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quinta-feira, 21 de junho de 2012

"Entre vocês não seja assim"

Quem escapa da ânsia de sucesso e de influência, da disputa pelos primeiros lugares do desejo de reconhecimento e de aplausos? Associado a este sentimento está o sonho de subir, de estar acima dos outros. Ambição e eficiência são pré-requisitos óbvios para conseguir alguma coisa no estudo, no esporte, no trabalho e na vida cotidiana. Tudo depende da justa medida! Perdendo-se a medida surgem os problemas e a vida fica prejudicada.

Jesus mostra aos discípulos, onde estão as pedras de tropeço. Estando uma vez com os discípulos mais próximos, os doze apóstolos, observou neles este desejo tão humano de subir, de ter posição; então, ele deixou claro que esta vontade de alcançar os primeiros lugares, leva à arrogância e que o poder pode levar à corrupção e à dominação. "Entre vocês, não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos" (Mc 10, 43s).

Trata-se de uma inversão na escala de valores. O que é pequeno e insignificante deve ser considerado grande e o que é grande e valioso deve ser considerado pequeno e insignificante. Jesus fundamenta isto em sua própria missão. Ele, o Filho de Deus encarnado, não veio para ser servido, mas para servir (cf. Mc. 10,45). Deus pensa diferente dos seres humanos. Os pequenos estão no centro e os poderosos devem servir. A tarefa dos discípulos é concretizar no mundo esta divina e revolucionária conversão e para transforma-lo num mundo melhor.

Alguém realmente compreendeu esta lógica divina foi Francisco de Assis. Os leprosos lhe abriram os olhos. Quando ditou seu Testamento, pouco antes de sua morte, ele quis lembrar a todos os seus seguidores como tudo começou: mudando seu lugar social do centro rico de Assis para a periferia da cidade, vivendo aí nova vida ao lado dos pobres, no seguimento de Jesus de Nazaré. Aos irmãos que desejam partir em missão ele exorta: "Não litiguem nem porfiem, mas sejam submissos a toda criatura humana por causa de Deus e confessem que são cristãos. Quando virem que agrada a Deus, anunciem a Palavra de Deus..." (RnB, 16,5-6) Ele muda o conceito da missão: Missão como paciência e sensibilidade. Missão como serviço e não conquista, missão através do testemunho de vida.

Isto implica também numa forma diferente de compreender o envio da Igreja. Trata-se essencialmente de concretizar a mensagem libertadora de Jesus sobre o Reino de Deus, aqui e agora. Para isto Jesus convocou seu povo, sua Igreja como povo de Deus, como é apresentada na Constituição conciliar Lumen Gentium. Uma Igreja, na qual todos tenham a mesma dignidade porque todos participam no sacerdócio comum de Cristo. Uma Igreja, na qual todos os carismas e serviços têm lugar e onde "os grandes" são os servidores de todos, como Jesus o exige dos seus apóstolos.

Com certeza, na Igreja também existiu o desejo de poder. Muitas vezes, a missão se realizou com ajuda da espada, a arrogância de umas culturas e religiões triunfou sobre outras culturas e religiões. Mas também sempre houve mulheres e homens seguiram radicalmente a Jesus que, durante sua vida, serviram aos demais, tornando assim, visível o Deus que ama a humanidade.

É isso que homens e mulheres de hoje esperam. Como Cristãos somos enviados para este serviço ao mundo. Isto exige de nós tolerância e respeito frente a quem pensa e crê de modo diferente, exige buscar o diálogo de igual para igual. Exige a disposição de dar e receber. Conforme São Francisco, este relacionamento só é possível ao "submeter-se mutuamente", isto é, escutando e aprendendo dos demais. Francisco nos deu um exemplo que continua realmente ajudando hoje.


Andreas Müller OFM

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