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sábado, 18 de dezembro de 2010

O mundo mudou, e a Igreja é obrigada a usar uma nova linguagem

Entrevista com Rino Fisichella

Os Papas, assim como os compositores musicais, tendem a compor alguns temas maiores e menores ao longo do seu conjunto de obras. Se você quiser saber quais composições eles consideram como pontos de viragem, portanto, olhe para aqueles em que eles saem de sua própria pele – rompendo os instintos de uma vida inteira para realizar algo novo.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-12-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Por exemplo, quando Bento XVI esteve ao lado de um mufti muçulmano para um momento de oração silenciosa, na Mesquita Azul de Istambul, em 2006 – apesar de suas longas reservas teológicas acerca da oração inter-religiosa. Isso ofereceu um sinal claro do seu compromisso com a reconciliação católico-Islâmica, que foi especialmente crucial após seu discurso de Regensburg apenas dois meses antes.

Na mesma lógica, a decisão de Bento XVI no início deste ano de criar um Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização também deveria ser classificada como uma jogada feita cuidadosamente, porque este não é um Papa encantado pela burocracia.

Como cardeal, Joseph Ratzinger disse que a Conferência dos Bispos da Alemanha não conseguiram resistir ao nazismo mais corajosamente, porque ela era "muito burocrática", e essa resistência a instituições que se autopreservam tem sido um refrão constante em seu pensamento. Em seu livro "New Song for the Lord", de 1988, Ratzinger escreveu: "Nas últimas duas décadas, uma quantidade excessiva de institucionalização surgiu na Igreja, o que é alarmante. Reformas futuras devem, portanto, visar não à criação de ainda mais instituições, mas sim a sua redução".

Mais incisivamente ainda, Ratzinger fez um discurso em 1990 à reunião anual do Comunhão e Libertação, em Rimini, na Itália, no qual ele disse: "Depois do Concílio, criamos muitas novas estruturas, e ainda as estamos criando. Eu sugeri um exame de consciência que também poderia ser proveitosamente estendida à Cúria Romana, no sentido de avaliar se todos os dicastérios que existem hoje são realmente necessários". [Dicastério é o termo técnico para os diversos escritórios e departamentos do Vaticano.]

Assim, é surpreendente que esse Papa, dentre todas as pessoas, deva ser aquele que vai expandir ainda mais as estruturas do Vaticano – acrescentando um 12º conselho pontifício para se unir a nove congregações, três tribunais e uma série de outros escritórios.

O Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização pretende reavivar as energias missionárias da Igreja, sobretudo na ultrassecular Europa. Talvez, se Henrique IV podia dizer que Paris valia uma missa, o cálculo de Bento XVI é de que a Europa vale um dicastério.

(A propósito, Bento XVI pode estar disposto a suspender seus receios sobre apparatchiks eclesiásticos por causa do que está em jogo, mas isso não significa que todos os demais concordem com isso. Neste momento, não há nenhum padre norte-americano trabalhando no novo conselho, porque os bispos norte-americanos que foram solicitados a liberar um padre disseram que não.)

O homem indicado por Bento para liderar o novo conselho é o arcebispo Salvatore (Rino) Fisichella, um prelado italiano de 59 anos e ex-reitor da Universidade Lateranense, cujo último trabalho foi como um controverso presidente da Academia para a Vida do Vaticano.

Quando a nomeação foi anunciada pela primeira vez durante o verão [europeu], alguns observadores romanos tomaram isso como uma forma para "salvar a pele" de Fisichella, retirando-o de uma situação insustentável na Academia, da qual ele era presidente apenas desde junho de 2008. Há um ano e meio, Fisichella tomou distância de um bispo brasileiro que havia anunciado a excomunhão da mãe e dos médicos de uma vítima de estupro de nove anos de idade, que foi submetida a um aborto. A impressão de alguns ativistas pró-vida foi de que Fisichella empurrou o bispo para debaixo do trem, a fim de marcar alguns pontos de relações públicas, e diversos membros da sua própria Academia fizeram campanha abertamente pela sua saída.

No entanto, dada a antipatia de Bento XVI pela burocracia, parece improvável que ele crie um novo departamento inteiro apenas para poupar os sentimentos de Fisichella. (Em Roma, há formas menos onerosas para "promuovere per rimuovere", ou seja, "promover para remover".) Além disso, Bento e Fisichella tem uma história de amizade, o que a torna uma das indicações da "zona de conforto" papal. Os dois estavam entre os principais contribuidores para a encíclica "Fides et Ratio" de João Paulo II, de 1998, tanto que a piada em Roma foi de que ela deveria ter sido chamada "Fisichella et Ratzinger".

