejas é justamente este! Em vez de oferecer vida, oferecemos trabalho! Por isso, a Igreja está vazia! Somos um bando de tarefeiros! E o que é pior... Fazemos tudo em prol da Igreja-Templo (as famosas construções que nunca terminam), em prol do Padre (sempre que chega um padre novo, a comunidade quer mobiliar a casa dele), ou para alívio de nossas consciências (distribuição de comida, festas com distribuição de balas e brindes para crianças e jovens carentes etc.)! Mas não nos comprometemos com a realidade dos nossos próprios paroquianos, com seus problemas cotidianos, sequer com coisas simples como um buraco de rua.”

As pessoas ficaram muito bravas comigo. Muitas não voltaram na etapa seguinte. Pior... Nem no dia seguinte. Mas não me arrependo. Sei que essas pessoas estão pensando até agora no que falei.

Comunidade não é preparar uma liturgia, um bingo, uma festa.

Comunidade é dizer “não” ao sistema vigente, onde o que vale é o egoísmo e a competitividade. Comunidade é ser um grupo de irmãos e irmãs, vivendo como os primeiros cristãos, que possuíam tudo em comum (At 2,44; 4,42), inclusive os problemas.

Por isso, uma coisa ainda me incomoda... Como ficou o buraco da rua daquela senhora?

O desafio da diferença: o diálogo como única forma de compartilhar a fé

O desafio da diferença: o diálogo como única forma de compartilhar a fé. Entrevista especial com Timothy Radcliffe

Como uma árvore, a Igreja precisa de uma “interação dinâmica” com seu meio ambiente: a chuva, o sol, o vento e até o pássaro ocasional. Senão, “encerrada em si mesma, ela morreria”. Por isso, a fé cristã precisa de “uma cultura que nos capacite a debater com a sociedade, em vez de ficarmos na defensiva”.

Para Timothy Radcliffe, teólogo e frei dominicano, único inglês a ser eleito para o superior geral de sua ordem desde sua fundação, em 1216, a Igreja tem uma longa tradição de lidar com a diferença, como demonstram os quatro Evangelhos e as demais tradições teológicas da vida católica. Porém, hoje, além de adotar a “tolerância contemporânea”, precisamos oferecer mais, “um envolvimento com as outras pessoas que leve a sério o que elas dizem, para dialogar com elas na crença de que juntos podemos nos aproximar mais da verdade”, afirma, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

E esse diálogo – considerado por ele como a única forma de pregar, como demonstrou Jesus, que “se tornou humano na forma de um homem do diálogo” – também se refere a questões internas da Igreja (como a ordenação de homens casados, “uma bênção”, e do celibato, “exigente, mas belo, se vivido com generosidade”), com outros credos (“se eu dialogo com um muçulmano, espero que ambos sejamos convertidos”) e com relação ao mundo (“o tempo está pronto para que a Igreja ofereça uma nova visão moral”) .

Nascido na Inglaterra, Timothy Radcliffe é teólogo e frei dominicano. Em 1992, foi eleito Mestre Geral da Ordem dos Pregadores [Dominicanos]. Antes disso, havia sido capelão do Imperial College London, prior provincial da Inglaterra e presidente da Conferência dos Superiores Religiosos de Inglaterra e Gales, tendo lecionado Sagrada Escritura na Universidade de Oxford. Em 2001, após deixar o cargo de mestre geral da ordem, voltou a lecionar na universidade.

Atualmente, é membro da comunidade dominicana de Blackfriars, Oxford, na Inglaterra. Presidente do International Young Leaders Network, Racdliffe foi um dos fundadores do Las Casas Institute, que aborda questões referentes à ética, política e justiça social, ambos desenvolvidos na Universidade de Oxford.

