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terça-feira, 29 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 6

AS ADMOESTAÇÕES DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - VI


6. Admoestação: Da imitação de Cristo.

“Consideremos todos, meus irmãos, o Bom Pastor que, por suas ovelhas, sofreu a paixão da cruz. As ovelhas do Senhor seguiram-no na tribulação, na perseguição, no opróbrio, na fome, na sede, na enfermidade, na tentação e em todo o mais, e receberam, por isso do Senhor, a vida eterna. É pois uma grande vergonha para nós outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram.” (Escritos de S. Francisco).

Caríssimos irmãos e irmãs, quem experimenta as coisas de Deus dá testemunho delas. A fé, mais do que um dom, é uma graça do Espírito Santo que nos leva a testemunhar as graças recebidas ou ainda, ela é a comprovação de que estamos unidos a Deus e por Ele conduzidos e que nossas ações são feitas em Deus, por Deus e para Deus. Testemunhar é, pois, um ato de quem vive em Deus as virtudes concedidas por Ele para que comprovemos os frutos do seu amor: “Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie. Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos”. (Ef. 2,8-10).

E ainda, quem ressuscitou com Cristo dá o testemunho dessa ressurreição: “Assim reunidos, eles o interrogavam: Senhor é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel? Respondeu-lhes ele: Não vos pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu poder, mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo”. (At. 1,8-10).

Quando São Francisco diz: “É uma grande vergonha para nós outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram”, ele se refere ao testemunho que cada um de nós temos para dar e não damos e assim deixamos de cumprir a nossa missão de conviver com Deus e no seio da humanidade sendo transparência dessa sua presença divina em nós, pois uma vez que somos seus filhos e filhas, somos também testemunhas fiéis do que Deus opera no meio de nós.

“Assim, meus caríssimos, vós que sempre fostes obedientes, trabalhai na vossa salvação com temor e tremor, não só como quando eu estava entre vós, mas muito mais agora na minha ausência. Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar. Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a palavra da vida”. (Fl 2,12-16a).

Portanto, imitar Jesus segundo esta admoestação é fazer o que Ele fez conforme Ele mesmo nos ensinou: "Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai". (Jo 14,12) ou ainda conforme São João: "aquele que afirma permanecer nele (em Cristo) deve também viver como ele viveu". (1Jo 2,6).

Que o Deus da esperança que vos cumula de toda graça e paz em vossa fé, esteja sempre convosco. Amém! Assim seja!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte II

E NO TERCEIRO DIA...

No encontro anterior vimos que:

=> A Juventude é o Presente.
=> A Bíblia está intimamente ligada à Vida.
=> E a Terra é um Ser Vivo, em Comunhão com seus habitantes (nós entre eles) e o Universo.

Vimos também que estas definições não são as mais tradicionais, mas as que melhor expressam uma Ecologia pensada por cristãos ecófilos.

A bem da verdade, dentro de um cristianismo autêntico, o termo “ecófilo” soa redundante. Isto porque Deus ama toda a Criação: a Natureza, inclusive.

É o que nos relata a poética narrativa do primeiro capítulo da Bíblia. Aliás, a Fé num Deus Criador está muito bem representada no livro com o sugestivo nome de Gênesis.

Que a Criação implica Vida, não há dúvida! E que, pela Ressurreição de Cristo, a Vida venceu definitivamente a Morte, também não! Mas o que uma coisa tem a ver com a outra?

Bom... Cristo venceu a Morte em três dias... não é!?! E isso nos relatam os Evangelhos... Certo!?! Sim... Mas não só eles!!! A Bíblia já começa com Deus vencendo a Morte em três dias! Como??? Vejamos:

No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas.” (Gn 1,1-2)

Antes dos dias, Deus cria o céu e a terra, mas a situação é de caos. São 3 os símbolos da Morte:

=> Terra vazia => Em algumas traduções, diz-se que a terra estava vazia e sem forma (estou utilizando a tradução da Bíblia Jerusalém). Estando vaga, vazia ou sem forma, de qualquer jeito ela está deserta, ou seja: sem vida.
=> Trevas => O mais tradicional símbolo da Morte.
=> Águas agitadas => Embora seja um tradicional símbolo da Vida, a água (ainda que habitada pelo Espírito, ou sopro de Deus) aqui vai ser sinal de Morte.