Fisichella enfrenta agora o desafio de fazer com que a aposta do Papa valha a pena, provando que a criação de um novo departamento vaticano, na verdade, pode ter alguma influência sobre o destino evangélico da Igreja no século XXI. Ele se sentou com o NCR em seu novo escritório vaticano no dia 11 de dezembro para discutir como estão as coisas no novo conselho e para onde estão indo.

Eis a entrevista.

Como estão as coisas no seu novo escritório?

Estou cada vez mais consciente das grandes expectativas entre muitos bispos e muitos fiéis. Eu também estou entusiasmado, porque este é um trabalho que corresponde com os meus 20 anos de experiência como professor. Na Universidade Lateranense, ensinei teologia fundamental e, em termos de apologética, concentrei-me em apresentar o cristianismo hoje, usando uma nova linguagem.

São apenas dois meses, porque foi no dia 12 de outubro em que apresentamos o documento de criação do dicastério na Sala de Imprensa do Vaticano. Em apenas dois meses, eu tenho que dizer que fomos capazes de realizar várias coisas importantes. Para começar, trouxemos quatro autoridades para as várias línguas – francês, espanhol, polonês e alemão.

O senhor está esquecendo o inglês.

Certo, estamos esquecendo o inglês e também o italiano. Eu acho que vamos encontrá-los em breve.

Eu tenho que dizer que, em termos de inglês, estou um pouco decepcionado, porque os vários pedidos que eu fiz aos bispos dos Estados Unidos, até agora, encontraram portas fechadas. Eu perguntei por padres que eu conheço há algum tempo. Claro, são padres talentosos, com responsabilidades importantes, e seus bispos não querem deixá-los ir embora. Certamente posso entender que um bispo pense duas vezes antes de liberar um grande padre que faz muitas coisas boas na diocese. Por outro lado, também penso que um padre talentosos também pode fazer muita coisa boa no serviço a toda a Igreja.

Felizmente, eu tenho um grande número de amigos entre os bispos norte-americanos e estou convencido de que podemos encontrar alguém. É importante para mim ter um padre norte-americano no escritório. É fundamental, pois precisamos de alguém que conheça a situação nos Estados Unidos também.

Quando terminar, de que tamanho será a sua equipe?

Vamos ser um grupo pequeno, porque, considerando todos as autoridades, o pessoal administrativo e os superiores – presidente, secretário e subsecretário –, estamos falando de 15 pessoas talvez. É o número que, por enquanto, corresponde ao trabalho que temos para fazer. Eu não acho que a equipe deveria ser maior, porque o risco seria de ter mais pessoas do que precisamos. Você não pode simplesmente preencher um novo escritório sem saber qual será o seu trabalho futuro. Você tem que fazer isso passo a passo.

Fale sobre o trabalho futuro.

Para cerca de 25 anos, o Papa João Paulo II falou sobre a "nova evangelização". Isso estimulou um movimento real na Igreja, de ação e de pensamento. Existem muitos grupos hoje em dia que nasceram com o objetivo da nova evangelização. Nosso primeiro objetivo, portanto, é o de conhecer o que está acontecendo e talvez coordenar isso um pouco. Temos que nos informar sobre o que já está presente em várias Igrejas.

Para dar apenas um exemplo, o cardeal de Washington, Donald Wuerl, em setembro, dedicou uma carta pastoral inteira para a nova evangelização. Bispos, movimentos e assim por diante já têm esse compromisso.

O que eu gostaria de tentar ajudar a Igreja a compreender é que, em uma situação cultural como a nossa, que é extremamente fragmentada, não é possível avançar o tema de uma "nova evangelização" de uma forma fragmentada. Temos que fomentar a unidade na complementaridade, oferecendo um testemunho unificado, preservando a singularidade de cada grupo, de cada associação, de cada ordem religiosa. A "nova evangelização" não pode ser a mesma em todos os cantos do mundo, porque as condições culturais na Europa não são as mesmas na América Latina, não são as mesmas nos Estados Unidos ou no Canadá e não são as mesmas na Austrália ou em grandes cidades da Índia ou da Coreia. Temos que tentar ter uma visão unitária, mas com respeito pelas diferentes situações, tradições e culturas em que estamos inseridos.

