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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A Chama do Ardor Missionário Franciscano Secular

"Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fossemos o centro do mundo e da vida".
D. Helder Câmara

São Francisco foi progressivamente tomando consciência do destino evangelizador da fraternidade, numa amplitude cada vez mais universal.
A experiência chave da vida de Francisco foi o encontro com o Evangelho, na chegada da primavera de 1208, quando escutou, durante a celebração da missa, a leitura do Evangelho de Mateus, capítulo 10, versículos 5 a 14. Após a missa, pediu ao sacerdote que explicasse o texto. Entendendo que Cristo queria que os apóstolos nada possuíssem, nem dinheiro, nem sapato, nem comida, mas, somente pregassem o Evangelho, ficou, profundamente tocado, respondendo: "creio e quero isso de todo coração". Inicia-se seu processo apostólico, sua vida missionária.

Podemos ler essa trajetória em 1 Cel XII, 29: "Por esse tempo, ingressou na Ordem um outro homem de bem, chegando a oito o número dos frades. Então, São Francisco chamando todos a si e tendo falado muitas coisas sobre o reino de Deus, o desprezo do mundo, a abnegação da própria vontade e a mortificação do corpo, dividiu-os dois a dois, por todas as partes do mundo, anunciando a remissão dos pecados. Sede pacientes, nas tribulações, confiando que o Senhor vai cumprir o que propôs e prometeu. Aos que fizerem perguntas, respondei com humildade; aos que vos perseguirem, abençoai e aos que vos caluniarem, agradecei, porque por meio disso tudo, nos está sendo preparado um reino celeste. E recebendo o mandato com gáudio e muita alegria eles se prostraram diante de São Francisco. Ele os abraçava e dizia com ternura e devoção a cada um: 'Põe teus cuidados no Senhor e ele cuidará de ti'. Frei Bernardo e frei Egídio foram para Santiago de Compostela. São Francisco e um companheiro escolheram outra região e os outros quatro foram, dois a dois, para os lados que restaram".

Celano continua nos relatando o processo missionário de São Francisco, escrevendo: "Ardendo em amor a Deus, o santo Pai Francisco sempre quis empreender as coisas as coisas mais difíceis... No sexto mês de sua conversão, inflamado em veemente desejo do santo martírio, quis navegar para a região da Síria para pregar a fé cristã e a penitência aos sarracenos e outros infiéis. Tomou um navio que ia para lá, mas sopraram ventos contrários e foi com outros navegantes parar na Esclavônia (Dalmácia e Croácia - Eslovênia)"
(I Cel XX, 55-56).), opondo-se

"Deixando o mar, Francisco, servo de Deus Altíssimo, caminhou por terra. Algum tempo depois, empreendeu uma viagem a Marrocos para pregar o Evangelho de Cristo ao miramolim e a seus sequazes. Seu entusiásmo era tanto que, as vezes, deixava para trás seu companheiro de viagem, na pressa de realizar seu intento, com verdadeira embriaguez espiritual. Mas, o bom Deus lembrou-se, em sua misericórdia de mim (Celano), opondo-se, frontalmente, quando já tínhamos chegado à Espanha, impedindo-o de continuar o caminho, por uma doença que o fez voltar atrás".

O projeto de Francisco de uma missão entre os sarracenos teria fracassado? O cardeal Guilherme Massaia OFM cap argumenta que, quanto maiores forem as contrariedades numa missão, tanto maior será a evidência do poder e da grandeza do Projeto de Deus.

Os biógrafos de São Francisco nos deixam, em suas páginas, muitos outros exemplos da caminhada missionária de Francisco e seus irmãos menores.

Frei João Franco Frambi OFM Cap
Assistente Espiritual Nacional da OFS - Revista Paz e Bem - Setembro/Outubro - 2010

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Uma mudança de paradigmas (quase) esquecido

O Concílio Vaticano II redescobriu, em “Lumen Gentium”, o povo de Deus como elemento característico da Igreja. Esta mudança paradigmática é um processo único para a época. A relação hierárquica dos cristãos passou por uma reviravolta. O papa, os bispos e os sacerdotes têm somente um papel de servidores, e os leigos têm a sua missão, a sua diginidade não devido à ordem dada pela hierarquia, mas sim por Cristo mesmo. Este fato também modifica a nossa imagem de Deus. Não veneramos um Deus dos cristãos, mas sim um Deus de todos os seres humanos, um Deus que quer livrar o Seu povo da escravidão, da opressão e da marginalização para o levar à “terra prometida” na qual todos possam viver em justiça e paz. Esta é a promessa de salvação feita por Deus.