Ainda falando sobre as águas... A redação do texto -- e isso veremos adiante -- data do fim, ou do recente pós-Exílio na Babilônia. Todos nos lembramos do Sl 137(136),1:

À beira dos canais de Babilônia nos sentamos, e choramos com saudades de Sião.

O povo chorava à beira do rio, vendo aquela fartura de água, mas lembrando da liberdade que gozava em Sião.

Seguindo a narrativa:

Deus disse: ‘Haja luz’, e houve luz. Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas. Deus chamou à luz “dia” e às trevas “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia.” (Gn 1,3-5)

No primeiro dia, Deus vence as trevas, o mais tradicional símbolo da Morte.

Deus disse: ‘Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas’, e assim se fez. Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento, e Deus chamou ao firmamento ‘céu’. Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia.” (Gn 1,6-8)

Aqui vemos que a água envolvia toda a terra, imagem que será retomada na cena do Dilúvio, também uma cena onde as águas significam Morte.

Na imaginação de então, o céu era uma imensa redoma contenedora de águas. Claro... Olhavam para o céu e ele era azul como o mar. Além disso, de vez em quando chovia água do céu.

Era uma visão de mundo própria da época. Mas o importante aqui é ver que, ao criar o firmamento, Deus impõe limites à força opressora das águas. O Deus Criador é também um Deus Libertador, que vence a Morte e o regime opressor.

Deus disse: ‘Que as águas que estão sob o céu se reúnam num só lugar e que apareça o continente’, e assim se fez... Deus disse: ‘Que a terra verdeje de verdura: ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem sobre a terra, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente’, e assim se fez... e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia.” (Gn 1,9-13)

Que a terra verdeje... Deus faz aparecer os continentes (dá forma à terra) e eles verdejam de verdura. Ou seja: o deserto é vencido pela força criadora de Deus, que transforma o terreno hostil em fonte de vida.

Aliás, falando em transformação... Deus transforma os sinais da Morte em sinais de Vida. Mesmo as trevas, sendo limitadas pela luz, tornam-se fonte de descanso e reposição de energia, tão necessárias à nossa sobrevivência.

Ou seja... Da Morte, Deus tira a Vida. Não é isso que cremos? Que é morrendo que se vive para a vida eterna?

Pois bem... E é isso que veremos, no próximo capítulo: a partir do quarto dia, a Vida terá plenas condições de acontecer!

Até lá!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

domingo, 27 de abril de 2008

Para ser da OFS

"4. A Regra e a vida dos franciscanos seculares é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o exemplo de São Francisco de Assis, que fez do Cristo o inspirador e o centro da sua vida com Deus e com os homens."
Regra da Ordem Franciscana Secular
Isto posto entendo que para pertencer à OFS é necessário continuamente subir uma escada de três degraus:
  1. Observar o Evangelho.
  2. Conhecer como São Francisco de Assis observou e seguiu o Evangelho.
  3. Conhecer como a OFS observa e segue o Evangelho conforme Francisco de Assis.
Os dois primeiros degraus estão explícitos no item supra citado da Regra da OFS: É preciso observar o Evangelho, pois ele é o centro da vida cristã e nenhum franciscano secular deve deixar de lado o coração de nossa fé. Porém muitos outros cristão observaram e observam o Evangelho e nem por isto são franciscanos (há carmelitas, dominicanos, servitas etc.); entra aí o segundo passo precisamos estudar a vida de Francisco, nos debruçar sobre as fontes e trazer para os dias de hoje o conteúdo da obra do nosso Pai Seráfico.

