- Extraído de http://www.franciscanos.org.br/n/?p=13437 acesso em 26 mar. 2012.
- Foto: A man and his dog, occasionally seen in the vicinity of Waterfront public transit SkyTrain Station, in downtown Vancouver BC Canada. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Man_and_Dog_Near_Waterfront_SkyTrain_Station.jpg acesso em 26 mar. 2012.
Por Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Viver é sempre um desafio. Viver cristãmente requer atenção e pericia na linha da sabedoria. Ao longo de um certo tempo Francisco de Assis foi tentando descobrir seu caminho. Foi tentando descobrir o sentido de sua vida. O encontro com os pobres parece ter marcado seu caminho de discernimento vocacional.
1. Nascemos, crescemos e somos colocados diante de encruzilhadas existenciais. Nosso caminho existencial não é revelado da noite para o dia. Há escolhas que vamos fazendo ao longo da estrada. Há pessoas que abrigamos em nossa intimidade. Vamos descobrindo os elementos de nossa vocação, dessa convocaçao da vida a que sejamos gente e gente de valor. É sempre preciso dar tempo ao tempo. Há encontros com pessoas, circunstâncias particulares a cada um, visitas que nos são feitas, inspirações do alto. Podemos nos espelhar no caminho que foi sendo descoberto e palmilhado por Francisco de Assis. Aquele rapazinho de Assis que começava a sentir o gosto, o poder e a força do dinheiro. Ele era herdeiro de uma pai que estava sendo vitorioso no comercio de tecidos. Andava ele, o entanto, visitando seu interior e sentindo fome de plenitude. Era preciso respeitar as etapas. Depois da prisão, da doença esse moço sentia que seu interior ia se transformando. Era o encontro consigo mesmo.
2. O encontro com os pobres marca a vida de Francisco. Continuava ele cheio de interrogações e inquietações. O segundo encontro foi marcado e caracterizado pela saída de si mesmo e abertura ao mundo dos outros, de modo particular o mundo dos pobres. Num primeiro momento manifesta uma certa ou forte reserva para com o mundo dos mendigos, pobres, andarilhos. Num segundo momento adota, talvez, uma postura paternalista: resolve dar esmolas. E termina se identificando com os pobres. Ele será conhecido através de todos os tempos como o pobrezinho, o poverello. Nutrirá uma paixão pelo Cristo pobre e da pobreza fará sua esposa, a dama pela qual se apaixona, a Madona Povertà. A Legenda dos Três Companheiros faz uma observação que vale a pena ser ressaltada. Ele dizia a si mesmo: “ Visto que és generoso e cortês para com os homens dos quais nada recebes, a não ser favor transitório e fútil, é justo que, por amor de Deus que é generosíssimo em retribuir, sejas cortês e generoso para com os pobres” ( Legenda dos Três Companheiros, 3,3). Um pouco mais adiante se diz: “Embora fosse comerciante, era distribuidor muito leviano das riquezas mundanas”.
3. Certa vez, enquanto estava preocupado com o trabalho de vendedor de tecidos, chega um pobre, pedindo-lhe esmola pelo amor de Deus. Não acolhe nem o pedinte, nem o pedido. Se o homem tivesse pedido esmola em nome de um “figurão” da cidade talvez ele tivesse atendido à solicitação. De repente, “entrando em si mesmo”, Francisco teria ido atrás do mendigo e feito uma generosa esmola. Talvez a palavra generosidade seja muito apta para explicar o caminho de discernimento vocacional de Francisco e o nosso. A alma franciscana é generosa. Nunca mais Francisco negaria esmola aos pobres. Generosidade significa abertura aos outros.
4. Sempre fora ele dadivoso para com os pobres. Dava-lhes as próprias roupas. Comprava objetos para o decoro das pobres igrejinhas de Assis e escondido do pai mandava os presentes para os pobre sacerdotes das pobres igrejas. Aproveitava a ausência do pai e enchia a mesa de pães para os pobres. Fixemos este aspecto: pobre de coração é aquele que é desprendido.
5. Outro momento importante da caminhada de discernimento cristão de Francisco se deu em Roma, no aspecto da pobreza. Aconteceu, segundo a Legenda dos Três Companheiros, que Francisco, por motivo de peregrinação, chegou a Roma. Entrando na Igreja de São Pedro se deu conta que as esmolas eram mesquinhas. Inquietava-se com o fato. Ali estando o túmulo de Pedro as pessoas deviam ser mais generosas. Francisco fez um estardalhaço. Pegou moedas em sua bolsa e as jogou com bastante barulho. Ao sair havia pobres pedindo esmolas. Resolve trocar suas roupas com as roupas de um mendigo. Começou a pedir esmolas em francês. Não bastou a generosidade para com os pobres, mas desejava experimentar o que experimentam os pobres. Por ai vai seu discernimento vocacional. “A vocação é autêntica quando não se reduz a uma mera relação intimista com Deus, mas abre a pessoa aos serviço dos outros” (F. Marchesi).
6. O tema da pobreza é complexo. Não é aqui o lugar de fazer considerações teológicas e espirituais. Fique claro: Francisco foi compreendendo que a pobreza era uma trilha real porque Jesus, escolheu para si esse caminho, nascendo pobre no presépio, vivendo pobremente, não tendo nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça. Morreu nu e pobre no alto da cruz. Pobreza para Francisco tem um nome: Jesus. Francisco será pobre de bens, pobre de seus interesses pequenos pessoais. Livre de todo apego para ser somente de Deus, de seu amado.
7. Vivemos num mundo de opulência e de gastança. Há muitos jovens e adultos literalmente estragados pela gastança. A ordem é consumir para fazer girar a economia e ajudar o crescimento do PIB. Mas… Os franciscanos haverão de ser pessoas desejosas de viver o progresso no mundo, mas sempre mostrarão posturas de simplicidade e de não se apoiarem no dinheiro e no poder. Parece importante cultivar esse espírito de despojamento: na maneira, no estilo de se viver a família, na maneira de conviver com os outros. Não querer sempre o melhor para si. Nunca se deixar dominar pelo dinheiro.
8. Muitas de nossas reflexões se inspiraram em Fernando Uribe, OFM, em texto que fala do processo vocacional de Francisco (Verdad y Vida, enero-abril 2001, p. 75ss). Terminamos nossa reflexão com palavras do autor: “O encontro de Francisco com os pobres é garantia da autenticidade de sua vocação. Sua busca de Deus não se reduziu a um relacionamento intimista de solidão, nem sua prática da pobreza era uma simples ação ascética de domínio próprio e de libertação das coisas terrenas. Seu encontro com Deus na oração tem no encontro com os pobres a demonstração de que não está buscando a si mesmo”.
Para continuar a reflexão
- Como Francisco foi descobrindo a pobreza e os pobres
- Legenda dos Três Companheiros 8-11
- O que chama sua atenção no tocante às posturas de Francisco para com os pobres?
- O verdadeiro pobre de coração é aquele que esvazia-se de si mesmo: O que está frase quer dizer.
- O que significa viver a pobreza no mundo de hoje?
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