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quarta-feira, 15 de março de 2017

Minha leitura do filme Silêncio de Martin Scorsese

Paz e bem!

Domingo, 12 mar., fui assistir ao filme Silêncio (Silence) de Martin Scorsese. Além das questões relativas à História do Catolicismo no Japão, eu tinha um motivação muito particular: eu digo que para meu pai (que faleceu em junho do ano passado) no fundo a hierarquia da Igreja Católica era assim:
  1. O Papa
  2. Os Cardeais
  3. Os Bispos
  4. Os Padres Jesuítas
  5. Os demais Padres
Meu tio avô, que eu não conheci, era o Padre Luiz Gonzaga Jaeger, SJ, que pesquisou sobre as missões aqui no Rio Grande do Sul e hoje dá nome a uma escola pública em Canoas.

Três jesuítas martirizados no Japão / Guido Cagnacci. Séc. 17.
Traçar um paralelo entre a ausência de resposta por parte de Deus perante o que estão vendo e sofrendo e o silêncio com que Deus Pai responde ao sofrimento de Jesus na crucificação é um caminho muito óbvio, já apontado no próprio título e explicitamente durante o filme.

Mas saí do cinema com a impressão de o Scorsese fez uma leitura muito própria da citação bíblica "Não existe amor maior do que dar a vida por seus irmãos" (Jo 15, 13).

Para isto o protagonista, Padre Rodrigues, para que parasse a perseguição aos aos cristãos japoneses dá algo maior que a sua vida; dá a sua alma (e para os europeus no seculo XVII isto era algo muitíssimo importante). E como ele dá a sua própria alma? Ao Formalizar publicamente o ato de abandono da fé cristã e católica, num Autodefé japonês. Após isto fica claro que sem a presença de um padre no território nipônico, as autoridades voltarão a fazer vistas grossas com relação aos grupos cristão ainda existentes.

E de fato, continuaram nas catacumbas a perseverarem na sua fé, só ministrando o batismo, rezando discretamente em comunidade e transmitindo bocaaboca o que haviam aprendido no passado. Estes católicos só voltam a aparecer no século XIX, depois que o estadounidense Comodoro Perry com seus canhões forçou o Japão a abrir-se aos estrangeiros -- o que precipitou o fim do xogunato (o que é retratado no fime o Úlitmo Samurai (The Last Samurai)) --.

Mas voltando ao filme após o Autodefé, que realizou os atos blasfemos, mas em consciência não aderiu a uma nova fé ainda tem muita angustia. Aí vem Kichijiro, o primeiro japonês que ele encontrara, um cristão que já várias vezes renegara a sua fé em público -- sendo que da primeira vez o restante de sua família não o fez e por isto foi morta na sua frente -- um personagem miserável, fraco, que vive se torturando pela sua fraqueza, que não conseguia se perdoar e que Rodrigues conseguir convencer que ele poderia obter a misericórida de Deus por meio do sacramento da Confissão. Pois bem, mais uma vez vem Kichijiro pedir para se confessar, Rodrigues responde que ele já não é mais padre, o japonêss insite e isto faz com que o jesuíta se recorde que mesmo ele sendo uma pessoa indigna a doutrina afirma: "Tu és sacerdote para sempre" e ele mais uma vez ouve a confissão e apartir daí ele alcança a paz interior, mesmo que para os olhos de todos ele já não fosse mais um católico, ele confiava na misericórdia do Deus Uno e Trino.

Sim esta é uma leitura muito particular que faço do filme
(e pode ser que seja o do livro que dá origem ao filme,
mas não lí o livro),
e tenho certeza de que muitos catolibãs não vão gostar dela
(mas o problema é deles).
PS: No caso do Brasil também podemos fazer uma leitura sobre como sobreviver em tempos de perseguição política, mas óbvio que o Scorsese não tava pensando na situação golpista e TEMERosa do Tucanistão.
Fonte da ilustração: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Guido_Cagnaccio_-_Three_Jesuit_martyrs_in_Japan.jpg acesso em 2017-03-15

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