QUANDO VIER O PARÁCLITO, O ESPÍRITO DA VERDADE, ENSINA-VOS-A TODA VERDADE...
Pensar a vida sem o Espírito de Deus é pensa-la conforme o mundo e não conforme Deus. Ora, o Senhor Jesus prometeu (cf. Jo 15,26) que enviaria o Espírito Santo para nos ensinar, nos defender e nos dar todo apoio e assistência necessária para permanecermos fiéis até que se complete o tempo de sua segunda vinda e a nossa ida definitiva para a glória do seu Reino, onde não há morte nem choro nem luto nem dor (cf. Jo 14,1-4).
O Espírito Santo de Deus é o perfeito coordenador de nossas ações enquanto de nossa estadia neste mundo, basta que ouçamos suas moções e nos deixemos conduzir por Ele, como o fizeram os profetas, Maria Santíssima, os apóstolos e todos os santos. Pois assim disse o Senhor: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão”. (Jo 16,13). Ora, creio que todos nós desejamos ver o desfecho final da obra da criação, isto é, a vinda da plenitude do Reino de Deus, pois do jeito que estamos vivendo atualmente, a paz entre os povos é impossível.
Então, há de se perguntar, como identificarmos a presença do Espírito de Deus em nossa vida? Ora, os meios para isto os batizados já o tem, pois quem foi batizado, foi batizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ou seja, em nome da Santíssima Trindade e se tornou filho/a de Deus. Essa filiação divina nos torna aptos à esse reconhecimento, pois é a vontade de Deus que sejamos um só com Ele, por seu Filho, Jesus Cristo, no Espírito Santo. Para que isto aconteça precisamos dissipar de nossas mentes todo e qualquer mau pensamento ou vãs inclinações para o pecado; e o jeito mais preciso para isto aconteça é usar o dom da oração, pois com essa arma poderosa, podemos expulsar de nossa mente tudo o que não é do Espírito de Deus.
Sabemos, por graça de Deus, que naturalmente podemos identificá-lo em meio à criação, isto por meio da visibilidade de sua obra, pois conhecendo a obra se conhece o bem feitor que a produziu; todavia, o Senhor mesmo se nos deu a conhecer pelo seu Espírito Santo que enviou por seu Filho, Jesus Cristo, autor e consumador da nossa salvação. Quem crê no Filho de Deus tem a vida. Mas, o crê em Cristo não é algo isolado ou à mercê do querer humano; mais que isto, crê é fazer parte do Corpo Místico de Cristo, que é a sua Igreja, fundada e mantida por Ele na pessoa de São Pedro, príncipe dos apóstolos. À ela o Senhor enviou o Seu Espírito para que a nossa fé fosse uma fé carismática, isto é, dom do Seu Espírito Santo em nós.
Com efeito, Santo Hilário, escreveu a respeito dessa ação do Espírito Santo para identificarmos Deus em nossa vida e por nosso proceder; vejamos o que ele disse: “O Senhor mandou batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, quer dizer, professando a fé no Criador, no Filho e no que é chamado Dom de Deus. Um só é o Criador de todas as coisas. Pois um só é Deus Pai, de quem tudo procede; um só é o Filho Unigênito, nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tudo foi feito; e um só é o Espírito, que foi dado a todos nós.
Todas as coisas são ordenadas segundo suas capacidades e méritos: um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita. Nada falta a tão grande perfeição. Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a atividade no Dom.
Escutemos o que diz a palavra do Senhor sobre a ação do Espírito em nós: Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreendê-las agora (Jo 16,12), É bom para vós que eu parta: se eu me for, vos mandarei o Defensor (cf. Jo 16,7). Em outro lugar: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará uni outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade (Jo 14,16-17). Ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará porque receberá do que é meu (Jo 16,13-14).
Estas palavras, entre muitas outras, foram ditas para nos dar a conhecer a vontade daquele que confere o Dom e a natureza e a perfeição do mesmo Dom. Por conseguinte, já que a nossa fraqueza não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Dom que é o Espírito Santo, estabelece um certo contato entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas dificuldades relativas à encarnação de Deus.
Assim, o Espírito Santo é recebido para nos tornar capazes de compreender. Como o corpo natural do homem permaneceria inativo se lhe faltassem os estímulos necessários para as suas funções - os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos, caso não haja vozes ou sons, não cumprem seu ofício; o olfato, se não sente nenhum odor, para nada serve; não porque percam a sua capacidade natural por falta de estímulo para agir - assim é a alma humana: se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento.
Este Dom de Cristo está inteiramente à disposição de todos e encontra-se em toda parte; mas é dado na medida do desejo e dos méritos de cada um. Ele está conosco até o fim do mundo; ele é o consolador no tempo da nossa espera; ele, pela atividade dos seus dons, é o penhor da nossa esperança futura; ele é a luz do nosso espírito; ele é o esplendor das nossas almas”. (Do Tratado Sobre a Trindade, de Santo Hilário, bispo (Lib. 2,1.33.35: PL 10,50-51.73-75)(Séc. IV)
Portanto, eis a razão de ser de nossa fé católica e de nossa vida, deixar-nos conduzir pelo Espírito Santo de Deus, como bem escreveu São Paulo: “todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. (Rm 8,14). Porque fomos batizados para isto, como ele mesmo disse: “Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova”. (Rm 6,3-4). Pois: “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!” (2Cor 5,17).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.
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