O terceiro degrau é o conhecimento e vivência da cultura franciscana secular, o modo secular de reviver o sonho de Francisco e Clara de Assis neste século XXI. Esta cultura inclui também a forma que os franciscanos seculares se organizam, estudam e atuam no dia-a-dia.

Igualmente é importante a reflexão sobre este modo e esta forma de ser, pois por muito tempo as fraternidades eram conformadas de acordo com a ordem religiosa dos assistentes espirituais e assim havia nas fraternidades uma cultura leiga capuchinha, cultura leiga conventual etc. E resgatar e atualizar a cultura franciscana secular é uma necessidade que se impõe à cada irmão da OFS e cabe aos irmãos dirigentes fomentar esta reflexão.


O outro lado do papel

Por Frei Pilato Pereira

Quando apanhamos um papel para ler ou escrever, seja um jornal, um livrou ou uma folha qualquer, dificilmente refletimos sobre o impacto ambiental e social que o consumo de um simples papel pode causar. Se fossemos agir desta forma, diante de qualquer produto que utilizamos, seríamos consumidores conscientes, atendendo a uma obrigatória exigência do nosso tempo. Já que precisamos consumir, pelo menos, poderíamos agir de forma mais consciente e responsável.


Estamos tão acostumados com a face limpa e bela do papel, seja ele branco ou colorido. E esquecemos de ver o seu outro lado, a face suja do papel que destrói a beleza da vida e explora as pessoas e a natureza. Como diz o ditado, "o papel aceita tudo". Mentiras e verdades são impressas no papel do jornal, da revista e do livro. Até podemos ler as mentiras, mas não devemos deixar de querer conhecer as verdades, por mais inconvenientes e adversas que sejam. E são muitas as verdades que estão para serem lidas no outro lado, no verso do papel. O lado escondido da produção e do consumo do papel.


A matéria-prima básica da indústria do papel, a celulose é um material fibroso presente na madeira. Em seu processo de fabricação, depois de descascada e picada em lascas, a madeira passa a ser cozida com produtos químicos, para separar a celulose da lignina e demais componentes vegetais. A etapa posterior, o branqueamento da celulose, é um processo que envolve várias lavagens para retirar impurezas e clarear a pasta que vai ser utilizada para fazer o papel.


Esses compostos, classificados pela EPA, a agência ambiental norte-americana, como os mais potentes cancerígenos já testados em laboratórios, também estão associados a várias doenças do sistema endócrino, reprodutivo, nervoso e imunológico. Mesmo com o tratamento de efluentes na fábrica, as dioxinas permanecem e são lançadas nos rios, contaminando a água, o solo e conseqüentemente a vegetação e os animais, inclusive os que são usados para consumo humano. No organismo dos animais e do ser humano, as dioxinas têm efeito cumulativo, ou seja, não são eliminadas e vão se armazenando nos tecidos gordurosos do corpo.


A Europa já aboliu completamente o cloro na fabricação do papel e o branqueamento é feito com oxigênio, peróxido de hidrogênio e ozônio. Mas nos Estados Unidos e no Brasil, e em favor de interesses da indústria, o dióxido de cloro continua sendo usado. É importante lembrar também que três grandes empresas de celulose estão se instalando no Rio Grande do Sul, onde pretendem plantar um milhão de hectares de arvores exóticas para a indústria de papel, da qual exportarão mais de 95% do produto. Isto significa que os restos tóxicos e os tocos das árvores ficarão por aqui causando irreparáveis impactos socioambientais.


O monocultivo de eucaliptos e outras plantas exóticas que alimentam a indústria de celulose e papel, além de causar sérios problemas ambientais, também aumentam a concentração da terra, expulsando agricultores e comunidades nativas, o que resulta em vazios populacionais. Esta atividade dificulta o processo de Reforma Agrária, não gera emprego e diminui postos de trabalho. E depois de duas safras de eucaliptos, por exemplo, após 14 anos, estas empresas nos deixarão de herança um Pampa devastado e sem vida, virado em tocos, sem rios, sem fauna e flora nativas.


