- Extraído de CCFMC News February 2012 disponível em http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2012/2012_02_News.shtml acesso em 21 mar. 20120.
Cinquenta anos do Concílio Vaticano II e a ideal franciscano. Este tema, que inciou no boletim de janeiro, vai ocupar-nos durante o ano todo, porque há razões de sobra pra dizer que as principais decisões e documentos do Concílio, se afinam com os princípios fundamentais da espiritualidade franciscana. Vivemos hoje em uma época de mudanças, cujas dimensões são, divisadas, cujos efeitos porém ainda não são reconhecidos e levados a sério. Embora saibamos que existe uma enorme diferença entre ricos e pobres, reclamamos da distribuição desigual de riqueza e poder na nossa mãe terra, e nos surpreendemos, em seguida, com o terrorrismo e a guerra. Estamos maravilhados com a primavera árabe, mas somos forçados a assistir impotentes, que a comunidade internacional das Nações Unidas não consegue parar a guerra de um cidadão contra seu próprio povo. Nós estamos vendo os sinais da destruição apocalíptica do ambiente, mas não paramos para pensar com intenção de mudar nosso estilo de vida. Faltam visões políticas que sinalizam uma mudança para melhor. A mudança, por sua vez, tem a ver com conversão e reorientação. O que precisamos é de líderes proféticos que nos ajudem a encontrar o caminho para a saída.
Francisco e Clara são estes líderes, nos quais podemos nos espelhar. Eles viviam num tempo de virada similar ao nosso. As ações da Igreja e do Governo eram determinadas por interesses que não tinham nada a ver com o espírito do Evangelho. Ambos ficaram presos em lutas de poder, guerras e cruzadas. Os pobres não tinham vez. O Deus humilde que desce na pessoa de Jesus de Nazaré, às profundezas da nossa vida terrena, e revela claramente a sua preferência pelos pobres, em Francisco e Clara trouxe de volta a memória desta imagem de Deus. Tudo que era majestoso lhes era estranho. Em suas comunidades viviam uma forma fraterna da Igreja, que representava a clara contradição com a estrutura hierárquica da época.
À luz do amor de Jesus os dois entrevêem o advento de mundo novo, o mundo do amor, da irmandade. Seu mundo anterior, o mundo no qual havia os de cima e os debaixo, os privilegiados e os humilhados, os senhores e os servos, entra em colapso. Este mundo, em que as posses davam o prestígio social, eles o abandonaram. Não reconhecem nele o mundo que Deus criou. Eles se convencem que a única alternativa é o evangelho. Aí pode haver um mundo reconciliado, no qual o valor da pessoa não depende de sua capacidade de produzir, nem do volume de sua conta bancária. Um mundo em que todos simplesmente possamos usufruir da riqueza de Deus na criação e no mundo. Poderia haver o suficiente para todos, se tivéssemos a partilha como ideal da vida e, se tivéssemos como imagem de nossa vida pessoal e social a mão aberta e estendida, em vez de punhos cerrados e ameaçadores. Este é o caminho para a paz. Este é o mundo em que as forças da guerra e do terror se esvaem. Um caminho dificílímo e longo. Mas não há outro, se realmente queremos um mundo melhor de paz e justiça. Então, o que nós precisamos é de uma nova cultura da partilha.
Como Francisco, em seu Cântico do Irmão Sol, cantou a unidade fraterna de toda a criação e lembrou-nos que não somos os senhores dela, mas criaturas iguais aos outros seres, assim também devemos aprender a acabar com toda ação que destroi a criação. Trata-se, então redescobrir a unidade de Deus, do homem e da natureza como paradigma de uma espiritualidade franciscana da criação.
A coexistência de diferentes culturas, religiões e valores no mundo, é um dos grandes problemas do nosso tempo. A coexistência pacífica numa sociedade multicultural só poderá acontecer, se entrarmos num diálogo genuíno entre culturas e religiões e chegarmos a redescobrir o caráter pacífico das mesmas.
Estes são alguns dos principais problemas e desafios que vamos abordar no decorrer do ano. A Família Franciscana é um movimento internacional e intercultural, presente em todo o mundo. Para todos aqueles e aquelas que fazem de Francisco e Clara seus modelos de vida, isto deve ser uma prioridade neste ano.
Andreas Müller OFM
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