Em 2007, seu livro “What is the point of being a Christian?” [Qual é o sentido de ser cristão?] (Ed. Burns & Oates, 2005) recebeu o prêmio Michael Ramsey de Escritos Teológicos, criado pelo primaz da Igreja Anglicana e arcebispo de Canterbury, Dr. Rowan Williams, para encorajar as obras teológicas mais promissoras. Radcliffe também é autor de diversos livros sobre espiritualidade, como “”I Call You Friends” [Chamo-lhes amigos] (Ed. Continuum, 2001), “Seven Last Words” [As últimas sete palavras] (Ed. Burns & Oates, 2004) e “Why Go to Church? The Drama of the Eucharist” [Por que ir à Igreja? O drama da Eucaristia] (Ed. Continuum, 2008).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual a sua opinião sobre os rumos da Igreja nesta primeira década do século XXI, sob o papado de Bento XVI?

Timothy Radcliffe – Os papas deveriam se concentrar em fazer o que melhor sabem fazer. O Papa Bento XVI é um professor, e é isso que ele oferece muito bem à Igreja. Muitas pessoas esperavam que ele se preocupasse sobretudo com a disciplina e o combate à modernidade, por causa de sua reputação na época em que ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas ele está determinado a escapar dessa imagem de disciplinador, que detestava, e, assim, suas encíclicas vêm tentando nos levar de volta aos aspectos essenciais de nossa fé, começando com o amor. Como acadêmico, ele gosta do debate e queria que seu livro sobre Jesus de Nazaré provocasse discussão. Essa é possivelmente a primeira vez que um Papa tenha escrito buscando uma reação intelectual ativa de outros teólogos. Um grupo de teólogos notre-americanos e britânicos aceitou o desafio e ofereceu uma resposta que é positiva e crítica. Portanto, todo esse aspecto de seu papado é muito positivo.

Entretanto, tem havido dificuldades em sua comunicação com a mídia, como, por exemplo, a revogação da excomunhão do bispo lefebvriano que parecia negar o Holocausto, as observações do Papa a jornalistas sobre preservativos em sua viagem à África etc. Essas coisas provocaram alvoroço, e o Vaticano parece não ter condições ou disposição para se relacionar com a mídia de forma profissional. Isso talvez está ligado às profundas divisões existentes dentro do Vaticano, que estão enfraquecendo seu papel de serviço à Igreja universal.

O cardeal Basil Hume percebeu claramente que necessitamos de uma reforma do governo da Igreja, em que o Vaticano sirva ao seu governo por meio do Papa e dos bispos, em vez de os bispos serem muitas vezes vistos como servos do Vaticano. Este é um desafio central, e não se poderia esperar que o atual Papa, com a idade que tem e não obstante todos os seus dons e sua inteligência, o empreendesse.

IHU On-Line – Questões éticas em torno da vida e da morte (como os casos de Terry Schiavo e Eluana Englaro) e questões culturais (como os crucifixos em salas de aula na Itália e na Espanha) têm suscitado uma reação do Vaticano. Isso é a demonstração de um certo conservadorismo nesses debates por parte da Igreja ou é apenas uma tentativa de normatização de uma instituição histórica? Essa é uma luta da Igreja para defender sua identidade em uma sociedade plural?

Timothy Radcliffe – Uma fé cristã precisa de uma cultura cristã que a sustente. A fé em Cristo significa que veremos o mundo de uma forma diferente das pessoas que estão enredadas no mundo do mercado e na cultura contemporânea do consumismo. Veremos o mundo em termos de bênçãos, gratidão e indícios de transcendência. Essa percepção da realidade precisa ser sustentada por uma cultura, que está necessariamente em tensão com a cultura secular global de nosso planeta. A tentação para os cristãos é tentar sustentar essa cultura simplesmente lutando contra a modernidade e seus pressupostos. Isso poderia levar a Igreja a um gueto que estaria muito distante da hospitalidade aberta de Jesus. Precisamos de uma cultura cristã que, ao mesmo tempo em que tenha autoconfiança, também esteja aberta para ser alimentada por nossos contemporâneos, independentemente de eles crerem ou não. Em outras palavras: precisamos de uma cultura que nos capacite a debater com a sociedade, em vez de ficarmos na defensiva. A imagem que gosto de usar neste sentido é a de uma árvore, que é uma imagem bíblica tradicional. É claro que a árvore é ela mesma, mas só pode florescer se tiver uma interação dinâmica com seu meio ambiente – a chuva, o sol, o vento e até o pássaro que pousa nos seus galhos. Encerrada em si mesma, ela morreria.

Portanto, esses debates a respeito de várias questões culturais são formas pelas quais estamos negociando que espécie de interação temos com a sociedade. Às vezes, a Igreja é tentada a ficar nervosa e defensiva demais, mas precisamos nos envolver mais positivamente com as pessoas mais criativas e imaginativas de nossa época. Em vez dessas discordâncias serem conflitos de poder, elas requerem um envolvimento inteligente com nossa sociedade, suas esperanças e seus temores.

IHU On-Line – Como o senhor analisa as recentes negociações da Igreja com os lefebvrianos, os anglicanos conservadores e os ortodoxos? O que isso indica para o futuro do ecumenismo no século XXI?

Timothy Radcliffe – O Papa tem uma percepção profunda da necessidade de reunir os cristãos em unidade. A unidade cristã é um aspecto necessário e profundo do chamado que Cristo nos dirige. Depois da ressurreição, os discípulos dispersos foram reunidos, e, assim, a unidade visível em Cristo é uma parte intrínseca da maneira como somos o Corpo de Cristo. Assim, a cura da divisão precisa ser uma prioridade, e ela está por trás de muitas das iniciativas do Papa. Está claro que ele fez muito progresso na cura da mais antiga das divisões, que é com os ortodoxos. Eles o respeitam como um homem que tem uma visão teológica profunda, arraigada no evangelho e nos mesmos teólogos antigos do Oriente que eles também reverenciam.

A iniciativa do Papa de ir ao encontro dos anglicanos que estão descontentes com mudanças recentes em sua Igreja também faz parte desse desejo de curar as feridas do passado. É claro que ela também é uma iniciativa arriscada na medida em que poderia, ao mesmo tempo, debilitar a crescente amizade entre as Igrejas Católica e Anglicana. Penso que o Papa tentou manter um equilíbrio oferecendo um lugar em nossa Igreja a esses anglicanos descontentes e, ao mesmo tempo, dando ao arcebispo de Canterbury [Rowan Williams] uma cruz episcopal, o que é um sinal de respeito e amizade.

Sua iniciativa de ir ao encontro dos anglicanos criou muita ansiedade na Grã-Bretanha. Isso se deve em parte a um medo de que sejamos inundados por anglicanos tradicionalistas que atrapalharão nossa própria evolução na Igreja Católica. É importante entender que muitos dos anglicanos que se tornaram católicos em anos recentes de modo algum são tradicionalistas misóginos mesquinhos. Muitos não são contra a ordenação de mulheres como tal, mas creem que certas decisões só podem ser tomadas pela Igreja universal e que, ao fazer isso sozinha, a Comunhão Anglicana está perdendo todas as possíveis reivindicações de ser membro dessa Igreja universal. Infelizmente, a questão foi mal encaminhada pelo Vaticano, sem uma consulta adequada junto aos bispos católicos ou anglicanos nesse país ou até junto a outras partes do próprio Vaticano.

É claro que o mesmo desejo de curar a divisão e trazer as pessoas de volta para a unidade do corpo de Cristo está presente na iniciativa do Papa de ir ao encontro dos lefebvrianos. Espero que a Igreja mostre a mesma abertura e vá da mesma maneira ao encontro das pessoas que se afastaram da Igreja por causa de opiniões que são mais progressistas!

IHU On-Line – Outro problema que a Igreja enfrenta é a redução do número de novos padres. Já foram indicadas algumas possíveis soluções, radicais demais para o Vaticano, como a ordenação de homens casados (os chamados “viri probati”), o fim do celibato e a ordenação de mulheres. Como o senhor analisa isso? O celibato é o principal problema?