Desde o plantio de árvores para a matéria-prima, até o fim de seu processo industrial, o papel segue um caminho causador de degradação socioambiental. O papel parece ser um produto indispensável. Nossa civilização não saberia viver sem papel. Mas podemos escrever e ler em papel ecológico. Temos o papel não embranquecido, aquele que não passou pelo processo de branqueamento e por isso poluiu muito menos e o papel reciclado que não precisou de mais uma árvore para ser produzido. Também podemos utilizar menos papel, nos re-educando para sair da cultura do descartável. Enfim, é preciso consumir o mínimo necessário e usar papel ecológico. A natureza e as gerações futuras desde já nos agradecem.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 5

5. Admoestação: Que ninguém se ensoberbeça, mas antes se glorie na cruz do Senhor.

“Considera, ó homem, a que excelência te elevou o Senhor, criando-te e formando-te segundo o corpo à imagem do seu dileto Filho e, segundo o espírito, à sua própria semelhança. Entretanto, as criaturas todas que estão debaixo do céu, a seu modo, servem e conhecem e obedecem ao seu Criador melhor que tu. Não foram tampouco os espíritos malignos que o crucificaram, mas tu em aliança com eles o crucificaste e o crucificas ainda, quando te deleitas em vícios e pecados.

De que, então, podes gloriar-te? Mesmo que fosses tão arguto e sábio a ponto de possuíres toda a ciência, saberes interpretar toda espécie de línguas e perscrutares engenhosamente as coisas celestes, nunca deverias gabar-te de tudo isso, porquanto um só demônio conhece mais as coisas da terra que todos os homens juntos, a não ser que alguém tenha recebido do Senhor um conhecimento especial da mais alta sabedoria.

Do mesmo modo, se fosses mais belo e mais rico que todos, e até operasses maravilhas e afugentasses os demônios, tudo isso seria estranho a ti nem te pertenceria nem disto te poderias desvanecer. Mas numa só coisa podemos ‘gloriar-nos: de nossas fraquezas’ (2Cor 12,5), carregando dia a dia a dia a santa cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”. (E. de S. Francisco).

Com certeza São Francisco aprendeu muito de São Paulo, pois esse apóstolo assim se expressava: “Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. Se foi no corpo, não sei. Se fora do corpo, também não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem - se no corpo ou se fora do corpo, não sei; Deus o sabe-foi arrebatado ao paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir.

Desse homem eu me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas. Pois, ainda que me quisesse gloriar, não seria insensato, porque diria a verdade. Mas abstenho-me, para que ninguém me tenha em conta de mais do que vê em mim ou ouve dizer de mim. Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade.

Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte”. (2Cor 12,1-10).

A única glória verdadeira é a glória da Cruz do Senhor, ninguém chega à vida eterna sem passar pela cruz: "Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". (Mc 8,34). "Pois, quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo". (Lc 14,27).


"Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo". (Gl 6,14). Por isso: “Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Altíssimo e contemplar o seu santuário”.

Glorificado sejas meu Senhor, agora e por toda eternidade! Amém!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte I

Olá, pessoas!!!

É com aquela (perfeita) alegria franciscana que, a partir de hoje, integro-me ao rol de colaboradores deste espaço. Até então, eu utilizava apenas o blog que partilho com minha esposa: osperegrinos.

Estou assessor do CEBI-RS (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos - Região de Rio Grande do Sul) e sinto-me honrado pelo convite.

Para iniciar, escolhi uma série de reflexões desenvolvidas para um curso a ser ministrado em Ijuí-RS, cujo tema era: BÍBLIA, JUVENTUDE e ECOLOGIA.

