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quarta-feira, 28 de março de 2012

O jovem Francisco se encontra com os pobres

 
Por Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Viver é sempre um desafio. Viver cristãmente requer atenção e pericia na linha da sabedoria. Ao longo de um certo tempo Francisco de Assis foi tentando descobrir seu caminho.  Foi tentando descobrir o sentido de sua vida.  O encontro com os pobres parece ter marcado seu caminho de discernimento vocacional.

1. Nascemos, crescemos e somos colocados diante de encruzilhadas existenciais.  Nosso caminho existencial não é revelado da noite para o dia.  Há escolhas que vamos fazendo ao longo da estrada. Há pessoas que abrigamos em nossa intimidade. Vamos descobrindo os elementos de nossa vocação, dessa  convocaçao da vida a que sejamos gente e gente de valor. É sempre preciso dar tempo ao tempo.  Há encontros com pessoas, circunstâncias particulares a cada um,  visitas que nos são feitas, inspirações do alto.  Podemos nos espelhar no caminho que foi sendo descoberto e palmilhado por Francisco de Assis.   Aquele rapazinho de Assis que começava a sentir o gosto, o poder e a força do dinheiro. Ele era herdeiro de uma pai que estava sendo vitorioso no comercio de tecidos.  Andava ele, o entanto, visitando seu interior e sentindo  fome de plenitude.  Era preciso respeitar as etapas. Depois da prisão, da doença esse moço  sentia que seu interior ia se transformando. Era o encontro consigo mesmo.

2. O encontro com os pobres marca a vida de Francisco.  Continuava ele   cheio de interrogações e inquietações.   O segundo encontro foi marcado e caracterizado pela saída de si mesmo e abertura ao mundo dos outros, de modo particular o mundo dos pobres.  Num primeiro momento manifesta uma certa ou forte reserva para com o mundo dos mendigos, pobres, andarilhos.  Num segundo momento adota, talvez, uma postura paternalista: resolve dar esmolas. E termina se identificando com os pobres.  Ele será conhecido através de todos os tempos como o  pobrezinho, o poverello.  Nutrirá uma paixão pelo  Cristo pobre e  da pobreza fará sua esposa, a dama pela qual se apaixona, a Madona Povertà.  A  Legenda dos Três Companheiros  faz uma observação que vale a pena ser ressaltada.  Ele dizia a si mesmo: “  Visto que és generoso e cortês para com os homens dos quais nada recebes, a não ser favor transitório e fútil, é justo que, por amor de Deus que é generosíssimo em retribuir, sejas cortês e generoso para com os pobres”  ( Legenda dos Três Companheiros,  3,3).  Um pouco mais adiante se diz:  “Embora fosse comerciante, era distribuidor muito leviano das riquezas mundanas”.

3. Certa vez, enquanto estava preocupado com o trabalho de vendedor de tecidos, chega um pobre, pedindo-lhe esmola pelo amor de Deus. Não acolhe nem o pedinte, nem o pedido.  Se o homem tivesse pedido esmola em nome de um “figurão” da cidade talvez ele tivesse atendido à solicitação.  De repente, “entrando em si mesmo”,  Francisco teria ido atrás do mendigo e  feito uma generosa esmola.  Talvez a palavra generosidade seja  muito apta para explicar o caminho de discernimento vocacional de Francisco e o nosso.  A alma franciscana é generosa.  Nunca mais Francisco negaria esmola aos pobres.  Generosidade significa abertura aos outros.

4. Sempre fora ele dadivoso para com os pobres. Dava-lhes as próprias roupas. Comprava objetos para o decoro das pobres igrejinhas de Assis  e escondido do pai mandava os presentes para os pobre sacerdotes das pobres igrejas.  Aproveitava a ausência do pai e enchia a mesa de pães para os pobres.  Fixemos este aspecto:  pobre de coração é aquele que é desprendido.

5. Outro momento importante da caminhada de discernimento cristão de Francisco se deu em Roma, no aspecto da pobreza.  Aconteceu, segundo a Legenda dos Três Companheiros,  que Francisco, por motivo de peregrinação,  chegou a Roma.  Entrando na Igreja de São Pedro se deu conta que as esmolas eram mesquinhas.  Inquietava-se com o fato. Ali estando o túmulo de Pedro as pessoas deviam ser mais generosas. Francisco fez um estardalhaço.  Pegou moedas em sua bolsa e as jogou com bastante barulho.  Ao sair havia pobres pedindo esmolas. Resolve  trocar suas roupas com as roupas de um mendigo.  Começou a pedir esmolas em francês.  Não bastou a generosidade para com os pobres, mas desejava experimentar o que experimentam os pobres.  Por ai vai seu discernimento vocacional.  “A vocação é autêntica quando não se reduz a uma mera relação intimista  com Deus, mas abre a pessoa  aos serviço dos outros” (F. Marchesi).

6. O tema da pobreza é complexo. Não é aqui o lugar de fazer considerações teológicas e espirituais.  Fique claro: Francisco foi compreendendo que a pobreza era uma trilha real porque  Jesus,  escolheu para si esse caminho, nascendo pobre no presépio, vivendo pobremente, não tendo nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça.  Morreu nu e pobre no alto da cruz.  Pobreza para Francisco tem um nome:  Jesus.  Francisco será pobre de bens, pobre de seus interesses pequenos pessoais.  Livre de todo apego para ser somente de Deus, de seu amado.

7. Vivemos num mundo de opulência e de gastança.  Há muitos jovens e adultos literalmente estragados pela gastança. A ordem é consumir para  fazer girar a economia e  ajudar o crescimento do PIB. Mas… Os franciscanos haverão de ser pessoas desejosas de  viver o progresso no mundo, mas sempre mostrarão posturas de simplicidade e de não se apoiarem no dinheiro e  no poder. Parece importante cultivar esse espírito de despojamento: na maneira, no estilo de se viver a família, na maneira de conviver com os outros. Não querer sempre o melhor para si.  Nunca se deixar dominar pelo dinheiro.

8. Muitas de nossas reflexões se inspiraram em  Fernando Uribe, OFM, em texto que fala do processo vocacional de Francisco  (Verdad y Vida, enero-abril 2001, p.  75ss).  Terminamos nossa reflexão com palavras do autor:  “O encontro de  Francisco com os pobres é garantia da autenticidade de sua vocação.  Sua busca de Deus não se reduziu a um relacionamento intimista de solidão, nem sua prática  da pobreza era uma simples ação ascética de domínio próprio e de libertação das coisas terrenas.  Seu encontro  com Deus na oração  tem no encontro com os pobres a demonstração de que não está buscando a si mesmo”.

Para continuar a reflexão
  • Como Francisco foi descobrindo a pobreza  e os pobres
  • Legenda dos Três Companheiros  8-11 
Para refletir
  1. O que chama sua atenção no tocante às posturas de Francisco para com os pobres?
  2. O verdadeiro pobre de coração é aquele que esvazia-se de si mesmo: O que está frase quer dizer.
  3. O que significa viver a pobreza no mundo de hoje?

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