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sábado, 5 de abril de 2008

Quando os homens não entendem

QUANDO OS HOMENS NÃO ENTENDEM

(Evangelho de São João 6,52-59).

Somos contingentes, isto é, limitados vivendo num mundo que para nós tem limites, mas não atingimos a essência das coisas em si mesmas e por nós mesmos; e quando isso acontece ou procuramos uma resposta mágica ou descartamos o que não cabe no nosso entendimento. Com isso, muitas vezes nos tornamos céticos e menosprezamos o essencial objeto da fé.

Dessa forma quando Cristo diz com o pão sagrado: “Isto é o meu corpo”, não depende do nosso crer para ser sua presença eucarística; só dependo do nosso crer os efeitos desse alimento eterno que nos faz permanecer em Cristo para que tenhamos a vida.

Só entendemos a Deus quando falamos a sua linguagem expressa no cumprimento dos seus mandamentos. Viver o eterno no tempo é gozar da intimidade de Jesus que é o Pão da Vida que alimenta os que caminham para o seu reino de glória e salvação, os quais permanecem nele pela fé, com escreve São João: “Quem diz que crê em Cristo deve viver como ele viveu” (1Jo. 2,6).

Portanto, “... o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus: pois para ele são loucuras (‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna...’). Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar (ajuizar)”. Creio sim Senhor, que eu seja sempre teu!!!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Existem católicos e católicos

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por Gabriel Perissé
01-Abr-2008
Divulgou-se recentemente o atual número de católicos no mundo: algo em torno de 1,13 bilhão, o que corresponde a cerca de 17% da população mundial. Sabemos, contudo, que há católicos e católicos. Arrisco a classificação de pelo menos quatro tipos.

Primeiramente, o famoso católico não-praticante. Milhões de pessoas batizadas, sem grande contato com a religião. Não têm vida sacramental estável, não são contra nem a favor das regras do jogo, porque as desconhecem. Católicos para quem as epístolas foram as irmãs dos apóstolos... Não-praticante do catolicismo, este católico pratica um pouco de tudo, e vai levando. Sua vulnerabilidade espiritual pode levá-lo a aderir a qualquer coisa, até mesmo a movimentos católicos...

Temos o não-católico praticante. Aquele que pratica a caridade sem saber que é virtude teologal. Que acredita em Deus sem saber que no Deus Uno e Trino acredita. Atira onde não vê e acerta onde não espera: tem na esperança outra virtude oculta. O não-católico pode seguir outras religiões, pode considerar-se adversário do catolicismo. Talvez seja até melhor, para ele, não saber que é canonizável. Está a salvo da vaidade de querer ser santo. A prática longe da instituição, longe da Igreja, mas perto de Deus.

O praticante não-católico é uma aberração interessante. Missa diária, terço diário, confissão semanal, mortificação, Bíblia, conhecimentos teológicos, apologética, liturgia, proselitismo, mas esquecimento do essencial. É capaz de humilhar o irmão, achando que recebeu do Pai autorização para tanto. Beija a mão do papa... e depois abraça o demônio. Despreza o não-praticante, o agnóstico, e fica imaginando como pode Deus ser tão descuidado, deixando hereges e ateus soltos por aí.

E há o católico por um triz, desconfiado de sua própria catolicidade. Pratica o que manda a consciência, mantendo um olho no padre e outro na missa. Procura ser menos papa do que o Papa. Basta um. Quer separar o joio do trigo, mesmo que digam ser tudo trigo. Quer descobrir o trigo no meio do joio, mesmo que digam ser tudo joio. Os sacramentos o alimentam, mas está sempre com fome. Reza sabendo que Deus sabe mais.

