Este episódio nos ensina que, tanto na origem de sua vocação como na compreensão de missão, Francisco confia em sua intuição! A missão dos irmãos é proclamar a Boa Nova da paz, o que correspondia ao Reino de Deus. E ao mundo todo, em todas as direções. Ele pensou que seria necessária uma vocação especial. “O Senhor mesmo me revelou”. Ele procura a confirmação de sua convicção, mas não se amarra a costumes e normas eclesiásticas do seu tempo. Nós os irmãos e irmãs de hoje, temos dificuldade de confiar em nossas intuições: “O Senhor mesmo nos revelou”. Tudo é estabelecido. Para tudo existem regras claras – para a Pastoral, a Missão ad Gentes, o serviço social, a formação e a responsabilidade. A rede das normas e leis é tão apertada, que não sobra muito espaço para o Espírito Santo. E, na busca de caminhos seguros, preferimos “a instituição à intuição”! Como nos faria bem, maior coragem franciscana!
Por outro lado, não podemos olhar nossa missão com a simplicidade de Francisco. Vivemos num mundo bem mais complexo! É uma aldeia global, onde cada acontecimento pode ser visto e acompanhado em tempo real, em qualquer lugar! E isto muitas vezes nos amedronta e nos leva a nos fecharmos em nosso mundo particular. Mas seria muito importante que, em especial nos dias de hoje, partilhássemos nossas experiências com outros. Assim, chegaremos a uma ação global. De outra maneira, não é possível experimentar a mensagem libertadora do Reino de Deus. Não podemos permitir que nossos próprios problemas nos impeçam de ver e encarar os desafios globais.
O que é preciso, então, para nos encantarmos novamente por Francisco e Clara, por sua inocente abertura a Deus e por sua convicção: “o Senhor mesmo me revelou?” Isto poderá acontecer hoje e nos levar a respostas novas e decisões originais! Não se trata de imitar Francisco e Clara, e sim de reescrever a história. Se quisermos saber para que Deus nos envia hoje, estejamos, antes de tudo, atentos para reconhecer “os sinais dos tempos” e, como Francisco e Clara, demos resposta adequada a estes sinais!
Como Francisco descobriu a sua vocação no encontro com o leproso, acolhamos os marginalizados de hoje e releiamos o Evangelho na ótica dos pobres e excluídos. É isto o que significa reanimação da opção franciscana pelos pobres.
Como Francisco mudou sua visão do centro para a periferia da cidade de Assis, assim também nós devemos assumir a causa dos 2/3 excluídos do mundo e sermos seus portavozes na sociedade e na igreja. Isto será a redescoberta da nossa vocação profética.
Como Francisco que, no “Cântico das Criaturas” cantou a irmandade de todo ser criado e nos lembrou intensamente, que nós não somos os donos da criação mas criaturas, também nós devemos assumir a defesa da criação de Deus. Isto significa redescobrir a espiritualidade da criação. Sensível às necessidades do tempo (800 anos atrás), Francisco fundou um movimento que mudou a Igreja. 800 anos depois, sejamos também um movimento, que ajuda a Igreja a devolver ao mundo sofrido, a confiança num Deus que ama a humanidade.
Andreas Müller OFM
- Extraído de http://ex.ccfmc.net/www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2012/2012_06_News.shtml acesso em 06 set. 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário