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sábado, 27 de novembro de 2010

Como preservar o futuro da Igreja?

Entrevista especial
com Johannes Röser

"A tradição não significa simplesmente apenas a recordação de coisas passadas, mas também a transmissão de coisas novas". O desafio do cristianismo, portanto, é buscar "a viabilidade no futuro".
Essa é a opinião do teólogo alemão Johannes Röser, redator-chefe da revista semanal Christ in der Gegenwart, fundada logo após a Segunda Guerra Mundial. A publicação busca, justamente, "acertar as contas" entre a Igreja de hoje com os demais campos do saber, uma forma de apresentar o "Cristo no presente", como indica seu nome.
Nesta entrevista, concedida por e-mail à IHU On-Line, Röser analisa a vida da Igreja contemporânea, passando pelos avanços e impulsos pós-conciliares, o papel dos bispos e das conferências nacionais, do sacerdote do século XXI e dos desafios que se colocam diante dos leigos na sociedade atual.
Para Röser, chegamos, como Igreja, a uma encruzilhada: "A rigor, só há duas alternativas: ou continuar se isolando dos desdobramentos da modernidade na ciência, na arte, na cultura, na sociedade, ou reconhecer as leis próprias da realidade, o mundo do devir, a mudança constante", afirma.
Johannes Röser é redator-chefe da revista semanal Christ in der Gegenwart (Freiburg im Breisgau, na Alemanha), fundada em 1948, como uma publicação de diálogo entre a Igreja e os cristãos com a ciência, a arte, a cultura e a política. Röser estudou teologia em Freiburg e em Tübingen (dentre outros, com Hans Küng e com os então professores e hoje cardeais Karl Lehmann e Walter Kasper). Trabalha como jornalista desde 1981. É autor e editor de diversos livros sobre religião. Os mais recentes são Mein Glaube in Bewegung: Stellungnahmen aus Religion, Kultur und Politik; Mut zur Religion: Erziehung, Werte und die neue Frage nach Gott; Was sag ich Gott? Was sagt mir Gott?; e Jugendgebete und Gedanken, publicados pela Editora Herder.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor afirma que uma das consequências da crise de confiança da Igreja Católica é o reforço do "antimodernismo romano". Como esse fenômeno se expressa concretamente?
Johannes Röser – Há mais tempo já se pode perceber que os acentos, colocados pelo Concílio Vaticano II, que apontavam para a frente estão sendo minimizados, bagatelizados, que os impulsos para a renovação e a reforma estão sendo "inseridos" em noções pré-conciliares. Um marco nesse sentido foi o documento Dominus Iesus da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele interpreta o decreto sobre o ecumenismo do último Concílio de forma muito unilateral e restritiva, e nega o ser-Igreja das igrejas protestantes, o que mais tarde foi confirmado, uma vez mais, por um comunicado do Vaticano.
Outro passo da restauração foi a readmissão geral da liturgia tridentina como forma extraordinária de celebração. Nesse sentido, deve-se levar em conta que a liturgia tridentina se baseia em um modelo de compreensão espiritual que não é mais compatível com a atual experiência do mundo marcada pelo Iluminismo e pela demitologização – desde a ideia do sacrifício expiatório até noções mágicas e apegadas a milagres.
Por fim, veio a suspensão incondicional da excomunhão dos bispos de Lefèbvre, sem quaisquer exigências de conversão aos tradicionalistas e à sua postura acentuadamente antimodernista. Aliás, antes disso, muitos bispos já tinham advertido contra tal medida.
Também na ordem relativa a vestimentas e acessórios do atual papa, com sua predileção por vestes barrocas e música antiga etc., mostra-se uma certa aversão à modernidade. Durante certo tempo, Bento XVI usou o báculo de Pio IX (foto), o Papa do antimodernismo.
Acrescenta-se a isso o fato de que, apesar da acentuação da colegialidade dos bispos, a dignidade das Conferências Episcopais está sendo contestada e até minada. Cada vez mais, as Conferências Episcopais estão sendo consideradas meros órgãos administrativos ou consultivos, mas sem autoridade doutrinal. Além disso, tem-se a impressão de que, muitas vezes, os bispos são tratados como recebedores de ordens do Vaticano. Apesar disso, todo bispo tem em si, como sucessor dos apóstolos, autoridade e responsabilidade apostólicas.
Também a interpretação bíblica histórico-crítica foi recentemente relativizada e sofreu restrições por parte do papa Bento XVI em um texto pós-sinodal sobre a palavra de Deus dirigido ao Sínodo dos Bispos de 2008. Segundo ele, a exegese foi distorcida por uma compreensão secularista da Bíblia que exclui todos os elementos divinos.
Além disso, o magistério eclesiástico rejeita estritamente algumas pesquisas da biomedicina moderna. Entretanto, a história da medicina – assim como das ciências naturais de modo geral – prova que, na prática, todos os tabus eclesiásticos jamais erigidos não subsistiram a longo prazo, desde a proibição da autópsia de cadáveres – que atualmente não nos permitiria sequer operar um apêndice inflamado – até o ceticismo para com transplantes de órgãos e a proibição da contracepção hormonal, que, entrementes, se tornou um padrão no mundo todo.
IHU On-Line – Algumas das questões em voga atualmente no debate religioso são a moral sexual, o celibato e a questão dos divorciados. É possível encontrar uma solução conciliatória entre as reivindicações dos fiéis e as posições da Igreja institucional?
Johannes Röser – Essas três áreas devem ser separadas. Quanto ao celibato: também na parte latina da Igreja Católica mundial atua um número crescente de sacerdotes casados. Por exemplo, os que passaram de igrejas protestantes para a Igreja Católica e agora exercem nela o seu ministério eclesiástico. Alguns sacerdotes casados vieram da Igreja Anglicana. Agora, o papa até instituiu sedes episcopais próprias para anglicanos dispostos a trocar de Igreja, em que eles podem conservar suas tradições litúrgicas [os chamados ordinariatos pessoais]. Além disso, através dos muitos cristãos que fugiram do Oriente Próximo e do Oriente Médio, nós estamos conhecendo no Ocidente sacerdotes católicos casados das igrejas orientais unidas ao papa. Esses pastores não são “menos” sacerdotes nem sacerdotes “piores” do que aqueles da parte latina da Igreja.

