CRÔNICAS DE MINHA ALMA: PAZ NA DOR, ALEGRIA DA PRESENÇA DIVINA...
A dor nunca foi bem aceita pela humanidade ou quem sabe, não foi ainda bem trabalhada pela grande maioria de nós; porque normalmente a dor é sinônimo de sofrimento e a nossa humanidade não aceita o sofrimento enquanto tal, pois está acostumada com o bem estar do prazer, uma vez que este traz certa satisfação instintiva que experimentamos na própria pele, isto é, fisicamente, emocionalmente, sentimentalmente e até espiritualmente; enquanto que dor e sofrimento são sinônimos de insatisfação ou incomodo, e as encaramos mais como uma espécie de punição ou castigo do que qualquer outra coisa que possamos imaginar.
De fato, ninguém neste mundo deixa de ter a experiência da dor e do sofrimento, isto porque a vida humana não consiste somente no bem estar, tão almejado por todos, mas nem sempre assimilado na mesma proporção; uma vez que a dor e o sofrimento, são causados por certas decisões que tomamos; e com isto, experimentamos as dores desta vida que poderão ser boas, quando as convertemos para um bem maior; ou péssimas, quando as tornamos tormentos torturantes e permanentes, que são as dores da alma, cicatrizes psíquicas difíceis de serem apagadas.
Pois bem, eis que estou no momento passando por dores físicas paralisantes devido a um acidente automobilístico que sofri, por conta da terrível imprudência de um motorista que invadiu a contra mão, fazendo um retorno proibido, levando-me a colidir de frente com a caminhonete que ele estava dirigindo. O motorista da caminhonete e sua acompanhante nada sofreram, graças a Deus; sofreram apenas danos materiais, nada que o seguro não repare. Quanto à mim, fui hospitalizado com fortes dores no peito, na coluna cervical e nas costelas devido à forte batida, pois que acionei os freios, mas não foi suficiente para evitar a colisão.
Não sei qual experiência fez o motorista que causou o acidente; mas, de minha parte tive uma profunda experiência da presença divina que me fez viver aquele momento como um momento sublime de fé, como algo único, de tal forma que estou extasiado até agora, com a confiança inabalável que me foi dada naquele instante e que me fez sentir o quanto Deus me ama e que Ele está no comando de todas as coisas, e que vela pelo caminho de seus filhos e filhas. (cf. Sl 1,6).
Descreverei agora a sensação que tive no momento da colisão. A princípio senti uma profunda paz e a presença de Deus me protegendo de tal forma que não senti medo algum; pelo contrário, senti uma alegria muito grande, incomum e diferente de todas as alegrias que já havia sentido, pois era como se eu estivesse no céu, por isso, não queria sair mais dali, fiquei em silêncio com os olhos fechados e com uma sensação maravilhosa de aconchego e proteção, algo indescritível, somente experimentado por quem faz pela experiência da morte conforme a vontade de Deus. Vivendo o que vivi, entendi na prática a passagem bíblica do Evangelho de São João onde Jesus nos revela como será nossa páscoa: “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais.” (Jo 14,1-3). Assim, pude entender como a morte foi vencida por Cristo nosso Senhor, e como é maravilhosa a nossa partida para os braços de Deus, nosso Pai Eterno, ou seja, sem dor ou sofrimento algum, mas serena, cheia de paz e alegria, próprias dos que foram redimidos.
Sem dúvida alguma, a nossa fé católica é maravilhosamente prática, pois experimentamos imediatamente os efeitos dela naquilo que estamos vivendo como vontade de Deus em nossa vida. É justamente o que nos ensina São Paulo na carta aos Romanos: “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios.” (Rm 8,28). São Tiago também nos ensina que precisamos viver tudo o que vivemos como uma experiência de fé para a nossa santificação, por isso, escreveu: “Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma.” (Tg 1,3-4).
Portanto, agradeço ao Senhor pelo que vivi e quero avivar ainda mais minha fé e meu amor ao Senhor, me consagrando mais do que já sou consagrado a Ele, que me deu a vida e a está conduzindo, segundo o seus desígnios, para a terra prometida onde os seus filhos e filhas, gozarão a felicidade eterna que lhes está reservada como herança santa. Por isso, convido a todos os batizados que não vivem a fé e aos não batizados, ao arrependimento e à confissão sacramental de seus pecados, a fim receberem o perdão e absolvição dos mesmos e poderem viver sob a chama ardente da misericórdia de nosso divino Salvador e Redentor, Jesus Cristo. Peço ainda a intercessão, da Virgem santíssima, mãe de Jesus e nossa mãe, para que nos acompanhe sempre nessa nossa caminhada decisiva até o Reino dos Céus, onde Cristo está sentado à direita de Deus Pai com o Espírito Santo, e de onde há de vir em sua glória para julgar os vivos e o Seu não terá fim. Amém! Vem, Senhor Jesus, vem!
Paz e Bem!
Frei Fernando,OFMConv.
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