EM BUSCA DA PERFEIÇÃO
A perfeição é uma dádiva de Deus para a nossa vida, tudo em nós aponta para ela a todo instante, de tal modo que isso exige de nós uma luta constante contra nós mesmos, uma vez que somos tentados a não vivermos tal perfeição desejada por Deus por causa de nossa contingência. Por isso, não devemos ceder nunca aos apelos de nossos instintos ou das nossas paixões desordenadas, isto porque nada neste mundo preenche a necessidade que temos de vivermos segundo os desígnios do Senhor para a nossa salvação, ou seja, de chegarmos à plenitude da Perfeição Eterna no Reino dos Céus.
É como nos ensina a Carta aos Hebreus: “Vós, irmãos, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da assembleia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição, enfim, de Jesus, o mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel”. (Heb 12,22-24).
Então, quais são as tentações que nos induzem ao erro ou a não atingirmos a estatura de Cristo? Complexo de superioridade é uma delas. Por essa imperfeição passam aqueles que deixam a humildade pela presunção de se acharem maiores ou melhores que os outros e com isso desprezam os mais simples, pelo fato de se acharem em melhores condições existenciais. O contrário dessa imperfeição é também outra imperfeição chamada complexo de inferioridade, onde homens e mulheres, à margem do convívio social, sentem-se potencialmente seres inferiores, incapazes, sem chances; ora, mas isto se dá pela não vivencia da devida estima que o Criador nos concedeu naturalmente.
Outra tentação ainda é o perfeccionismo, onde a perfeição é buscada, não como dádiva dos céus, mas como exigência impertinente, causadora de distúrbios inconcebíveis, por causa de atitudes ditatoriais que geram mágoas, rancores, ressentimentos, divisões, etc. Logo, como vimos nos exemplos citados, os extremos comportamentais não fazem parte da vontade de Deus para os seus filhos e filhas, por isso, precisamos evita-los prontamente na certeza de que assim estamos vencendo a nós mesmo e a todo mal que se levanta contra os desígnios de Deus a nosso respeito.
Destarte, como vivermos a perfeição querida por Deus para a nossa vida? A palavra perfeição pode ser entendida de duas formas; a primeira diz respeito à perfeição natural dos organismos, isto é, tudo em nós funciona perfeitamente quando não há anomalias, a isso chamamos lei natural, impressa inatamente por Deus em tudo que criou; a segunda e mais importante é a per-feição (onde per-feição = aquilo que é trabalhado artesanalmente) de nossas almas, isto é, a vivência das virtudes que nos levam a profunda harmonia interior, fazendo-nos evitar as doenças psicossomáticas* e o desequilíbrio do nosso ser; em suma, é a nossa profunda comunhão com a vontade de Deus em todos os sentidos de nossa vida. Vejamos como isso se dá, analisando os seguintes exemplos:
“Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens”. (Mt 19, 16.21-22). Ora, aqui vemos num primeiro momento a exortação de Jesus ao despojamento, à vivência da virtude da pobreza como bem aventurança, isto é, como adesão perfeita no seu seguimento; num segundo momento, vemos a não adesão, o desequilíbrio, apego, egoísmo daquele jovem, causando tristeza, dependência material e a não comunhão com a vontade de Deus. Daí vem a pergunta: em que patamar ou que em nível de adesão a Cristo nos encontramos? Peçamos ao Senhor sua ajuda no discernimento a esse respeito para não fazermos a mesma interpretação errônea que o jovem do evangelho fez, por achar radical demais o que Cristo lhe propusera.
Outro exemplo de perfeição, a nossa consagração a Deus: “Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.”. (Rom 12,1-2). Ou seja, estamos aqui, mas não somos daqui, por isso mesmo, precisamos viver a nossa consagração a Deus neste mundo, visto que estamos no tempo à caminho da eternidade, pois, para aqueles que vivem em Deus a vida já é eterna.
Só mais um outro exemplo, a vivência dos carismas como fonte de perfeição: “Mas a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo... A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo”. (Ef 4,7.11-13). Ou seja, ninguém se salva sozinho, isoladamente, porque somos Um em Cristo, isto é, somos sua Igreja, seu Corpo Místico do qual Ele é a Cabeça e nós somos os membros, pois, a sublime perfeição do Senhor é uma dádiva para todos, por isso, Deus não faz distinção de pessoas, mas a todos trata como filhos e filhas no amor.
Paz e Bem!
Frei Fernando, OFMConv.
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