"Para os cristãos, o acontecimento-Cristo é o centro da existência de fé. Estamos em busca de uma mística em torno de Cristo que incorpore dimensões cósmicas"
Não se trata da abolição do celibato, que é e deve continuar sendo uma característica essencial da vida monástica. O que está em pauta unicamente é como se pode assegurar a celebração sacramental do mistério pascal face à forte carência de sacerdotes em muitos países mediante a liberação do celibato para sacerdotes seculares, para párocos. Qualquer outra coisa significaria que, com um número cada vez menor de sacerdotes, nós estaríamos a caminho de uma Igreja Católica livre, não obstante todo o respeito que tenho pelo caminho próprio em conformidade com o evangelho das igrejas protestantes livres. Além disso, precisamos de sacerdotes jovens – casados – para pessoas jovens – geralmente ainda não casadas –, inclusive como exemplo.
Quanto à moral sexual: graças às possibilidades contraceptivas, a sexualidade e a reprodução não estão mais vinculadas uma à outra. Por causa dos longos períodos de formação – também das mulheres – e da necessária mobilidade e flexibilidade profissional, os jovens, muitas vezes, só encontram o parceiro ou a parceira de vida bem tardiamente. Não é realista e também seria ingênuo esperar que as pessoas vivam em abstinência sexual até os 30 anos de idade ou até mais tarde. A sexualidade é uma parte essencial do amor, da atratividade e da capacidade de estabelecer relacionamentos dos seres humanos. Naturalmente, é desejável que as pessoas mantenham a fidelidade conjugal e a parceria matrimonial durante a vida inteira. Mas excluir rigorosamente o comportamento sexual nesse processo causa repulsa. O distanciamento dos jovens em relação à Igreja começa, na maioria dos casos, com o despertar da sexualidade. Por isso, a doutrina sobre a sexualidade deve ser repensada de acordo com o que é humanamente possível e faz sentido. A sexualidade é vida e determina toda a nossa vida, mesmo que o tempo para casar só venha bem mais tarde.
Algo semelhante se aplica aos divórcios. Nos países ocidentais, entrementes um de cada três casamentos termina em divórcio. Isso atinge igualmente os católicos. Naturalmente, pode-se criticar e lamentar que hoje em dia os casais se separem mais depressa do que antigamente, que a tolerância à frustração e a disposição para perdoar sejam menores, que exemplos errados tornem mais fáceis os divórcios e as trocas de parceiros. Contudo, as exigências feitas ao amor, ao relacionamento e à parceira também aumentaram, o que sobrecarrega muitas pessoas e acaba acarretando decepções. Entretanto, após um exame de consciência sincero, arrependimento, confissão de culpa, penitência e boa intenção, não se deveriam negar permanentemente o perdão e consolo dos sacramentos da Igreja a pessoas divorciadas que voltaram a se casar. Todavia, a Igreja poderia fazer mais para ajudar os casais em tempo hábil a renovar e salvar seu casamento.
IHU On-Line – Para o senhor, dois grandes problemas da Igreja são o seu fechamento e a sua distância com relação à realidade. Que papel os leigos podem ter para reverter esse quadro?
Johannes Röser – Existe uma vocação especial para o sacerdócio. E existe uma vocação igualmente divina para as profissões seculares. Muitos cristãos são atualmente especialistas em muitas áreas. Como cidadãos do mundo, eles não precisam procurar de propósito um diálogo forçado entre a Igreja e o mundo. Eles são do mundo, como cristãos. Como homem e mulher, como pais, eles são o primeiro sacerdote masculino e feminino de seus filhos. "Deus chega antes do missionário", disse Leonardo Boff certa vez. Os leigos chegam ainda antes do que o sacerdote. Entretanto, eles não substituem o ministério eclesiástico especial de direção espiritual. Alguns abismos entre leigos e clérigos, alguns casos de neoclericalismo constrangedor poderiam ser superados se o princípio sinodal fosse melhor cultivado também na Igreja Católica. Isso quer dizer que, em associações eclesiásticas, os leigos devem ter não só funções consultivas, mas também compartilhar do poder de decisão.

"Os impulsos para a renovação e a reforma [da Igreja] estão sendo 'inseridos' em noções pré-conciliares"
IHU On-Line – Como a Igreja pode encontrar um equilíbrio entre a tradição e a orientação ao futuro?
Johannes Röser – Voltando-se com rigor aos conhecimentos da atualidade e reconhecendo a evolução contínua do mundo, da vida, do saber e da fé. A consciência religiosa também se transforma no decorrer da história pessoal de vida e da história da humanidade. O chefe de Estado soviético Mikhail Gorbachev dizia: "A vida castiga quem chega tarde". Isso também se aplica ao cristianismo. A tradição não significa simplesmente apenas a recordação de coisas passadas, mas também a transmissão de coisas novas: temos de nos direcionar para a viabilidade no futuro.
IHU On-Line – Quais são as instâncias já existentes ou que novos âmbitos de diálogo precisam ser criados para que a "consulta recíproca sobre as necessidades" da Igreja, como o senhor afirma, possa ocorrer?
Johannes Röser – O ponto central e crucial é a questão de Deus. Há muito tempo, consolidou-se no sentimento de muitas pessoas uma espécie de ateísmo popular, sem qualquer intenção combativa, mas, antes, com melancolia e até com tristeza. Segundo ele, Deus, mesmo que existisse e o quisesse, não tem qualquer possibilidade de atuar e intervir no curso do mundo. Onde Deus estava quando não estava lá, por exemplo: por ocasião do tsunami, ou pelo 11 de setembro de 2001, ou no caso de vírus letais ou outras doenças, em relação aos quais o ser humano supostamente livre nada pode fazer? Na melhor das hipóteses, Deus é um grande "talvez" para muitas pessoas. Dizem elas: "Às vezes eu creio, às vezes não creio". É nesses mundos intermediários que a religiosidade ocorre atualmente, na maioria das vezes em uma esfera vaga, incerta, aproximada.
Ora, isso tem consequências para as nossas concepções de Deus. Hoje em dia, "Deus" é, para muitas pessoas, mais um verbo do que um substantivo, mais um acontecimento processual do que uma espécie de "sujeito" ou "objeto". As concepções de Deus anteriores não são mais suficientes para, face ao caráter enigmático do espaço e do tempo, ser tocado ou até abalado pela misteriosidade de Deus. Precisamos de uma escola, de uma nova visão e de um novo pressentimento religioso, justamente para pessoas reflexivas de boa vontade.