Além de desenvolver um sentido mais profundo do que já está acontecendo, quais projetos o senhor está levando em consideração?

Um primeiro passo é que, depois do Natal, vamos ter uma conferência com vários especialistas para esclarecer o conceito da "nova evangelização". O que eu quero enfatizar é que se remova a ambiguidade, o risco de tratar a ideia da "nova evangelização" como uma fórmula abstrata. Temos que ser capazes de encher a expressão "nova evangelização" com conteúdo. Teremos dois dias de estudo dedicados ao tema da "nova evangelização", em algum momento de março. Ainda estamos considerando as datas exatas. Ainda estamos montando o programa, mas serão apenas especialistas, a fim de torná-lo um pouco como um seminário acadêmico. Vamos ter alguns bispos, alguns leigos especialistas, para que possamos avaliar os horizontes históricos, teológicos e pastorais do que está por trás da expressão "nova evangelização".

O senhor conhece os Estados Unidos razoavelmente bem, tendo lecionado lá em várias ocasiões. O senhor acredita que há uma contribuição específica que os Estados Unidos podem trazer para a nova evangelização?

Absolutamente, sim. Eu sempre vi a Igreja nos Estados Unidos como extremamente dinâmica. Todas as vezes que eu vou para os Estados Unidos e que eu falo com muitos amigos que tenho lá, fico ciente de como ela é dinâmica.

Quando se trata de evangelização, eu acho que existem dois polos: "ad intra" e "ad extra", ou seja, a vida interna da Igreja e sua maior contribuição social.

Fiquei muito satisfeito a este respeito com a carta pastoral do cardeal Wuerl sobre a nova evangelização, porque, além do seu uso dessa expressão, houve uma atenção muito forte à vida interna da Igreja, uma espécie de atenção "ad extra", focada na promoção da maturidade da vida cristã e, assim, tentando superar a crise que tem sido vivida nos Estados Unidos.

Tenho certeza que você já sabe disso, mas para nós foi um sinal muito positivo ver que o North American College deste ano tem 230 seminaristas. É um número maior do que tem sido visto há muito tempo. Isso significa que, inevitavelmente, há uma vida muito ativa e dinâmica dentro da comunidade católica dos Estados Unidos, porque as vocações nascem quando há atividade pastoral dinâmica dentro da comunidade.

Também existe a dimensão "ad extra", ou seja, a presença de uma comunidade católica que atua dentro da sociedade mais ampla. Isso inclui, naturalmente, o fornecimento de orientação sobre questões morais, comumente uma orientação que não é especificamente católica, mas que também é compartilhada por outras Igrejas cristãs e outras religiões. Mas também existe a presença católica nos EUA na formação universitária, por exemplo, e nos cuidados de saúde, em obras de caridade e assistência social. É uma presença que faz o anúncio da Igreja visível. Isso é importante, porque o anúncio cristão tem que se tornar visível por meio do testemunho.

Eu diria que há também uma presença significativa da Igreja nos debates sobre as grandes questões que determinam a vida da sociedade. Os bispos dos EUA desempenharam um papel ativo, por exemplo, quando a sociedade norte-americana se fez várias perguntas de extrema importância – a pesquisa com células-tronco embrionárias, por exemplo, os direitos de consciência e a defesa da vida humana desde a concepção até a morte natural.

Também acho que os católicos norte-americanos levam mais a sério o seu pertencimento à Igreja Católica, ou pelo menos pensam mais seriamente sobre isso, porque são confrontados regularmente com pessoas que pertencem a outras Igrejas e a outras fés. Além de ser norte-americano, a Igreja a qual você pertence se torna um importante sinal de identidade.

Esse dinamismo norte-americano pode ser exportado para outras partes do mundo, ou ele está ligado às peculiaridades da nossa história?

Há certos costumes e formas da vida católica americana que não podem ser simplesmente replicados em outros lugares. Deixe-me dar um pequeno exemplo, neste caso da vida sacerdotal. Na Itália, por exemplo, nós temos inúmeras pequenas cidades que são, basicamente, completamente católicas. Inevitavelmente, a relação com o sacerdote não é só das 8h ao meio-dia e das 14h às 18h. É muito mais natural. Nos Estados Unidos, o trabalho pastoral é frequentemente muito mais estruturado e organizado.

