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segunda-feira, 7 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 1

“Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Estas são as palavras de santa exortação de nosso reverendo pai São Francisco a todos os irmãos.” (Escritos de S. Francisco).

“As exortações ocupam um lugar de destaque entre os escritos de São Francisco, pois representam, no verdadeiro sentido da palavra, um espelho de perfeição para todo aquele que se sentir chamado para a forma franciscana de vida cristã, pois nelas Francisco retraça muitos aspectos particulares do conceito que forma o cristão ideal. Suas frases são simples, mas cheias de profunda sabedoria da vida, representam marcos inconfundíveis para uma doutrina franciscana sobre a virtude ou para uma ascética no espírito de São Francisco, além de fornecer-nos sempre novas facetas, de surpreendente profundeza, de vida espiritual deste homem de Deus.” (Escritos de S. Francisco).

I Admoestação: Do Corpo do Senhor.

“Deus Pai habita numa luz inacessível” (1Tm 6.16), e: “Deus é espírito” (Jo 4,24) e “ninguém jamais viu a Deus” (Jo 1,18). Ora, se Deus é espírito, só em espírito pode ser visto e adorado (Cf. Jo 4,23); pois, “o espírito é que dá vida, a carne de nada serve” (Jo 6,63). Também o Filho, sendo igual ao Pai, não pode ser visto por alguém de modo diferente que o Pai e o Espírito Santo. Por isso sofrem danos todos aqueles que viram o Senhor Jesus Cristo em sua humanidade sem enxergá-lo segundo o espírito e a divindade e sem crer que Ele é o verdadeiro Filho de Deus.

De igual modo sofrem danos todos aqueles que - embora vendo o sacramento do corpo de Cristo que, pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote – não olham segundo o espírito e a divindade, nem crêem que se trata verdadeiramente do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz: “Este é o meu corpo e o sangue da nova Aliança” (Cf. Mc 14,22); e: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna”.

Por isso é o Espírito do Senhor, que habita nos seus fiéis, quem recebe o santíssimo corpo e sangue do Senhor (Cf. Jo 6,62). Todos aqueles que não participam desse espírito e no entanto ousam comungar, “comem e bebem a sua condenação” (1Cor 11,29). Portanto, “ó filhos dos homens, até quando tereis o coração duro?” (Sl 4,3). Por que não reconheceis a verdade “nem credes no Filho de Deus” (Jo 9,35)? Eis que Ele se humilha todos os dias (Fl 2,8); tal como na hora em que, “descendo do seu trono real” (Sb 18,5) para o seio da Virgem, vem diariamente a nós sob aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra hoje no pão sagrado.

E do mesmo modo que eles, enxergando sua carne, não viam senão sua carne, contemplando-o contudo com seus olhos espirituais creram nele como no seu Senhor e Deus (Cf. Jo 20, 28), assim também nós, vendo o pão e o vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está presente o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro. E desse modo o Senhor está sempre com os seus fiéis, conforme Ele mesmo diz: “Eis que estou convosco até a consumação dos séculos”. (Mt 28,20). (Escritos de S. Francisco de Assis).

Caríssimos irmãos e irmãs, crer no Corpo e Sangue do Senhor Jesus é participar do maior milagre de amor que se pode ter neste mundo, porque crer é pertencer, é amar Àquele que nos amou primeiro e que nos ama por toda a eternidade. Amém. Assim seja!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

domingo, 6 de abril de 2008

A Páscoa

A Páscoa do Senhor é a mais feliz passagem que um ser humano pôde fazer nessa nossa história natural. Em todas as outras ninguém teve, por si mesmo, uma esperança mais segura, a não ser a esperança das promessas, porque somente Cristo é a resposta para todos os porquês de nossa contingência.

A Ressurreição é a realidade eterna onde apoiamos nossa vida temporal na certeza de que mesmo condenados nesse vale de lágrimas, alimentamos a convicção de que em Cristo Jesus, somos eternos; mergulhamos neste Mistério de Amor para sempre, experimentando a delícia de sermos resgatados pelo próprio Filho de Deus.

