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sexta-feira, 27 de julho de 2012

O gesto de um jovem

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 6,1-15 que corresponde ao XVII Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto

De todos os gestos realizados por Jesus durante sua atividade profética, o mais lembrado pelas primeiras comunidades cristãs foi sem dúvida uma comida multitudinária organizada por ele no meio do campo perto do lago da Galileia. É o único episódio recolhido em todos os evangelhos. O conteúdo do relato é de uma grande riqueza. Seguindo o costume, o evangelho de João não fala de milagre mas de sinal. Dessa forma ele nos convida a não ficarmos nos fatos que são narrados, mas a descobrir a partir da fé um sentido mais profundo.

Jesus ocupa o lugar central. Ninguém lhe pede para intervir. Ele mesmo percebe a fome daquelas pessoas e apresenta a necessidade de alimentá-las. É comovedor saber que Jesus não somente alimentava as pessoas com a Boa Notícia, mas também lhe preocupava a fome de seus filhos e filhas.

Como alimentar no meio do campo uma multidão numerosa? Os discípulos não encontram nenhuma solução. Felipe diz que não é possível comprar pão, pois eles não têm dinheiro. André acha que se pode partilhar o que há, mas somente um rapaz tem cinco pães e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?

Para Jesus isso é suficiente. Esse rapaz, sem nome nem rosto, fará possível o que parece impossível. Sua disponibilidade para partilhar tudo o que possui é o caminho para alimentar aquelas pessoas. Jesus fará o resto. Ele pega os pães do rapaz, agradece a Deus e começa a distribuir entre todos.

A cena é fascinante. Uma multidão, sentada sobre a verde grama do campo, partilhando uma comida gratuita, num dia de primavera. Não é um banquete de ricos. Não há vinho nem carne. É uma comida simples das pessoas que moram na beira do lago: pão de cevada e peixe defumado. Uma comida fraterna servida por Jesus a todos graças ao gesto generoso de um jovem.
Esta refeição partilhada era para os primeiros cristãos um símbolo atrativo da comunidade nascida de Jesus para construir uma humanidade nova e fraterna. Evocava-lhes ao mesmo tempo a eucaristia que celebravam no dia do Senhor para alimentar-se do espírito e da força de Jesus, o Pão vivo vindo de Deus.

Mas nunca esqueceram o gesto do jovem. Se há fome no mundo, não é por escassez de alimentos, mas pela falta de solidariedade. Há pão para todos, porém falta generosidade para partilhar. Temos deixado o andar do mundo nas mãos do poder financeiro, temos medo de partilhar o que temos, e as pessoas morrem de fome pelo nosso egoísmo irracional.

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