Quanto à presença da Igreja na sociedade, no entanto, e ao dinamismo da formação, certamente há algo a aprender com os Estados Unidos.

Que outros projetos vocês tem previstos?

O projeto mais importante é trabalhar com a Secretaria do Sínodo dos Bispos, porque em 2010 haverá um Sínodo dedicado à "Nova Evangelização" e à transmissão da fé. Seria um pouco arrogante se o nosso novo escritório antecipasse o que será uma contribuição que virá de todos os bispos e da Exortação Apostólica do Papa.

Sobre essas questões, é preciso sabedoria e também humildade. A sabedoria nos ensina a viver este momento de preparação sem sermos tentados a produzir iniciativas apenas para provar que existimos. A humildade nos ensina a descobrir o que já está sendo feito e depois a ouvir os bispos no Sínodo – afinal, são os bispos que têm a responsabilidade principal.

Eu sei que há um risco de criar a impressão de que não estamos publicando nenhum documento, mas, sinceramente, eu acho que isso é uma coisa positiva. Basicamente, este é um momento para lançar as bases. Quando você faz isso bem, você sabe que a construção será mais estável. Até 2012, portanto, estaremos nos focando na capacidade de entender e de escutar. Vamos propor algumas coisas, claro, em colaboração com outros escritórios, mas a prioridade será a de colaborar com a Secretaria Geral do Sínodo para preparar bem esse evento.

Deixe-me perguntar-lhe algo mais filosófico. Olhando ao redor, muitos católicos progressistas hoje argumentam que os nossos problemas com a evangelização têm a ver, em parte, com uma falha na implementação plena das reformas do Concílio Vaticano II. Os católicos tradicionais, por outro lado, costumam dizer que as pessoas não se sentem atraídas pela Igreja porque ela se desviou do seu caminho devido às reformas que foram longe demais. O que o senhor acha?

Eu não acho que a Igreja deve ter medo de fazer um exame de consciência no que diz respeito a ambas as críticas que você mencionou, porque ambas podem ter algum mérito. Obviamente, o próprio fato de chamar o que estamos fazendo de "nova evangelização" significa que a que veio antes estava se esquecendo de alguma coisa.

Eu diria que, tanto para os progressistas quanto para os conservadores, o discurso do Papa João XXIII no início do Concílio, que foi recuperado por Paulo VI no seu encerramento, continua sendo fundamental. João XXIII disse que aquilo em que sempre acreditamos não será alterado, mas a situação que o mundo enfrenta mudou, e a Igreja é obrigada a usar uma nova linguagem. Quando eu digo "linguagem", não me refiro apenas a palavras, mas a todos os instrumentos por meio dos quais nós nos comunicamos.

Deixe-me dar um exemplo que eu recentemente estive estudando. Em 1990, João Paulo II escreveu a encíclica "Redemptoris Missio". Dez anos se passaram, e a Congregação para a Doutrina da Fé foi obrigada a publicar a "Dominus Iesus". Se você comparar os dois documentos, você verá que todos os problemas tratados na "Dominus Iesus" já estavam presentes na "Redemptoris Missio". Em outras palavras, o ensino da encíclica não foi plenamente acolhido na vida da Igreja.

Muitas vezes nos encontramos nessa situação e temos que nos perguntar: por que o ensinamento não foi recebido? Talvez seja porque a linguagem não foi entendida, ou o tratamento do tema estava ou à frente ou atrás dos tempos. Problemas de recepção são reais, eles acontecem na Igreja assim como na sociedade, e sempre foi assim. Agostinho tinha esses problemas, assim como Ambrósio.

Alguém poderia pensar que é um paradoxo que Bento XVI pareça ser tão comprometido com a evangelização, e no entanto ele está liderando um Vaticano que tem problemas crônicos de comunicação. Como o senhor concilia essas duas coisas?

Se você ler o recente livro "Luz do Mundo", você verá que o próprio Papa diz: sim, temos que admitir que houve um problema de comunicação. Creio que, entre outras coisas, isso reflete a necessidade de uma melhor coordenação entre nós, entre os dicastérios. Talvez, precisemos de oportunidades periódicas para vermo-nos, para nos comunicarmos sobre as nossas várias iniciativas.