Então, temos milhões de motivos para darmos glória a Deus pelo seu beneplácito amor para conosco; somos verdadeiramente prediletos porque amados até a última gota do Sangue de Jesus, Seu Filho amado; é verdade que ainda somos imaturos na fé, fragilizados por nossas inclinações para as fraquezas de nossa vontade própria, contudo, jamais prevalecerá o pecado porque a misericórdia do Senhor ultrapassa em tudo a finitude de nossa miséria.

Paz e Bem!

sábado, 5 de abril de 2008

Quando os homens não entendem

QUANDO OS HOMENS NÃO ENTENDEM

(Evangelho de São João 6,52-59).

Somos contingentes, isto é, limitados vivendo num mundo que para nós tem limites, mas não atingimos a essência das coisas em si mesmas e por nós mesmos; e quando isso acontece ou procuramos uma resposta mágica ou descartamos o que não cabe no nosso entendimento. Com isso, muitas vezes nos tornamos céticos e menosprezamos o essencial objeto da fé.

Dessa forma quando Cristo diz com o pão sagrado: “Isto é o meu corpo”, não depende do nosso crer para ser sua presença eucarística; só dependo do nosso crer os efeitos desse alimento eterno que nos faz permanecer em Cristo para que tenhamos a vida.

Só entendemos a Deus quando falamos a sua linguagem expressa no cumprimento dos seus mandamentos. Viver o eterno no tempo é gozar da intimidade de Jesus que é o Pão da Vida que alimenta os que caminham para o seu reino de glória e salvação, os quais permanecem nele pela fé, com escreve São João: “Quem diz que crê em Cristo deve viver como ele viveu” (1Jo. 2,6).

Portanto, “... o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus: pois para ele são loucuras (‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna...’). Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar (ajuizar)”. Creio sim Senhor, que eu seja sempre teu!!!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Existem católicos e católicos

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por Gabriel Perissé
01-Abr-2008
Divulgou-se recentemente o atual número de católicos no mundo: algo em torno de 1,13 bilhão, o que corresponde a cerca de 17% da população mundial. Sabemos, contudo, que há católicos e católicos. Arrisco a classificação de pelo menos quatro tipos.

Primeiramente, o famoso católico não-praticante. Milhões de pessoas batizadas, sem grande contato com a religião. Não têm vida sacramental estável, não são contra nem a favor das regras do jogo, porque as desconhecem. Católicos para quem as epístolas foram as irmãs dos apóstolos... Não-praticante do catolicismo, este católico pratica um pouco de tudo, e vai levando. Sua vulnerabilidade espiritual pode levá-lo a aderir a qualquer coisa, até mesmo a movimentos católicos...

Temos o não-católico praticante. Aquele que pratica a caridade sem saber que é virtude teologal. Que acredita em Deus sem saber que no Deus Uno e Trino acredita. Atira onde não vê e acerta onde não espera: tem na esperança outra virtude oculta. O não-católico pode seguir outras religiões, pode considerar-se adversário do catolicismo. Talvez seja até melhor, para ele, não saber que é canonizável. Está a salvo da vaidade de querer ser santo. A prática longe da instituição, longe da Igreja, mas perto de Deus.

O praticante não-católico é uma aberração interessante. Missa diária, terço diário, confissão semanal, mortificação, Bíblia, conhecimentos teológicos, apologética, liturgia, proselitismo, mas esquecimento do essencial. É capaz de humilhar o irmão, achando que recebeu do Pai autorização para tanto. Beija a mão do papa... e depois abraça o demônio. Despreza o não-praticante, o agnóstico, e fica imaginando como pode Deus ser tão descuidado, deixando hereges e ateus soltos por aí.

E há o católico por um triz, desconfiado de sua própria catolicidade. Pratica o que manda a consciência, mantendo um olho no padre e outro na missa. Procura ser menos papa do que o Papa. Basta um. Quer separar o joio do trigo, mesmo que digam ser tudo trigo. Quer descobrir o trigo no meio do joio, mesmo que digam ser tudo joio. Os sacramentos o alimentam, mas está sempre com fome. Reza sabendo que Deus sabe mais.