Creio que primeiramente convém dizer o que entendo por Bíblia, Juventude e Ecologia. E por isso chamo o primeiro texto de: AFINANDO CONCEITOS.

Pois bem... Há uma definição oficial, comum, que não permite nenhuma ligação entre estes 3 termos. E outra, que não só permite, como os considera inseparáveis. Vejamos:

BÍBLIA => É o Livro da Lei... Certo??? Bom... De certa forma, sim!!! Mas não nos esqueçamos das palavras de Paulo: “A letra mata; o espírito vivifica” (2Cor 3,6), baseadas nestas outras, de Cristo: “O espírito é que vivifica... As palavras que vos tenho dito são espírito e vida” (Jo 6,63). Não é por acaso que a Bíblia começa com a narrativa da Criação (Gn 1). Em seu primeiro relato, a Bíblia já deixa claro o seu objetivo, como explica Cristo, quando afirma a que veio: “Eu vim para que as ovelhas tenham vida; e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Diante disso, mais que ser da Lei, podemos afirmar que A BÍBLIA É O LIVRO DA VIDA.

JUVENTUDE => É o futuro!!! Bem... Com certeza, é!!! Afinal, o(a) jovem tem muita vida ainda. Vai passar mais uns 20 ou 30 anos e os(as) jovens de hoje ainda terão a capacidade de tomar e executar as decisões que conduzirão o mundo. Mas eles(as) já têm essa capacidade hoje. Talvez falte experiência... Ou talvez falte espaço. O fato é que a Juventude é alvo da mídia, da moda e das prateleiras de supermercado. E isso por quê??? Porque os(as) jovens são a maioria da população. Ora, tudo o que conduz o nosso cotidiano é voltado para a juventude; falta aos adultos é vontade de admitir isso e dizer ao(à) jovem que ele(a) tem força sim de mudar o rumo da nossa história. Se a Juventude é capaz de determinar o que vende e o que não vende (vale lembrar que as leis regentes da sociedade atual são as do Mercado Internacional), então ela é que tem o Poder nas mãos. Só não descobriu isso ainda... Portanto, mesmo que por enquanto seja de uma forma potencial, A JUVENTUDE É O PRESENTE!!!

ECOLOGIA => É a ciência que estuda o cuidado com a nossa “casa” (eco = oykos = casa), que é o meio ambiente. Well... Aqui não se trata de discutir definições. Afinal, contra a etimologia (= origem das palavras) não há argumentos. O que devemos discutir aqui é a defesa da Ecologia como solução para os problemas do nosso meio ambiente. A ciência estuda, fala, orienta... Mas não é, em última instância, quem age. Precisamos aliar à Ecologia uma atitude, uma ECOFILIA. Filia = phylia = amor, amizade. Precisamos redescobrir o nosso papel na Natureza. Graças a uma interpretação antropológica de mundo, fruto do Humanismo ("O Homem é a medida de todas as coisas"), até a Bíblia é usada como justificativa para explorarmos a Terra, em vez de cuidar e dela tirar o sustento. Exemplo: O que nos vem à mente, ao ler: “enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28)? Esta frase, solta, descontextualizada, o que tem a nos dizer hoje? Sem entender o sentido original do texto -- e lendo-o à luz da cultura atual --, fica muito fácil usar a Bíblia para justificar o agronegócio, as monoculturas, o hidronegócio etc. Mas quem ama a Terra, o ecófilo, não explora a Terra; antes, com ela se integra, pois sabe muito bem que, diante do Universo, a humanidade e a Mãe Terra formam um único CORPO, um SER VIVO em órbita, transitando pelo espaço sideral, a bordo da Via Láctea.

Enfim... Sobre estes 3 termos era isso... A partir da próxima postagem, vamos entrar no tema propriamente dito. Para tanto, utilizarei o recorte proposto pelo CEBI, ano passado, em suas reflexões sobre Ecologia; a saber: Gênesis 1 a 12.

