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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O ensino de Jesus por meio de parábolas

"Jesus tinha uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus com as coisas mais simples da vida do povo. Isto supõe duas coisas que marcam a pedagogia de Jesus: estar bem por dentro das coisas da vida do povo, e estar bem por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus. Jesus sabia unir as duas coisas, porque ele vivia imerso em Deus e na realidade da vida do povo. Ele era de Deus no meio do povo, e era do povo na sua relação com Deus", escreve Gilvander Luís Moreira, frei e padre carmelita, mestre em Exegese Bíblica e assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina.
Eis o artigo.

No mês passado (julho/2012), foi editado pelo CEBI – Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – o livrinho O Bom Samaritano ontem e hoje: cuidar dos doentes, dos feridos e dos excluídos (Lucas 10,25-37), Ed. CEBI, São Leopoldo, RS, 2012, de autoria de Carlos Mesters e Gilvander Luís Moreira. Como introdução ao estudo e reflexão sobre a Parábola abordamos “O Ensino de Jesus por meio de parábolas”. É o que segue, abaixo.

Um aspecto importante do ensinamento de Jesus era o seu jeito bem popular de ensinar por meio de parábolas. Os quatro evangelhos conservaram muitas parábolas. Dezenas! Algumas, bem grandes, outras, bem pequenas, às vezes, de uma ou duas palavras. Geralmente, quando terminava de contar uma parábola, Jesus não explicava, mas costumava dizer: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” (Mt 11,15; 13,9.43; Mc 4,9.23; 7,16; Lc 8,8; 14,35) Ou seja: “É isso! Vocês ouviram. Agora, tratem de entender!”. O pessoal gostava desse jeito de ensinar, porque Jesus acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido das parábolas. De vez em quando, sozinho ou em casa, ele explicava as parábolas para os discípulos (Mc 4,10; 7,17-18).

Uma Parábola é uma comparação. Jesus compara as coisas de Deus, que não são tão evidentes, com as coisas da vida que o povo conhece e experimenta na sua luta diária pela sobrevivência. Por exemplo, o agricultor que escuta a parábola da semente, diz: “Semente, eu sei o que é! Mas Jesus diz que isso tem a ver com o Reino de Deus. O que será que ele quis dizer com isto?”. E aí você pode imaginar as longas conversas do povo em torno das parábolas que Jesus contava.

A parábola provoca e, às vezes, desconcerta. Em algumas parábolas acontecem coisas que não costumam acontecer na vida. Por exemplo, onde se viu um pastor de cem ovelhas abandonar noventa e nove no deserto para encontrar aquela única que se perdeu? (Lc 15,4) Onde se viu um pai acolher com festa o filho devasso, sem lhe dizer uma só palavra de repreensão? (Lc 15,20-24). Onde se viu um samaritano ser melhor que um levita e um sacerdote? (Lc 10,29-37). Jesus provoca os ouvintes a pensar! A parábola é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não dá tudo trocado em miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela leva a pessoa a refletir sobre sua própria experiência de vida e a descobrir nela a presença do Reino de Deus. Os doutores ensinavam que o Reino só viria como fruto da observância perfeita da lei de Deus. Jesus dizia o contrário: “O Reino de Deus já está chegando” (Mc 1,15). “O Reino já está no meio de vocês!” (Lc 17,21). Por meio das parábolas, Jesus ajudava o povo a descobrir a presença do Reino na vida. Esta era a novidade da Boa Nova trazida por Jesus, diferente do ensino dos doutores (Mc 1,22.27).

A parábola faz o povo enxergar melhor, faz da pessoa uma observadora crítica da realidade. Certa vez, um bispo perguntou na comunidade: “Jesus falou que devemos ser como sal. Para que serve o sal?”. Discutiram e, no fim, encontraram mais de dez finalidades para o sal! Aí foram aplicar tudo isto à vida da própria comunidade e descobriram que ser sal não é tão fácil. É difícil e exigente! A parábola funcionou. Ajudou-os a dar um passo. Iniciaram a travessia para um novo modo de viver e conviver.

Jesus tinha uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus com as coisas mais simples da vida do povo. Isto supõe duas coisas que marcam a pedagogia de Jesus: estar bem por dentro das coisas da vida do povo, e estar bem por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus. Jesus sabia unir as duas coisas, porque ele vivia imerso em Deus e na realidade da vida do povo. Ele era de Deus no meio do povo, e era do povo na sua relação com Deus.

Resumindo: uma parábola apresenta as seguintes características: a) Fala do cotidiano das pessoas. b) Retrata a realidade tal e qual. c) Emerge da realidade, mas não a reproduz, transforma-a. d) Fala de si mesmo e por si mesmo. e) Provoca e interpela. f) Convoca para pensar. g) Tem um quê de impensado, imprevisto e, às vezes, de escandaloso.

Realmente, o ensino de Jesus era diferente do ensino dos escribas. Era uma Boa Nova para os pobres, porque Jesus revelava um novo rosto de Deus, no qual o povo se re-conhecia e com o qual se alegrava. “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado!“ (Lc 10,21).

No Evangelho de Lucas, logo depois deste louvor de agradecimento ao Pai (Lc 10,21-24), que mostra o contraste entre entendidos e pequeninos, segue a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37).

Em tempo:


Dia 12 de agosto de 2012, 29 anos do martírio de Margarida Alves, mártir da luta pela Reforma Agrária e pelos Direitos das Mulheres camponesas

Nascida em Alagoa Grande, Paraíba (região Nordeste do Brasil), dia 05 de agosto de 1933, Margarida Maria Alves foi a primeira mulher a ocupar a Presidência de um Sindicato de Trabalhadores Rurais no Estado da Paraíba. Sempre muito atuante na luta pela reforma agrária, ela fundou ainda o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural em Alagoa Grande.

Em uma gestão que durou mais de 10 anos, Margarida Alves, como líder sindical e como boa samaritana, moveu mais de 70 ações trabalhistas contra usineiros e senhores de engenhos da região. Tanto incomodou que no dia 12 de agosto de 1983 foi morta a tiros por pistoleiros em sua própria casa.

O Assassinato de Margarida continua impune. Dos cinco acusados de serem mandantes do crime, ligados ao Grupo Várzea, apenas dois foram julgados e absolvidos: Antônio Carlos Coutinho e José Buarque de Gusmãos Neto, conhecido como Zito Buarque. Os outros mandantes: Agnaldo Veloso Borges já faleceu e os irmãos Amaro e Amauri José do Rego estão foragidos.

O assassinato de Margarida Alves permanece entre os grande crimes de repercussão nacional e internacional impunes no país, tendo sido encaminhado para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Do sangue de Margaridas Margaridas! Seu nome e seu testemunho deram origem à Marcha das Margaridas que já aconteceu várias vezes na última década. Reúne mulheres camponesas de todo o Brasil que marcham para Brasília para exigir os direitos das mulheres camponesas.

Justiça para Margarida! Viva Margarida Alves em todas as outras Margaridas de todos os cantos rurais do Brasil!



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