Frei Gilberto Teixeira da Silveira, fsma
Ao celebrarmos a Solenidade de nosso Pai São Francisco, bate em nosso coração um forte sentimento de saudade. Temos saudades do Francisco apaixonado pela vida, do Francisco irmão de toda criatura, do Francisco pobre e companheiro dos pequenos e excluídos, do Francisco peregrino e forasteiro, do Francisco cantor da alegria e do sofrimento, do Francisco de Clara, de Antônio e de cada um de nós. Mas, esse sentimento não pode reduzir-se a um simples recordar, nostálgico e melancólico, mas tornar-se realidade, atitude concretas, principalmente a todos os que se dão o adjetivo de “franciscanos e franciscanas”. Ser franciscanos e tornar atual o carisma do Poverello de Assis, é trilhar caminhos de fraternidade, de solidariedade, minoridade e oração.
Neste dia festivo somos convidados a avaliar nossa caminhada e firmarmos propósitos evangélicos, afinal, esta é a vida de todo e qualquer franciscano: viver o Evangelho.
Viver o Evangelho em minoridade
Ser para o mundo sinal de contradição. Numa sociedade que prega a busca de status, poder, sermos sinais de simplicidade, de desapego. Não queremos ser donos nem senhores. Para tal, urge que tenhamos novas posturas frente aos títulos e privilégios que a sociedade confere aos membros da hierarquia e religiosos; aos títulos e honrarias que são oferecidos aos estudados, em detrimento dos que não tiveram acesso a uma educação de qualidade; na execução dos papéis sociais, não assumindo atitudes autoritárias, de imposição e inibição dos irmãos.
Viver o Evangelho em pobreza
Não desejar ter além do necessário para uma vida digna. É inconcebível pensar franciscanos e franciscanas preocupados com aplicações financeiras, rendimentos bancários, especulações imobiliárias, lucros... o sinal mais eloqüente da vivência franciscana do Evangelho é a vida de pobreza, onde, em solidariedade com os menos favorecidos de nossa sociedade, buscamos viver o despojamento, o pão-de-cada-dia, a confiança na Providência Divina. Cuidarmos da nossa maneira de vestir, de alimentar, de consumir... Trabalhar nossos desejos, não querendo apropriarmo-nos de bens e pessoas. Viver o Evangelho em fraternidade.
Sentirmo-nos irmãos de toda criatura. Sonharmos a fraternidade universal com Francisco e Clara. Reconhecermos em cada pessoa a imagem do Criador, não desprezando ninguém, nem as julgando inferiores e, muito menos, desprezíveis. Sermos sinais de misericórdia e acolhida, apoio e conforto nas dificuldades, solidariedade e compaixão nos sofrimentos. Estabelecermos relações firmadas nas pessoas e em sua dignidade, não em seus bens ou posições sociais. Construirmos relações firmadas na verdade e no respeito ao outro, com autenticidade e respeito às diferenças. Viver o Evangelho em comunhão com toda a natureza.
Em tempos de acelerada destruição e violação dos direitos da natureza, somos convocados à missão de defesa e cuidado com toda forma de vida. Unirmos nossa voz às vozes de tantos homens e mulheres que buscam proteger as matas, as nascentes, a qualidade do ar que respiramos, a Mãe Terra, em ONGs, Associações e Movimentos Ecológicos. Buscarmos uma qualidade de vida, com alimentação adequada, mais natural e menos artificial. Viver o Evangelho em espírito de oração.
Sermos pessoas orantes, contemplativas, em constante busca da vontade do Senhor. Mantermos um diálogo aberto com o Pai, em momentos de oração pessoal e comunitária; buscarmos lugar de deserto e de silêncio; cultivarmos a leitura da Bíblica como prática cotidiana, exercício de intimidade com o Pai; alimentarmos práticas devocionais que nos aproximem da Virgem Maria e dos Santos, autênticos praticantes do Evangelho.
Viver o Evangelho em pureza de coração
Desejar apenas uma coisa: viver o Evangelho, servindo ao Senhor na construção de seu Reino. Sermos puros e sinceros em nossa vivência com o Senhor, não desejando o mal e nem sendo instrumentos de discórdias. Não nos perdermos na imensidão das ofertas que o mundo de hoje nos apresenta, colocando a centralidade de nossa vida em Jesus Cristo em sua proposta de vida.
Viver o Evangelho em construção da paz
Em tempos de guerra e de cotidianas cenas de violência, sermos sinais de paz, de diálogo e entendimento. Anunciarmos um tempo de paz com atitude de não-violência, de defesa da justiça e da dignidade de cada criatura. A paz está intimamente ligada à justiça, por isso não podemos ser coniventes com estruturas de morte que invadem as vidas das pessoas, roubando-lhes sua dignidade.
Viver o Evangelho... Simplesmente viver...
Que São Francisco de Assis, o jovem de Assis que, em seu tempo, foi um sinal eloqüente do Projeto de Vida de Jesus Cristo, nos inspire a assumirmos audazes e corajosas opções em favor da vida.
Que não nos acomodemos na segurança das instituições e do capital, assumindo discursos que justifiquem tais posições, vivendo a hipocrisia da aparência e do farisaísmo tão atacada por Jesus nos Evangelhos.
Que sonhemos um sonho de paz, de harmonia, de consciência de nossa minoridade, mas da certeza que com Deus somos muito mais, se dermos as mãos e formarmos a grande fraternidade sonhada por Francisco.
Feliz dia de Nosso Pai São Francisco!
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