Isso é comparável ao que acontece nos governos seculares, com um conselho de ministros que se reúne com grande frequência. As decisões do governo são feitas de uma forma participativa, porque eles trabalham como um grupo. Claro, isso não quer dizer que tudo sempre funciona da maneira que deveria, porque sempre há peculiaridades pessoais que podem vir à luz, mas certamente há uma necessidade de uma melhor colaboração e comunicação entre os vários dicastérios.

O senhor acredita que isso vai acontecer?

Bem, tomemos o caso da fundação deste escritório. O anúncio foi feito no dia 12 de outubro, e no dia 12 de novembro houve um encontro interdicasterial em que eu apresentei o novo dicastério para todos, e todos tiveram a oportunidade de falar sobre isso.

Esses encontros não acontecem com muita frequência.

O que eu espero, e o que eu penso, é que, em comparação aos conselhos de ministros, encontros interdicasteriais mais frequentes no Vaticano promoveriam uma maior coordenação e colaboração.

A acusação ainda poderia ser feita: se o papa leva tão a sério a evangelização, por que ele permitiu que todos essas crises de comunicação acontecessem?

Eu concordo que temos que levar em conta as regras e os instrumentos de comunicação modernos, e nós podemos fazer um trabalho melhor. Em muitos aspectos, isso é óbvio. O tipo de reforma que é necessária será avaliado e decidido por aqueles que detêm a responsabilidade. Meu papel é tentar fazer com que o Conselho para a Nova Evangelização contribua com a comunicação da forma que nos pertença. Se eu tentar assumir questões maiores que não me pertencem, isso não seria útil.

O Papa pode ter uma forte mensagem para o mundo contemporâneo, mas o que todo mundo tipicamente vê são os desastres – o caso Williamson, a crise dos abusos sexuais, a recente confusão sobre as palavras do Papa sobre o preservativo, e assim por diante. Uma melhor estratégia de comunicação é, na verdade, uma pré-condição necessária para a evangelização?

Sim, mas eu também não quero confundir as duas coisas. A evangelização não é determinada pelo caso Williamson, ou pela crise dos abusos sexuais, ou pela controvérsia dos preservativos. Eles podem ser um desafio para a evangelização, porque geralmente envolvem o fato de pegar um pedaço da imagem e tratá-lo como um todo, o que realmente se assemelha a um tipo de fundamentalismo. É preciso perguntar se esse tipo de manipulação se deve a uma falha de coordenação no Vaticano, ou se há realmente uma intenção [na mídia] de dar uma impressão distorcida da vida da Igreja.

Não poderiam ser as duas coisas?

Provavelmente a falha da primeira acaba favorecendo a segunda.

O senhor apresentou recentemente o livro-entrevista do Papa para a imprensa. Além da polêmica sobre os preservativos, o senhor vê o livro como um modelo para a nova evangelização?

Eu disse naquele momento que, para mim, o livro é como se o Papa abrisse as portas de seu apartamento, pedindo a você que se sente para ter uma conversa. Essa é a sensação que eu tive. Como eu tive que apresentar o livro, eu o li no idioma original, e enquanto eu lia eu pensava que podia sentir o tom pessoal do Papa.

Quando terminamos a coletiva de imprensa, fomos ver o Papa para apresentar os volumes. Como eu era o único bispo lá, fui a primeira pessoa a saudar o Papa, e eu disse: "Santo Padre, obrigado, porque este é verdadeiramente um instrumento para a nova evangelização". Eu estou convencido disso. Há uma tal riqueza de espiritualidade nele... Ele fala sobre o valor da sexualidade, do amor, da alegria, da esperança. Há tantos elementos que refletem os desejos das pessoas hoje, e ele fala sobre eles de uma forma simples. Ele não é apenas facilmente compreensível, mas também é cheio de consolação e também é talvez um estímulo para nos tornarmos interessado pelo cristianismo, para além dos escândalos e das manchas que às vezes o marcam.

É muito ruim, porque, se você ler apenas os jornais, a única coisa que você fica sabendo sobre o livro são algumas frases sobre preservativos. Por outro lado, talvez toda a atenção vai levar algumas pessoas a ir descobrir o que o Papa realmente disse!

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=39373 acesso em 18 dez. 2010.
Foto: Arcivescovo Rino Fisichella a Lodi. 2006. Extraído de http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rino.fisichella-a-lodi.JPG acesso em 18 dez. 2010.

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