O SIM DE MARIA...
De todas as graças derramadas sobre a humanidade a maior e mais sublime delas foi e é o sim da Santíssima Virgem Maria, pois por este sim, Deus renovou todas as coisas, porque o sim de Maria é Jesus de Nazaré, o Messias, o Filho amado de Deus, que se fez homem pela ação do Espírito Santo, no seio virginal da santa mãe de Deus. Assim como Deus criou a primeira mulher, a virgem Eva, sem pecado num paraíso; também criou a Virgem Maria no Espírito Santo, a segunda Eva, também sem pecado; só que há uma grande diferença entre elas; a primeira Eva disse não a Deus, mesmo criada num paraíso com todas as condições para dizer sim a Ele; enquanto que a segunda Eva, Maria, também criada no ventre-paraíso de sua mãe Ana (cf. Jo 1,12-13), disse sim ao seu Senhor e Salvador: “Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. (Lc 1,38). Ou seja, Maria não teve nenhum diálogo ou contato com o mal, mas somente com Deus. Desse modo, pelo sim incondicional da Santíssima Virgem Mãe, Deus gerou o seu Filho, Jesus Cristo, e fez por ele nova todas as coisas.
Então, o que é o sim de Maria? É o sublime acontecimento que fecha e sela o Antigo Testamento com o cumprimento de todas as suas profecias; e por sua vez, abre o Novo Testamento com o Nascimento do Messias prometido, o Emanuel, isto é, o Deus conosco, o Cristo Senhor; o Rei que se sentaria eternamente sobre o trono de seu pai, o rei Davi; o Redentor nosso, e de toda a obra da criação, o Novo Adão. Assim, todos os acontecimentos do Novo Testamento até os dias de hoje, como plano salvífico do Senhor, começaram a partir do sim da Virgem Maria. Seu sim é o marco divisor da antiga e da nova criação; da antiga e da nova aliança; da queda e do soerguimento da humanidade; da vida temporal e da vida eterna.
Tudo o que Deus fez é bom, belo e eterno; e não vai ser o demônio nem sua vontade maléfica, que vai atrapalhar o desígnio criador e redentor do nosso Deus e Pai. A princípio, o mal conseguiu ludibriar Adão e Eva, mas ficou só nisso; porque com o advento do Filho de Deus feito homem, Novo Adão, no ventre da Nova Eva, a Virgem Maria, a humanidade conheceu o seu novo destino eterno, a salvação pela remissão dos pecados. Para isto, Deus deu o seu Filho Jesus em sacrifício vivo de expiação de todos os pecados da humanidade. E só perde este benefício quem não reconhece Jesus Cristo como Senhor e Salvador, Aquele que nos torna Um em sua Igreja, que é o seu Corpo Místico (cf. Cl 3,18; Ef 5,21ss), a parte visível do Reino de Deus neste mundo; fundada sobre os apóstolos tendo sua Santa Mãe entre eles, no Cenáculo no dia de Pentecostes (cf. At 1,12-14).
Desde então, a Igreja se mantém firme no propósito salvífico do Senhor, ou seja, ser o Sacramento universal da salvação, tendo no Santo Padre, o Papa (Pedro apóstolo, príncipe dos apóstolos), o regente escolhido por Cristo (cf. Mt 16,17-17; Jo 21,15-19) para conduzir suas ovelhas ao Reino dos Céus, sob a permanente assistência do Espírito Santo, tendo Maria (Nova Eva) como a mãe de todas as almas redimidas por seu sacrifício de cruz (cf. Jo 19,26-27).
Eis, a seguir, uma das mais belas meditações sobre o sim da Virgem Maria, feita por São Bernardo, em uma de suas homilias:
O mundo inteiro espera tua resposta ó Maria... (*)
Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem – tu ouviste – mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia. Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida.
Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés. E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.
Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.
Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.
Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38).
Paz e Bem!
(*) Das Homilias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo, abade
(Hom. 4,8-9: Opera omnia, Edit. Cisterc. 4, [1966], 53-54)(Séc. XII)
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