Numa Igreja assim compreendida, a política e o humanismo (isto é, justiça, paz preservação da criação, direitos humanos, humanismo etc) são temas centrais. São as questões básicas da Igreja e os fundamentos inalienáveis quando se fala do Deus da Bíblia. Pois é Ele que chama o Seu povo para a conversão e é Ele que o liberta. O povo de Deus, portanto, consiste em pessoas que estão dispostas e que têm a coragem de testemunhar este sonho de Deus no mundo: o sonho de que Deus é Deus e nenhum ídolo, de que é um ser social que quer a vida de todos; que Ele é, entre eles, a justiça, que “enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias”, que “derruba os poderosos do trono e eleva os humildes” (Cântico de Maria - Lc 1, 46-55).

Esta é precisamente a nossa missão. Para sabermos o que isso significa concreta-mente, aqui e agora, precisamos – como diz Agostinho – ler dois livros: o livro da vida (sinais dos tempos) e a Bíblia. O Cardeal Aloisio Lohrscheider do Brasil, venerado na América Latina como “Doutor da Igreja” do nosso tempo, disse uma vez: “se hoje quisermos saber o que Deus quer de nós, então temos que ir à escola junto dos pobres, isto é, conhecer as necessidades concretas da esmagodora maioria das pessoas e ler a Bíblia a partir de sua ótica. Portanto, precisamos ter um olhar mais desperto para os problemas do nosso tempo. Daí se pode depreender o que hoje em dia devia fazer parte do campo central de ação dos cristãos“.

Em Março de 2010 o Conselho Católico Alemão de Missões (Deutscher Katholischer Missionsrat DKMR) publicou o “Apelo para uma Igreja Profética” pedindo amplo apoio ao mesmo. No DKMR está reunida a competência eclesiástica universal da igreja alemã: as grandes obras de auxílio, as ordens religiosas de missão e as secções da igreja universal das dioceses alemãs. De que se trata neste apelo? Quer dizer que a Igreja negligencia vergonhosamente a sua missão se não intervier nos problemas prementes e aflituosos do nosso tempo e se não se posicionar na primeira fila. A Igreja não pode tratar em primeiro lugar do bem estar dos cristãos construindo um muro contra o assim chamado “mundo mau”. Jesus amava os pobres; não foi o samaritano benevo-lente, não foi o pontífice, mas comeu com os publicanos e prostitutas e não quis ser instrumentalizado pelos ricos e poderosos.

Uma pessoa que compreendeu e vivenciou isto, é Francisco de Assis. Quando, num dia chegou com os seus primeiros sete irmãos a Poggio Bustone, situado no Vale de Rieti e viu a vasta planície, teve clareza: somos enviados ao imenso mundo. Por isso, chamou todos e falou-lhes do Reino de Deus e da vocação que todos deveriam cumprir. Depois dividiu-os em quatro grupos de dois irmãos e disse: “Ide, caríssimos, dois a dois para as diferentes regiões do mundo e anunciai aos homens o Evangelho da paz! (1Cel 29s). Assim, Francisco confia na sua ideia missionária – como na história da sua vocação – em sua convicção interior. A missão dos irmãos é anunciar a boa-nova da paz, quer dizer, a ideia do Reino de Deus. Somos enviados para todas as partes, todos os pontos cardeais. Não pensa de maneira nenhuma que, para isso, precisa duma ordem do Papa ou dos bispos: “Deus mesmo é que me conduziu”. Ele só manda confirmar esta convicção interior, mas não se prende aos costumes eclesiásticos da sua época. Se considerarmos isto, sabemos o que é a nossa tarefa – hoje em dia.

Andreas Müller OFM

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Modo franciscano de solução de conflitos

É permitido simplesmente matar Osama bin Laden para quebrar a corrente de violência e crimes desumanos? É permitido anular os direitos fundamentais do ser humano e o estado de direito se não é possível apanhá-lo de outra maneira? Este tema é debatido em todas as regiões de maneira viva e controversa após o assassinato de bin Laden por uma unidade de elite dos Estados Unidos. Não é possível dar respostas simples a esta pergunta. Também para cristãos não é possível dar esta resposta, como podemos depreender da carta da Província Franciscana de Nova Yorque, que será publicada a seguir.

Um rápido olhar para Francisco poderia ajudar-nos realmente. Ele está convencido de que temos de aguentar simplesmente a violência e a crueldade desenfreadas. Numa carta dirigida a um ministro que incapaz de dissolver os conflitos no seu convento, escreve o seguinte: “Não deves desejar que sejam melhores cristãos.” Isto quer dizer, que não se deve evitar o mal, é preciso agüenta-lo. Vai ainda mais longe: temos de nos submeter ao mal, só assim pode verificar-se toda a força do amor e da obediência.

