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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Na Cozinha do Mosteiro: A MAGIA DE SANTA SARA

Na Cozinha do Mosteiro: A MAGIA DE SANTA SARA:

No acampamento cigano, as videntes anunciaram que no dia 13 de setembro daquele ano, ou seja, dentro de 3 meses nasceria, exatamente na hora cheia, o futuro Gagu (sacerdote) daquela tribo. Cheios de muita expectativa, todo o acampamento aguardou ansiosamente pelo dia anunciado e exatamente a meia noite, nasceu um bebê e cinco minutos depois nasceu outro. O primeiro, era o terceiro filho de um agricultor de girassóis e de uma não-cigana, uma das famílias mais pobres do acampamento e que sofriam rejeição de praticamente toda a tribo. O segundo, era o primogênito do rei da tribo e senhor daquele acampamento, que por sua vez reivindicava ao seu herdeiro à profecia anteriormente anunciada. Um clima de divisão se estabeleceu em toda a tribo, já que as videntes reunidas numa só voz atribuíam a primeira criança a dignidade de futuro Gagu, porém todos os demais, por razões evidentes, entendiam que o primogênito do rei seria o espírito escolhido, afinal as crianças haviam nascido numa diferença de somente cinco minutos.

Andalazon, então sacerdote da tribo, era um homem de muita idade, poder e sabedoria,   encerrando a discussão ao decretar que as duas crianças deveriam ser preservadas e cuidadas como seus possíveis sucessores e no tempo certo, santa Sara Kali iria diretamente dos céus, apontar quem de fato teria nascido com a dignidade de sacerdote da tribo. Os anos foram se passando e ambas as crianças eram tratadas e educadas com as honras de um verdadeiro Gagu e Andalazon acompanhava de perto a sua preparação e notava que as duas crianças tinham potenciais muito equilibrados para assumirem tão nobre função.

Quinze anos depois, Andalazon ficou gravemente doente e agonizando sobre os seus lençóis de seda, chamou ainda pela manhã os dois aprendizes, na ocasião dois jovens igualmente plenos em vitalidade e inteligência e ordenou que adentrassem sozinhos na mata fechada, cultuassem as salamandras de uma bela fogueira acesa na floresta e retornassem na manhã seguinte. Para se alimentarem, ambos deveriam solicitar aos seus pais um saco suficiente para carregar nada mais que alguns grãos e poucas frutas. Mesmo sem entender nada, os dois jovens seguiram a orientação de seu mestre. O filho da família pobre recebeu de seus pais um manto esburacado, que carregando algumas gramas de grãos e amarrado em suas pontas servia como bolsa. Já o herdeiro do rei cigano, saiu de sua casa com uma sacola de couro em perfeito estado, munido com frutos, grãos e alguns pedaços de carne passados no mel. Os jovens amarraram seus respectivos sacos na cintura e partiram em direção à floresta. Ao anoitecer, os dois jovens contemplavam a fogueira que haviam armado bem no meio da mata fechada e ao sacarem seus alimentos para o jantar, o rapaz pobre percebeu que já não tinha mais nenhum grão consigo, por causa de sua sacola que esburacada, havia desperdiçado todo o alimento durante a caminhada. Antes que o sol nascesse, os dois jovens se prepararam para retornar ao acampamento e se desesperaram ao perceberem que estavam perdidos e depois de tanto gritarem em vão por ajuda, o rapaz pobre fechou seus olhos e após uns instantes de oração tomou a dianteira e guiando a dupla achou o caminho de volta. Já no acampamento, diante de toda a tribo os jovens contaram ao seu mestre convalescido sobre experiência que tiveram quando se viram perdidos dentro da floresta. O velho Andalazon então perguntou ao rapaz pobre:

" - E qual a magia usastes para encontrar o caminho de volta?"

" - Nenhuma Gagu. Na verdade, enquanto gritávamos clamando por ajuda, no meu coração eu pedi a nossa amada santa Sara que viesse até nós e nos deixasse voltar para casa! De repente, olhei para o chão da floresta e reconheci os grãos que haviam escapado da minha sacola furada. Daí por diante foi só acompanhar a trilha que os grãos tinham deixado pelo caminho..." - Contou o rapaz.

" - Irmãos, reverenciem o seu mais novo Gagu, pois o verdadeiro talento para a magia, está em ouvir as respostas de Deus nos detalhes que para os homens comuns parecem insignificantes... Salve santa Sara Kali que atendeu ao nosso chamado..." -  E num suspiro, desenhando em seu rosto um último sorriso, Andalazon fechou os seus olhos e partiu para a eternidade.
PAX!
(by Simeon Lukas - dedicado 
à Carlos Amorim, eterno padrinho
e "Gagu dos Gagus")

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