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domingo, 11 de maio de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte IV

O QUE É PIOR DO QUE O ANTROPOCENTRISMO???

Já deve ter ficado claro o perigo da idolatria, pelo que dissemos até aqui.

Se perguntarmos a qualquer cristão, ou cristã, o que significa a idolatria, eles não vão ter nada agradável a dizer sobre ela.

Entretanto, não é fácil identificá-la! Isso porque ela representa nossos projetos, normalmente de realização pessoal e, por isso mesmo, opostos ao Plano de Deus.

Inconscientemente sabotamos nosso ideal de fidelidade a Deus, por ser natural querermos que sua Vontade nos seja favorável, serva de nossos propósitos.

É por isso que o primeiro relato da criação segue desmistificando os falsos ídolos. Depois do Sol (Marduc) e da Lua (Ishtar -- radical que, na verdade, dá origem à palavra “estrela”), é a vez dos bezerros de ouro, bodes e cabras sagrados etc:

Deus disse: ‘Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos e que as aves voem acima da terra, sob o firmamento do céu’, e assim se fez... E Deus viu que isso era bom. Deus os abençoou e disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos...’ Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia.” (Gn 1,20-23)

Ainda não se fala de nenhum animal terrestre, mas notemos que pela primeira vez Deus bendiz, abençoa sua criação.

A bênção implica a multiplicação da Vida. Fica evidente que não se trata de uma exclusividade, de um “tratamento VIP”, destinado à humanidade.

E por falar em humanidade...

Deus disse: ‘Que a terra produza seres vivos segundo sua espécie: animais domésticos, répteis e feras segundo sua espécie’, e assim se fez. Deus fez as feras segundo sua espécie, os animais domésticos segundo sua espécie e todos os répteis do solo segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom.” (Gn 1,24-25)

O autor repete, no v. 25, o que já havia afirmado no v.24, enfatizando que não só a humanidade, mas todos os animais terrestres foram feitos no sexto dia.

Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança...’ ” (Gn 1,26a)

Quem acompanhou as reflexões até aqui, facilmente consegue ver que, mesmo sob a aparência divina (Imagem e Semelhança), toda a humanidade, incluindo o rei babilônio (auto-denominado “filho do deus Marduc”), não passava da condição de criatura. Mas o texto segue...

‘... e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.’ ” (Gn 1,26b)

E é aí que reside o maior dos males: o homem recebe uma responsabilidade (cuidar do planeta), mas entende isso como um privilégio, do qual pode tirar proveito.

Dito de outra forma: Recebemos o papel de “pastores”, mas resolvemos agir como “lobos”.

Com a maior das responsabilidades na mão, a humanidade ainda encontra tempo para se nomear medida de todas as coisas.

Deus é destronado para a ascensão do homem, do antropos. Pronto... Está instaurado o ANTROPOCENTRISMO.

É em função disso que a relação com a terra (agora já não é mais “Mãe” e escreve-se com minúscula) deixa de ter benefícios mútuos e passa a ser de exploração.

Nisso têm culpa o homem e a mulher, como faz questão de afirmar o v. 27, quando destaca a sua igualdade de condição. Mas o antropocentrismo é tão antropocêntrico que subordina até mesmo a mulher.

O autor, talvez sem perceber o quanto será mal interpretado, segue o texto (v. 28), repetindo a expressão “dominar”, responsabilizando agora também a mulher e acrescentando a bênção divina.

Em sua “inocência”, relata que no princípio não havia carnívoros (vv. 29 e 30). Todos, humanos e animais, eram vegetarianos, pois não é desejo de Deus o derramamento de sangue.

Isso porque o sangue está intimamente ligado à sobrevivência e à manutenção da Vida.

E Deus viu que toda a sua obra é boa. Aliás... Boa não... Muito boa!!! Só que a sua “zeladora”, a humanidade... bem... sobre isso continuamos outra hora! Até lá!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

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