Esta capacidade de suportar conflito e sofrimento só é possível no entanto, quando estiver a par com outra atitude fundamental que foi muito importante para Francisco: a capacidade de compassio, de poder sentir compaixão; uma capacidade com a qual se pode sentir na própria carne o sofrimento do outro. Francisco é, pois, não só o “mendigo” alegre ou o “frei sempre alegre”, mas sim é alguém que “sofre” e que “chora”. A sua compaixão dirige-se a todos os seres vivos, ao irmão na sua comunidade, ao leproso e ao mendigo, ao verme na rua e ao cordeiro no campo. Por trás disto está um sentimento profundo. O mal (violência, injustiça) com o qual somos confrontados está também dentro de nós. E o bem que desejamos está também existente no outro, talvez oculto, mas não completamente desaparecido. A nossa compassio tem de se dirigir, pois, em dois sentidos. É válida tanto para as vítimas como para os autores dos crimes, quer dizer, também para aqueles que, na sua paixão ou cegueira desenfreada, provocam este sofrimento noutras pessoas. Não é possível dividir o mundo simplesmente em bom e mau, em vítimas e autores de crimes. Nós temos as duas facetas dentro de nós mesmos. E, conforme as circunstâncias, uma ou a outra pode prevalecer e dominar.

A capacidade de compassio não é um privilégio de pessoas religiosas, pode resultar também de raízes humanistas. Para Mahatma Gandhi, por exemplo, está ligada essencialmente à convicção de que Deus está em todo o ser, quer dizer, que só é necessário que avivemos esta divindade em nós, como a visão dum mundo mais justo se torna, para Che Guevara, a fonte de energia para o compromisso apaixonado pelos pobres. Francisco deve a sua capacidade de compassio ao encontro íntimo com o Cristo em sofrimento. Isto fez com que nele crescesse o reconhecimento de que, sem afeição e amor e sem a disposição de compaixão, nunca pode ser despertado o bem noutra pessoa.

Como Francisco vivenciou isto realmente tornou-se o gerador da paz conhecido e reconhecido em toda a parte. Ele é, portanto, não só uma pessoa pacífica que se submete e não reage. Pelo contrário, é uma pessoa que vê a sua missão de gerar a paz. É capaz disto porque, no encontro com Deus, encontrou a paz e tem a força interior de suportar também conflitos e trazer à discussão tudo pacificamente, mas de maneira decidida. Isto demonstra, por outro lado, que a não-violência não é uma atitude de fraqueza, mas sim uma atitude interior profunda que também se deve exprimir no pensamento e na linguagem.

Com esta atitude, Francisco torna-se o grande gerador da paz, por isso, rejeita todo o uso de armas; o desejo de paz determina cada encontro e cada pregação. Esta atitude também é sua alternativa à Cruzada. Sua atitude não violenta e geradora da paz é condensada na famosa lenda do lobo de Gubbio que só se transformou numa fera porque estava esfomeado. Encontra-se com o lobo sem medo e sem armas e o persuade a prescindir dos seus saques, ao mesmo tempo, que persuade os cidadãos de Gubbio de que só poderão viver em paz, se derem também ao lobo o que ele precisar para viver.

No que diz respeito a bin Laden, isto significa que nós precisamos nos perguntar porque se tornou ele um terrorista impiedoso? Sem estruturas mais justas e mais humanas não seremos capazes de erradicar o mal do terrorismo. Estamos, pois, no princípio, mesmo depois da morte de Osama bin Laden.

Andreas Müller OFM

terça-feira, 12 de maio de 2009

A Missão dum Movimento Laical

De no CCFMC Boletín Abril/Maio 2008:
Em Fevereiro de 1208, Francisco ouviu o envio missionário de Jesus “Ide e anunciai: O Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, dai também de graça! Não leveis nos cintos moedas de ouro, de prata ou de cobre” (Mt. 10, 7-9). Cheio de entusiasmo e muito emocionado exclama: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração!” (1Cel 22,3). É o início de um movimento novo na Igreja.

E é o começo de uma nova missão: O pobre pregador ambulante Jesus de Nazaré torna-se vivo e palpável de novo. Ele, que veio para anunciar a Boa Nova aos pobres, torna-se, para Francisco, conteúdo e forma da sua missão. Quer seguir as pegadas Dele. Os cansados de carregar o peso do seu fardo, excluídos das magníficas catedrais, dos mosteiros poderosos e das cidades ricas da Idade Média, devem experimentar, outra vez, a predileção de Deus pelos pobres. Por isso, escolhe a pobreza, pois, somente quem é pobre pode sentir como se sentem aqueles que estão sempre por baixo, vivendo das migalhas dos ricos. E só quem não está preso a determinado lugar pode chegar onde as pessoas estão presas à sua miséria. Sua missão e a de seus irmãos será anunciar-lhes a mensagem libertadora do Evangelho. Quando Francisco mal tinha sete irmãos, mandou-os dois a dois aos quatro pontos cardeais para levarem esta mensagem consoladora à humanidade. Não só com palavras mas, como fez Jesus, com palavras e ações.

