Sempre servindo-nos do texto Chiara di Assisi. Um silenzio qui grida, de Chiara Giovanna Cremaschi (Ed. Porziuncola, Assisi) continuamos a refletir sobre a história de Clara. Hoje nos detemos nos primeiros anos de vida da santa.1. Ao chegar ao mundo, Clara foi acolhida com todo afeto por sua família. Certamente Ortolana, a mãe, haveria de tomar a peito a educação da menina. O pai aparece pouco presente em seu caminho e em sua história, o que não exclui contacto com a filha quando de sua presença em casa, entre uma e outra de suas viagens. Podemos imaginar que Ortolana tenha ensinado a Clara os fundamentos da fé cristã, iniciando-a na oração com métodos adaptados à sua idade. Celano lembra que Clara , não dispondo de contas para repassar os Pai-nossos, usava um monte de pedrinhas para contar suas pequenas orações ao Senhor (LSC 4).
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
2. Ortolana ( como todas as mães e todos os pais cristãos) transmite a fé pela vida. É todo o ser do catequista que é digno de credibilidade. Há um clima educacional e “catequético” que se cria por pessoas que sabem amar os educandos e os filhos e que têm o costume de se aquecer com os raios do amor de Deus. Ortolana é uma pessoa humanamente madura. Clara se sente respeitosamente amada pela mãe. Assim foi crescendo interiormente. Na casa paterna haveria Clara de encontrar um terreno propício para o desenvolvimento de suas características pessoais adultas: firmeza de vontade acompanhada de grande doçura, senso positivo diante da vida, gratidão pelos benefícios recebidos da parte de Deus, abandono filial nos braços do Pai que é terno como uma mãe. Estamos convencidos de que as mães ( e os pais) precisam ser os primeiros e fundamentais catequistas dos filhos e estes necessitam crescer num espaço de acolhimento-amor. A feminilidade que a filha de Favarone haverá de manifestar de modo tão refinado tem na mãe sua raiz e exemplo. Acrescente-se ainda que a capacidade de criar união entre as irmãs de São Damião foi possível porque teve o seu primeiro germe nos relacionamentos cordiais e respeitosos vividos com a mãe e as irmãs, bem como com mulheres que freqüentavam a casa da Praça de São Rufino.
3. As Fontes dão a entender que, nos primeiros anos de vida, Clara já se interessa pelos pobres. Essa atenção pelos mais necessitados também aprendeu de sua mãe que, com simplicidade e sem ostentação se ocupava desses que necessitavam. A descoberta da indigência de tantos faz com que Clara coloque gestos bem concretos. Não se limita a socorrer os pobres com a abundância de sua casa, com o supérfluo. Priva-se de alimentos delicados. Novamente Celano: “Para que o seu sacrifício fosse mais agradável a Deus privava seu próprio corpinho dos alimentos mais delicados enviando-os às ocultas por intermediários, reanimava o estômago de seus protegidos” (n.3).
4. Depois Clara receberá outros elementos de sua família para sua formação. Não se tem muitos elementos para descrever os estudos feitos pela menina e mocinha. Como adulta mostrará um bom conhecimento do latim. Com inteligência intuitiva apreende a realidade e a reelabora intuitivamente. “Parece que podemos afirmar que Clara é formada no estilo clássico de escrever, através do qual o vassalo se dirige ao seu senhor que está acima dele, porque não pode permitir-se errar no tom, vocábulos, atitudes em relacionamento tão delicado. Muito provável ainda que a primogênita dos Favarone tenha aprendido a literatura cortês, apreciada pelo seu tempo. Tem ela um temperamento ardente, tipicamente mediterrâneo, levado a decisões radicais, sem meias medidas. É límpida e sincera. Assumindo uma linha de comportamento, persegue-a a todo custo, sem se deixar abater. Clara é, por natureza, alegre, levada sempre a ver o lado bom das situações, dos acontecimentos e das pessoas. Fundamentalmente tem grande confiança na capacidade presente em todas as criaturas humanas no sentido de realizar a plenitude do que se propõe” ( p. 24-25).
5. Durante a infância Clara veio a experimentar na própria pessoa as conseqüências da luta entre os nobres e a burguesia. Devido aos conflitos entre e uns e outros, o tio Monaldo optou pelo exílio e leva toda a família para Perugia onde permanecerão alguns anos. Ali a primogênita dos Favarone cresce ao lado da irmã menor Catarina, experimentando a vida numa cidade diferente daquela em que nascera, tanto pela posição geográfica quanto pela arquitetura, hábitos e costumes de seus cidadãos. Dilata-se o círculos dos relacionamentos, sobretudo graças à mãe que cria à sua volta uma rede de amizades com mulheres de sua classe social. Delas as filhas aprendem a arte di diálogo, o acolhimento do outro e um certo estilo de convivência feminina. Pode-se dizer que Clara não ressentiu negativamente a mudança de cidade, não perdendo o sentido positivo diante das coisas da vida e a atitude de acolhimento das pessoas.
6. Antes do retorno para Assis que deve ter se dado quando Clara tinha dezessete anos, ou logo depois, vem à luz a última filha dos Favarone, Beatriz. Nada podemos dizer dos sentimentos que suscitaram a chegada desta irmã na primogênita, agora já adulta. Depois vem a idade da adolescência.
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/artigos/clara/02.php acesso em 18 fev. 2010.
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