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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Modo franciscano de solução de conflitos

É permitido simplesmente matar Osama bin Laden para quebrar a corrente de violência e crimes desumanos? É permitido anular os direitos fundamentais do ser humano e o estado de direito se não é possível apanhá-lo de outra maneira? Este tema é debatido em todas as regiões de maneira viva e controversa após o assassinato de bin Laden por uma unidade de elite dos Estados Unidos. Não é possível dar respostas simples a esta pergunta. Também para cristãos não é possível dar esta resposta, como podemos depreender da carta da Província Franciscana de Nova Yorque, que será publicada a seguir.

Um rápido olhar para Francisco poderia ajudar-nos realmente. Ele está convencido de que temos de aguentar simplesmente a violência e a crueldade desenfreadas. Numa carta dirigida a um ministro que incapaz de dissolver os conflitos no seu convento, escreve o seguinte: “Não deves desejar que sejam melhores cristãos.” Isto quer dizer, que não se deve evitar o mal, é preciso agüenta-lo. Vai ainda mais longe: temos de nos submeter ao mal, só assim pode verificar-se toda a força do amor e da obediência.

Esta capacidade de suportar conflito e sofrimento só é possível no entanto, quando estiver a par com outra atitude fundamental que foi muito importante para Francisco: a capacidade de compassio, de poder sentir compaixão; uma capacidade com a qual se pode sentir na própria carne o sofrimento do outro. Francisco é, pois, não só o “mendigo” alegre ou o “frei sempre alegre”, mas sim é alguém que “sofre” e que “chora”. A sua compaixão dirige-se a todos os seres vivos, ao irmão na sua comunidade, ao leproso e ao mendigo, ao verme na rua e ao cordeiro no campo. Por trás disto está um sentimento profundo. O mal (violência, injustiça) com o qual somos confrontados está também dentro de nós. E o bem que desejamos está também existente no outro, talvez oculto, mas não completamente desaparecido. A nossa compassio tem de se dirigir, pois, em dois sentidos. É válida tanto para as vítimas como para os autores dos crimes, quer dizer, também para aqueles que, na sua paixão ou cegueira desenfreada, provocam este sofrimento noutras pessoas. Não é possível dividir o mundo simplesmente em bom e mau, em vítimas e autores de crimes. Nós temos as duas facetas dentro de nós mesmos. E, conforme as circunstâncias, uma ou a outra pode prevalecer e dominar.

A capacidade de compassio não é um privilégio de pessoas religiosas, pode resultar também de raízes humanistas. Para Mahatma Gandhi, por exemplo, está ligada essencialmente à convicção de que Deus está em todo o ser, quer dizer, que só é necessário que avivemos esta divindade em nós, como a visão dum mundo mais justo se torna, para Che Guevara, a fonte de energia para o compromisso apaixonado pelos pobres. Francisco deve a sua capacidade de compassio ao encontro íntimo com o Cristo em sofrimento. Isto fez com que nele crescesse o reconhecimento de que, sem afeição e amor e sem a disposição de compaixão, nunca pode ser despertado o bem noutra pessoa.

Como Francisco vivenciou isto realmente tornou-se o gerador da paz conhecido e reconhecido em toda a parte. Ele é, portanto, não só uma pessoa pacífica que se submete e não reage. Pelo contrário, é uma pessoa que vê a sua missão de gerar a paz. É capaz disto porque, no encontro com Deus, encontrou a paz e tem a força interior de suportar também conflitos e trazer à discussão tudo pacificamente, mas de maneira decidida. Isto demonstra, por outro lado, que a não-violência não é uma atitude de fraqueza, mas sim uma atitude interior profunda que também se deve exprimir no pensamento e na linguagem.

Com esta atitude, Francisco torna-se o grande gerador da paz, por isso, rejeita todo o uso de armas; o desejo de paz determina cada encontro e cada pregação. Esta atitude também é sua alternativa à Cruzada. Sua atitude não violenta e geradora da paz é condensada na famosa lenda do lobo de Gubbio que só se transformou numa fera porque estava esfomeado. Encontra-se com o lobo sem medo e sem armas e o persuade a prescindir dos seus saques, ao mesmo tempo, que persuade os cidadãos de Gubbio de que só poderão viver em paz, se derem também ao lobo o que ele precisar para viver.

No que diz respeito a bin Laden, isto significa que nós precisamos nos perguntar porque se tornou ele um terrorista impiedoso? Sem estruturas mais justas e mais humanas não seremos capazes de erradicar o mal do terrorismo. Estamos, pois, no princípio, mesmo depois da morte de Osama bin Laden.

Andreas Müller OFM

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