Na primavera do ano de 1209, passou-se um ano desde a experiência de Porciúncula. Então, Francisco pensou que seria o tempo próprio para apresentar o seu movimento à Igreja: “Vejo, irmãos, que o Senhor quer, misericordiosamente aumentar a nossa comunidade. Indo, portanto, à nossa Mãe, a santa Igreja romana, notifiquemos ao sumo pontífice, o que o Senhor começou fazer por meio de nós, para que prossigamos o que começamos em conformidade com a vontade e preceito dele.” (LTC 46, 2). O Papa deveria ver e experimentar o que o Senhor começou através deles. Também aqui, esta certeza interior: “O Senhor deu-me”. Os irmãos que se juntaram a Francisco viviam com os pobres e excluídos. A mensagem do pobre Jesus de Nazaré fez-se sentir e foi vivida entre eles mais uma vez. Isto deveria ser anunciado à Igreja. Então, os doze irmãos encaminharam-se para Roma nos seus hábitos ásperos para se apresentarem ao Papa. Como o bispo de Assis se encontrava precisamente nesta época em Roma, louvando os irmãos com entusiasmo, o Papa não teve outro remédio senão confirmar o que Deus tinha começado mediante Francisco. “O pontífice, porém, como era dotado de especial discrição, assentiu, no devido modo, aos desejos do santo e, exortando-o e aos irmãos sobre muitas coisas, abençoou-os dizendo-lhes: “Ide com o Senhor, irmãos, e, como Ele se dignar inspirar-vos, pregai a todos a penitência” (LTC 49,2).

O paralelo é visível. Jesus congrega doze discípulos escolhidos e confia neles a continuação da sua missão. Eram pesca-dores, artesãos, pequenos funcionários, quer dizer, pessoas que não pertenciam às elites teológicas do seu povo, mas que estavam abertas ao espírito de Deus que lhes foi anunciado por Jesus. Os primeiros companheiros de Francisco também foram gente do povo. Camponeses e artesãos pessoas simples e pessoas finas, às quais Francisco pode transmitir a sua visão de um outro mundo mais pacífico. Assim surgiu um movimento livre de todos os desejos de posse e domínio, um movimento capaz de transmitir assim, de novo, o Evangelho como mensagem luminosa da libertação e da esperança. O Papa Inocêncio III, o papa mais poderoso da Idade Média, reconheceu isto e deu a este movimento laical a autorização de anunciar a Boa Nova. Entendeu os sinais do tempo.

Se quisermos entender e celebrar corretamente o carisma franciscano 800 anos depois deste evento, é necessário, sendo pessoas franciscanas, que tenhamos esta certeza interior que Deus nos deu; e temos de reivindicar na Igreja outra vez o fato de os leigos terem um direito inalienável a anunciar porque Deus os chamou e os enviou.
Andréas Müller OFM

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2009/2009_04_News.shtml acesso em 12 maio 2009.


quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Fraternidade Universal

Deu no CCFMC Boletín Maio 2008:
Vivemos numa época repleta de crises. Cada vez são mais freqüentes os cenários de crise que se alastram em todo o mundo. Mal terminaram os títulos nos jornais sobre a crise financeira mundial somos confrontados com uma crise alimentar mundial. E esta crise, segundo os especialistas, ameaça a destruir os progressos na luta contra a pobreza obtidos nos últimos anos.

Toda uma serie de causas são responsáveis por esta situação, as quais poderiam, acumulando-se, desembocar numa catástrofe. O desenvolvimento deplorável, de que, p.ex. se destina cada vez mais terra útil à produção de bio-combustível, de que a demanda crescente devido ao crescimento populacional bem como as catástrofes de cheias e secas devidas às alterações climáticas, levaram a uma falta global de alimentos. A conseqüência é o aumento dos preços de bens alimentares que não podem ser pagos por muitas pessoas. Em estados pobres há pessoas que já não podem comprar os bens básicos de alimentação. No Haiti já houve manifestações violentas. Há quem fala já duma iminente guerra de fome.

Políticos e organizações caritativas estão alarmados. No entanto, é evidente que, mais uma vez, os cenários de ajuda planeados só aliviam os sintomas. Temos, finalmente, de aprender que as crises financeiras, as catástrofes ambientais, as alterações climáticas, a pobreza, por um lado, e a abundância, pelo outro, estão interligadas. Em quanto continuarmos a cultivar a maneira de viver e o padrão de consumo no mundo ocidental querendo exportá-los como geradores de felicidade para todo o mundo, não vamos encontrar soluções duráveis nem evitar conflitos bélicos. Temos de mudar de pensamento. Isto vale tanto para o consumo de energia, como para o estilo de vida, a justiça na distribuição etc. Na agenda política deve figurar, antes de mais nada, este debate. É necessário um estilo de vida sustentável apropriado para a terra e acessível a todos os homens.