Aproveito para reiterar meu agradecimento pela oportunidade de escrever neste espaço, com o qual me identifico, graças ao carisma franciscano.

Paz & Bem!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

terça-feira, 22 de abril de 2008

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje"

"Eu sou o Pão de vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede". (Jo. 6,35).

O ser humano em sua naturalidade está sempre dependendo; assim sendo, dependemos do ar que respiramos, da comida que comemos e da água que bebemos; a isso chamamos de necessidades naturais; porém, a nossa dependência vai além das necessidades naturais; logo que nascemos somos um dos únicos seres que dependemos em tudo de nossos pais de forma que, com isso, temos uma forte ligação psíquica emocional com nossos genitores e isso demonstra a nossa fragilidade e ao mesmo tempo a nossa fortaleza, pois se dependemos em tudo também somos amados e defendidos por aqueles que nos deram a vida. E mesmo se um pai ou mãe abandona sua prole, Deus jamais nos abandonará: "Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca". (Is 49,15).

Ora, refletindo sobre essa nossa realidade humana, nos perguntamos: como pode ser de filhos de Deus vivendo nestas condições? Se vemos tanta miséria na face da terra, isso se dá porque não assumimos que somos filhos de Deus e irmãos uns dos outros. Daí o desastre nas relações humanas; as divisões e guerras de toda espécie devido à ganância que ocupa os corações daqueles que buscam egoisticamente construir seus impérios às custas da infelicidade dos menos favorecidos.

Viver a condição de filhos e filhas de Deus é deixar-nos conduzir pelo Espírito Santo no seguimento de Jesus Cristo o Filho de Deus por excelência. Quando dizemos: "Dai-nos", isto implica dizer que "é bela a confiança dos filhos e filhas que tudo esperam de seu Pai. Pois "Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos" (Mt 5,45) e dá a todos os seres vivos "o alimento a seu tempo" (Sl 104,27). Jesus nos ensina a fazer este pedido, que glorifica efetivamente nosso Pai, porque reconhece como Ele é bom para além de toda bondade.

"Dai-nos" é ainda expressão da Aliança: pertencemos a Ele e Ele pertence a nós e age em nosso favor. Mas esse "nós" significa reconhecê-lo também como o Pai de todos os homens, por isso, lhe pedimos por todos eles, em solidariedade com suas necessidades e sofrimentos.

"O pão nosso". O Pai, que nos dá a vida, não pode deixar de nos dar alimento necessário à vida, todos os bens "úteis" matérias e espirituais. No Sermão da Montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera com a Providência de nosso Pai (Cf. Mt 6,25-34). Não nos exorta a nenhuma passividade (Cf. 2Ts 3,6-13), mas quer libertar-nos de toda inquietação e de toda preocupação. É esse o abandono filial dos filhos de Deus: "Aos que procuram o Reino e a justiça de Deus, Ele promete dar tudo por acréscimo. Com efeito, tudo pertence a Deus: a quem possui Deus, nada lhe falta, se ele próprio não falta a Deus" (São Cipriano, Dom. orat. 21: PL 4,534)".

Caríssimos irmãos e irmãs é louvável a iniciativa do nosso Presidente da República começar seu governo atacando um dos males que mais envergonha a nossa sociedade que é a fome e a miséria em que se encontra a grande maioria de nossa população menos favorecida.

Peçamos a Deus que lhe dê sabedoria e discernimento para que esse princípio de justiça de seus atos de governo seja alento para a população que será assistida pelos órgãos governamentais e que o Senhor todo poderoso o ilumine e oriente para que seja um instrumento de fraternidade e solidariedade na solução dos nossos problemas sociais.

Vem, Senhor Jesus! Aqui estamos e te esperamos na certeza de que o Reino de Deus e sua Justiça, que se faz presente no meio de nós, chegará em toda sua Plenitude com a tua segunda vinda.

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

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