Não sei como o Vaticano vai lidar com esses e outros tipos de católicos. Os números escondem a realidade. Cristo disse: "Sou o caminho". Mas não se tratava de uma rodovia. O caminho no meio do deserto não tem muretas nem semáforos.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor Web Site: http://www.perisse.com.br
Extraído de
http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1626/53/ acesso em 01 abr. 2008.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A Páscoa nos faz pensar

Desde criança, quando reflito as questões da minha fé, venho me perguntando por que mesmo mataram Jesus? Porque o mataram se Ele é o Cristo, filho de Deus, o Messias que veio nos trazer a salvação? Mas andando nas procissões com o povo que vive, reza e canta sua fé, guardei em perpétua memória o refrão de um hino da semana santa, que diz assim: "Eles queriam um grande rei que fosse forte dominador e por isso não creram Nele e mataram o Salvador". A maioria do povo de Israel, no tempo de Jesus, talvez induzida por suas autoridades, queria mesmo um grande rei com pleno poder para derrubar do trono seus inimigos e governar soberanamente.

Dominados pelo poder dos romanos, os judeus da época, sonhavam com um rei dominador que também pudesse dominar o resto do mundo. Não pensaram que, aderindo ao projeto de Jesus de Nazaré, eles poderiam se libertar do jugo imperialista romano e construir um caminho de justiça e liberdade para todos os povos e nações. Não acolheram o Salvador da humanidade porque simplesmente queriam um rei que os governasse. Judas Iscariotes, o traidor que se sentiu traído, estava crente que Jesus de Nazaré iria fazer aquilo que ele, Judas, tanto queria, que era tomar o poder dos romanos. Judas seguiu a Jesus pensando que Ele iria fazer a sua vontade, realizar o seu projeto, mas foi bem diferente. E quando Judas não via mais em Jesus uma alternativa para seu plano, ele tratou de entregá-lo às autoridades para que o condenasse a morte. Aprisionado em seu projeto pessoal e incapaz de perceber a dinâmica do Reino de Deus, Judas Iscariotes e muitos outros do seu povo perderam a oportunidade de servir a Deus.

Mesmo no horizonte da ressurreição, a morte é sempre uma dor. E por isso, não creio que Deus Pai quisesse a morte de seu Filho, Jesus de Nazaré, mesmo certo de que Ele iria ressuscitar. Mas, o que causou a morte de Cristo foi a incapacidade do mundo de então compreender e acolher a graça de Deus. E o Cristo filho de Deus morreu na cruz porque foi além dos interesses humanos. Ele se manteve fiel ao projeto de libertação dos pobres e de todos os povos, de toda a humanidade. Jesus contrariou interesses de poder, e nisso Ele foi até as últimas conseqüências, ao ponto de ser condenado a morte de cruz. Analisando os fatos relatados nos Evangelhos, percebemos que Jesus desafiou todos os lados de interesse, mostrando que a lógica do Reino de Deus é diferente de muitas lógicas do mundo. Deus quer a paz, a justiça, o perdão, o amor e a fraternidade. De tudo o que Jesus propõe, nos parece que a novidade rejeitada por uma parte do seu povo naquela época e por muita gente de hoje, é o amor aos inimigos.

Jesus contrariou as autoridades numa dimensão religiosa, mas isso também tinha um desdobramento político, ético e social. Ele não queria uma religião de aparências e de exclusão, mas de simplicidade e compromisso com a vida, com a justiça e a verdade e que levasse a uma convivência de paz, de acolhimento e respeito às diferenças. Cristo anunciou o Reino de Deus. Talvez se tivesse anunciado um reino qualquer, inventado por ele mesmo, que fosse diferente do plano de Deus, poderia ter sido aceito pela maioria dos seus conterrâneos. Jesus poderia se tornar o imperador de Israel, mas os pobres de seu povo e de todo o mundo continuariam sem esperança, a humanidade continuaria sem conhecer a salvação, sem ver o testemunho da bondade e do pleno e sublime amor de Deus. Jesus rejeitou o poder e contrariou interesses de poder para manifestar um outro poder, o que serve e liberta o ser humano.