Para pessoas que se referem a Francisco e Clara de Assis isto convertir-se numa questão de credibilidade. Foi Francisco que nos sensibilizou para a interligação de todos os seres criados. Esclareceu que nós não somos os donos dos seres criados mas sim seres criados dependentes duma relação harmoniosa e consciente com a natureza. Pôs a andar o movimento que se entendeu como sistema alternativo duma fraternidade universal na qual os homens, os animais, as plantas e a Mãe Terra estão interligados como irmãos e irmãs. Só com tal espiritualidade da criação vamos ganhar forças para alterarmos o nosso estilo de vida adaptando-o aos desafios do nosso tempo. A nossa tarefa será acompanharmos e encorajarmos as muitas iniciativas e os muitos vime que lutam pela preservação da Criação.

Nos anos 70 e 80 do século passado houve, em todos os ramos da Família Franciscana uma sensação de partida. Encorajados pelo Concílio, devido a um modo vivo e novo de ser-se Igreja nas igrejas locais do Sul, devido aos jubileus franciscanos de 1966 e 1982 surgiram muitas iniciativas e importantes documentos que consciencializaram mais uma vez esta missão franciscana. Os ramos da ordem franciscana descobriram, sobre tudo, que formam parte duma Família Franciscana mundial e que só em comum podem responder aos desafios do nosso tempo. De modo representativo só mencionamos o documento de Gubbio de 1982 (v. sob Impulsos) no qual os franciscanos e iniciativas ambientais se relembraram da espiritualidade franciscana da Criação. Neste documento, muitos dos problemas de hoje já são pressentidos, e foram citados passos concretos de ação. Portanto, não é necessário que comecemos desde o princípio no ano do jubileu do Carisma 2008/2009. Às vezes é suficiente lembrar-se outra vez das coisas boas e continuá-las no nosso tempo. O CCFMC pode ser uma verdadeira mina se procuramos as respectivas sugestões no mesmo.

Andreas Müller OFM

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2008/2008_05_News.shtml?navid=92
acesso em 04 set. 2008.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Francisco: o peregrino da paz

Para o frei Aldir Crocoli, a fraternidade e a solidariedade são palavras que pertencem à coluna vertebral de todo o projeto de vida de São Francisco de Assis. Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ele afirma que “o ser humano do século XXI precisa aprender isso de Francisco e de Jesus Cristo: renunciar a ser centro (egocentrismo) e constituir o outro como centro (Reinocentrismo). Este modo de ser transforma as relações humanas”.

Aldir Crocoli possui graduação em Filosofia, pela Universidade Católica de Pelotas, e em Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mestrado em Teologia, pela Pontificium Atheneum Antonianum, e doutorado em Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É professor na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (ESTEF), atuando principalmente nos seguintes temas: paz, cidadão, direitos humanos, democracia, pessoa humana, leprosos, realização humana, excluído, kénosis, História das Fontes Franciscanas, releitura das fontes, história do movimento franciscano, espiritualidade franciscana. É autor de, entre outros, Francisco de Assis e o Diálogo Inter-Religioso (Petrópolis-RJ: Família Franciscana do Brasil, 2006).

On-Line - Como definir a visão cristológica de São Francisco de Assis? Que Cristo aparecia na sua maneira de pregar o Evangelho?
Aldir Crocoli -
No século XIII, dominava a cristologia triunfalista. Falava-se muito do Cristo glorioso, identificado como Rei poderoso. Nas catedrais e grandes basílicas, se encontrava costumeiramente, encimando as cúpulas, a pintura do Pantocrator , representado pelo Cristo sentado no trono real, com o báculo do poder, às vezes com o globo terrestre na mão ou com o livro da sabedoria. Ainda hoje se vêem muitas dessas imagens.
Francisco de Assis, mesmo sem ser seu iniciador, se posiciona em outra vertente: a de um Cristo mais humano. O movimento já vinha fazendo caminho há um século. São Bernardo de Claraval falava muito dos sofrimentos (físicos) de Jesus Cristo. Desenvolviam-se devoções dedicadas aos sofrimentos de Jesus Cristo: à via-sacra, às cinco chagas, ou simplesmente se meditava nos seus sofrimentos psicológicos (fadigas, desprezos etc.). Cresciam ainda devoções ligadas à Virgem Maria: as sete dores, o presépio etc.

