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segunda-feira, 19 de março de 2012

“Há um debate dentro da igreja” / entrevista com Erico Hammes


O padre católico Érico Hammes, doutor em Teologia e professor da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que o crescimento da ala gay nas religiões é um fenômeno já detectado pela Igreja Católica – e provoca um debate entre teólogos sobre como lidar com a homossexualidade dos fiéis, embora uma mudança de postura oficial por parte do Vaticano ainda seja pouco provável.
A entrevista é de Marcelo Gonzatto e publicada pelo jornal Zero Hora, 18-03-2012.
Eis a entrevista.
Como o senhor vê o fenômeno de expansão das igrejas inclusivas para homossexuais?

Qualquer grupo de pessoas que não se sinta em casa em algum lugar, pode se organizar. De fato, existe isso em vários países. A igreja católica tem disposição de acolher, mas, se as pessoas não se sentem acolhidas, como pode acontecer com qualquer outro grupo, é uma questão de consciência. Quanto a fazer disso um bandeira para forçar a mudança de compreensão, claro que na sociedade isso tem de ser discutido abertamente. A igreja tem refletido e procurado compreender o fenômeno, a realidade da homossexualidade, algo que até pouco tempo não se manifestava.

Mas há um debate na igreja católica sobre ampliar a aceitação aos homossexuais?

Há o debate teológico, ético e moral. Vários grupos, nos Estados Unidos, na Alemanha, por exemplo, da chamada teologia queer (homossexual), que é um termo mais abrangente, algo que já existe no Brasil, com estudos e pesquisas para procurar explicitar a transcendência em relação a Deus a partir da opção de vida homossexual. Claro que essas pessoas também debatem isso internamente, eventos, congressos, mas em âmbito teológico. E, dentro da igreja, se reflete e se recebe de alguma forma isso. Se olharmos o catecismo oficial em sua versão atual, ele já tematiza isso, o que até alguns anos não teria sido possível. Há um debate teológico, mas também moral e comportamental dentro da igreja.

Como isso está presente no catecismo?

Se fala que tipo de atitude se deve ter, que se deve respeitar, não condenar a pessoa, sempre tem de distinguir a pessoa e o comportamento. Isso significa, por exemplo, que um homossexual possa conversar sobre isso dentro da igreja, consiga refletir sua condição para depois decidir, de acordo com a sua consciência, o seu modo de comportamento.

Mas há possibilidade de que mude a postura da igreja?

Não podemos definir como será o futuro. Temos hoje, na igreja, uma compreensão geral de que se pode matizar, diria essa palavra, mudar na forma de tratar, de abordar e assim por diante. Mas não diria que se pode falar em uma mudança abrupta, para já.

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