Frei Pilato Pereira

domingo, 23 de março de 2008

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Natal


"Deus tornando-se criança pequenina,
dependeu de peitos humanos."

Francisco de Assis, 1181-1226
(2Cel 199,1)

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A compaixão e a felicidade humana

Deu na Adital:
Jung Mo Sung *
Adital -
Na nossa vida sempre encontramos ou cruzamos com pessoas que estão sofrendo por algum motivo. Nestes momentos todos nós somos, de um modo ou outro, tocados pelo sofrimento alheio. Isto se chama compaixão.
[...]
Eu não quero discutir aqui se a expressão "energias negativas" é a melhor para expressar o ambiente como aquele, mas o que eu posso dizer com certeza é que esta pessoa foi tocada pelo sofrimento daquelas pessoas pobres, algumas com crianças pequenas. O fato de ela sentir esta "energia negativa" até mesmo quando estava no conforto e segurança da sua casa (que devia ser muito boa) mostra que ela costumava ser tocada com certa profundidade e não sabia bem como lidar com isto. Mesmo as pessoas mais insensíveis são tocadas pelos sofrimentos de outras pessoas. Uma comprovação disso é que elas reagem de alguma forma a este tipo de contato, mesmo que seja apenas para virar a cabeça. Este virar a cabeça para não ver o rosto de uma pessoa que sofre mostra que foi tocada. Ninguém é completamente insensível ao sofrimento de outras pessoas.
[...]
A diferença entre as pessoas se dá na reação a esta experiência de compaixão. A dor e o sofrimento da outra pessoa me lembra os meus medos, inseguranças e sofrimentos que eu não quero me lembrar. Com isso, eu posso me fechar para a dor do outro para reprimir a minha dor e esquecer dos meus medos e inseguranças; ou então me permitir sentir a compaixão e assim tomar contato com as minhas dores, os meus sofrimentos e medos. É preciso muita força espiritual e também coragem para enfrentar as minhas dores mais fundas. Permanecer na compaixão não revela fraqueza ou de "pieguice" de uma pessoa, pelo contrário, é sinal da sua força emocional e espiritual.
[...]
É por isso que pessoas como Dalai Lama dizem que a felicidade depende da compaixão, e que para desenvolver o sentimento de compaixão precisamos cultivar qualidades como "amor, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, humildade e outras" e também "o hábito de uma disciplina interior".
[...]
Compaixão e amor encarnado em ações concretas - que buscam superar situações de opressão, dominação, marginalização, exploração ou exclusão que geram sofrimentos de tanta gente - são elementos fundamentais tanto para uma vida pessoal quanto para uma sociedade mais humana. Não se pode ser feliz sendo insensível a tanto sofrimento e dor.
[...]
Compaixão, responsabilidade e solidariedade são valores fundamentais para salvarmos o mundo e as nossas vidas do cinismo, da indiferença e da desumanização.
[...]
Elie Wiesel nos oferece uma pérola do pensamento talmúdico sobre isto: "A caridade salva da morte. [...] O que é a caridade? Os vivos devem se preocupar com a tristeza ou doença do próximo. Quem não se preocupa não é realmente sensível; quem não é sensível não está realmente vivo. E este é o significado do apelo do shammash: a caridade nos livra de morrer em vida".

[Autor de, entre outros, "Um caminho espiritual para felicidade"].

* Professor de pós-grad. em Ciências da Religião da Univ. Metodista de S. Paulo e autor de Sementes de esperança: a fé em um mundo em crise
Leia na íntegra em
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=30816

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Resgatar a Ecologia de São Francisco

