“Totalmente absorto no amor de Deus, São Francisco vislumbra perfeitamente a bondade de Deus não só na sua alma, já ornada com toda a perfeição das virtudes, mas também em qualquer criatura” (Espelho da Perfeição 113,1).
Ao intuir esta grande fraternidade, Francisco grita a todo mundo a misericórdia divina e conclama todos a entoarem, juntos, o hino de louvor ao Criador.
Outro luzeiro que o Homem de Assis apresenta em sua vida é a ‘condição do amor’. O que Francisco entendia por isso? Como o entendia? A condição básica para alguém amar é a liberdade, aqui, liberdade deve ser entendida num modo lato, isto é, na liberdade de espírito, a qual era vista pelo Poverello como a ‘Pobreza’. Pobreza não reside só em não possuir coisas materiais, mas a pobreza essencialmente é um modo de ser pelo qual renuncia-se dominar as coisas, a submetê-las a serem objeto da vontade de poder humano. Consequentemente pode-se afirmar que é a Pobreza o fator responsável pelo entranhado amor de Francisco a tudo e a todos.
São Francisco, dois anos antes de sua morte, compôs um hino de Louvor a Deus, intitulado “O Cântico das Criaturas”, no qual revela a completa abertura reconciliar do pobrezinho de Assis com o céu e a terra, com a vida e a morte, com o universo e Deus. Neste cântico pode ser percebido a afável combinação do masculino com o feminino, através dos elementos da criação: sol-lua, vento-água, fogo-terra.
Francisco, um pouco antes de sua passagem para os braços do Pai, completa seu cântico louvando a Deus pela morte, que por ele é braçada como a irmã morte, portadora de uma vida mais ampla e imortal.
No hino se cruzam as duas linhas, horizontal e vertical. O movimento inicial se dirige inicialmente para Deus: “Altíssimo, onipotente e bom Senhor”. Mas Francisco logo se dá conta de que não consegue cantar Deus porque “nenhum homem é digno de sequer te mencionar”. Volta-se então a dimensão horizontal onde estão todas as criaturas, pois elas falam de Deus: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas”. Abre-se então à fraternidade horizontal e universal, canta as criaturas “porque de ti, Altíssimo, são sinal”. (Frei João Mannes, OFM.)
São Francisco de Assis conclamou, e ainda conclama na contemporaneidade, os seres humanos a perceberem que fazem parte de uma grande família, uma fraternidade universal, uma vez que toda a criação está inter-relacionada entre si, a qual habita a Terra e não a detém.
“O que fere a terra fere também os filhos e filhas da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é um fio dela. Tudo o que fizer à trama, a si mesmo fará” (Frei João Mannes, OFM.).
Portanto, é de estrema importância re-aprender a ver o mundo, e assim conviver fraternalmente a partir das razões advindas do coração. “É necessário a destruição de todos os ídolos: libertar-se da desregrada vontade de ter, de poder e de saber. Pois, os apegos impedem de ver a realidade na sua totalidade e à mercê do sopro (espírito) criativo de Deus que “enche a terra e reúne tudo.” (Sb 1,7; Is 34,16)”. (Frei João Mannes, OFM.)
Segundo uma antiga legenda, um dia disse Francisco ao Senhor, entre lágrimas.
Eu amo o sol e as estrelas,
Amo Clara e suas irmãs,
Amo os corações dos homens
E todas as coisas belas,
Senhor, perdoa-me
Porque só a ti eu deveria amar.
Sorrindo o Senhor respondeu:
Eu amo o sol e as estrelas
Amo Clara e suas irmãs,
Amo os corações dos homens
E todas as coisas belas.
Meu caro Francisco,
Não precisas chorar
Que tudo isso eu amo também.
(fonte: apostila do professor João Mannes).
Frei Osvaldo Maffei, OFM.
* Este artigo foi escrito a partir das aulas e idéias do Professor Frei João Mannes, OFM, da disciplina História do Pensamento Franciscano, do curso de Filosofia do Instituto de Filosofia São Boaventura / UNIFAE.
- Extraído de http://www.freimaffeiofm.com.br/2011/04/a-visao-ecologica-de-sao-francisco-de-assis-22/ acesso em 10 abr. 2011.
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