"Só há duas alternativas: ou continuar se isolando da modernidade, ou reconhecer o mundo do devir, a mudança constante"
Para os cristãos, o acontecimento-Cristo é e continua sendo o centro da existência de fé. Mas como a unicidade de Cristo pode ser associada à diversidade e ao caráter contraditório das outras percepções religiosas em todo o globo terrestre? Por que o Filho de Deus só veio a este mundo como Homo sapiens há 2 mil anos, se o Homo sapiens, o ser humano sapiente, já existia há pelo menos 100 mil anos, dotado de um cérebro complexo e inteligência cognitiva moderna? Assim, estamos e continuamos em busca de uma mística em torno de Cristo que, entre outras coisas, incorpore dimensões universais e cósmicas, mas sem se desviar especulativamente para o âmbito esotérico: uma mística que permaneça fiel à história e à terra.
O aguilhão decisivo da descrença é a mortalidade, a finitude. Com isso, porém, intensifica-se, por outro lado, nosso fascínio: que, apesar da mortalidade de tudo, exista algo e não nada, já que o nada seria muito mais plausível do que tudo que se faz sentir. O milagre do que é visível é, para muitas pessoas, bem mais maravilhoso do que o milagre daquilo que é invisível. Ora, se existe o milagre da vida – real – diante dos olhos de todos, por que não haveria de poder existir, na mesma lógica fraca, o milagre da vida eterna – objeto de esperança –, da ressurreição dos mortos? Aqui, para as pessoas crentes, abre-se o caminho para a esperança da ressurreição.
A fé em Deus, a fé em Cristo, a fé na ressurreição são os três campos de diálogo decisivos, os aspectos essenciais. Para isso, precisa-se de um novo entendimento no horizonte de nossa experiência do mundo e até um novo Concílio sobre questões de fé, semelhante aos antigos Concílios sobre questões de fé, que nunca transcorriam harmoniosamente, mas em disputa produtiva e frutífera. Isso também desafia a teologia.
IHU On-Line – Como o senhor analisa o papel das Conferências dos Bispos hoje? Ainda têm validade na conjuntura social e eclesial do século XXI? Como aumentar o diálogo entre as diversas Conferências?
Johannes Röser – Os bispos e as Conferências Episcopais falam demais sobre questões sociais, caritativas e políticas. Tudo isso é importante e necessário, particularmente a opção preferencial pelos pobres. Mas também é importante fazer os temas de casa eclesiásticos e religiosos e não desviar a atenção deles. Muitas crises religiosas são de produção própria. Seria importante revitalizar a tradição dos sínodos regionais, para se entender inicialmente com quem está geograficamente próximo. Disso poderia surgir então um processo sinodal abrangente, até se chegar a um concílio ecumênico. Não há como se esquivar disso.

"Alguns abismos entre leigos e clérigos, alguns casos de neoclericalismo constrangedor poderiam ser superados se o princípio sinodal fosse melhor cultivado"
IHU On-Line – Como o senhor analisa a questão do sacerdócio hoje? Que papel os sacerdotes devem ter na Igreja contemporânea e que tendências o senhor percebe para o futuro do sacerdócio?
Johannes Röser – Face à grave carência de fiéis apesar dos 2 bilhões de cristãos nominais no mundo inteiro, a carência de sacerdotes não é um problema secundário. Sem proximidade pessoal, não há fé. Precisamos de algo diferente do "sacerdote administrador" ou do "sacerdote cultual" centrado nos sacramentos. Precisamos de "sacerdotes comunicadores", homens de Deus que sejam capazes de despertar e estimular a religiosidade que muitas pessoas carregam dentro de si em segredo, mas não ousam questionar. Visto que precisamos da melhor qualidade espiritual nesse caso, também precisamos da devida quantidade de qualidade sacerdotal.
O pároco-gerente, que documenta queixosamente seu ativismo com uma agenda superlotada, não interessa às pessoas. Da mesma forma, não interessa aos jovens de hoje um sacerdote-mago. Não, as pessoas da atualidade esperam e amam pastores repletos do Espírito, bem formados, que tenham experiência do mundo e estejam impregnados de Deus, em que se perceba que são realmente servidores de Deus, tanto em seus pontos fracos quanto fortes, que, como vocacionados, também tenham uma noção das vocações divinas dos servidores do mundo, dos grandes anseios e ciladas pecaminosas de toda e qualquer existência.
O sacerdote como servidor dos seres humanos deve ser primeiramente servidor de Deus para levar as pessoas, com autoridade e sensibilidade, para Deus, para chamar a atenção delas para Deus, para levá-las a redescobrir Deus. Os sacerdotes devem preparar as pessoas para o reino de Deus. De certa forma, eles são algo assim como parteiras do nascimento de Deus no ser humano. Eles não tiram do indivíduo o trabalho de parto religioso, mas o orientam com base no bom saber e na experiência profunda e, às vezes, intervêm para facilitar as coisas em meio ao processo doloroso. Os sacerdotes devem ser, nesse sentido, parteiras do religioso, com senso de liderança e responsabilidade de líderes, mas sem bancarem os sabichões.

"A tradição não significa apenas a recordação de coisas passadas, mas também a transmissão de coisas novas"
Uma nova reflexão sobre o fato de o sacerdote ser primordialmente homem de Deus (talvez, a uma certa altura, também mulher de Deus entre os católicos e ortodoxos) poderia libertar o elemento sacramental de suas históricas reduções mágico-mitológicas e abrir o sacerdócio para uma nova espécie de representação sacramental do mistério divino, que torne a matéria de nossa existência transparente para o espiritual divino, especialmente nos dons do pão e do vinho. O santo alimento da alma e a santa bebida celestial devem nos encaminhar para uma santa comunicação, a uma santa comunhão mística – união – de Deus e do ser humano. O sacramental pode, assim, tornar-se novamente antegosto de uma grande promessa sacerdotal, para além da morte. Na celebração do sacramental, dos mistérios da salvação, poderá de fato transparecer, então, algo daquele além que ilumina a realidade deste mundo, em uma nova relação mais profunda com Cristo.
IHU On-Line – Que cenários futuros da Igreja o senhor prevê no confronto ou diálogo com a contemporaneidade?
Johannes Röser – A rigor, só há duas alternativas: ou continuar se isolando dos desdobramentos da modernidade na ciência, na arte, na cultura, na sociedade, ou reconhecer as leis próprias da realidade, o mundo do devir, a mudança constante. A compreensão da fé também tem que enfrentar as mudanças de paradigma, a mudança dos modelos conceituais, para preservar o futuro do cristianismo. Nesse sentido, ele também precisa aprender de novo a ser modesto para com o mundo, para com as pessoas, para com Deus. Jesus Cristo é o ícone do Deus desconhecido, e não simplesmente de alguém que se conhece bem. O pesquisador do cérebro Gerhard Roth disse certa vez: "Se Deus existe, ele é inteiramente diferente do que qualquer teólogo do mundo imagina". Eu acrescento: também inteiramente diferente do que alguns não crentes imaginam por "Deus".
Ser cristão significa tornar-se cristão. Isso se aplica às primeiras pessoas que creram em Jesus Cristo da mesma forma como se aplica a nós no terceiro milênio. Nossa esperança é grande.
(Por Moisés Sbardelotto. Tradução de Luís Marcos Sander)
Para ler mais:
Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38610 acesso em 26 nov. 2010.

domingo, 21 de novembro de 2010

Mensagem para o Dia Nacional do Leigo 2010: Dom Antônio Celso de Queirós

Dia Nacional do Leigo

Paz e bem!


