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domingo, 17 de novembro de 2013

Tempo Franciscano

Frei Dorvalino Fassini, OFM
Nunca, nos últimos séculos, São Francisco, os franciscanos, o Franciscanismo, em geral, estiveram em tão alta estima e admiração como nas últimas décadas, mais precisamente a partir do Vaticano II, ou melhor, a partir de João XXIII. Pode-se dizer que por toda a parte há um anseio pelo estilo de vida deixado por São Francisco e pela Ordem seráfica.
A inspiração de João XXIII, acerca da importância e dos benefícios de um retorno às origens, encontrou, evidentemente, em São Francisco – e não podia ser de outra forma – um dos expoentes mais expressivos. Foi esse santo que - em tempos idos, também de crise, de começo de mudança de época, semelhantes aos nossos - com sua forma de vida essencialmente evangélica e apostólica, proporcionou na Igreja e no mundo uma das mais belas revoluções humanas e cristãs. 
A força daquela transformação em Francisco e, posteriormente, na Igreja e na sociedade da época provinha da graça de um encontro. Sim, Francisco teve um encontro todo especial, comovente e revolucionário com Jesus Cristo crucificado na igrejinha de São Damião e com seu Evangelho na igrejinha da Porciúncula. Foi então que começou a intuir quem é e como é o nosso Deus, o Pai de Jesus Cristo e seu reino no meio, isto é, na raiz dos homens.
Francisco começa, então, a fazer a experiência de um Deus que “sai” de sua deidade, que se apequena e aniquila movido tão somente por uma ardente paixão pela sua criatura predileta – o homem. Com essa criatura predileta deseja viver e conviver, dar sua afeição e provar sua resposta até a morte e morte de cruz. O enamoramento, a paixão de Cristo comove e apaixona Francisco com tal e tamanha intensidade a ponto de tornar-se não apenas o arauto do grande Rei, mas também seu fiel imitador. 
Do mergulho para dentro dessa fonte – Boa Nova, o Reino de Deus no meio de nós - nasce um novo Francisco, um novo humano que encanta, atrai e comove os homens de todos os tempos, principalmente quando, como o nosso, o sentido da vida se obscurece. Francisco, então, qual outra estrela da manhã, volta a brilhar no meio das negras nuvens do relativismo, do hedonismo, do imediatismo, do mundanismo e materialismo sem transcendência que envolvem os homens de hoje numa alegria tristonha, consumista, fantasiosa e enganadora. 
Queiramos ou não - e nisso está todo nosso desafio de franciscanos – os homens, a Igreja de hoje olham e esperam de nós que lhes revelemos e testemunhemos o sentido da vida que transformou o jovem filho do comerciante Pedro Bernardone no homem feliz, plenamente realizado, alegre; no “irmão universal”. Será que estamos à altura dessa vocação? 
Sem dúvida vivemos um novo “Tempo franciscano”. No meio da profunda crise que envolve todos os segmentos da humanidade há uma luz, uma esperança que aflorou em corações profundamente franciscanos, a começar pelo Papa João XXIII, o papa da bondade e da simplicidade evangélica e franciscana. Infelizmente esquecemos que ele era franciscano.
Um espírito “clericalista”, por parte dos franciscanos religiosos impede que se dê a devida importância a esse fato: João XXIII era franciscano secular. Se fosse da primeira Ordem, todos estaríamos rejubilando e proclamando orgulhosamente aos quatro cantos do mundo: “O Papa é nosso, é franciscano”. Parece, pois que, pelo fato de ser da OFS, pouco ou quase nada conta.
E é muito bonito ver como e quanto esse papa estimava sua vocação de franciscano. Ao visitar Irmãos e Irmãs da OFS de todo o mundo, reunidos em Capítulo geral, em Roma, se apresentou exclamado com toda a alegria: “Eu sou José, vosso irmão”. Não lhes disse: “Eu sou o papa” ou “o bispo de Roma”. É que, seguindo o costume da época, ao ingressar na Ordem recebera o nome de “José”. Por isso, para lá fora, em primeiro lugar, para encontrar-se com seus irmãos, os seguidores de Francisco. 
Não esqueçamos, também, que foi ele o primeiro papa, dos últimos anos, a sair dos muros do Vaticano, inaugurando assim as hoje tão frequentes, importantes e significativas viagens apostólicas dos papas atuais. Com isso fazia memória ao espírito missionário e peregrino re-inaugurado por Francisco. E, para onde foi? Assis, a pequenina, simples e humilde cidade do não menos simples, pequeno, humilde e pobre Francisco, seguidor e imitador do pobre dos pobres: Jesus Cristo Crucificado.
Assim, Assis, e tudo o que ela representa, hoje, se constituiu em centro de irradiação do novo catolicismo, da nova vida evangélica-cristã que a igreja e a humanidade necessitam e almejam.
A partir de João XXIII, passando pelos demais papas, até o atual, a marca, o espírito de São Francisco, torna-se cada vez mais almejado tanto dentro como fora da Igreja. 
Vem então, a desafiadora questão: “E nós, que abraçamos por vocação e profissão a vocação e a missão de Francisco, como ficamos nessa “história toda”? Basta ufanarmos por esses fatos que afloram ao nosso redor?
Para concluir citemos apenas o gesto de Francisco quando alguns frades se vangloriavam diante da notícia dos primeiros mártires da Ordem: “Cada um glorie-se do seu próprio martírio e não do martírio dos outros”(JJ 8).
Em louvor de nosso Senhor Jesus Cristo crucificado. Amém.

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