“É NECESSÁRIO ENTRARMOS NO REINO DE DEUS POR MEIO DE MUITAS TRIBULAÇÕES”. (At 14,22b).
Tudo o que fazemos na vida depende sempre de nossas decisões, sejam elas quais forem; isto acontece porque de certa forma temos autonomia em relação a tudo com que interagimos, porém, ninguém é autossuficiente o bastante para dizer: não preciso. Deus ao nos criar nos deu certa autonomia dependente, para que tendo Ele como fonte de toda vida, vivêssemos Dele para formarmos uma unidade perfeita com Ele e entre nós. A vida sem Deus é impossível, e o ser humano precisa reconhecer isto, pois somente o Espírito do Senhor une todas as coisas, e é Ele que nos dá a conhecer as graças que Deus nos prodigalizou (cf. 1Cor 2,12).
Ora, nós temos a escandalosa divisão que temos na face da terra, porque os homens abandonaram de vez o modo de ser do Espírito de Deus, que age somente naqueles que o amam. É como está escrito: “Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração, porque ele é encontrado pelos que o não tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança; com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos. A Sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado; o Espírito Santo educador (das almas) fugirá da perfídia, afastar-se-á dos pensamentos insensatos, e a iniquidade que sobrevém o repelirá”. (Sb 1,1-5).
Uma coisa é alguém pensar por si mesmo ou a partir das outras criaturas; outra bem diferente é alguém pensar e agir a partir da sabedoria do Espírito Santo, como nos ensinou São Paulo (cf. 1Cor 2,1-8). Ora, como Filho de Deus, Jesus nos ensina a pensar e agir como filhos e filhas de Deus, por meio da obediência perfeita do Espírito Santo. Viver essa comunhão de vida com Deus, pelo seu Espírito que habita em nós, é experimentar a familiaridade divina, é viver espiritualmente neste mundo. Pois, “O Senhor é Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”. (2Cor 3,17).
Deus nos enviou o seu Filho, Jesus Cristo (cf. Jo 3,16-17), e por meio Dele nos deu o Seu Espírito (cf. Jo 14,15-17) que nos ensina a conhecer todas as coisas (cf. Jo 14,26). E que conhecimento é esse? Deus é único e Pai de nossas almas; e porque nos ama, nos enviou Seu Filho único, nascido da Virgem Maria (cf. Lc 1,26-38), para que crendo nele, vivêssemos a unidade perfeita entre nós pelo seu Espírito, que nos faz nascer de novo para um viver novo como seus filhos e filhas. Jesus nos revelou ainda que este mundo está passando por um processo de renovação definitiva, e que Deus Pai, tem preparado para aqueles que o amam, o seu Reino de amor, de paz, de verdade e justiça; onde não há maldade nem morte nem finitude alguma.
Certa feita, alguém perguntou a Jesus: “Quando virá o Reino de Deus?” Ao que Jesus respondeu: “O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós”. (Lc 17,20-21). Ou seja, o Reino de Deus em sua visibilidade temporal é a Igreja, e Jesus é o Rei que governa sua Igreja, tendo como primeiro representante o Santo Padre, o Papa; depois os bispos (sucessores dos apóstolos), padres, diáconos, religiosos, e todo povo de Deus. Tal e qual as primeiras comunidades apostólicas, a Igreja é católica (universal), apostólica (fundada sob os apóstolos), cuja sede fica na Colina Vaticana em Roma. Assim, a Igreja é, de fato, Sacramento Universal da Salvação, aberta e pronta para receber todas as almas que se convertem e são destinas aos céus. Todavia, temos que entender ainda que a Igreja está no mundo como o trigo em meio ao joio, como Jesus menciona na parábola. Porém, ela tem a fecundidade e a assistência do Espírito Santo para que, como trigo que é, cresça e morra, e dê milhões de frutos até a colheita definitiva no grande e terrível dia do Senhor (cf. Jl 2).
Com efeito, a Igreja tem experimentado constantemente esse ser “trigo esmagado”, pois, sem dúvida alguma, os ataques maléficos contra o Reino de Deus, presente na Igreja, têm sido frequentes e ininterruptos, seja pelos meios de comunicação social, seja pelos governos instituídos, detentores dos poderes temporais; seja ainda pelas instituições protestantes, espiritualistas, maçônicas, materialistas, ateias etc., que regem esses governos; quer também pelos mais diversos grupos notadamente antagônicos, como bandas de rock, igrejas satânicas, instituições abortistas e/ou homo afetivas com suas provocações e imposições, como se fossem elas as perseguidas, etc. Ora, falar sobre esses perseguidores e seus instrumentos de perseguição, é tornar-se alvos precisos de suas intolerâncias, e quem sabe até, tornar-se mártires por denunciar tais perseguições abertamente.
Eis o que ensinou São Paulo a esse respeito: “Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um período difícil. Os homens se tornarão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão a realidade. Dessa gente, afasta-te!” (2Tm 3,1-5). E ainda: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque as coisas que tais homens fazem ocultamente é vergonhoso até falar delas. Mas tudo isto, ao ser reprovado, torna-se manifesto pela luz. E tudo o que se manifesta deste modo torna-se luz. Por isto (a Escritura) diz: Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará (Is 26,19; 60,1)!” (Ef 5,8-14).
Portanto, eis a resposta do Senhor Jesus à tudo isso que está acontecendo: “O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados. Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena. Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade de vosso Pai. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós. Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus”. (Mt 10,28-33).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.
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