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terça-feira, 22 de outubro de 2013

A OBRA ANTONIANA (2ª Parte)


Santo Antônio prega aos peixes, mais sensíveis que os heréticos, escola de Girolamo Tessari, 1518

                      Santo Antônio prega aos peixes, mais sensíveis que os heréticos. 
                                         Escola de Girolamo Tessari, 1518

Esta obra tem como alicerce, assim como praticamente toda a produção de Antônio, a Bíblia que, para ele, era a produtora da “verdadeira ciência”, que é comentada nos sermões tendo como ferramenta principal os escritos dos Santos Padres. Além de ser a base para a construção do discurso de Antônio, as Sagradas Escrituras foram a fonte de inspiração do teólogo para a criação de alegorias que elucidaram a necessidade da prática das virtudes que se constituíam, para ele, de suma importância para o fortalecimento da Igreja e da salvação.
Com a incidência e a maneira que o frade utiliza as passagens bíblicas, ao vermos a estrutura dos Sermões concordamos com Zavalloni,[1] quando afirma que a linguagem acentuadamente bíblica de Antônio, obedecia a recomendação de Francisco da necessidade de manter-se vivo nos discípulos o espírito de oração e de devoção.
O sermão, nos tempos de Antônio, é um gênero literário bastante usado. Inclui-se neste gênero o castigatio clericorum que reflete as severas proibições dirigidas ao clero, e que são muito freqüentes na obra de Antônio. No sermão escrito, a castigatio tinha como fim pastoral tanto a formação do clero, para que os estudantes escapassem dos vícios, como à correção dos clérigos em idade madura, já que os Sermões, ao ser material de estudo, podiam passar pelas mãos de qualquer categoria de clérigos, desde os de funções mais humildes até os de grande responsabilidade, ou seja, os prelados.[2]
Dentro do aspecto literário dos Sermões, temos ainda as exposições doutrinais, o modo de se expressar de Antônio, os comentários escriturais, as anedotas, as orações conclusivas, o discurso direto com o leitor, as fórmulas introdutórias e a língua latina.[3]
O próprio frade demonstra ser um grande conhecedor do aspecto literário do Sermão, quando desaprova a conduta dos melindrosos, que mesmo lendo muito, jamais chegam à verdadeira ciência. Antônio diz que: “retira de um livro o que lhe faz falta e coloca-o na colméia de tua memória”[4].
Em seus Sermões Antônio fala da fé e dos bons costumes. O frade ensina a pastoral aos pregadores: como devem ensinar aos fiéis a doutrina do evangelho, como devem administrar os sacramentos, sobre tudo a penitência e a eucaristia. Ao fazer isto, recorre a ordem, a persuasão, ao ensinamento e também a uma forte repreensão. Com freqüência uniu o ensino a repreensão. Primeiro ensina quais devem ser os costumes dos sacerdotes e dos prelados, por tanto expõe quais são estes na realidade e depois questiona àqueles que mesmo conhecedores dos erros cometidos continuam a praticar tais mazelas. Desta forma, sempre depois da exposição dos deveres, segue a desaprovação dos vícios. Não podemos precisar se Antônio se referia a fatos ou a pessoas isoladas, porém, o que podemos constatar é que suas palavras são severas e precisas.
Em muitas oportunidades, Antônio se dirige diretamente aos leitores e ouvintes, tentando persuadi-los, uma vez que esta obra é oferecida aos pregadores. Um bom exemplo está no primeiro Sermão do segundo Domingo da Quaresma, em sua segunda parte do número cinco “Aqui a escada está posta. Então, por que não sobem? Por que continuam?...”.
Com certa freqüência Antônio trata de assuntos relacionados à sociedade civil e à eclesiástica. Na sociedade civil existe uma distinção veemente das diferentes classes de pessoas: estão o imperador, o rei, os militares, os burgueses ou cidadãos; estão os maiores e os menores, os ricos poderosos e os pobres; estão os mercadores, legistas ou decretistas.
Santo Antônio, Ambrose Benson, catedral de Segovia

Na Igreja aparecem os prelados e seus súditos, ou seja, os bispos e seus fiéis; os justos, ou seja, os fiéis praticantes, os hereges e os cismáticos; os falsos cristãos e os simoníacos. Junto aos fiéis se encontram depois os sarracenos e os judeus. Os fiéis eram segundo sua forma de vida: eremitas, monásticos, penitentes; ou: clérigos, religiosos e seculares. Os fiéis, enquanto penitentes, ou seja, seculares e em razão da vida que praticavam eram: contemplativos, pregadores ou de vida ativa.
O franciscano formula juízos sobre estas duas sociedades, a civil e a eclesiástica, porém sempre em relação com os costumes, e seu juízo sobre a situação do seu tempo é de severa condenação: “os costumes são depravados!,”[5] tanto entre os maiores como entre os menores, na sociedade civil, tanto entre os clérigos como entre os laicos, na Igreja; tanto entre os clérigos como entre os religiosos, em suma em toda a sociedade eclesiástica.




[1] ZAVALLONI, Roberto. Op. cit.
[2] MARQUES, Bernardino Fernando da Costa. O Prólogo aos Sermões Dominicais de Santo Antônio de Lisboa. In: AAVV. Congresso Internacional Pensamento e testemunho. Atas.... Braga: UCP/FFP, 1996. P. 477-484
[3] Idem.
[4] MACEDO, Jorge Borges de. Os Sermões de Santo Antônio. Porto: Lello & Irmão, 1983.
[5]  Idem.

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