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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A vida na pobreza mais radical


Francisco morreu em 1226 e foi canonizado em 1228. A ordem conheceu uma expansão extraordinária, mas também tensões internas muito graves. Boaventura de Bagnoregio, eleito ministro-geral em 1257, movido pela intenção de restituir a paz e de recompor os profundos dissídios por causa da interpretação a ser dada à mensagem e à Regra de Francisco – entre aqueles que queriam seguir a pobreza mais radical e seguir as palavras do santo ao pé da letra, e aqueles que queriam, ao invés, atenuar e interpretar ambas –, estabelece, no Capítulo Geral de Paris de 1266, que, daquele momento em diante, fosse reconhecida a aprovação da oficialidade e da credibilidade apenas à sua biografia [de Francisco], a "Leggenda Maggiore".

O artigo é de Chiara Frugoni, publicada no jornal La Stampa, 07-04-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Desapareciam assim todos os manuscritos que transmitiam as três biografias anteriores escritas pelo franciscano Tomás de Celano, que haviam sido comissionadas por um pontífice, Gregório IX, e por dois gerais da Ordem, João de Parma e Crescêncio de Iesi. Desapareciam as biografias não oficiais, escritas por companheiros descontentes com os retratos da santidade de Francisco, renovados juntamente com o sucesso da ordem, que Tomás de Celano havia descrito.

Refletindo-se sobre o fato de que todo convento franciscano possuía as biografias do fundador, não é possível não ser atingido pelas dimensões dessa destruição, feita com grande meticulosidade e atenção: por exemplo, a "Vita prima" de Tomás de Celano foi recuperada só em 1768, a "Vita seconda" e o "Trattato dei miracoli" (ambos do mesmo Tomás) voltaram à luz, respectivamente, em 1806 e 1899, em exemplares raríssimos ou únicos. Durante muitos séculos, Francisco foi o Francisco de Boaventura.

Mas deixemos as biografias de lado e voltemos a Francisco, à sua voz, a uma famosa e extremamente límpida página sua. Segundo Francisco, a felicidade perfeita não teria sido a entrada na ordem dos intelectuais mais prestigiosos e das pessoas mais em vista e famosas residentes no exterior o que teria marcado o sucesso extraordinário dos franciscanos, nem a conversão em massa dos infiéis realizada pelos frades, evento estrepitoso para uma Igreja sempre em armas que se esquecia da palavra evangélica desarmada, ou a capacidade de Francisco de fazer milagres ou de curar os enfermos, a alegria de ter sido reconhecido santo em vida, comparado aos apóstolos. A verdadeira felicidade, segundo Francisco, é bater na porta da Porciúncula – um dos lugares mais caros ao santo, onde quis morrer – em uma noite congelante, com frio e exausto, e ser mandado embora por um próprio companheiro seu, ele, o fundador, e ouvir dizerem-lhe: "Vai-te embora, tu és um simples e um idiota, aqui já não podes mais vir. Nós somos muitos e tantos que não temos necessidade de ti".

Suportar serenamente a rejeição da própria família espiritual é, para Francisco, alcançar a virtude mais difícil da felicidade perfeita. Conseguir renunciar a todas as gratificações mundanas que revelam mais e mais a sua inconsistência e vacuidade, suportar a mortificação profunda dos afetos, como Cristo, que perdoou o sono de seus companheiros no Monte das Oliveiras e a Pedro por ter lhe negado, é o caminho extremamente cansativo que Francisco ainda hoje indica para se conquistar a perfeita felicidade, para alcançar aquela misericórdia que, um dia, permitiu que o santo compreendesse, aceitasse e amasse até o leproso.

Em outras palavras, conquistar a perfeita felicidade é conseguir colocar em prática, ao pé da letra, a mensagem de amor do Evangelho.

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