Não sei como o Vaticano vai lidar com esses e outros tipos de católicos. Os números escondem a realidade. Cristo disse: "Sou o caminho". Mas não se tratava de uma rodovia. O caminho no meio do deserto não tem muretas nem semáforos.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor Web Site: http://www.perisse.com.br
Extraído de
http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1626/53/ acesso em 01 abr. 2008.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A Páscoa nos faz pensar

Desde criança, quando reflito as questões da minha fé, venho me perguntando por que mesmo mataram Jesus? Porque o mataram se Ele é o Cristo, filho de Deus, o Messias que veio nos trazer a salvação? Mas andando nas procissões com o povo que vive, reza e canta sua fé, guardei em perpétua memória o refrão de um hino da semana santa, que diz assim: "Eles queriam um grande rei que fosse forte dominador e por isso não creram Nele e mataram o Salvador". A maioria do povo de Israel, no tempo de Jesus, talvez induzida por suas autoridades, queria mesmo um grande rei com pleno poder para derrubar do trono seus inimigos e governar soberanamente.

Dominados pelo poder dos romanos, os judeus da época, sonhavam com um rei dominador que também pudesse dominar o resto do mundo. Não pensaram que, aderindo ao projeto de Jesus de Nazaré, eles poderiam se libertar do jugo imperialista romano e construir um caminho de justiça e liberdade para todos os povos e nações. Não acolheram o Salvador da humanidade porque simplesmente queriam um rei que os governasse. Judas Iscariotes, o traidor que se sentiu traído, estava crente que Jesus de Nazaré iria fazer aquilo que ele, Judas, tanto queria, que era tomar o poder dos romanos. Judas seguiu a Jesus pensando que Ele iria fazer a sua vontade, realizar o seu projeto, mas foi bem diferente. E quando Judas não via mais em Jesus uma alternativa para seu plano, ele tratou de entregá-lo às autoridades para que o condenasse a morte. Aprisionado em seu projeto pessoal e incapaz de perceber a dinâmica do Reino de Deus, Judas Iscariotes e muitos outros do seu povo perderam a oportunidade de servir a Deus.

Mesmo no horizonte da ressurreição, a morte é sempre uma dor. E por isso, não creio que Deus Pai quisesse a morte de seu Filho, Jesus de Nazaré, mesmo certo de que Ele iria ressuscitar. Mas, o que causou a morte de Cristo foi a incapacidade do mundo de então compreender e acolher a graça de Deus. E o Cristo filho de Deus morreu na cruz porque foi além dos interesses humanos. Ele se manteve fiel ao projeto de libertação dos pobres e de todos os povos, de toda a humanidade. Jesus contrariou interesses de poder, e nisso Ele foi até as últimas conseqüências, ao ponto de ser condenado a morte de cruz. Analisando os fatos relatados nos Evangelhos, percebemos que Jesus desafiou todos os lados de interesse, mostrando que a lógica do Reino de Deus é diferente de muitas lógicas do mundo. Deus quer a paz, a justiça, o perdão, o amor e a fraternidade. De tudo o que Jesus propõe, nos parece que a novidade rejeitada por uma parte do seu povo naquela época e por muita gente de hoje, é o amor aos inimigos.

Jesus contrariou as autoridades numa dimensão religiosa, mas isso também tinha um desdobramento político, ético e social. Ele não queria uma religião de aparências e de exclusão, mas de simplicidade e compromisso com a vida, com a justiça e a verdade e que levasse a uma convivência de paz, de acolhimento e respeito às diferenças. Cristo anunciou o Reino de Deus. Talvez se tivesse anunciado um reino qualquer, inventado por ele mesmo, que fosse diferente do plano de Deus, poderia ter sido aceito pela maioria dos seus conterrâneos. Jesus poderia se tornar o imperador de Israel, mas os pobres de seu povo e de todo o mundo continuariam sem esperança, a humanidade continuaria sem conhecer a salvação, sem ver o testemunho da bondade e do pleno e sublime amor de Deus. Jesus rejeitou o poder e contrariou interesses de poder para manifestar um outro poder, o que serve e liberta o ser humano.

Frei Pilato Pereira

domingo, 23 de março de 2008

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Natal


"Deus tornando-se criança pequenina,
dependeu de peitos humanos."

Francisco de Assis, 1181-1226
(2Cel 199,1)

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