A Festa de Cristo Rei
também assinala o
Dia Nacional do Leigo.
Seguem mensagens de
Marilza Lopes Shuína,
Vicepresidente do CNLB
(Conselho Nacional do Laicato do Brasil),
organismo ao qual são filiados
tanto a OFS como a JuFra.
_____



“A prática e a pregação de Jesus mostram que seu projeto, entendido como expressão da vontade do Pai, visava à superação de todas as divisões sociais e religiosas da sociedade judaica de seu tempo. Suas atitudes chegavam a escandalizar porque vivia a comunhão com pessoas consideradas de má companhia. O Evangelho aponta para uma convivência humana de justiça, amor, fraternidade, co-responsabilidade e igualdade. A epístola aos Hebreus ainda nos recorda: ‘Se Jesus estivesse na terra nem mesmo sacerdote seria, porque já existem sacerdotes’(8,4). Na perspectiva do Antigo Testamento, Jesus é antes leigo que sacerdote, porque, como novamente diz a epístola aos Hebreus, ‘é notório que Nosso Senhor nasceu em Judá, a cuja tribo Moisés nada disse a respeito do sacerdócio’(7,14). Os ideais igualitários e comunitários foram percebidos pelos primeiros cristãos. Nos Atos dos Apóstolos constatamos o ensaio de uma comunidade que colocava tudo em comum, que não havia introduzido nenhuma separação nem distinção, porque os fiéis eram um só coração e uma só alma e juntos viviam e testemunhavam a novidade do Evangelho (cf. At2, 42-45; 4,32-35).”(Boff, 1998)

Este é um desafio, enquanto leigos e leigas, superarmos as dicotomias e divisões e avançarmos no Seguimento de Jesus Cristo, aprendendo e praticando “as bem aventuranças do Reino, o estilo de vida do mesmo Jesus Cristo: seu amor e obediência filial ao Pai, sua compaixão diante da dor humana, sua aproximação com os pobres e pequenos, sua fidelidade à missão recebida, seu amor serviçal até o dom de sua vida. Hoje, contemplamos a Jesus Cristo tal como nos transmitem os Evangelhos para conhecer o que ele fez e para discernir o que nós devemos fazer nos dias de hoje." (DA,139)

É o que também nos recorda a afirmação de Paulo: "Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl. 2,5). Também a Gaudium et spes, 22, ajuda-nos a entender nossa profissão de fé em Jesus Cristo: "trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração humano. Nascido da Virgem Maria tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado”.

Ser discípulo e seguir a Jesus é viver a experiência do trabalho, ter compaixão do povo, solidarizar-se com as multidões, assumir suas dores, criticar seu abandono e dá a vida por suas ovelhas. (Mc 6,1-6; 3,14; Lc 10, 2-12; Jo 1, 38-39). Ser discípulo e seguir Jesus é assumir o anúncio do Reino aos pobres e que a salvação se faz presente na mudança de situação real de vida operada na ação evangelizadora e libertadora de Jesus (Paulo VI, Evangelii nuntiandi n.30; Lc 4, 16-21; Mt 11,2-6).

É nosso desafio hoje atualizar essa ação evangelizadora e libertadora de Jesus apoiando as lutas pela defesa da vida em todos os campos, seja dos sem terra, dos sem teto, dos desempregados, dos abandonados pelo Estado e, muitas vezes, pela própria Igreja, sendo solidários com os rostos sofredores do povo de rua, dos migrantes, dos doentes, dos dependentes químicos, dos presos, indo às ruas, praças e cidades, sem medo e sem vergonha, empunhando nossas bandeiras, sendo profetas "bocudos, zóiudos e oreiúdos", pois, como "discípulos e missionários somos chamados a contemplar, nos rostos sofredores de nossos irmãos e irmãs o rosto do Cristo que nos chama a servi-lo nele" (DA 393, Puebla, 31-39, Santo Domingo, 179), pois “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza” (DA, 392)

Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo. 14,6) um caminho de conflitos, confrontos e de posicionamento contra a ideologia dos dominantes que impede a possibilidade da vida florescer (Mc 8, 22 – 11,8) e, seguir a Cristo é fazer a escolha que ele fez, é viver a espiritualidade da cruz, assumindo-a até as últimas conseqüências, inclusive, fazendo o que Jesus fez: dar a vida por suas ovelhas.

Eis, pois, a missão do laicato, descrita pelo Concílio Vaticano II, que fala positivamente do leigo e da leiga, dando ênfase ao Batismo, ou seja, chamando-os a evidenciar a missão comum de Cristo, da sua constituição como povo de Deus, santificando o mundo com sua vocação própria, a modo do sal e do fermento dentro do tecido humano da sociedade e participa a seu modo da função profética, sacerdotal e real de Cristo. (Doc 61 CNBB, 11-12).

Como leigos e leigas, saibamos responder ao Seguimento de Jesus e continuar sua prática no nosso tempo, na realidade em que vivemos.

Marilza Lopes Shuína - Vice Presidente do CNLB

Extraído de http://www.cnl.org.br/index.php?system=news&news_id=663&action=read acesso em 21 nov. 2010.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

QUAL É A MISSÃO DA IGREJA NO MUNDO?














QUAL É A MISSÃO DA IGREJA NO MUNDO?

A missão da Igreja no mundo é ser e permanecer em Cristo e viver como Cristo viveu em tudo a Vontade do Pai (Cf. Jo 20,21-23). A Igreja é o Corpo Místico do Senhor do qual Ele é a Cabeça e nós somos os seus membros (Cf. Ef 1,22-23; 5,29-30; Col 1,24); então, nada mais justo do que os membros serem um em comunhão com a Cabeça, aliás, pela graça do Espírito Santo, este é um imperativo que se nos impõe tendo em vista a própria condição de membros, para assim permanecermos no Corpo do Senhor que é Sua Igreja.

Não podemos pensar a Igreja sem sua Cabeça que é Cristo, mesmo sabendo que homens frágeis estão à sua frente, e que estes homens podem falhar, mas Cristo não falha nunca, porque é Ele quem age sempre por meio do seu Espírito, dando suporte a esses membros em suas falhas, corrigindo o que precisa ser corrigido para que o seu Corpo permanece unido e assim leve a cabo o plano traçado por Deus Pai para a salvação de toda a humanidade.

