Durante os anos 2005 e 2007, o franciscano Dom Luis Cappio protestou, no Brasil, com uma greve da fome, contra o grande projeto do desvio fluvial do Rio São Francisco, projeto muito questionado por ambientalistas e peritos. O lucro dos dois canais, planejados com
Mal o projeto saiu de foco, sucede-lhe outra obra faraônica: a barragem de Belo Monte, no Pará. A barragem planejada teria um comprimento de 500 quilômetros através de terrenos reservados aos índios. Milhares de pessoas perderiam as suas terras, e ainda mais animais morreriam. Mesmo assim, o governo brasileiro leva adiante a construção de tão repudiada barragem. O bispo do Xingu (PA), oriundo da Áustria e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Dom Erwin Kräutler, é um dos mais fortes críticos do projeto. Além da Igreja e de instituições nacionais, também há movimentos internacionais que estão contra a construção de Belo Monte. “A Amazônia constitui uma grande responsabilidade para o Brasil, mas também tem as suas repercussões além das fronteiras brasileiras. Por isso, as manifestações de solidariedade da comunidade internacional são importantes”, disse Dom Erwin.
A situação é a seguinte: As reservas de água doce do mundo já não são suficientes. Já agora há aproximadamente quatro mil milhões de pessoas que têm dificuldades em abastecer-se com água potável. Isto tem a ver com uma distribuição injusta. Enquanto que, no Norte rico, há água em abundância e é desperdiçada, os anos de seca aumentam em muitas regiões do mundo. Dois terços da superfície de terra da África são regiões secas e ecologicamente em risco ou desertos. Aumenta cada vez mais a área dos solos em risco, devido ao aproveitamento abusivo do solo, à adubação química, ao desmatamento e irrigação defici-ente. Assim, torna-se cada vez mais difícil o abastecimento com alimentos básicos. O pro-blema do abastecimento e da distribui-ção de água em regiões com falta de água, como p.ex. no Oriente Médio, transformou-se, já num problema politicamente explosivo. Os estados podem, roubar a água uns dos outros, pondo em sério risco a paz já tão frágil. O problema do abastecimento de água potável tornar-se-á um dos maiores desafios do século 21.
Haverá solução? Só se mudarmos radicalmente de opinião. A água é uma dádiva de Deus e não deve ser privatizada para fins de lucro. Isto deveria ser determinado para todo o mundo. A Criação é tão generosamente organizada – que se só compartilhássemos em vez de poluir, todos poderiam ter fartura. “Louvado sejas, meu Senhor, pela Irmã Água, que é mui útil e humilde e preciosa e casta.”(Cântico do Irmão Sol) Todo o Cântico do Irmão Sol está cheio da compreensão grata de que tudo isso não é natural. S. Francisco, já no leito da morte, conservou o olhar admirado da criança. Sua vida continua falando ao mundo que a Criação de Deus for um banquete de vida em abundância se a conservarmos e cuidarmos, em lugar de a explorar e destruir. Talvez sejam necessários períodos de seca e de desertificação para percebermos isso. Talvez sejam necessárias a sede e a fome para apreciarmos de novo o elemento vital que é a água. A utilização cuidadosa da mesma já não é suficiente. Para que a água continue sendo acessível e suficiente para todos, devemos interferir decidida e audaciosamente nos processos políticos e econômicos,como o fazem Dom Luis Cappio e Dom Erwin Kräutler, pondo em risco as suas próprias vidas.
Andréas Müller OFMExtraído de Boletim CCMFC. Jun. 2010. Disponível em http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2010/2010_06_News.shtml acesso em 17 jun.2010.
Ilustração: A w:drop of water on a leaf / tanakawho. 2006. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Water_drop_on_a_leaf.jpg acesso em 17 jun. 2010.
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