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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Teologia que eu defendo

Marcelo Barros*

A polêmica entre teólogos amigos meus e companheiros de história e de missão me obriga a rever e aprofundar em que Deus acredito, como sigo Jesus e que tipo de teologia, defendo. Não quero dar mais munição a adversários da Teologia da Libertação. Penso que o alto nível deste debate, assim como a ética e a integridade de ambos os lados, garantem que, no final, espero, todos aprendam com todos. Se se tratasse de uma mera polêmica para vencer o outro, sem dúvida, seria inútil e anti-espiritual, como as antigas apologias que a Igreja fazia contra os considerados "hereges". Se, ao contrário, se trata da busca de um diálogo verdadeiro, a meta não é ver quem vence e sim como caminhar juntos para uma verdade que ultrapassa a todos. Pessoalmente, como monge, me sinto muito ligado à teologia patrística e oriental. Sempre me impressionou o fato de que a Igreja Oriental deu a um místico o título de "teólogo" (São Simeão, o Teólogo, monge grego do século X), não porque ele tivesse desenvolvido com muitos argumentos "o núcleo duro da Teologia", (não sei o que isso teria a ver com Deus e com a fé), mas porque soube penetrar nos mistérios mais altos da intimidade divina.

Ao me consagrar a uma Teologia Pluralista da Libertação, tenho muita dificuldade em lidar com a linguagem arrogante que fala do Cristo como fundamento primeiro da Teologia, desligando-o do sacramento do pobre. Sinto como se estivéssemos recuando ao tempo em que a Teologia ficava com a racionalidade ocidental e considerava a Espiritualidade um campo menos sério e pouco objetivo. Para mim, o mais importante é a palavra de Jesus no Evangelho: "Não é quem me diz ´Senhor!, Senhor!´ que entra no reino, mas quem faz a vontade do meu Pai que está no céu" (Mt 7, 21). E com relação aos pobres: "o que fizeste a um destes pequeninos, a mim o fizeste" (Mt 25, 40). Se ele mesmo propõe esta identificação tão forte, porque é preciso fazer uma Teologia para distinguir e separar?

Continuo convencido de que vale a pena ser discípulo de Jesus, mas não isolando o Cristo como objeto da fé e fundamento teórico da Teologia e sim como referência para o seguimento. Quero crer em Jesus, assumindo a fé de Jesus, fé no Abba, um paizinho que é como mãe de Amor, sua fé no mundo transformado e sua fé em nós como pessoas, às quais ele confia a missão de testemunhar o seu amor e o reino.

Em 1968, Pasolini começa o filme ‘Teorema’ com uma citação do Êxodo: "Deus não conduziu o seu povo da escravidão do Egito para a terra da liberdade por um caminho reto (a terra dos filisteus), mas o fez dar volta durante 40 anos, pelo deserto..." (Ex 13, 17- 18). A Teologia da Libertação está completando quLinkase seus 40 anos. Certamente, em seu caminho pelo deserto, ocorreram voltas e desvios que fazem parte desta busca. O importante é o que Jon Sobrino denominou "Princípio Misericórdia" e tem de ser nossa hermenêutica e nossa vida.

* Monge beneditino e escritor
Extraído de http://www.cebsuai.org.br/content/view/1512/36/ acesso em 12 Dez. 2008.

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