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quinta-feira, 22 de março de 2012

O Ateísmo e Francisco de Assis

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2012/2012_02_News.shtml acesso em 21 mar. 2012.

Reflexão a partir da "Gaudium et Spes”, 19

Anton Rotzetter OFM Cap

“O ateísmo”, como afirma o Concílio Vaticano II, "... deve ser considerado entre os fatos mais graves do tempo atual", é inclusive, um dos "sinais dos tempos". Em outras palavras, o que aparece como ateísmo deve ser examinado de perto. Nós devemos nos perguntar, se este fenômeno, não será um dos caminhos para Deus se aproximar de nós. De qualquer maneira, o Concílio nos alertou: O ateísmo deve ser “objeto de um exame sério e profundo". E continua o texto:

“O ateísmo se origina, não raramente ou de um protesto violento contra o mal que existe no mundo, ou do caráter do próprio absoluto que se atribui indevidamente a alguns bens humanos, de tal modo que sejam tomados por Deus... O ateísmo, considerado no seu conjunto, não é algo inato, mas antes originado de causas diversas, entre as quais se enumera também a reação crítica contra as religiões e, em algumas regiões sobretudo contra a religião cristã. Por esta razão, nesta gênese, do ateísmo, grande parte podem ter os crentes, enquanto, negligenciando a educação da fé, ou por uma exposição falaz da doutrina, ou por faltas na sua vida religiosa, moral e social, se poderia dizer deles que mais escondem que manifestam a face genuína de Deus e da religião”.

Este é um texto claro! O ateísmo é, não por último, uma reação de insatisfação frente ao testemunho de Deus dado através das religiões, especialmente o cristianismo. É o que se chama "ateísmo prático”! Quantas vezes, à revelia do que a Bíblia fala, se tem o nome de Deus nos lábios, enquanto se vive e age como se Deus não existisse! Esse é o ateísmo prático. Deus é ação, transformação, amor incondicional. E Ele não tem outras mãos senão as mãos daqueles que acreditam nele. Fala-se também no "ateísmo eclesial”. Uma igreja que coloca a si mesma no centro, se proclama e se passa como objeto do anúncio, sem apontar para além de si mesma, é uma “igreja ateísta”. Se ela não reconhece as suas contradições e inconsistências, culpando apenas os fieis, mas nunca a si própria, é ateísta. Ela não pode afirmar, por exemplo, sempre ter ensinado as outras religiões "são caminhos para a salvação", porque isso seria uma mentira concreta e deliberada. Não pode se comunicar o dogma através de uma interpretação que lhe dá o sentido contrário e, em seguida, dizer que aquilo que foi dito hoje, já fazia parte do texto anterior. Também a maneira como se interpreta o Concílio Vaticano II, nos mais altos escalões da Igreja, representa uma compreensão da história, que zomba da verdade. Também a convicção com a qual os mais altos funcionários da Igreja atual ligam diretamente a Jesus algumas formas concretas da Igreja de hoje, apresentando isto como verdade incontestável, revela uma auto-deificação, que deve causar, com razão, a mais violenta oposição. Há ainda as Cruzadas, as guerras religiosas, a Inquisição, a missão violenta, o exercício do poder papal, as intrigas, o silêncio imposto às opiniões diferentes, o abuso dos direitos humanos na igreja, a destruição das iniciativas da Teologia da Libertação e movimentos, a falha da moral sexual, os casos de abuso etc. A igreja traz em si um problema de credibilidade, causado por ela mesma: ela obscurece o rosto de Deus, não só em seus membros, enquanto indivíduos, mas também enquanto instituição e em sua conduta oficial. Se isto representa "Deus", então o ateísmo está certo, confirmam muitos. E muitos estão se voltando para uma imagem confusa ou esotérica de Deus. Entre 1990 e 2009, só na Alemanha mais de 2 ½ milhões de pessoas deixaram a Igreja Católica.

O Concílio começa o nº 19 da "Gaudium et Spes", com uma excelente constatação:
 “A razão principal da dignidade humana consiste na sua vocação do ser humano para a comunhão com Deus. Já desde sua origem, homem e mulher são convidados para o diálogo com Deus. Pois o ser humano, se existe, é somente porque deus o criou e isto por amor. Por amor é sempre conservado. E não vive plenamente segundo a verdade, a não ser que reconheça livremente aquele amor se entregue ao seu Criador.”

Esta dignidade humana nós a encontramos em Francisco de Assis. Nele é visível como a crença em Deus transparece na realidade. O pintor Giotto expressou isso magistralmente, de uma forma única, na Igreja Superior de Assis. A igreja está ruindo (também naquele tempo!)! Sustentando com seu ombro direito o "Edifício", dançando e se alegrando, Francisco, com facilidade espantosa, impediu a queda. Seus olhos enxergam para além do que o quadro nos apresenta. Sua percepção ultrapassa a realidade concreta e descritível. Seguindo a direção de seu olhar, se vê numa outra imagem, o Abraão que, na realidade terrena, não tinha indício algum, que provasse o carinho de Deus para com ele. Nem sua própria força, nem a auto-deificação é o que vai salvar a igreja, mas somente a fé incondicional. Francisco apostou nesse Deus, que se manifestou em Jesus de Nazaré, como o amor e a bondade. Clara o seguiu, porque Francisco falou do "Bom Jesus". Entre os atributos de Deus, ele se empenhou em todas as oportunidades disponíveis, para mostrar a bondade de Deus, em ladainhas, em hinos, em êxtase. Deus é o "único bem".

Francisco mostra sua experiência de Deus entre coisas, numa palavra que deveria servir para ele mesmo e para outros como um estímulo que exige uma resposta: “Per Amorem Caritatis - O amor ao amor, com que somos amados" (Ord 31), deve orientar todo nosso agir. Inumeráveis ​​são as passagens da vida de Francisco, em que ocorre esta frase para justificar a ação. Ele recomenda às pessoas que recebam o amor de Deus, que O levem dentro de si mesmos e que O dêem à luz por obras santas que devem brilhar como exemplo para aos outros!” (1Fi 53). O Deus da fé só é manifestado se o fazemos “nascer” através de nossa ação no mundo.

A crença de Francisco em Deus parece ainda mais fundamental na "festa das festas", como Francisco chama o Natal. Aqui, ele celebra a solidariedade permanente de Deus com todas as criaturas que estão "em penúria", com o amor gratuito e total para as condições terrenas. Deus e o homem, Deus e os pobres, Deus e os animais já não podem ser jogados uns contra os outros. Imediatamente após a "festa das festas", ele quer consultar o imperador a fim de obter leis, que ajudam alcançar para os pobres e os animais os seus direitos divinos. Deus e o mundo são unos.

O CCFMC quer colocar–se com seus programas ao serviço de Deus, que anula a força do ateísmo!

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