Timothy Radcliffe – Não creio que o celibato seja o principal problema. Muitas Igrejas que têm clérigos casados também têm problemas semelhantes. Isso acontece em parte porque, muitas vezes, os jovens percebem os sacerdotes como empresários excessivamente ocupados, com pouco tempo para a vida “real”. Como podemos ser sinais do Deus de vida abundante se estamos correndo para lá e para cá, como se fôssemos os salvadores do mundo? Nós precisamos mostrar que ser sacerdote ou religioso é realmente uma forma de estar vivo, imaginativa, emocional e humanamente vivo!

Creio, entretanto, que precisamos pensar sobre a ordenação de homens casados. Perderíamos muito se o celibato deixasse de fazer parte da vida de nossos sacerdotes. Ela é uma vida que só faz sentido como um sinal do Reino. Ele é exigente, mas belo, se vivido com generosidade. Mas se tivéssemos sacerdotes casados, também ganharíamos muito. Eles trariam sua experiência do casamento e da criação de filhos para nossa pregação, e isso seria uma bênção. Assim, temos de discutir isso como Igreja, e, já que o sacerdote é o servo do povo todo de Deus, precisamos saber o que os leigos pensam e querem. Eles estariam, por exemplo, dispostos a arcar com a considerável despesa adicional de manter uma família no presbitério?

IHU On-Line – Como a Igreja pode lidar com o mundo contemporâneo em um tempo de crise, “líquido”, incerto?

Timothy Radcliffe – Um dos desafios com que nos deparamos hoje, mais do que nunca, é nos defrontar com a diferença: diferenças entre culturas, diferenças entre religiões, diferenças entre gerações, diferenças sempre crescentes entre ricos e pobres. Isso só pode ser feito com o diálogo inteligente e a razão caridosa. A Igreja deveria ser capaz de oferecer um modelo disso. Papas recentes, especialmente Bento XVI, acentuaram que nós cremos na razão. Temos uma longa tradição em lidar com a diferença, desde os quatro Evangelhos, até as múltiplas tradições teológicas que fazem parte de nossa vida católica. Assim, deveríamos ter condições de oferecer um bom modelo de envolvimento com a diferença. Para nossa cultura contemporânea, o modelo usual é o da tolerância. Isso é excelente, e é maravilhoso que vivamos numa sociedade que é imensamente mais tolerante. Mas tolerância não basta. A mera tolerância pode ser uma forma de deixar de se envolver com as pessoas e de levar a sério no que elas creem. “Se você quer acreditar que deus é um alienígena do espaço sideral, se você se sente bem assim, não há qualquer problema”. Como Igreja, certamente precisamos adotar a tolerância contemporânea, mas oferecer mais, que é um envolvimento com as outras pessoas que leve suficientemente a sério o que elas dizem, para dialogar com elas na crença de que juntos podemos nos aproximar mais da verdade. Isso quer dizer que precisamos descobrir na Igreja não apenas como crer na razão teoricamente, mas nos envolver num diálogo mais caridoso e inteligente.

IHU On-Line – É possível praticar o diálogo inter-religioso sem que as Igrejas percam sua identidade? Nesse sentido, quais são os desafios para o futuro da Igreja Católica?

Timothy Radcliffe – O diálogo é a única forma de compartilhar nossa fé. Nós cremos na Trindade, a conversa eterna e amorosa do Pai e do Filho que é o Espírito Santo. Essa é a razão pela qual Deus se tornou humano na forma de um homem do diálogo. Todo o Evangelho de João consiste numa série de conversas: Jesus conversa com Nicodemos à noite ; ele conversa com a mulher junto ao poço , para escândalo dos discípulos que se perguntavam por que ele haveria de falar com uma mulher de má reputação; conversa com o cego de nascença, ao passo que todas as outras pessoas só falam sobre ele. Toda a Última Ceia é uma longa conversa . Ele conversa com Pilatos até que este põe fim à conversa dizendo: “O que é a verdade?” . E na manhã de Páscoa, o diálogo ressuscita dentre os mortos quando ele dirige a palavra a Maria Madalena no jardim: “Maria”; “Rabunni!” .

Essa é uma doutrina que só podemos compartilhar com outras pessoas numa conversa. Não é coincidência que São Domingos tenha fundado a Ordem dos Pregadores [Dominicanos] num bar! Ele conversou a noite toda com o dono da taverna, e, como disse um de meus irmãos, ele não pode ter passado a noite inteira dizendo: “Você está errado, você está errado!”.

