“QUER VIVAMOS QUER MORRAMOS, PERTENCEMOS AO SENHOR...”
O que é a morte? A morte é o fim de nossa existência física no tempo que nos foi dado por Deus, para o perdão e reparação de nossos pecados. Todavia, não é tão fácil assim o entendimento desse fenômeno natural que acontece com todo ser vivente sobre a face da terra; pode até ser para aqueles que dizem: “morreu acabou”, pois é isto que creem, mas estes são os que vivem sem esperança alguma de vida eterna. De fato, como seres viventes, somos um misto de alma e corpo, sendo o corpo sujeito à destruição pela morte e decomposição dos elementos naturais presentes na sua composição física; já a alma, por ser imaterial é imortal, única e intransferível, pois traz em si a unicidade divina (Deus jamais repete algo na obra da criação, tudo é único) (cf. Gn 1,26-28;2,19-24; Sl 8). Como dizia São Francisco de Assis: “Somos o que somos aos olhos de Deus e nada mais”.
Ora, que a alma não é física, mas metafísica, isso é inegável; pois nenhum raciocínio, técnica ou experimento científico pode provar o contrário disso (cf. Mt 10,28). Todavia, ela não é absoluta (aliás, nenhuma criatura é) por causa de sua condição de dependência, pois não existe em si e por si mesma, uma vez que foi criada diretamente por Deus quando de nossa concepção no ventre materno. Assim, o nascer e o morrer, já sintetiza toda nossa dependência. De fato, temos vontade própria, todavia em consonância com nosso livre arbítrio; se ela é uma dependência divina, somos livres, porque em Deus está a verdadeira liberdade (cf. Jo 8,36; 2Cor 3,17); se ela é dependência só das criaturas, sem a comunhão com Deus; aí nos tornamos escravos de nossas concupiscências, que são as más inclinações, más escolhas e decisões (cf. Jo 8,31-35; Tg 1,12-18).
Por que a morte existe? Porque ela é condição punitiva e reparadora por causa do pecado (cf. Gn 3,1-19). Deus é a Fonte Eterna de todo ser e ninguém subsiste como Bem Eterno sem Ele, o Sumo Bem. Ora, em Deus não há pecado. Logo, todo pecado é separação de Deus, e tudo o que não permanece Nele, sucumbe eternamente, quando não há reconciliação; isto porque, cada ser traz em si a perfeição com a qual foi criado e que o faz perdurar. Desse modo, a perfeição dos anjos difere da perfeição dos homens, devido à natureza que os encerra, o anjo é puro espírito; já o homem é um ser vivente dotado de corpo físico e alma espiritual. Assim, o pecado dos anjos, dado o seu estado de perfeição, é uma decisão definitiva e irreparável, não há salvação para eles (cf. Is 14,12-15; Ez 28,11-19; Ap 12,7-9; Jo 16,6-11); enquanto o pecado dos homens é uma decisão passível de reparação, dado seu estado inferior ao dos anjos (cf. Rm 8,1-4). Contudo, a decisão do homem pelo pecado mortal, isto é, contra as Leis de Deus gravadas em sua alma (cf. Jr 30,33-34; Rm 1,19), torna-se uma decisão eterna quando não há arrependimento e reconciliação com Deus, por meio do Seu Filho, Jesus Cristo, que nos deu a fé, a Igreja e os Sacramentos para a nossa salvação (cf. Mc 16,16; Jo 3,16-21; 8,24).
Lendo as Sagradas Escrituras (cf. Gn 3,19; Ap 21,8), compreendemos que a morte traz em si dois sentidos: um temporal e outro eterno, ou seja, ela é um fenômeno de cunho natural e espiritual. Ela é condição punitiva ou reparadora. Para nós pecadores, a morte é condição punitiva (cf. Gn 3,19; Rm 3,23; 6,23); mas para Cristo, que não tem pecado (cf. 1Jo 3,5), ela é condição reparadora, porque ele morreu em expiação dos nossos pecados, isto é, ele reparou nossos pecados, nos justificando diante de Deus Pai (cf. Rm 5,6-11;). Assim, Jesus nos amou até a última gota do seu sangue derramado (cf. Jo 19,30.34); para que vivamos a nossa filiação divina como Ele viveu (cf. Lc 23,46), em total obediência amorosa ao nosso Pai celeste (cf. Jo 5,30; 1Jo 2,6). Em suma, Jesus perdoa e apaga os nossos pecados, por sua morte e ressurreição, e nos dá os sacramentos do batismo e confissão (caso pequemos após o batismo) (cf. Mt 28,19), para que tenhamos vida nova Nele (cf. 2Cor 5,17-19).
De certo, o acontecimento da morte do homem se dá durante o tempo que lhe foi dado para o arrependimento e reparação dos pecados, e retorno para Deus. Assim ele já a traz em sua composição física ou também espiritual, dependendo de seu estado de alma. É uma questão de causa e efeito; todo causa gera um efeito, se a causa é boa o efeito também é bom; se a causa é má, o efeito é tão mal quanto sua causa. De forma que, ele experimenta isto interiormente e imediatamente assim que se gera a causa e seu respectivo efeito. Porém, só em parte, pois todos nós temos que comparecer perante o Tribunal Divino, quer no juízo pessoal (cf. Hb 9,27); quer no juízo final (cf. Mt 25,31-46). Desse modo, após a morte natural, não tem como se arrepender mais ou mudar o veredicto, visto que, cada um carregará gravado na alma tudo o que pensou, falou e realizou durante o viver temporal (cf. Sb 1,1-16; Lc 16,19-31); e se o que carregou foram pecados mortais já haverá reparação para eles (cf Hb 6,4-6;10,26-31). No entanto, cabe a nós no tempo que nos foi dado, vencermos o pecado e a morte por meio da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus (cf. Jo 3,1-21;11,25-27). Pois Ele foi enviado por Deus Pai (cf. Jo 3,16-18;12,46-50; 1Jo 3,1-9), para apagar nossos pecados por sua morte e ressurreição, e assim Nele termos a vida eterna, mediante o novo nascimento da água e do Espírito Santo (cf. Jo 3,3-7; Rm 5,6-11).
Portanto, “Nenhum de nós vive para si, e ninguém morre para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Para isso é que morreu Cristo e retomou a vida, para ser o Senhor tanto dos mortos como dos vivos. Por que julgas, então, o teu irmão? Ou por que desprezas o teu irmão? Todos temos que comparecer perante o tribunal de Deus. Porque está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará glória a Deus (Is 45,23). Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”. (Rm 14,7-12).
“O Senhor não retarda o cumprimento de sua promessa, como alguns pensam, mas usa da paciência para convosco. Não quer que alguém pereça; ao contrário, quer que todos se arrependam. Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras que ela contém. Uma vez que todas estas coisas se hão de desagregar, considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade, enquanto esperais e apressais o dia de Deus, esse dia em que se hão de dissolver os céus inflamados e se hão de fundir os elementos abrasados! Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça. Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por ele achados sem mácula e irrepreensíveis na paz”. (2Pd 3,9-14).
Paz e Bem!
Frei Fernando,OFMConv.
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