Sem dúvidas todos nós temos uma identidade existencial, pessoal, isto é, temos a vida natural, um nome, um credo ou não; e é com a identidade que somos que desenvolvemos as capacidades naturais que recebemos do nosso Criador. Na verdade, muito mais que uma identidade, somos de fato, “imagem e semelhança” D’aquele que nos fez. Com efeito, escreve São João: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não o conheceu. Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é. E todo aquele que nele tem esta esperança torna-se puro, como ele é puro”. (1Jo 3,1-3).

Ora, tudo o que Deus criou é bom e tudo criou para o bem e somente para o bem; no entanto, os homens por distorcerem os dons de Deus, andam na contramão da plenitude destes mesmos dons e com isso deixam o mal se inserir na obra do Senhor, manchando assim o que não pode ser manchado, ou seja, a sua “imagem e semelhança” que somos; nem por isso, Deus deixou de levar à bom termo sua obra, enviando o Seu Filho, Jesus Cristo, para corrigir e cumprir a missão que, nós os homens recebemos de Deus, mas falhamos no seu cumprimento, ou seja, elevar a obra da criação de todas as coisas à plenitude de Sua Divindade.

Vejamos o que nos revela as Sagradas Escrituras a esse respeito: “Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção. A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! Portanto já não és escravo, mas filho. E, se és filho, então também herdeiro por Deus”. (Gal 4,4-7). E ainda: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. Esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus...” (Heb 1,1-3).

“Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em torrentes de sabedoria e de prudência. Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, que em sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos - desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra. Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade, para servirmos à celebração de sua glória...”. (Ef 1,7-12a).

Logo, a Igreja, que é "a coluna e sustentáculo da verdade" (1Tm 3,15), guarda fielmente a fé uma vez por todas confiada aos santos (Cf. Jd 1,3). É ela que conserva a memória das Palavras de Cristo, é ela que transmite de geração em geração a confissão de fé dos apóstolos. Como uma mãe que ensina seus filhos a falar e, com isso, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, nos ensina a linguagem da fé para introduzir-nos na compreensão e na vida da fé. (Catecismo da Igreja Católica). Assim, a Igreja é, de fato, o Sacramento da salvação de todos os homens.

Portanto, nós que professamos a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, carregamos a identidade cristã em nossas almas, pelo batismo que recebemos, como sinal sagrado de nossa união com Cristo, que é o Senhor e Redentor de nossa vida. Por isso, ser Igreja é ser membros de Cristo conduzidos pelo Espírito Santo e alimentados por Seu Corpo e Sangue, na sagrada comunhão eucarística, até atingirmos a Plenitude do Reino de Deus, onde no seio da Santíssima Trindade seremos Um por toda a eternidade.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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Amigos, somos uma equipe de animadores vocacionais da Província Santa Clara - Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora.

Somos mulheres consagradas a Deus, guiadas pelo Divino Espírito, e centradas nos passos de Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado.

Atuamos nas diversas frentes missionárias, pastorais, saúde, educação e com programas sócio-educativos.

Procuramos viver de acordo com os valores franciscanos e evangélicos da não-violência, da fraternidade, da ecologia, da humildade, da alegria, da justiça, da solidariedade e da paz.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Isabel conheceu e amou Cristo nos pobres

Da Carta escrita por Conrado de Marburgo, diretor espiritual de Santa Isabel
(Ad pontificem anno 1232: A. Wys, Hesisches Urkunden-
buch I, Leipzig 1879,31-35)
(Séc.XIII)

Muito cedo começou Isabel a possuir grandes virtudes.
Do mesmo modo como a vida inteira
foi a consoladora dos pobres,
era também desde então a providência dos famintos.
Determinou aconstrução de um hospital,
perto de um castelo de sua propriedade,
onde recolheu muitos enfermos e enfraquecidos.
A todos que ali iam pedir esmola,
distribuiu liberalmente suas dádivas;
e não só ali, mas em todo o território
sob a jurisdição de seu marido.
Destinou para isto
a renda de quatro dos principados do esposo,
e foi ao ponto de mandar vender
seus adornos e vestes preciosas
em benefício dos pobres.

Tinha o costume de,
duas vezes ao dia,
pela manhã e à tarde,
visitar pessoalmente seus doentes,
e chegava mesmo
a tratar com as próprias mãos
os mais repelentes.
A alguns deles alimentava,
a outros preparava o leito,
a outros até carregava nos ombros.
Assim realizava muitas obras de bondade.
Em tudo isto seu marido,
de feliz memória,
não se mostrava contrariado.
Contudo,
após a morte deste,
tendendo para a máxima perfeição,
rogou-me com lágrimas
que lhepermitisse ir mendigar
de porta em porta.

Numa Sexta-feira Santa,
desnudados todos os altares,
em uma capela de seu castelo
onde acolhera os frades franciscanos,
colocou as mãos sobre o altar e,
na presença de umas poucas pessoas,
renunciou à própria vontade
e a todas as pompas mundanas
e a tudo quanto o Salvador
no evangelho aconselhara abandonar.
Feito isto, vendo que
poderia deixar-se absorver
pelo tumulto do século
e glória mundana,
naquela terra onde vivera
com esplendor em vida do esposo,
seguiu-me contra minha vontade a Marburgo.
Nesta cidade construiu um hospital
para doentes e necessitados,
chamando à sua mesa
os mais miseráveis e desprezados.
Além desta atuação operosa,
digo-o diante de Deus,
raramente vi mulher mais contemplativa.
Algumas pessoas e mesmo religiosos,
na hora de sua oração particular,
viram muitas vezes
seu rosto brilhar maravilhosamente
e como que raios de sol
jorrarem de seus olhos.

Antes da morte
ouvi-a em confissão.
Indagando-lhe, então,
qual o seu desejo em relação
ao que possuía e a seus móveis,
respondeu que tudo quanto parecia possuir
já pertencia aos pobres e
pediu-me distribuir-lhes tudo,
reservando apenas a túnica vulgar que vestia
e com a qual queria ser sepultada.
Depois, recebeu o corpo do Senhor e,
em seguida,
até à hora de Vésperas falou bastante
sobre as ótimas coisas que ouvira no sermão.
Finalmente,
com toda devoção,
recomendando a Deus todos os presentes,
expirou como se adormecesse suavemente.

Ilustração: Liezen-Mayer Sándor: Erzsébet szentté avatása 1235-ben (vázlat). Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Liezen_Erzs%C3%A9bet_szentt%C3%A9_avat%C3%A1sa.jpg acesso em 17 nov. 2010.

