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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Francisco e a natureza

Para as culturas clássicas, não judaicas, a natureza não passava de um aglomerado de divindades boas ou más. Os céus, os campos, os regatos estavam povoados de deuses, e uma grande variedades de seres benfazejos ou não. Até meados da Idade Média, a natureza permanecia marginalizada.

E, então, que surge na Úmbria, em Assis, um jovem extravagante que, em meio a uma existência burguesmente acomodada, descobre um ponto fundamental na história da criação: o homem foi criado por Deus, a natureza foi criada por Deus, logo o homem e a natureza são igualmente criaturas de Deus, irmãos por filiação divina. E reconcilia, em seu espírito, a humanidade com a natureza. Com esta visão, Francisco comportava-se como um novo Adão ao dar nome a todas as criaturas. Uma árvore não será um mito pagão, mas apenas uma árvore. A estrela será apenas estrela e não Vênus. O fogo será apenas fogo, e mais do que isso, irmão fogo! Todas as criaturas parecem estar sendo renovadas à medida que Francisco se identifica mais como criatura de Deus. Antes de Francisco, outras figuras de relevo na espiritualidade cristã viveram em contato com a natureza, mas não sentiram com tanta clareza a sua condição de co-irmãs criaturas.

Francisco não consegue tudo isso de repente. Esse amor foi progredindo à medida em que se abnegava a si mesmo. Esvaziava seu coração das coisas terrenas e o enchia das coisas celestes. Então, via Deus nos mais leves traços e nas mais insignificantes alusões a Deus e o amava assim, presente e percebido.

Ainda hoje admiramos Francisco a sua relação com a natureza, embora muitos não compreendam a profundidade do gesto. Através das criaturas, Francisco chegava diretamente a Deus, num amor puro e límpido. Não que ele desejasse possuir a coisa criada. Francisco não quis se aproveitar. Ele quis com as criaturas louvar a bondade, a sabedoria, onipotência e providência de Deus. A renovação espiritual iniciada por Francisco não ficou restrita apenas à visão contemplativa da natureza em si; toda sua cultura, a começar pela manifestação plástica e poética foi revificada, restaurada, engrandecida. Francisco, ao restabelecer a harmonia primitiva entre o homem e a criação, tornou-se hoje o merecido padroeiro da Ecologia.

Postado por Vitório Mazzuco Fº às 07:50

Extraído de http://carismafranciscano.blogspot.com/2010/04/francisco-e-natureza.html acesso em 19 abr. 2010.

Ilustração: Kollerschlag. Pfarrkirche St.Josef: Deckenfresco - St.Franziskus predigt den Tieren von Andreas Strickner ( 1930 ) disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kollerschlag_-_Deckenfresco_-_St.Franziskus_mit_Tieren.jpg acesso em 19 abr. 2010.

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