A proclamação da morte de Deus e das religiões retorna de tempos em tempos. Como também retorna de tempos em tempos a afirmação de que as crenças são perigosas, tanto para o equilíbrio pessoal, quanto para o equilíbrio social.
No contexto do Brasil vários episódios ocorridos ultimamente serviram de pretexto para, em outras palavras, serem ressuscitados fantasmas antigos. Confundem-se eventuais declarações ou ações infelizes de algum personagem ligado à alguma religião para tirar conclusões de cunho abrangente, quando não totalizante. E na esteira desses episiódios se aproveita para proclamar que "a Igreja está perdendo" espaço.
Ao lado disso, porém, é preciso ser cego para não perceber que existe outra leitura não só legítima, como imposta pela verdade dos fatos. Em primeiro lugar, em que pese o fanatismo injustificável de alguns grupos religiosos, é preciso não esquecer que eles representam uma parcela mínima de uma multidão incalculável de pessoas que crêem e guiam suas vidas por suas crenças. No caso do Brasil, por exemplo, sem o cristianismo nós nos sentimos incompreensíveis para nós mesmos: seríamos um povo que perdeu suas raízes mais profundas.
Há outro fato ainda que não pode passar desapercebido para quem está atento a uma série de publicações recentes que tanto ressaltam o fenômeno religioso, quanto a força salutar do que denominamos de oração. Essa força é antes de tudo representada pela grande aceitação de uma série de livros que de uma forma ou de outra carregam consigo as marcas de uma espiritualidade de cunho oriental. Não menor aceitação têm livros que levam títulos como "A caminho", "Experiência transformadora da meditação"; "Caminhos para a paz interior"; "Entre meditação e psicoterapia".
Especial atenção chama o vínculo entre neurologia, psicoterapia, meditação e oração. Evidentemente que não vem ao caso procurar pelo "gene de Deus" ou tentar estabelecer uma relação direta entre fenômenos religiosos e certas regiões do cérebro, através de uma espécie de "capacete de Deus", que estimularia os sentimentos religiosos, e vice-versa, sentimentos religiosos influenciando sobre o equilíbrio pessoal e social.
Uma coisa é certa: desde que não se confunda oração com a simples repetição de palavras mágicas, ou meditação com uma espécie de transe, não há dúvida de que todas as grandes figuras que marcaram espiritualmente a história da humanidade foram homens e mulheres dados à meditação e à oração. Em que importa se se consideravam religiosos ou não eles mergulhavam na profundidade do seu ser, lá onde o humano e o divino se encontram.
Meditação e oração podem ser facilidades por certas posturas corporais e mormente pela criação de um ambiente de recolhimento. Só que ambas vão além do ambiente, que pode ser um apoio e não o substitutivo do encontro acima referido. Nesse sentido não há dúvida de que aquilo que todas as religiões pressupõem, oração e meditação verdadeiras carregam consigo uma força terapêutica ímpar, pois ainda que nem sempre restituam a vida aos mortos, elas fazem viver mais intensamente até aqueles que se preparam para o Grande Encontro.
(*) PROF. DR. ANTÔNIO MOSER - É frade da Província Franciscana da Imaculada Conceição, teólogo, professor do ITF e assessor da CNBB para assuntos de Bioética. Confira o perfil completo
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/moser/artigos_37.php acesso em 03 jul. 2009.
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