19 de Novembro

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Opção Franciscana pelos Pobres

A pobreza vem crescendo em todo o mundo, não só nas regiões tradicionalmente pobres dos continentes do Sul, mas também nos países industrializados e ricos do Norte. Isto acontece embora se tenha acumulado aí uma riqueza nunca antes vista. Aparentemente se perdeu a medida exata e o sentido de uma justa distribuição.


Com Francisco, aprendemos que a situação pode ser diferente. Iniciou o seu caminho com uma pobreza radical, numa época em que a burguesia entrou no grande projeto capitalista devido à economia monetária emergente; um projeto que, olhado a partir das vítimas, trouxe tanta injustiça ao mundo. Francisco pôde andar pelo caminho da pobreza, porque “o Senhor lhe deu irmãos”. Com opção pelos pobres questiona a burguesia egoista, e mostra uma alternativa. Francisco, intuitivamente, sente que a sociedade emergente se baseia no princípio de apropriação, por um lado, mas pelo outro, de desapropriação. A consequência do bem-estar acumulado é sempre a pobreza de outros. Francisco, no entanto, identifica-se totalmente com os materialmente pobres e com o Cristo pobre. Ele acredita que a ânsia de possuir cada vez mais, impede o encontro com as pessoas e com Deus, pois os interesses trazem divisão entre as pessoas. As posses chegam a substituir as relações porque, segundo se diz, trazem mais segurança do que os seres humanos. O projeto franciscano, no entanto, quer que as pessoas se encontrem no mesmo nivel, tratando-se mutuamente como irmãos e irmãs.

Com esta visão de fraternidade, Francisco levou uma ideia bem revolucionária à visão de ordem social reinantes na Igreja e na sociedade da sua época. Não há senhores nem servos e não há diferença de classes. É a trilogia dos direitos e das obrigações do ser humano: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. É precisamente esta fraternidade na qual Francisco pensava e, por isso, pertence, sem dúvida, aos autores intelectuais desta visão de uma humanidade de raiz cristã. Consequentemente, Francisco repudiou toda espécie de hierarquia nas relações entre ele e sua comunidade. “Nenhum irmão deve ocupar uma posição de poder ou um cargo, muito menos, entre os irmãos” – diz a Regra Não-bulada (RnB 5,9).

Esta é, precisamente, a visão de uma relação livre de dominação, mas de igualdade de direitos. Ele diz também como se consegue isto: os irmãos devem “servir e obedecer uns aos outros, de livre vontade, pelo amor do Espírito”. Isto quer dizer: escutar as necessdades dos outros, a vida da comunidade, estar atentos ao chamado de Deus, aqui e agora! Também aqui, se trata do caminho de Jesus que Francisco segue decididamente: acabar com os jogos de poder entre os adultos, acabar com as lutas pelo poder para obter os melhores lugares e posições, acabar com o temor ficar atrás.

Naturalmente, são necessárias regras e acordos dentro de uma comunidade, mas estes devem ser o mais simples possíveis. Portanto, devem ser evitados comportamentos dominantes, possessividadades, prepotências – esta é a visão de Francisco de Assis, a visão de uma humanidade fraternal. Mais ainda: para ele é importante uma democracia cosmo-ecológica com todos os seres criados. As relações com a natureza não devem ser relações de posse, mas sim de convivência e fraternidade. Tudo isto é derivado da pobreza vivida como forma de vida; a mesma possibilita o respeito e a veneração de todos os seres e elementos da Criação. Por isso, a pobreza desemboca numa liberdade imensa e numa alegria altruista em relação a todas as coisas.

Se esta concepção de uma vida fraternal, nesta terra, é tão fascinante, porque nós a consideramos pouco realista, embora a desejemos de todo o coração? O “louco de Deus” de Assis sentiu claramente que, a avidez por posses destroi a solidariedade, pondo em perigo a fraternidade entre os seres criados. Por este motivo, renunciou a toda propriedade, querendo que tudo fosse dividido e distribuido fraternalmente; foi também este o motivo de sua crítica ao poder e de sua reserva com relação às autoridades, no estado e na Igreja. Neste nosso tempo de uma distribuição não equitativa e de tão grande frieza social, esta visão franciscana em relação a Deus e às pessoas, é mais atual que nunca.

Andreas Müller OFM

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2010/2010_10_News.shtml acesso em 13 nov. 2010.

Foto: Homeless sleeping / Henrique Pinto. 2007. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:HomelessSleeping.jpg acesso em 13 nov. 2010.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Site das Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora : Província Stª Clara

Nós, Irmãs Fransciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora, somos mulheres consagradas a Deus que, guiadas pelo Divino Espírito, e centradas nos passos de Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Bento XVI : Santa Isabel da Hungria

PAPA BENTO XVI AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 20 de Outubro de 2010

Santa Isabel da Hungria

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje gostaria de vos falar de uma das mulheres da Idade Média que suscitou maior admiração: trata-se de Santa Isabel da Hungria, chamada também Isabel de Turíngia.

Nasceu em 1207; os historiadores debatem sobre o lugar. Seu pai era André II, rico e poderoso rei da Hungria que, para fortalecer os laços políticos, casou com a condessa alemã Gertrudes de Andechs-Merânia, irmã de Santa Edviges, que era esposa do duque da Silésia. Isabel viveu na Corte húngara só os primeiros quatro anos da sua infância, com uma irmã e três irmãos. Gostava dos jogos, da música e da dança; recitava fielmente as suas preces e já prestava atenção especial aos pobres, os quais ajudava com uma boa palavra ou com um gesto carinhoso.

A sua infância feliz foi bruscamente interrompida quando, da longínqua Turíngia, chegaram alguns cavaleiros com a finalidade de a levar para a sua nova sede na Alemanha central. Com efeito, segundo a tradição dessa época seu pai decidiu que Isabel se tornasse princesa da Turíngia. O landgrave ou conde dessa região era um dos soberanos mais ricos e influentes da Europa no início do século XIII, e o seu castelo era centro de magnificência e cultura. Mas por detrás das festas e da aparente glória escondiam-se as ambições dos príncipes feudais, muitas vezes em guerra entre si e em conflito com as autoridades reais e imperiais. Neste contexto, o landgrave Hermann acolheu de bom grado o noivado entre seu filho Ludovico e a princesa húngara. Isabel partiu da sua pátria com um rico dote e um grande séquito, inclusive com as suas servas pessoais, duas das quais foram suas amigas fiéis até ao fim. Foram elas que nos deixaram preciosas informações sobre a infância e a vida da Santa.

