O QUE É O INFERNO? O INFERNO EXISTE?
Para responder a estas perguntas temos que perguntar antes, o que é o pecado? Quais as suas consequências para aqueles que se deixam dominar por ele? (cf. Jo 8,34; Rm 6,23a). Em verdade, o pecado é a total rejeição ao amor de Deus, ele surge da livre e soberana decisão do ser humano (cf. Tg 1,12-16). Por isso, o seu resultado é a morte e a perdição eterna (cf. Ap 22,8). Mas, para entender isto, façamos a seguinte meditação: Deus tudo criou como expressão de Seu amor. Por isso, tudo nos revela esse seu infinito amor. Desse modo, só pode ser feliz quem ama de verdade, porque o amor é o fundamento que gera a vida e a mantém. Não podemos simplesmente conceituar o amor pondo-o numa redoma de palavras, porque o amor não é um simples conceito ou apenas um sentimento, mais do que isto, o amor é um atributo divino que nos leva à perfeição eterna. Ele é profunda afeição do Espírito Santo em nossas almas, e santifica todo o nosso ser. Em suma, o amor é a essência da vida e da salvação. Nenhum ser humano pode dizer que ama seu semelhante ou as demais criaturas se não ama a Deus acima de todas as coisas, porque Deus é amor e o único autor e Senhor de toda a criação. Logo, não amar a Deus e não amar seus filhos e filhas e suas criaturas; resulta no desligamento Dele, tendo como consequência a autodestruição, porque tudo o que não permanece em Deus, se destrói por si mesmo.
Ora, jamais pensaria ou falaria no inferno se ele não estivesse já presente aqui neste mundo. Pois, muitos o cultivam por seus pecados, por isso, o experimentam por meio de todo tipo de malícia, perversão, violência, dependência química, opressão, depressão e outras doenças psicossomáticas que têm causado tantos danos e a morte de incontáveis pessoas. Com efeito, assim nos alertou São Paulo: “Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um período difícil. Os homens se tornarão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão a realidade” (2Tm 3,1-5a). E ainda: “São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem”. (Rom 1,31-32).
De fato, analisando atentamente esse nosso mundo, constatamos que existem dois tipos de infernos, o temporal e o escatológico; um resulta no outro, e os dois se entrelaçam. O primeiro se revela pelo sofrimento advindo dos pecados cometidos; o segundo é a extensão eterna do primeiro. Pois o tempo está para eternidade; assim como o corpo está para a alma. Ora, toda causa gera um efeito; se a causa é boa, o efeito também é; se a causa é má, o efeito é igualmente mau. É claro, vivemos no tempo, mas se só existisse o tempo, diríamos que tudo é temporal e se resume somente ao que vivemos no tempo, e com o tempo tudo se acaba. Mas não é isto que experimentamos em nossas almas, visto que elas são atemporais e imateriais. Pois, uma vez ocorrida a morte natural, do corpo só resta o pó para o pó de onde veio; todavia, o que é atemporal e imaterial não se torna pó; mas, porque eterna permanece o que é, como nos ensina o Senhor em Sua Palavra (cf. Gn 1, 26-27; 3,19; Mt 10,28). Assim podemos afirmar: o que vivemos no tempo, para a eternidade é que vivemos, pois tudo o que pensamos, falamos e fazemos ficam gravados em nossas almas (cf. Sb 1); e como um filme, no dia eterno, tudo passará diante de nós e de nosso Criador no juízo pessoal e final (cf. Hb 9,27; Mt 25,31-46).
Com efeito, a evangelização não consiste na pregação sobre o inferno ou sobre a condenação a ele; mas sim no anúncio da salvação realizada por Jesus Cristo, o Filho de Deus (cf. Mt 28,19-20; Rm 8,1-4). É como o Senhor mesmo disse: "Há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." (Lc 15,7). Todavia, não podemos nos esquivar desse assunto doloroso, mas sim alertar os homens para que não caiam na terrível condição eterna em que são precipitadas as almas condenadas (cf. Jo 3,16-21; Lc 16,19-31). Pois o inferno é uma realidade que infelizmente já se faz presente neste mundo. E todos aqueles que o cultivam por suas maldades já o experimentam interiormente aqui mesmo, porém, não sem a chance de se arrependerem. (cf. 1Cor 6,9-12; Mc 1,15;3,17).
Por fim, deixo este relato de São João, que nos faz exultar de alegria, mas ao mesmo tempo nos faz tremer e temer por causa dos acontecimentos que virão:
“Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição. Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Novamente me disse: Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim. A quem tem sede eu darei gratuitamente de beber da fonte da água viva. O vencedor herdará tudo isso; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte”. (Ap 21,1-8).
“Eis que venho em breve! Felizes aqueles que põem em prática as palavras da profecia deste livro. Disse ele ainda: Não seles o texto profético deste livro, porque o momento está próximo. O injusto faça ainda injustiças, o impuro pratique impurezas. Mas o justo faça a justiça e o santo santifique-se ainda mais. Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim”. (Ap 22,7.10-13).
“Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter direito à árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas. Fora os cães, os envenenadores, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos aqueles que amam e praticam a mentira!” (Ap 22,14-15).
“Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos atestar estas coisas a respeito das igrejas. Eu sou a raiz e o descendente de Davi, a estrela radiosa da manhã. Aquele que atesta estas coisas diz: Sim! Eu venho depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos”. (Ap 22,16.20-21).
Paz e Bem!
Frei Fernando Maria,OFMConv.
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