Francisco de Assis não percorreu esse caminho dos sofrimentos biopsicológicos de Jesus Cristo. Porém, tem uma visão profundamente humana de Jesus Cristo. Qualifica-o, sem abandonar sua grandeza, de “pobre e humilde”. Tem claro que “Jesus escolheu, juntamente com sua mãe e seus discípulos, a vida de pobre”. Chega a dizer que “se fez peregrino e viandante, vivendo de esmolas”. Caracteriza-o pelo movimento da transcendência, isto é, pela descida para os lugares sociais mais ínfimos. Seu modo de ser tem face humilde e despercebida como quando está presente e escondido na eucaristia que a gente nem vê e nem percebe. Seu primeiro biógrafo conta que em Jesus Cristo “Deus quis depender de peitos humanos” como para dizer que sua vida estava submetida ao poder de uma simples criatura humana.

Sua devoção ao presépio conecta-se a um Jesus Cristo simples, humano, pobre e humilde. Ao coordenar a realização do famoso presépio de Greccio , em 1224, Francisco “queria ver como o pobre menino ficava deitado sobre as palhas entre o boi e o burro”, aquecido pelos animais, pois lhe faltara o calor da acolhida humana.

Passar desta imagem de Jesus Cristo pobre e humilde para sua identificação com o pobre do dia a dia é um caminho breve. Francisco se condoia ao ver qualquer pobre sendo maltratado. Dizia: “Quem ofende um pobre, ofende a Cristo de quem é a imagem”. Seu amor e atenção para os pobres e leprosos decorria deste fato: eram a representação viva daquele que se fez pobre para nos enriquecer pela sua pobreza, endossando a afirmação do apóstolo Paulo. Para ele, então, o projeto de vida de um/a discípulo/a de Jesus Cristo consiste em ser solidário colocando-se ao serviço dos últimos como o Mestre que no momento mais decisivo da vida, levantou da mesa, vestiu-se com um avental e, com bacia e toalha, passou a lavar os pés dos seus discípulos.

IHU On-Line - Qual é a importância da fraternidade e da solidariedade para o santo de Assis?
Aldir Crocoli -
Estas duas palavras pertencem à coluna vertebral de todo o seu projeto de vida. Solidarizando-se com os mais necessitados e excluídos (os pobres, os leprosos, os excomungados da sociedade por crimes civis), foi compreendendo que todos somos irmãos e irmãs. Aliás, o que mais resgata a dignidade de um excluído do sistema é sentir outros condividindo sua situação, não na condição de poderosos e sim na mesma condição de fragilidade para, desde aí, encontrar conjuntamente alternativas de solução.

IHU On-Line - Que tipo de solidariedade é mais urgente em nossa sociedade hoje, com base nos ensinamentos franciscanos? O que o ser humano do século XXI mais precisa aprender de Francisco e Clara de Assis?
Aldir Crocoli -
Antes de dizer que tipo de solidariedade a sociedade de hoje precisa aprender para encarnar o espírito franciscano, é preciso reconhecer que é necessário aprender a ser solidário. O sistema socioeconômico hodierno está calcado sobre a competitividade e a concorrência. Estas estimulam a sobrepor-se aos outros. A pessoa se sente realizada ao estar mais à frente ou acima das demais. A conseqüência disso é que a pessoa é levada a servir-se dos outros, a valorizá-los na medida em que lhe são úteis.

Já a dinâmica da solidariedade impele a “estar-com-os-outros”, estar ao lado deles. Aqui a pessoa é feliz ao sentir-se unida, sintonizada, participante da “tavola rotonda” como se dizia na Idade Média. Não nutre desejo de estar acima ou ser mais importante. Antes vive preocupada e se autovigiando para garantir permanência nesta posição de igualdade, cuidando para que todos permaneçam incluídos. Esta maneira de ser se contrapõe à proposta pela sociedade de hoje, mas é a base para a solidariedade. A fraternidade emerge daí. A caridade, como é pensada comumente permite que simplesmente se dêem coisas, ao passo que a solidariedade cria laços de compromisso com o outro, que passa a ser irmão. O ser humano do século XXI precisa aprender isso de Francisco (e de Jesus Cristo): renunciar a ser centro (egocentrismo) e constituir o outro como centro (Reinocentrismo). Este modo de ser transforma as relações humanas.

IHU On-Line - Considerando a crise ambiental e climática, como a forma de são Francisco olhar para os animais e a natureza pode nos ajudar a repensar o tratamento que damos ao Planeta?
Aldir Crocoli -
No tempo de Francisco, não havia esta perspectiva de apocalipse planetário hoje vivido. Mas impressiona a muitos, de todas as culturas, raças, religiões e épocas, a maneira de Francisco se relacionar com a natureza. Ele tira a minhoca do caminho para não ser pisada. Pede para os lenhadores cortar a árvore após o primeiro galho, a fim de que possa rebrotar. Quer que se deixe um canteiro na horta para as ervas daninhas poderem viver livremente. Compra uma ovelha levada ao abate e a devolve ao proprietário para que cuide e mantenha viva. Liberta uma lebre presa em alçapão. Louva pelo sol e com o sol ao seu Criador. Louva pelos pássaros com quem conversa amigavelmente. Dialoga com o urso e o transforma em animal de estimação. Pisa com cuidado nas pedras, porque são criaturas do mesmo Deus e Pai. Não pisa na água com a qual acabou de se lavar, em agradecimento pelo importante serviço que lhe prestou etc. Por trás desta postura se percebe um grande respeito por tudo.