Após uma longa viagem, chegaram a Eisenach, para depois subirem à fortaleza de Wartburg, o castelo maciço acima da cidade. Ali celebrou-se o noivado entre Ludovico e Isabel. Nos anos seguintes, enquanto Ludovico aprendia a profissão de cavaleiro, Isabel e as suas companheiras estudavam alemão, francês, latim, música, literatura e bordado. Embora o noivado tenha sido decidido por motivos políticos, entre os dois jovens nasceu um amor sincero, animado pela fé e pelo desejo de cumprir a vontade de Deus. Aos 18 anos, Ludovico, depois da morte do pai, começou a reinar na Turíngia. Mas Isabel tornou-se objecto de murmúrios, porque o seu modo de se comportar não correspondia à vida cortesã. Assim, também a celebração do matrimónio não foi pomposa e as despesas para o banquete foram parcialmente destinadas aos pobres. Na sua profunda sensibilidade, Isabel via as contradições entre a fé professada e a prática cristã. Não suportava os comprometimentos. Certa vez, ao entrar na igreja na solenidade da Assunção, tirou a coroa, depô-la diante da cruz e permaneceu prostrada no chão com o rosto coberto. Quando a sogra a repreendeu por aquele gesto, ela retorquiu: «Como posso eu, criatura miserável, continuar a trazer uma coroa de dignidade terrena, quando vejo o meu Rei Jesus Cristo coroado de espinhos?». Do mesmo modo como se comportava diante de Deus, também o fazia em relação aos súbditos. Entre os Ditos das quatro servas encontramos este testemunho: «Não consumia alimentos se antes não estivesse certa de que provinham das propriedades e dos bens legítimos do marido. Enquanto se abstinha dos bens conquistados ilicitamente, esforçava-se também por indemnizar aqueles que tinham suportado violência» (nn. 25 e 37). Um verdadeiro exemplo para todos aqueles que desempenham funções de guia: o exercício da autoridade, a todos os níveis, deve ser vivido como serviço à justiça e à caridade, na busca constante do bem comum.

Isabel praticava assiduamente as obras de misericórdia: dava de beber e de comer a quem batia à sua porta, oferecia roupas, pagava as dívidas, cuidava dos enfermos e enterrava os mortos. Quando descia do seu castelo, ia muitas vezes com as suas servas às casas dos pobres, levando pão, carne, farinha e outros alimentos. Entregava pessoalmente a comida e controlava com atenção as roupas e os leitos dos pobres. Este comportamento foi referido ao marido, que não só não se lamentou, mas respondeu aos acusadores: «Enquanto ela não vender o meu castelo, estou feliz!». É neste contexto que se insere o milagre do pão transformado em rosas: quando Isabel ia pelo caminho com o seu avental cheio de pão para os pobres, encontrou o marido que lhe perguntou o que estava a levar. Ela abriu o avental e, em vez de pão, apareceram rosas magníficas. Este símbolo de caridade está presente muitas vezes nas representações de Santa Isabel.

O seu matrimónio foi profundamente feliz: Isabel ajudava o cônjuge a elevar as suas qualidades humanas a nível sobrenatural, e ele, em contrapartida, protegia a esposa na sua generosidade aos pobres e nas suas práticas religiosas. Cada vez mais admirado pela grande fé da sua esposa, Ludovico, referindo-se à sua atenção aos pobres, disse-lhe: «Amada Isabel, foi Cristo que lavaste, alimentaste e cuidaste». Um claro testemunho do modo como a fé e o amor a Deus e ao próximo fortalecem a vida familiar e tornam ainda mais profunda a união matrimonial.

O jovem casal encontrou apoio espiritual nos Frades Menores que, a partir de 1222, se difundiram na Turíngia. Entre eles, Isabel escolheu frei Rogério (Rüdiger) como director espiritual. Quando ele lhe narrou a vicissitude da conversão do jovem e rico comerciante Francisco de Assis, Isabel entusiasmou-se ulteriormente no seu caminho de vida cristã. A partir desse momento, decidiu-se ainda mais a seguir Cristo pobre e crucificado, presente nos pobres. Mesmo quando nasceu o primeiro filho, seguido depois por outros dois, a nossa Santa nunca descuidou as suas obras de caridade. Além disso, ajudou os Frades Menores a construir em Halberstadt um convento do qual frei Rogério se tornou superior. Assim, a direcção espiritual de Isabel passou para Conrado de Marburgo.

Uma dura prova foi o adeus ao marido, no final de Junho de 1227, quando Ludovico IV se associou à cruzada do imperador Frederico II, recordando à esposa que se tratava de uma tradição para os soberanos da Turíngia. Isabel respondeu: «Não te impedirei. Entreguei-me totalmente a Deus e agora devo dar-lhe também a ti». Porém, a febre dizimou as tropas e o próprio Ludovico adoeceu e faleceu com 27 anos em Otranto, antes de embarcar, em Setembro de 1227. Quando recebeu a notícia, Isabel ficou tão amargurada que se retirou em solidão, mas depois, fortalecida pela oração e consolada pela esperança de o rever no Céu, recomeçou a interessar-se pelos assuntos do reino. Contudo, outra prova esperava-a: o seu cunhado usurpou o governo da Turíngia, declarando-se autêntico herdeiro de Ludovico e acusando Isabel de ser uma mulher piedosa mas incompetente no governo. A jovem viúva, com os três filhos, foi expulsa do castelo de Wartburg e pôs-se em busca de um lugar onde se refugiar. Só duas servas permaneceram ao seu lado, a acompanharam e confiaram os três filhos aos cuidados dos amigos de Ludovico. Peregrinando pelas aldeias, Isabel trabalhava onde era acolhida, assistia os doentes, fiava e costurava. Durante este calvário suportado com grande fé, com paciência e dedicação a Deus, alguns parentes, que tinham permanecido fiéis a ela e consideravam ilegítimo o governo do cunhado, reabilitaram o seu nome. Assim Isabel, no início de 1228, pôde receber uma renda apropriada para se retirar no castelo de família em Marburgo, onde habitava também o seu director espiritual, frei Conrado. Foi ele que referiu ao Papa Gregório IX o seguinte acontecimento: «Na Sexta-Feira Santa de 1228, pondo as mãos no altar da capela da sua cidade de Eisenach, onde tinha acolhido os Frades Menores, na presença de alguns frades e familiares, Isabel renunciou à própria vontade e a todas as vaidades do mundo. Ela queria renunciar também a todas as posses, mas eu desaconselhei-a por amor aos pobres. Pouco tempo mais tarde, construiu um hospital, recolheu doentes e inválidos e serviu à sua mesa os mais miseráveis e desamparados. Quando a repreendi por estes gestos, Isabel respondeu que dos pobres recebia uma especial graça e humildade» (Epistula magistri Conradi, 14-17).