Neste tempo de crise ecológica e de muitas preocupações e dúvidas sobre o futuro da vida no Planeta Terra, precisamos, com urgência, resgatar a Ecologia de Francisco de Assis. Não é por nada que São Francisco é o Padroeiro da Ecologia. Antes que a palavra ecologia fosse dita, Francisco já era um verdadeiro ecologista no seu modo de viver e se relacionar com a natureza. Ele era ecologista nas coisas simples como, por exemplo, recolher do caminho os vermezinhos para que não fossem pisados e alimentar as abelhas com mel e vinho para que elas pudessem sobreviver ao inverno. São atitudes simples, que até podem ser vistas com ironia por alguns, mas só é capaz de cuidar da vida e ajudar a proteger o planeta quem tem a sensibilidade de cuidar das menores e mais “insignificantes” criaturas. O apóstolo da Ecologia, Francisco de Assis, “chamava com o nome de irmão todos os animais”. E o seu carinho pelas criaturas era sempre retribuído. As criaturas eram amáveis com ele, como diz na Biografia Segunda de Celano, onde também encontramos sete capítulos que mostram a relação fraterna de Francisco com a natureza.

Entre tantos elementos nos escritos franciscanos sobre ecologia, o que mais nos chama a atenção é o famoso “Cântico do Irmão Sol”, também conhecido como “Louvores das Criaturas”. A primeira impressão que temos é que Francisco louva o Criador com as criaturas, como se ele convidasse as criaturas, suas irmãs todas, a louvar com ele ao Deus Criador. Parece que ele está em plena comunhão com a natureza e com todas as formas de vida. Mas há uma diferença entre nós cantarmos este Cântico hoje e o que o mesmo significou para Francisco naquele momento de sua vida.

Podemos cantar o Cântico do Irmão Sol olhando o sol, a lua e as estrelas que brilham no céu, sentindo o soprar do vento, o perfume das flores e respirando o ar. Podemos cantar sentindo e olhando a beleza, a profundidade e a pureza da água, o vigor do fogo e a vitalidade da mãe e irmã Terra, que nos sustenta com seus frutos, flores e ervas. Francisco, porém, já não via mais nada, naquele momento estava cego, doente, quase morrendo, suportando uma terrível dor. Mas tudo o que cantou em seu Cântico já estava em seu coração. A imagem da integridade das criaturas expressa no Cântico do Irmão Sol já estava no mais profundo de sua alma. Não era apenas o que ele via, mas o que ele aprendeu a viver ao longo da vida e agora vivia em plenitude.

Ao cantar louvores ao Deus Criador, nessa forma, com seu Cântico, de mãos dadas com todas as criaturas, em plena sintonia com a vida, Francisco era um ser reintegrado ao cosmo. E isso expressa sua prática ecológica, uma caminhada progressiva na relação amorosa com as criaturas de Deus. Este Cântico é a expressão de um caminho espiritual-ecológico desde a sua conversão, que culmina numa atmosfera de fraternidade cósmica. O Cântico do Irmão Sol é a alma de São Francisco, que percorreu um caminho de conversão no relacionamento, não somente físico e biológico, mas também espiritual com as criaturas.
Tomar o Cântico do Irmão Sol pode ser uma forma de apreciar sua poesia, mas é também contemplar a alma de Francisco. Este Cântico é sua alma viva em plena sintonia com todas as formas de vida. Ele já não vê apenas um sentido utilitário, mas vê nas criaturas o valor em si de cada uma. Sua visão evoluiu e ele se sente irmão de todas as criaturas. A mãe Terra é para Francisco a irmã Terra, ou seja, ele se sente responsável em cuidar do planeta que sustenta a vida. E isto deve ser aplicado na nossa ecologia. Precisamos resgatar a Ecologia de Francisco e mudarmos o nosso modo de nos relacionarmos com a vida. É preciso saber cuidar da vida nas pequenas coisas, dialogar e aprender com a natureza, respeitando sua alteridade. Temos um caminho espiritual-ecológico a percorrer, um caminho de constante conversão e de reconciliação com a natureza, com todas as formas de vida.

Frei Pilato Pereira
Capuchinho, de Bagé-RS

pilato@capuchinhosrs.org.br
www.capuchinhosrs.org.br/pilato

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