Há um certo nervosismo em relação a essa equiparação da pregação com o diálogo. No Sínodo dos Bispos Asiáticos em Roma, os “lineamenta” [“estado da arte” sobre determinado tema] insistiram inicialmente que precisamos pregar o Evangelho. Se acentuássemos o diálogo demasiadamente, isso poderia levar ao relativismo, como se uma religião fosse tão válida quanto a outra. Mas isso é uma dicotomia errônea. A única forma de proclamar a boa nova do Deus Trino é através da conversa. O meio é a mensagem. Agir de outra forma seria como espancar as pessoas para que elas se tornassem pacifistas. O diálogo não é uma alternativa à pregação. Ele é a única forma de pregar. Isso é algo que o Papa Bento XVI entende bem. Em sua última encíclica, “Caritas in Veritate”, ele afirma: “Com efeito, a verdade é 'lógos' que cria 'diá-logos' e, consequentemente, comunicação e comunhão.”

Toda conversa verdadeira leva à conversão, mas para todo mundo! Se eu dialogo com um muçulmano, espero que ambos sejamos convertidos. Que forma essa conversão vai assumir é algo que está nas mãos de Deus.

IHU On-Line – A encíclica “Caritas in Veritate” faz referência indiretamente ao humanismo cristão, como um critério orientador de ação moral. Em sua opinião, como a Igreja pode ser fonte de ensinamentos morais em um mundo secularizado?

Timothy Radcliffe – Em “Secular Age”, Charles Taylor demonstrou brilhantemente como o Iluminismo esteve na raiz do que ele chama de “cultura do controle”. Vemos a ascensão de monarcas absolutos, o desenvolvimento do poder do Estado centralizado, a escravidão, que é o maior exercício de controle na história da humanidade, o imperialismo. Tudo isso estava ao menos em parte arraigado numa compreensão do mundo como um mecanismo que pode ser ajustado e manipulado. Depois de deixarmos de crer no governo providencial do mundo por parte de Deus, nós tínhamos de assumir as coisas e dirigir tudo por conta própria! Isso é ateísmo prático. E essa mesma cultura de controle acabou infectando a Igreja também, que, em parte tentando manter sua liberdade face ao poder crescente do Estado, tornou-se cada vez mais parecida com aquilo a que se opunha. Tudo isso levou a uma compreensão da moralidade como controle de nossas ações. Tínhamos de nos submeter à vontade arbitrária do Estado e de Deus. Isso é a moralidade como obediência a coações externas. Isso não pode sustentar uma sociedade humana. Assim, o tempo está pronto para que a Igreja ofereça uma nova visão moral.

Os Dez Mandamentos eram um convite para estabelecer uma relação pessoal com Deus. “Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20,2s.). Os Dez Mandamentos não são a vontade arbitrária de Deus. Eles significam compartilhar da amizade e liberdade de Deus. Eles foram dados a Moisés, com quem Deus falava como se fala com um amigo. São um aprendizado na liberdade da amizade.

O mesmo ocorre no caso de Jesus. Ele revela seu novo mandamento aos discípulos na noite anterior à sua morte, no exato momento em que os chamou de amigos. “[...] vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” (João 15,15). Na Bíblia, os mandamentos não são a submissão da vontade, mas o estabelecimento de amizade com Deus e uns com os outros,

Creio que o recente renascimento do interesse na ética das virtudes é muito empolgante. Mas isso tem a ver com se tornar alguém que é verdadeiramente um agente moral, alguém capaz de veracidade e justiça, alguém que tem maturidade moral e, em última análise, encontra a felicidade na amizade com Deus. Se pudermos compartilhar essa visão moral com nossa sociedade, as pessoas descobrirão que não estamos colocando fardos pesados sobre seus ombros, mas oferecendo amizade umas com as outras e com Deus. A amizade pode ser exigente, mas não é um fardo.

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28531 acesso em 20 dez. 2009.

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