Podemos entrever nesta afirmação uma certa experiência mística, semelhante à que viveu São Francisco: com efeito, no seu Testamento o Pobrezinho de Assis declarou que, servindo os leprosos, aquilo que antes era amargo se transformou em docilidade da alma e do corpo (cf. Testamentum, 1-3). Isabel transcorreu os últimos três anos no hospital por ela fundado, servindo os doentes e velando sobre os moribundos. Procurava desempenhar sempre os serviços mais humildes e os trabalhos mais repugnantes. Ela tornou-se aquela que poderíamos definir uma mulher consagrada no meio do mundo (soror in saeculo) e, com outras suas amigas vestidas de hábitos cinzentos, formou uma comunidade religiosa. Não é por acaso que é Padroeira da Terceira Ordem Regular de São Francisco e da Ordem Franciscana Secular.

Em Novembro de 1231 foi atingida por uma febre forte. Quando a notícia da sua enfermidade se propagou, muitas pessoas acorreram para a ver. Depois de cerca de dez dias, pediu que as portas fossem fechadas, para permanecer sozinha com Deus. Na noite de 17 de Novembro adormeceu docilmente no Senhor. Os testemunhos sobre a sua santidade foram tão numerosos e tais que, só quatro anos mais tarde, o Papa Gregório IX proclamou-a Santa e, nesse mesmo ano, foi consagrada a bonita igreja construída em sua honra em Marburgo.

Estimados irmãos e irmãs, na figura de Santa Isabel vemos como a fé e a amizade com Cristo criam o sentido da justiça, da igualdade de todos, dos direitos dos outros, e criam o amor e a caridade. E desta caridade nascem inclusive a esperança e a certeza de que somos amados por Cristo, e que o amor de Cristo nos espera, tornando-nos assim capazes de imitar Cristo e de O ver nos outros. Santa Isabel convida-nos a redescobrir Cristo, a amá-lo, a ter fé e deste modo a encontrar a verdadeira justiça e o amor, assim como a alegria de que um dia seremos imersos no Amor divino, na alegria da eternidade com Deus. Obrigado!
Extraído de http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20101020_po.html acesso em 9 nov. 2010.
Ilustração: Brasão fictício de Santa Isabel da Hungria, Rainha / Eugenio Hansen, OFS. 2010. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elisabeth_of_Hungary_COA_fictional_1.svg acesso em 9 nov. 2010.

15 de Novembro: Viva a República!

Paz e bem!

Há 121 anos
era proclamada a Republica
aqui no Brasil.

Mesmo chiando
contra algumas medidas
do governo republicano
a ICAR mais ganhou do que perdeu,
alguns exemplos:

1 Com a separação
entre Estado e Igreja,
foi o fim do regime do padroado.
Sob este regime
a criação de dioceses e paróquias
bem como a nomeação
de bispos e párocos
passava pela cora.

Ao final do império
havia muito poucas dioceses
para atender as nececidades
do catolicismo no Brasil.
Não à toa que em 25 anos
autmentou muito,
proporcionalmente, o número dioceses
e até arquidioceses.

2 A vida monástica no Brasil
voltou a respirar.

O império ambicionava
ter os bens dos mosteiros.
Para tanto,
em vez de expulsar
os monges e monjas
ou decretar sua desapropriação,
simplesmente proibiu
que se admitisse noviços e noviças;
pois quando morresse o último membro do mosteiro,
seus bens iriam para o Estado.

Com a República
acabou esta restrição.

Contudo,
devido ao pequeno número
de monges e monjas,
além de sua avançada idade;
para retomar regularmente
a vida monacal
foi necessária a vinda
de monges de fora do país.
Para senter idéia do estrago
que fora feito,
teve mosteiro
que quando os monges imigrantes chagaram
só havia um único monge brasileiro
para recebê-los.

sábado, 13 de novembro de 2010

Santa Isabel da Hungria

Padroeira da Ordem Terceira

Diz a lenda que Isabel foi invocada mesmo antes de nascer. Um vidente anunciou seu glorioso nascimento como estrela que nasceria na Hungria, passaria a brilhar na Alemanha e se irradiaria para o mundo. Citou-lhe o nome, como filha do rei da Hungria e futura esposa do soberano de Eisenach (Alemanha).

De fato, como previsto, a filha do rei André, da Hungria, e da rainha Gertrudes, nasceu em 1207. O batismo da criança foi uma festa digna de reis. E a criança recebeu o nome de Isabel, que significa repleta de Deus.

Ela encantou o reino e trouxe paz e prosperidade para o governo de seu pai. Desde pequenina se mostrou de fato repleta de Deus pela graça, pela beleza, pelo precoce espírito de oração e pela profunda compaixão para com os sofredores.

Tinha apenas quatro aninhos quando foi levada para a longínqua Alemanha como prometida esposa do príncipe Luís, nascido em 1200, filho de Hermano, soberano da Turíngia. Hermano se orientava pela profecia e desejava assegurar um matrimônio feliz para seu filho.

Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria companheira para Luis. E a perseguiam e maltratavam, dentro e fora do palácio.

Luis, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de casar-se quanto antes. O que aconteceu em 1221.

A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Certa vez, Luis a surpreendeu com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder... Mas ele, delicadamente, insistiu e... milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno inverno. Feliz, guardou uma delas.

Sua vida de soberana não era fácil e freqüentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso, os filhos, Hermano, de 1222; Sofia, de 1224 e Gertrudes, de 1227.

Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que o duque Luis se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.

Quando Luis ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos a chegar na Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter freqüentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Familia Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!

Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e a expulsaram do castelo de Wartburgo. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno inverno. Duas servas fiéis a acompanharam, Isentrudes e Guda.

De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, Lá dentro dela o Senhor a chamava para doar-se ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburgo e lá foi morar com suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legitimo de Luis. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de fato feliz. Por ordem do confessor, conservou alguma renda, toda revertida para os pobres e sofredores.

Construiu abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela se sentia de fato rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de dar-lhes maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!

De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. Suas servas atestam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade os sacramentos dos enfermos. Quando seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre herança, respondeu tranqüila: "Minha herança é Jesus Cristo !" E assim nasceu para o céu! Era 17 de novembro de 1231.

Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira das Irmãs da Ordem Franciscana Secular.

Frei Carmelo Surian, OFM

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2010/stisabel/01.php acesso em 10 nov. 2010.
Ilustração: 800. Geburtstag der Heiligen Elisabeth von Thüringen (1207–1231) / Deutsche Post AG. 2007. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:DPAG_2007_2628_Elisabeth_von_Th%C3%BCringen.jpg acesso em 10 nov. 2010.

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