Jefferson Eduardo dos Santos Machado
1 - Introdução
Na verdade muitas pesquisas já foram feitas sobre Francisco de Assis. Como historiadores, nós nunca poderemos deixar de observar todo contexto histórico, que norteava sua época e sua região, pois o homem é fruto de seu tempo e sofre influência, em parte, pelos acontecimentos e, por outra, pelos movimentos que observa durante sua vida. Neste trabalho tentaremos mostrar um cidadão de Assis que vive a Idade Média como um momento cultural, social, religioso, mítico, arcaico, motivo de escândalo e de interesse.
Francisco inicia a sua caminhada espiritual com vinte anos em 1201-1202, um momento de grande expansão para a cristandade (séc. XI - séc. XIII). Este momento é época de grande desenvolvimento econômico e social, que faz crescer as oportunidades de trabalho e melhorar as técnicas de plantio. O campesinato recebe a liberdade por parte dos senhores e as atividades comerciais intensificam-se, culminando com o renascimento das cidades.
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Este grupo social contesta as arbitrariedades senhoriais e vai arrancando vantagens para a garantia de suas atividades. Os vários grupos sociais buscam uma maneira de aumentar seu capital, o que ocasiona um distanciamento entre ricos e pobres.[ . . . ]
Francisco, filho de comerciante, cidadão de Assis, responde a estes anseios, desde o momento que começa a realizar seu trabalho apostólico na cidade. Seus contemporâneos vêem nele uma resposta aos seus desejos e suas rejeições. Com o aumento da pobreza ele tenta trazer a ela dignidade, vivendo o Cristo "nu" do Evangelho.[ . . . ]
Em seu apostolado ele sente a opressão exercida pelos nobres sobre os camponeses e artesãos, ao auxiliá-los em suas tarefas diárias.[ . . . ]
Francisco vive com radicalidade as palavras sagradas vendo nelas um forte chamado. Ele não vê isolamento como solução espiritual para os problemas da cristandade.[ . . . ]
Francisco, porém, não condena os ricos, e tenta transformá-los através de seus exemplos, isto é, coloca-se como modelo ao qual todos devem mirar para ver a pobreza como algo belo e acessível.3 - Francisco e a Igreja
Na Idade Média, a sociedade como um conjunto de povos unidos pela fé, se sobrepunha as particularidades e divisões em nações e reinos, isto é, o "mundo" cristão.
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Nestes séculos surgem também a época clássica das ciências sagradas, cujo pilar fundamental era o desenvolvimento da teologia "Escolástica".[ . . . ]
Neste contexto o homem passa a ser conhecido pela sua fé e por sua grande participação numa estrutura de inspiração. Participar da Igreja era adquirir um comportamento típico, trabalhando um modo de ser. Francisco participa desta estrutura e assume os sacrifícios necessários para cumprir suas metas.[ . . . ]
Francisco ao contrário de outros grupos, com propostas semelhantes as suas, não entra em choque com a Santa Sé. Estes grupos combatem as práticas do clero, a detenção do monopólio da leitura e interpretação do Evangelho e são considerados heréticos, isto é, traidores da fé cristã que criticam os dogmas da Igreja. Francisco adota um caráter humilde e uma visão de um mundo e um Deus maravilhosos.4 - Conclusão
Muitas pesquisas, como já dissemos, foram realizadas sobre Francisco. Muitos autores apresentaram suas visões sobre o tema.
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Observamos que nestes textos o autor coloca Francisco como criador de algo novo, que supri as ansiedades dos seus contemporâneos. Ele vive as dúvidas e problemáticas de seu tempo e assume em sua missão o papel de tentar respondê-las.[ . . . ]
Já Desbonnets afirma que o "Evangelho marca o ritmo de sua vida" (5). Ele "tinha o sentimento de ser capaz de chegar diretamente ao Evangelho" (6). Francisco tem uma posição discordante em alguns casos, assemelhando-se às vezes à sua classe anterior que não concorda com a necessidade de intermediários entre eles e a Bíblia. Francisco como homem medieval é evangélico, colocando sempre o Evangelho como caminho para o seu apostolado.[ . . . ]
Todos estes autores analisando aspectos diferentes de Francisco chegam a mesma conclusão, Francisco viveu seu tempo e foi agente transformador de sua sociedade.Como não poderíamos deixar de observar, através das pesquisas aqui descritas, que ele soube catalisar a sua realidade e criar um ideário próprio, que era baseado também no Evangelho. Porém com a entrada de muitos membros e da intervenção da Igreja muito desse ideal foi esquecido, pois com a entrada de letrados, deixou-se de valorizar o exemplo e as experiências vividas para se valorizar a oratória e a vida monástica.
Notas:
1 - Le Goff, Jacques "Francisco de Assis Entre as Inovações e a Morosidade do Mundo Feudal", Concilium, Petrópolis, n.169, 1981.
2- Idem .
3 - Mollat, M. "A pobreza de Francisco: Opção Cristã e Social", Concilium, Petrópolis, n.169, 1981.
4 - Idem.
5 - Desbonnets, T. "A leitura Franciscana da Escritura", Concilium, Petrópolis, n.169, 1981.
6 - Idem.
7 - Mazzuco, Vitório. Francisco de Assis e o Modelo do Amor Cortês - Cavalheiresco. Petrópolis: Vozes, 1994.
Leia na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/Jefferson.htm
Ilustração: PORTINARI. São Francisco. 1941.
Pintura a óleo/tela.
73 x 60cm
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