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quinta-feira, 1 de julho de 2010

VARRA TAMBÉM NOS CANTINHOS

Quando guri, ajudava minha mãe nos afazeres domésticos. Confesso que ia meio que obrigado... Lembro com saudade das inúmeras vezes em que ela me mandava varrer o chão de casa, sempre com a mesma recomendação: “E nada de varrer somente onde o padre passa, hein!?” Eu não entendia muito bem aquilo, pois dificilmente aparecia um padre lá em casa. Mas, se receberíamos uma visita ilustre, era melhor deixar tudo limpinho, não é mesmo!? Tempos depois fui entender que esse era um ditado popular, em alusão ao status de que desfrutavam os padres, num passado não muito distante, principalmente nas cidadezinhas do interior.

Ainda hoje há grupos cristãos que procuram fazer as coisas só para agradar o padre, o pastor ou pastora (alguns destes até alimentam isso porque gostam de ser paparicados). Outros grupos, porém, não se contentam com pouco. Tudo o que fazem é para agradar diretamente a Deus. Esperam, com isso, adquirir privilégios, graças, recompensas, no mínimo a salvação. O que estes e os primeiros têm em comum? Ambos não se preocupam com quem estão ajudando, mas com quem está vendo o que fazem.

Essa postura é muito comum entre grupos cristãos. Mas teria Jesus procurado agradar as autoridades de seu tempo? Ou fazer as coisas para ganhar o reconhecimento de Deus? Ao contrário, quando Satanás o tentou no deserto, oferecendo riquezas, poder e fama, Ele não foi categórico em recusar a oferta e expulsar o demônio (Mt 4,1-11)?

Na verdade, esse texto é uma metáfora das tentações que Jesus viveu em toda sua vida. Quando soube que as multidões o chamavam de João Batista, Elias, poderoso profeta, perguntou aos discípulos o que estes pensavam d’Ele. Pedro se apressou em responder: “Tu és o Messias!” O texto (Lc 9,18-21) limita-se a dizer que Jesus o repreendeu severamente. Mas podemos imaginar que a conversa foi mais ou menos assim: “Eu estou longe de ser essa imagem de Messias vendida pra vocês. Não tenho a menor intenção de me tornar rei, pegar em armas e declarar guerra aos romanos. Desistam desse ideal, pois é suicídio. A minha missão – e a dos meus seguidores – é estar a serviço da vida e do Reino de Deus, Reino este que não é Israel e nenhum outro deste mundo.

Essa suspeita torna mais coerente a continuação do texto (Lc 9,22-27), mas talvez isso não tenha ficado muito claro naquele dia porque, tempos depois, Jesus precisou desenhar o que estava falando. Usando a imagem do Juízo Final, procurou demonstrar qual deveria ser a missão de suas discípulas e discípulos (Mt 25,31-46).

Por tempos se usou esse texto para assustar os fiéis com a imagem do inferno. Mas o que Mateus quer enfatizar são as atitudes das verdadeiras seguidoras e seguidores de Cristo. Só pode dizer que participa do Reino quem consegue enxergar Jesus nas pessoas à sua volta, principalmente as que passam necessidade (fome, sede, frio, doença, prisão etc.). E mais!!! Quem vê isso, mas fica discursando sobre Jesus e os pobres, em vez de se colocar a serviço deles, também não pode entrar no Reino dos Céus.

Pensando nisso, como anda nossa prática pastoral? Dar pão ao/s indigente/s atende sua necessidade? E buscar as razões do problema? Resolve? O que fazer? Aliás, precisamos fazer alguma coisa? A que ações o texto nos leva?

Um comentário:

  1. Muito bem colocado. O título, especialmente muito interessante e conhecido... É verdade. O que deixa-nos muitas vezes perplexos é que, também assistimos aqueles que são acolhidos, recolhidos, mas que não querem ficar em abrigos, que ainda são considerados melhores que a rua, isso é certo. Na verdade, os governos são responsáveis por este trabalho social. Sem eles fica difícil para nós sermos mais objetivos. Os dias de hoje são duros! A gente busca colaborar da melhor maneira possível, muitas e muitas vezes sem contato físico, mas, como fazer? Precisamos ter o respaldo de uma instituição para que tudo flua e cheguemos ao objetivo ideal: ver estes nossos irmãos acolhidos e encaminhados... Falta ainda muita estrutura, muita vontade, muita moral para se alcançar este fim. Perto de onde moro, como muitos... Vemos muitas vezes pessoas dormindo na rua. Dá-se uma ajuda aqui, outra ali. Entidades vêm recolher, mas não querem e voltam ao mesmo lugar! Tudo é um trabalho em conjunto, especialmente nos dias de hoje que você, sozinho ou sozinha, não pode alcançar... É duro pensar como somos limitados!!!

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