O filme Francesco, de Liliana Cavani , atéia e comunista, ilustra esta perspectiva com uma bela cena: Francisco e seus irmãos ganharam um cordeirinho para fazer sua refeição. Como ninguém tinha coragem de sacrificá-lo, preferiram ver o animalzinho sair livremente e passar fome que praticar aquela violência contra o indefeso animal.

Não se trata de poesia nem de irrealismo. É resultado de um processo de comunhão com o outro que alcança até as criaturas chamadas, estranhamente, de “irracionais”. O modo de ser de Francisco e primeiros companheiros foi possível por haverem abdicado de toda a forma de posse, de querer tirar proveito das criaturas. Preferiram sentir-se irmanados, admirar a grandeza e beleza do ser divino que refletem. Nesse contexto de relações, o mundo se transforma em sinal da presença divina. Nascem o respeito e a reverência. Se a humanidade tivesse esse tipo de relacionamento com o universo, indiretamente se acabaria com o problema do superaquecimento do planeta, com a destruição da camada de ozônio, com a poluição do ar, das águas e outros problemas ecológicos.
Numa passagem dos escritos de Francisco, encontra-se a afirmação de que deveríamos “estar sujeitos a todas as criaturas irracionais”. Entenda-se: não para deixá-las nos prejudicar. Submeter-se a elas no sentido de ajudá-las a serem aquilo que realmente são, aprimorando suas qualidades enquanto criaturas. Nesta perspectiva, a engenharia genética tomaria direção bem diversa, pois o que ela faz hoje é em vista do maior lucro. Vê-se que nossa racionalidade é instrumental; a de Francisco era fraternal.

IHU On-Line - Qual é a importância de São Francisco como homem da Igreja e missionário de sua instituição religiosa?
Aldir Crocoli -
Aqui poderiam ser considerados dois aspectos para contextualizar melhor a resposta. Em primeiro lugar, a respeito de Francisco como homem da Igreja. Entenda-se bem que Francisco é, sem dúvida alguma, uma pessoa com um profundo senso eclesial. Porém, foi alguém que não quis se identificar com a hierarquia da Igreja. Quis permanecer no seio da Igreja sem pertencer à sua estrutura de poder. Raoul Manselli , um leigo, professor de história medieval e muito amigo dos frades, afirmava que Francisco sempre se sentiu leigo, mesmo depois de ser ordenado diácono e de ter a regra aprovada. Queria igualmente que seus irmãos não pertencessem à Hierarquia, mas que permanecessem na condição de “irmãos menores”.

O outro ponto a ponderar é sua missionariedade que está submetida à opção pela “vida de penitência”. Quer dizer, ser missionário requer, para ele, a condição de busca da conversão, da mudança de vida. Missionar, mais que anunciar doutrinas teológicas e religiosas, é testemunhar o amor de Deus. Parece que o Documento de Aparecida , de maio deste corrente ano de 2007, confirma a mesma perspectiva ao eliminar o “e” que havia entre as duas palavras do tema da Assembléia, propondo simplesmente “discípulos missionários”, por serem o discipulado e a missionariedade duas faces da mesma realidade.

Nesta perspectiva, Francisco é alguém de vanguarda da Igreja, discípula e enviada por Deus para estimular o engajamento na construção do Reino. Pela primeira vez na história de uma instituição religiosa-eclesial, prescreveu que os frades que desejassem ir entre os sarracenos e outros infiéis primeiramente deveriam se portar como irmãos, sem discutir doutrinas teológicas, convivendo pacificamente com eles. Somente ao perceber a existência de condições favoráveis à sua recepção, poderiam anunciar as verdades da fé cristã. Em certo sentido, esse “poverello” de Assis, sem grande cultura de erudição é um eloqüente testemunho de uma postura dialogal, característica da pessoa em processo de conversão.

