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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A OBRA ANTONIANA (3ª Parte)


Seu modo de escrever os Sermões nada tem a ver com os escritos deixados pelo fundador da Ordem dos Frades Menores e nem com os relatos deixados por aqueles que acompanharam o nascer do ideal de vida franciscano. Quem buscar ali a ingênua expressão franciscana das origens ficaria desiludido e irritado. Contudo, a natureza franciscana está presente, traduzida em termos bíblico-patrísticos, em um latim matizado e refinado, em uma expressão lacônica, passional e de muita imaginação.[1]
Palpita dentro dos Sermões uma grande paixão pela penitência, quer dizer, a conversão, para a existência evangélica, de uma vida vã e maléfica. Descobrimos a predileção pelos humildes, os pobres, os simples, os marginais, pela salvação daqueles a que o frade português se entregou completamente. Está presente o ardor pela incessante e radical reforma da Igreja e de seus pastores, expressada em uma linguagem veemente, indignado, às vezes candente, outras desolado. Dentro da obra encontra-se também um sentimento de ternura a Jesus menino e crucificado. No artigo Cristocentrismo no pensamento Antoniano o historiador português João Mário Soalheiro Costa[2] afirma que “Cristo afigura-se, com efeito, como horizonte de compreensão e chave hermenêutica do discurso antoniano. Certamente que não é a única perspectiva de análise, mas é indelevelmente a que marca a inteligibilidade dos Sermões.”
Observamos ali o desejo da perfeição cristã, da separação das velhas e falsas realidades terrenas, do amor pela Virgem da pobreza, a nostalgia pelo céu. A forma resulta então em ampla divida da tradição cultural da Igreja, enquanto os conteúdos estão vitalmente impregnados de sensibilidade franciscana, aquela primavera espiritual da qual Antônio foi um dos maiores protagonistas.
Porém ao nos debruçarmos nos relatos sobre o movimento franciscano do primeiro século e ao lermos os Sermões podemos observar que graças à difusão dos estudos sagrados, implementou-se uma profunda transformação nos menores, com conseqüências imprevisíveis e também revolucionárias para a completa fraternidade e para o ideal originário do movimento seráfico.[3] De uma corrente espontânea caracterizada por uma absoluta sensibilidade e pobreza, os menores se converteram, com o passar dos anos, mantendo a preocupação de não renegar as pegadas primitivas impressas por Francisco, numa corporação de doutos, uma expressão entre as mais importantes da “inteligência” do medievo ocidental. Nesta transformação, através de nossa análise podemos constatar que, Antônio foi o pioneiro, contribuindo com toda a riqueza da sua formação monástica agostiniana e com a preocupação na preparação intelectual dos membros do que mais tarde ficará conhecido pelos teóricos como “Escola Franciscana.”


[1] CAEIRO, F. da Gama. Santo Antônio de Lisboa. Introdução a Obra Antoniana, Lisboa: Casa da Moeda, 1968.
[2] COSTA, João Mário Soalheiro. Cristocentrismo no pensamento antoniano. In:___. Congresso Internacional Pensamento e Testemunho: 8º Centenário do Nascimento de Santo Antônio. Atas... Braga: Universidade Católica Portuguesa, 1996.


[3] http/www.mwnsageirosdesantoantonio.com.it.

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