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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Família e vocação franciscana secular

Os franciscanos seculares considerem a família como o âmbito prioritário para viver o próprio compromisso cristão e a vocação franciscana e nela deem espaço à oração, à Palavra de Deus e à catequese, empenhando-se no respeito à vida, desde a concepção, e em qualquer situação, até à morte. (Const. Gerais da OFS, art 24, n.1)
1. Ninguém dúvida que a família seja uma das mais fundamentais e importantes  realidades de todas as existências. A artigo da CCGG da OFS acima mencionado  fala da família como âmbito, espaço prioritário para os franciscanos seculares.  O texto pede que os seculares vivam todas as dimensões da Igreja doméstica que é a família.  A Regra pede que  vivam em família o espírito de paz, da fidelidade e do respeito pela vida. Que a família dos franciscanos seja, diante dos homens, sinal de um mundo já renovado em Cristo (cf. n. 15).  Não estamos diante de um tema secundário, mas prioritário para a vida das fraternidades franciscanas, para a sociedade e para a Igreja. Todas as campanhas que visam destruir e desestabilizar a família  deterioram o amanhã da  humanidade.

2. Duas observações  preliminares para que este texto possa ser bem compreendido. O autor destas linhas tem pleníssima consciência da complexidade cultural, social e religiosa das famílias de hoje. Não é possível, sem mais nem menos, querer rapidamente que nossas famílias se tornem Igrejas domésticas. Há uma decalagem entre o ideal e o que acontece. Essa é a primeira observação. Ao refletir sobre OFS e família não há nenhuma intenção  de dogmatizar que nossas Fraternidades devam ser constituídas por casais e famílias. A OFS não é um grupo familiar. Sabemos disto. É uma escola de santificação aberta a todos.

3. O último Capitulo Nacional da OFS de Manaus pediu que, no triênio em curso, se prestasse atenção na ação missionária dos seculares. Falou-se da elaboração de  um programa de ação missionária que viesse  também a  contemplar a atuação nas famílias, células primeiras da transformação do mundo... Porque o futuro da humanidade passa pela família, no dizer do Papa João Paulo e porque  os seculares franciscanos precisam priorizar a família,  fazemos algumas considerações que nos parecem oportunas visando irmãos em geral, mas de modo particular a atuação dos assistentes no seio de nossas Fraternidades. Cabe a estes fazer com que as Fraternidades tenham preocupações eclesiais.

4. As pessoas resolvem ser franciscanas seculares por vocação. Há todo um período de discernimento, de formação, de vivência numa fraternidade antes da profissão.  Há um duplo movimento:  os que são chamados a seguir Francisco no mundo se reúnem em fraternidades, mas logo em seguida são reenvidados ao mundo. Um rapaz, uma moça, um homem e uma mulher fazem parte de uma família. Ali eles serão franciscanos: a busca incessante do rosto de Deus, uma vida despojada e alegre cantando as glórias do Senhor, evangelizando, de alguma forma, a própria família. Não posso imaginar um franciscano secular sem apreço, carinho, devotamento, dedicação à própria família. Isso se traduz numa alegria de viver à mesa com os seus, de passar,  pelo modo de ser, a alegria da simplicidade e da pobreza, o distanciamento de toda ostentação, mesmo contrariando membros da família. Não me parece normal que uma senhora, por exemplo, faça sua profissão, seu jubileu de prata na OFS sem que isto tenha nenhum significado para seu marido, seus filhos e seus familiares. Por isso sonho, sonho mesmo, que em muitas Fraternidades haja casados que caminhem juntos, que os dois construam uma família franciscana.  Sonho com Fraternidades que tenham a criatividade e a decisão de fazer encontros com os familiares.  Não é possível que anos a fio essas reuniões das Fraternidades ignorem as famílias. Filhos, irmãos, pais dos seculares precisam ser estimados pelos irmãos da Fraternidade.

5. Bom seria, muito bom seria, se marido e mulher fossem franciscanos seculares. “Os casados encontram na  Regra da OFS um valioso auxílio para percorrer o caminho da vida cristã, conscientes de que, no sacramento do matrimônio, o seu mútuo amor participa do amor que Cristo tem pela Igreja. O amor dos esposos e a afirmação do valor da fidelidade são um profundo testemunho para a própria família, para a Igreja e para o mundo”  (CCGG 24,1).  Pode mesmo acontecer que a esposa de um terceiro ou o marido de uma senhora terceira não tenha vocação para a OFS.  Nada de forçar seu ingresso. Mas ele ou ela poderiam ser  simpatizantes e participar eventualmente das reuniões. Em minhas visitas tenho visto alguns casos desses.  Eles me encantam.

6. A reunião da Fraternidade será marcada por temas familiares. Não posso me privar à alegria de transcrever luminosas orientações dadas pelas CCGG da OFS e que deveriam ser aprofundadas e incentivadas por todos os conselhos locais. Penso que um assistente  poderia implementar e incentivar o que aparece  aí.

Na Fraternidade: - que seja tema de diálogo e de partilha, de experiência a espiritualidade familiar e conjugal e a abordagem cristã dos problemas familiares; -  partilhem-se os momentos da vida familiar dos  co-irmãos e demonstre-se atenção fraterna  com aqueles – solteiros, viúvos, pais sós, separados, divorciados – que vivem em situações e condições difíceis;  - criem-se condições para o diálogo entre grupos de diferentes gerações;-  seja favorecida a formação  de grupos de casais e  de grupos familiares (Art 24, n. 2).  Sonho que os Conselhos locais incentivem a formação de grupos de famílias com forte presença de casais franciscanos. Temos que renovar.  Temos que tornar sólidas as famílias. Não podemos ignorar o assunto.

7. Na Igreja do Brasil, em nossos dias, tenta-se organizar a Pastoral  Familiar em nível diocesano e paroquial.  Como seria bom se casais franciscanos, com seu jeito despojado, verdadeiro, leal, fraterno, simples, acolhedor, dialogante, pudessem ser líderes dessa pastoral!  Não fomos convocados  para sermos restauradores da Igreja, como  Francisco?  Por vezes, tendo trabalho quase duas décadas com a Pastoral Familiar em todos os cantos do país, penso que a Pastoral  ganharia muito com agentes evangelicamente  qualificados como são os franciscanos  seculares.  Se fizermos isso nada estaremos fazendo senão seguir os ditames das CCGG:  “Os irmãos colaborem com os esforços que se envidam na Igreja e na sociedade para a firmar o valor da fidelidade e do respeito pela vida e para dar resposta aos problemas sociais da família”  (Art 24, 3).

Concluindo

Nossas Fraternidades Franciscanas Seculares precisam se reinventar. O amanhã está sendo apontado pelo Espirito, que é a alma da Igreja e  Ministro Geral dos franciscanos.  As reflexões sobre a família poderão nos sugerir caminhos novos. Ou será que me engano?

(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III

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