Dia 11 de agosto celebramos a festa de Santa Clara de Assis. Em total comunhão com São Francisco fundou a Ordem das Damas Pobres, mais conhecidas como Irmãs Clarissas. Até aí, aparentemente, nada de especial. Afinal existem tantas congregações femininas... e boa parte do povo católico nunca viu uma irmã clarissa. Alguns até sabem que Santa Clara é padroeira da televisão. Mas isso tudo parece tão simples, tão pouco significativo. E ainda para piorar, muita gente fica a imaginar um romance adocicado, cheio de renúncia entre Francisco e Clara, coisa tão pequena, tão trivial.
A verdade é bem outra. Depois de Maria, Clara é talvez a figura feminina mais extraordinária que o Cristianismo produziu. Vamos tentar ver por que podemos fazer esta afirmação tão ousada. Alguns trechos virão apresentados entre aspas. São extraídos de artigos escritos por nosso confrade franciscanólogo, apaixonado por Clara e Francisco. Ele gentilmente cedeu seus escritos para citações, sem fazer ressalvas. Trata-se de Frei Vitório Mazzuco Filho.
Seu nome é Clara
A família de Clara era nobre. Seu pai, o sr. Favarone, filho de Offreduccio. Sua mãe, D. Hortolana, era muito piedosa e participou de diversas peregrinações à Terra Santa e ao Sinai. Dizem que o parto de Clara foi muito difícil, o que levou sua mãe a recorrer às orações, entregando o caso aos cuidados de Deus. Tendo alcançado grande paz, teve uma espécie de iluminação de que sua filha seria uma luz a iluminar o mundo. Não teve dúvidas. Decidiu que a filha chamar-se-ia CLARA.
Vamos ler agora o que Frei Vitório nos escreve:
"Para o mundo bíblico dar nome é trazer para a vida e para o sentido desta vida. Ter nome é ter um papel a cumprir, uma missão a concretizar. O que não tem nome não existe. Clara é seu nome!
A história da espiritualidade é a história da luz, quem nasceu para iluminar caminhos só poderia ter um nome como este. Esta menina nasceu para incendiar a vida com a chama do Amor. É profética a conhecida afirmação de Tomas de Celano: "Foi nobre de nascimento e muito mais pela graça. Foi virgem no corpo e puríssima no coração; jovem em idade mas amadurecida no espírito. Firme na decisão e ardentíssima no amor de Deus. Rica em sabedoria sobressaiu na humildade. Foi Clara de nome, mais clara por sua vida e claríssima em suas virtudes. Sobre ela foi edificada uma estrutura das mais preciosas pérolas, cujo louvor não vem dos homens mas de Deus. É impossível compreendê-la com nossa estreita inteligência e apresentá-la em poucas palavras". (1 Cel 8, 18-19)
Clara nasce em Assis no dia 16 de julho de 1193. É batizada na catedral de São Rufino com o nome escolhido pela mãe iniciando aí uma clara história. Seu pai é o Conde Favarone, nobre e cavaleiro, personalidade forte mas muito terno e afetuoso com seu filho e filhas. É descendente dos Offreduccio Favarone di Bernardino, uma família da melhor estirpe. Sua mãe, Hortolana, Condessa de Sasso Rosso, é uma mulher com o "esprit du finesse", característico das grandes damas medievais. É devota, sábia e segura. Após a morte do marido junta-se às filhas em São Damião.
Clara tem um irmão chamando Boso e três irmãs: Pessenda, Inês e Beatriz. As duas últimas seguiram Clara na experiência contemplativa das Senhoras Damas Pobres.
Família rica e influente em Assis, os Offreduccio Favarone poderiam oferecer à filha um matrimônio de bens e de dotes e um sonhado futuro de riquezas. Contudo Clara nasceu para conduzir vidas para Deus e seu matrimônio foi escolher o Esposo, o Rei dos Reis, num esponsal místico.
Na beleza deste nome um modo de ser. Na grandeza deste nome a dignidade de ser mulher e santa. Na força deste nome um programa de vida. Clara Mãe, Clara Irmã, rogai por nós!".
A primeira mulher comum a ser canonizada
Hoje é clássico entre os estudiosos do franciscanismo afirmar que para compreender bem São Francisco é necessário conhecer Santa Clara.
Todos sabem que São Francisco é o cristão mais admirado e mundialmente conhecido, inclusive no mundo não-cristão. Ele e Clara são a prova quase laboratorial de que Cristo pode ser realmente imitado e vivido, eu diria, quase "reencarnado" por seus discípulos. São Francisco provou isso aos homens e Santa Clara às mulheres.
Até Clara a Igreja tinha santas mulheres mártires e algumas santas providas da realeza, em geral admiradas por grandes obras de caridade. Clara foi a primeira mulher comum a ser canonizada, segundo um de seus biógrafos, Luciano Radi. Sofreu uma longa doença de 29 anos. Isso em nada diminuiu o rigor de sua penitência pessoal e pobreza, nem sua bondade verdadeiramente maternal para com suas irmãs. Foram suas qualidades pessoais que atraíram suas duas irmãs de sangue, Inês e Beatriz e, mais tarde, sua própria mãe viúva para viverem com ela no mosteiro!
Em Clara, a realização do franciscanismo
Outro caso único na Igreja foi o número de prelados, bispos e papas que foram visitá-la para confortá-la em sua doença e receber um pouco da energia sobrenatural que dela emanava. E pensar que em seu tempo a mulher era vista como um ser humano inferior em inteligência, menos dotada de capacidade moral e espiritual, causa de queda do homem. Clara não só não foi causa de tentação para Francisco. Abaixo de Deus foi a maior fonte inspiradora para seu ideal de viver o Evangelho. Em Clara, o Franciscanismo deu mais certo que na fraternidade dirigida pelo próprio São Francisco.
Santa Clara inaugurou a vida religiosa feminina independente da tutela de um homem, totalmente entregue à direção de uma mulher. Se Jesus e Maria são os novos protótipos do homem e da mulher dos tempos messiânicos, Francisco e Clara são a prova de que a nova humanidade pode concretizar-se em quem decide realmente ser discípulo de Jesus.
O papa encontrava-se em Assis quando Clara faleceu a 11 de agosto de 1253. Ele participou das exéquias e ordenou que não se celebrasse o Ofício Divino próprio de defuntos, mas o das Santas Virgens. Já era uma espécie de antecipação da canonização que se tornaria oficial apenas dois anos depois.
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/santa_clara.php acesso em 15 fev. 2009.
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