IHU On-Line - O senhor pode falar sobre a importância do Tau como símbolo do jeito franciscano de ser? Qual a mística que envolve o Tau?
Aldir Crocoli -
Francisco na primeira viagem a Roma foi se hospedar numa casa de um grupo de religiosos dedicados aos leprosos. Nesta casa, o símbolo do Tau estava desenhado nas portas, nas panelas, nos pratos e talheres, no hábito, em todo o lugar enfim. A cruzada das crianças (ou dos pobres), de 1212, adotara Tau como distintivo do seu exército para combater os “homens infiéis a Deus”, como se dizia então. Também aí estava desenhado em todas as armas. Alguns anos mais tarde, em 1215, durante o Concílio de Latrão , assistido por Francisco, o papa Inocêncio III , baseando-se no profeta Ezequiel 9 , convocou a todos para aceitarem o Tau como sinal daqueles que estão em processo de conversão e se engajam na cruzada contra os muçulmanos. Francisco se encanta com esta mística de estar sempre em processo de conversão a Jesus Cristo. Passa a usá-lo em substituição ao seu nome. Assim acontece no bilhete a Frei Leão que contém, no verso, a bênção. Francisco nele, ao invés de assinar o nome, desenha o Tau. Também em Fonte Colombo, perto de Rieti, local em que sofreu a cauterização dos olhos, no espaço da capelinha em que costumava rezar, para designar seu lugar, desenhou o Tau sob a janela. Este servia de memória de seu projeto de vida: ser alguém em constante processo de conversão. Esta é a mística despertada pelo Tau.

Hoje, muitos franciscanos gostam de usar o Tau para se identificar com essa mística de Francisco que, na verdade, deveria ser de todo o seguidor de Jesus Cristo.

IHU On-Line - Qual é a principal mensagem de Francisco deixada no seu Testamento?
Aldir Crocoli -
É sempre arriscado querer dizer a principal mensagem de um texto, sobretudo quando é extenso como o Testamento de Francisco. Em todo o caso, na minha opinião, poderia ser assim formulada: o decisivo é seguir o caminho da transdescendência (ser capaz de descer aos lugares inferiores na constituição social) e ali permanecer. No dizer do próprio Francisco: ser Irmão Menor. Não por um malsão autodesprezo e sim porque tem clareza de que os valores mais fundamentalmente humanos são os menos considerados pela sociedade.
O Testamento evidencia essa mensagem na primeira parte que narra o caminho percorrido por Francisco e os primeiros frades para o meio dos últimos da sociedade, por causa de Jesus Cristo. Na segunda parte, onde olha para o futuro, alerta com severidade para o risco de comportamentos de “maior”. Ali quer confirmar os irmãos na humildade e na solidariedade aos últimos.

IHU On-Line - O que tinha de especial na espiritualidade vivida por Santa Clara?
Aldir Crocoli -
Numa palavra, uma grande paixão por Jesus Cristo, a quem ela comparava a um espelho: “Olhe dentro desse espelho todos os dias... Observe no início desse espelho (nascimento): veja a pobreza e a humildade... Olhe no meio do espelho: contemple aí suas lutas, esforços e ofensas recebidas. Considere o fim do espelho: o amor que o levou a morrer a morte mais ignominiosa”. Creio que quando alguém vive, de fato, um encantamento por Jesus Cristo e por sua causa (realidades inseparáveis) se torna pessoa irradiadora de alegria, de vigor apostólico, de espontaneidade e criatividade, de coragem profética. Clara refletia essa luminosidade.

IHU On-Line - Como está a família franciscana no Brasil e no mundo? Quais são os valores que a regem e os principais desafios a serem vencidos?
Aldir Crocoli -
A árvore da família franciscana apresenta muito vigor. É composta por mais de 450 ramos (diferentes congregações religiosas) e seu número de leigos está próximo a um milhão. Porém, assim como as demais congregações e ordens religiosas, sente a necessidade de retomar o sonho original. Vive-se a necessidade e a urgência de “voltar às fontes” como dizia o Concílio Vaticano II . “Reviver o sonho de Francisco e Clara de Assis no chão da América Latina e Caribe” é o lema da celebração do VIII Centenário do nascimento do Carisma Franciscano (1208–2008) que a grande família franciscana mundial está comemorando. Os desafios apontam para duas direções diferentes e complementares: a) redescobrir ou redefinir a utopia que animou o período áureo inicial; e b) encarnar essa mística aqui e agora.


Da primeira biografia de Francisco de Assis escrita por Tomás de Celano :


“Aos frades que cortavam lenha (Francisco) proibia arrancar a árvore inteira, para que tivesse esperança de brotar outra vez. Mandou que o hortelão deixasse sem cavar o terreno ao redor da horta, para que a seu tempo o verde das ervas e a beleza das flores pudessem apregoar o formoso Pai de todas as coisas. Mandou reservar um canteiro na horta para as ervas aromáticas e para as flores, para lembrarem a suavidade eterna aos que as olhassem.
Recolhia no caminho os vermezinhos, para que não fossem pisados, e mandava dar mel e o melhor vinho às abelhas, para não morrerem de fome no frio do inverno. Chamava de irmãos todos os animais, embora tivesse preferência pelos mais mansos”.


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