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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Nós somos o povo

Foi comovente a celebração do 20° aniversário da queda do muro, realizada em Berlim no dia 9 de Novembro de 2009. Políticos de toda a Europa e de outros países evocaram intensamente a histórica mudança epocal que foi iniciada por este fato. Não só para a Alemanha, nem só para a Europa, mas para o mundo todo. Foi o fim da Guerra Fria, que dividia o mundo em duas partes num equilíbrio de terror: o bloco ocidental e o bloco oriental, cada um representado pelas potências hegemônicas – EEUU e União Soviética. O resto do mundo ficou dividido em esferas de influência, aliados e simpatizantes dos dois blocos. Este mundo desmoronou em 1989, para dar início a outro mundo no qual os valores fundamentais da liberdade, da dignidade e dos direitos humanos deveriam impor-se. Especialmente emocionante foi a simulação “da segunda queda do muro”, na qual 1000 pedras de dominó, artisticamente enfeitadas por 15 000 estudantes de todos os países foram derrubadas. Uma mensagem dirigida à sociedade: desfaçam os seus muros, os muros da pobreza, da discriminação, das raças, da falta de liberdade ...


O que tornou possível este milagre em Berlim foi a coragem de pessoas que já não quiseram silenciar. Elas se levantaram para lutar pelos direitos fundamentais garantidos pela Carta da ONU, e isto durante muitos anos, e em lugares bem diferentes – desde o dia 17 de Junho de 1953, passando pela revolta popular húngara em 1956 e a Primavera de Praga em 1968, até ao movimento do Solidarnosc, na Polônia, em 1980/81. Enquanto estes movimentos ainda foram asfixiados à força, o fim não-violento dos regimes comunistas nos respectivos países parecia a muitos contemporâneos um milagre. As sublevações na Alemanha oriental desenvolveram-se a partir de pequenos núcleos, passando pelas orações que, todas as segundas-feiras, se realizavam em Leipzig e em outros lugares, em favor do movimento poderoso, mas não-violento “Nós somos o povo”, que fazia frente aos dirigentes. Felizmente, houve políticos responsáveis, tanto no oeste como no leste, que reconheceram isso, evitando uma possível catástrofe global, através de decisões corajosas. O muro que dividiu, durante várias décadas, o leste e o oeste foi derrubado – pelo povo.


Um exemplo que deve inspirar coragem. Há, além disso, suficientes outros sectores nos quais, pessoas engajadas conseguiram mudar o mundo para melhor. Sem o movimento global de paz, não teria havido os passos decisivos de desarmamento. Sem os movimentos sociais, não teria havido as redes sociais, sem ATTAK e o Fórum Social Mundial, não teria havido nenhum projeto contra a globalização neoliberal da economia e das finanças. E sem as muitas iniciativas e movimentos ecológicos, a consciência de que, só através de decisões globais e firmes, é possível evitar uma catástrofe climática irreversível, não teria sido tão grande nos setores políticos e econômicos. Portanto, vale a pena participar dos respectivos movimentos. Se o povo estiver unido agindo com coragem, podemos transformar o mundo.


Como pessoas franciscanas, não devemos esquecer que muitos destes movimentos tem Francisco como orientador espiritual. É um sinal que, ainda hoje, indica de maneira fidedigna que podemos mudar o mundo: que não podemos reivindicar nada e possuir nada do que possa prejudicar aos outros; que não somos os donos da Criação, mas sim, seres criados, que só podem estar bem quando todos estiverem bem e, finalmente, que não pode haver senhores e servos numa humanidade de irmãs e irmãos e que, portanto, cargos não são confiados para dominar, mas para servir. Isto, aliás, não só é válido para a sociedade, mas também para a Igreja. Ela é o povo de Deus que deve fazer sentir neste mundo o Deus justo, misericordioso, cheio de compaixão e libertador. Nada mais há para ser dito sobre a nossa missão franciscana hoje.


Andréas Müller OFM

Extráido de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2009/2009_11_News.shtml acesso em 7 dez. 2009.

Foto: essoas diante do espelho d'água do Congresso na posse de 2007 do presidente Lula / Antônio Cruz/ABr. 2007. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:EspelhoDAguaCongresso20070101AntonioCruzAgenciaBrasil.jpg acesso em 7 dez. 2009.


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